31.3.08

Shows de Luizinho Lopes em Juiz de Fora


No dia 4 de abril - Sexta-feira e no Sábado dia 5, ~as 21 horas no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas em Juiz de Fora, Luizinho Lopes lança seu CD "Noiteceu" com Show
Participações especiais:
Renato Braz, Roberto Lazzarini, Toninho Ferragutti, Bré, Luhli,
Denilson Santos, Tânia Bicalho, Andréa Gomes, Fabrício Conde,
Daniel Drummond, Cazé, Salim,Berval Moraes, Neli Aquino e Coral da UFJF
Apoio Cultural
CENTRAL GOURMET
Galeria Solar 30
Ao lado do Cine-Theatro Central
(32) 3234 8743

A Paixão de Callado nas telas


Hoje , segunda-feira, dia 31 às 18 horas na sala 6 do Unibanco Arteplex no Rio de Janeiro vai rolar o documentário A Paixão Segundo Callado . O roteiro é da jornalista e escritora Regina Zappa, grande amiga deste blogueiro.
Na quinta, dia 3 de abril o mesmo filme vai para as telas do Cinesesc, às 19 horas em São Paulo.
Imperdível!

As Palavras e as Coisas


(Esta croniqueta eu publiquei num outro tempo e faz uma justa homenagem aos amigos que me ajudaram e ajudam a levar adiante os meus cometimentos lítero-traçantes)
Acredito que as palavras são fonte de permanente
mistério, fora o fato de que geram os famosos mal
entendidos, que têm sido tão mal interpretados,
coitados! Se não fossem eles, o que seriam dos
boleros, da dor-de-cotovelo e da dor-de-corno por
supuesto? Palavras existem para nomear as coisas,
expressar sentimentos e, na maior parte das vezes,
dizer bobagens. O principal problema é essa mania de
interpretação. Não dos boleros, mas do que se diz.


Creio que uma outra fonte de confusão está na própria
mecânica do ato de falar. As palavras são antes de
mais nada sons (grunhidos?), que uma vez emitidos
surfam em ondas e vibram no ar até chegar aos ouvidos
nem sempre atentos. Vai daí que uma coisa dita, mesmo
que seja bem dita, pode ser entendida de forma mal
dita (maldita?) Nesse entroncamento se situa um rico
manancial de coisas ouvidas erroneamente, que ao meu
ver (ouvir) constituem um sinal da extraordinária
criatividade do ser humano - e que o diferencia do
papagaio e de alguns cachorros amestrados.


No Brasil, isso é de uma riqueza sem fim. Para
começar, ouça (veja) o caso de uma menina
recém-entrada na universidade que chegou em casa toda
pimpona e disse ao pai: "Meu professor falou de um
novo autor hoje, um tal de Maiquéu Fucô" (ela se
referia a Michel Foucault, claro, e produziu um riso
hilário no pai). Nesse caso ela ouviu e leu o
professor escrever Michel (Mixéu) , mas seu
inconsciente moldado por Disney e a família Jackson a
fez registrar o nome Michael (Maiquéu).


Ouvir palavras e repeti-las de forma errada pode
acontecer com todo mundo. Solange, a ex-famosa
participante de um irreality-show que hoje é uma das atrações do programa Pânico é uma mestra nessa alteração
de todos os sentidos das palavras. O seu "Uiarniuôr,
Uiuarnsilver.", que virou CD e toca em baile funk por
aí, na verdade queria dizer: "We are the world, we are
the children.", da música cantada por vários artistas,
entre eles o Michael Jackson, para uma campanha em
favor dos pobres da África, se não me engano. Não é à
toa que o pessoal já cantava "Uh! Tererê!", em vez de
"Hoop there it is", da música Space Jam, do grupo Quad
City DJ's.


É claro que nesse negócio do funk não é preciso muito
sentido, embora tenha bastante. Basta produzir um
balanço que permita o sacolejo, que está tudo bem. Mas
existe um movimento de alteração do dito que vive
transformando palavras, que passam a adquirir
novíssimos sentidos. Sem dúvida, fariam Michel
Foucault morrer de rir antes de a dama sinistra passar
o cerol nele (nossa crônica, por sinal, leva o título
de um de seus livros). Tocando as maracas da
interpretação, creio que ele curtiria muito essa
capacidade de adaptacão do nosso povo, sua
criatividade alucinada.

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Há algum tempo venho fazendo (com o auxílio luxuoso de
uma psicanalista amiga, Dra. Ilma), além da
colaboração de sociólogos, jornalistas, historiadores, designers
e livreiros ilustres, tais como Rosa, Flávia, Ruth,Fefê
Reginaldo e Chico, uma pequena coletânea de palavras
que são usadas fora e às vezes muito dentro do
contexto. Abaixo vão alguns exemplos:


1) O menino ia atravessando a rua quando o caminhão
vasculhante quase atropelou o desinfeliz.


2) O emprego dele é muito bom, tem até adicionário
noturno.


3) A febre baixou, mas só quando usou um sucusitório.


4) A injeção foi bem no glúten dela.


5) O requerimento do advogado foi aleijado do
processo.


6) Ela teve condolências do rapaz.


7) A última vez que vi o velho ele estava bem nítido,
(esta já citada por um outro cronista, mas juro que
descobrimos antes).


8) O pobre só apresentava uns sinais de
estereosclerose.


9) Aí, bateram um elétrico, mas já era tarde e o
coitado tinha tido um ABC (em vez de AVC).


10) Tive que fazer um xerox vice-versa do atestado de
óbito.


11) O jornal diz que lá no Iraque tem muito
frango-atirador.


12) E aquela que foi no motel e só ficou usando a
banheira de vidro massagem?


13) Ainda bem que todo o gasto da viagem foi
debilitado na conta da firma.


14) O menino ficou tão contente depois que ganhou um
videogay .


15) Nessas novelas, agora, estão com essa mania de
botar mulheres mésblicas. É um tal de mesbla se
agarrando...


16) Com esse hábito de de não usar fio dental eu
fiquei com o gengibre inflamado.

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Uma idéia maluca me veio à cabeça cheia de jericos, a de fazer uma dicionário desse novo vocabulário,incluindo nomes próprios que mudaram devido ao
entendimento diferenciado do escrivão na hora do
“resistro". Mas, na última hora fui vencido pelo "princípio de realidade" que nestes tempos pós-freudianos se chama mercado.
E, para finalizar, uma que é um fenômeno ainda
a decifrar. Trata-se de um cartaz de beira de estrada
onde se verifica uma nova forma no uso do pronome. Lá
está escrito: "Vende peixe-se". Nesse caso, sem
dúvida, trata-se de uma revolução linguística.

Lições de Marketing

30.3.08

29.3.08

Meus cartuns pré-histéricos

Mouzar Benedito lança livro premiado


O grande escritor e bavo jornalista (meu amigo) Mouzar Benedito acaba de lançar pela Editora Limiar o premiado livro "O Tropeiro que não era aranha nem caranguejo"
O livro pode ser adquirido pelo correio, dirigindo-se diretamente à Editora Limiar, via internet no seguinte endereço http://www.editoralimiar.com.br
ou por telefone (11) 3813-0309

28.3.08

Crônica da Tinê - Fetiche


O pequeno par de brincos portugueses, ouro com rubi, fora dado para a outra. Aquilo foi um murro em peito metafórico. Muito antes de a outra nascer, quantas vezes a menina abriu a gaveta superior da cômoda, a caixinha forrada de algodão dentro de uma caixa maior entre outras, na ponta dos pés ia experimentar os brincos da mãe.

A menina cresceu. Dezenas de brincos desfilaram por suas orelhas. Da singela pérola ao 'lustre de sala' de meio-palmo, metal nobre ou cobre de feira hippie. Teve um que veio do Araguaia: fios de juta com penas coloridas e em dia de festa à fantasia ela berrava "Quem pegou o meu kuarup?"

Houve um pingente engolido com tarraxa e tudo por um carinha afogueado. Não fez questão de tê-los de volta: a minúscula pedra e o fervente rapaz. Os preferidos sumiam depois de algum tempo. Não os paqueras ao pé do ouvido, os brincos. Nunca o par: sempre um, o que guardava como estúpida lembrança de uma época, de um lugar, de um alguém.

Veio a moda do brinco único - o primeiro que ela usou foi um peixe com escamas que se moviam quando caminhava - mas não curtia, o pescoço comprido destacava o lóbulo nu, sentia a cabeça torta. Dois peixes daqueles se contorcendo nas orelhas seriam um exagero. Então o peixe ondulante foi parar numa gargantilha como a secar ao sol.

Um dia descobriu por acaso que um ex colecionava brincos. Perdidos? Troféus? Nem era ele um joalheiro, bijuteiro ou cantor de rock. Um dom Juan surrupiador, talvez. Provocadora, ela comprou-lhe um par de microesferas douradas e mandou com um cartão "Estes são exclusivamente seus. Aqueles, nem tanto, nem tanto." Aí ele sumiu.

Cautelosa, o par favorito era guardado no lado direito do armário, camuflado entre objetos, como a luva de organdi onde escondia no avesso de cada dedo presilhas de strasse para os cabelos. Alguém foi lá, abriu a gaveta, a caixa das caixinhas, o papel de seda, e adeus aos favoritos! Quando chorou foi criticada - quem mandou ir à praia, ao acampamento, sassaricar por aí com os brincos? Não. Impossível. Aquela jóia era para ocasiões de pompa, não para vida mundana. Para se aborrecer menos, deixou passar o fato, comprou dúzias de lindos brincos vagabundos.

Um dia sob a ducha, o brinco de ônix desceu pelo ralo. Estátua ensaboada, rosto crispado, uma mão na orelha e a outra no rodamoinho, parecia propaganda alemã do Kamillen-Kräuter. Mais um para a coleção dos solitários! Teve a cena do sujeito na oficina que resolveu entrar na moda e, ali mesmo, para horror das mulheres presentes, deitou a cabeça na bancada, pediu a um colega para martelar e fazer o furo com formão: ele exibiu o brinco, ensanguentado e feliz.

Quando a viúva Giovanni morreu, queria algo dela como lembrança. No antigo quarto, os olhos passearam até uma caixa laqueada sobre a penteadeira. Diante do baú os dedos da pirata destamparam o tesouro, correntes broches pulseiras emboladas, um brilho veio do fundo das quinquilharias: dois triângulos de cristal dos anos trinta. Frente ao espelho, colocou-os nas orelhas e apreciou o efeito, sentiu-se a própria modelo de Mucha.

A jovem senhora vive em tempos de piercing e tatuagem, da bunda ao umbigo, da orelha ao dedão do pé, da ponta da língua à ponta de sei lá o quê, mas persistem os tradicionais requintes tribais: furos na carne, dois apêndices, um de cada lado da cabeça. Brinco adorna e valoriza a face. É investimento. Sobretudo se vier de um ourives talentoso com ouro de bom peso. Também conta histórias. Mas, se for presentear, cuidado. Esculturas-móbiles ficam ótimas no teto. E nem todos são da tribo dos botocudos.

Tinê Soares – [27/3/2008 - 18:14:29]
A foto também é da Tinê.

"Liberdade de Imprensa" no Instituto Moreira Salles

Será lançado esta noite às 20 horas no Instituto Moreira Salles(R. Marquês de São Vicente, 476 - Gávea) o filme "Liberdade de Imprensa" que foi rodado em 1967 e apreendido em 1968 no famoso Congresso da UNE em Ibiuna. O filme de João Batista de Andrade foi restaurado pela Cinemateca Brasileira e agora chega ao conhecimento do grande público.
Quem quiser mais informações vá ao blogue do Professor Marco Aurélio Nogueira http://marcoanogueira.blogspot.com
O lançamento em Sampa vai ser na Cinemateca Brasileira(Lgo. Senador Raul Cardos, 207 - Vila Mariana) às 19 horas do dia 1º de Abril e também não é mentira.
Todos lá!

Flagrantes Literários

27.3.08

Não é mentira de 1º de Abril, Marceu canta samba no CCC


O jornalista (e meu velho companheiro de redação de antanho) Marceu Vieira(do lado direito na animada foto) e Tuninho Galante ( no esquerdo) estarão cantando suas composições, entre elas sambas rasgados no Centro Cultural Carioca na terça-feira próxima, dia 1º de abril ( repito-não é mentira), às 21 horas. Preço: R$20,00.Pelo menos foi isso que entendi no e-mail que recebi aqui na minha modesta redação de um só editor e mais os amigos colaboradores que vão chegando e espalhando sua arte no blogue.
Marceu informa que a participação especial dessa vez no show é de Ana Costa. Cantam ainda Mariana Bernardes e Clarice Magalhães, que tocam com o grupo. Quem quiser, pode reservar mesa pelo telefone 2252-6468.Todos lá!
Centro Cultural Carioca - Rua do Teatro, 37 - Centro - Rio de Janeiro/RJ

Site da Editora do Autor no ar - livros de Salinger podem ser comprados pela Internet


Tenho o prazer de anunciar que o site da editora do autor já está no ar.
Agora vocês podem comprar os livros de J.D. Salinger pela Internet.
Basta digitar http://www.editoradoautor.com.br e fazer o seu pedido.
No site você pode se inteirar também das promoções da editora, obter informações sobre os livros de Salinger e sobre o próprio escritor.
Ah, ja ia me esquecendo: a Editora do Autor entrega os livros em todo o Brasil.
Pra cima com a viga moçada!

Flagrantes Literários

Mariana Baltar no BNDES


Hoje, dia 27 - quinta-feira , a partir das 19 horas Mariana Baltar estará se apresentando no auditório do BNDS - Avenida Chile, 100 - Centro.
Tel (21) 2777-7757.
A entrada é franca e senhas numeradas serão distribuídas a partir das 17 horas. Cada pessoa receberá apenas uma senha.
Mariana Baltar, indicada ao Prêmio Tim 2007 na categoria revelação, interpreta músicas de seu primeiro CD, Uma dama também quer se divertir, além de outras canções em seu show do Quintas no BNDES. No repertório, Jongo do irmão Café (Wilson Moreira/ Nei Lopes); Zumbi (Jorge Ben Jor); Deixa comigo (Assis Valente); Cais (Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos); Por causa de você (Tom Jobim / Dolores Duran); Seção 32 (Vander Lee); Disparada (Geraldo Vandré /Théo de Barros); Tia Eulália na xiba (Claudio Jorge / Nei Lopes); Samba da Zona (Joyce); Pressentimento (Elton Medeiros /Hermínio Bello de Carvalho); e Corrida de jangada ( Edu Lobo). A também dançarina Mariana apresentará um número de gafieira com Carlos Bolacha. Direção musical e violão 7 cordas, Josimar Carneiro; bandolim e cavaquinho, Marcílio Lopes; percussões, André Vercelino e Paulino Dias.
Visite o site dela , o endereço é http://www.marianabaltar.com.br
(foto de divulgação de Karla Pê)

26.3.08

Gonzagando


(Saiu do forno um novo CD de Daniel Gonzaga pela Biscoito Fino. Marcio Vianna, grande roteirista do Leme (e amigo de meu filho) escreveu algumas linhas sobre esta obra que espero ter logo logo tocando na minha vitrola, digo aparelho de som)
Filho de peixe

Daniel Gonzaga lança disco com a obra de Gonzaguinha.

Artista já experiente, com três discos autorais gravados e uma homenagem ao avô, Daniel agora canta o pai. É a quarta geração Gonzaga – tudo começou em Januário e seus oito baixos. O timbre de voz semelhante não disfarça o cuidado e a emoção de Daniel ao interpretar, com uma pegada limpa puxando para o jazz, as músicas que resumem a trajetória de Gonzaguinha. Alguns sucessos, algumas descobertas e até uma canção que jamais chegou a ser gravada pelo compositor. Nada de compilação, simplesmente uma bela homenagem ao cara que já foi chamado de maldito pela acidez dos versos políticos e embalou paixões com melodias e letras românticas. Músicas feitas ontem que estão prontas pra explodir amanhã. Confiram!

Flagrantes Literários

25.3.08

24.3.08

23.3.08

Flagrantes Literários

Crônica da Tinê - Rolagem


Uns são antenados no que rola em Brasília, outros preferem assistir às rodadas da semana. A bola rola e o capital gira. A garota pergunta o que vai rolar na balada noturna e não vou responder irônica como o velho anúncio, ela não entenderia "o mundo gira e a lusitana roda" de uma empresa de frete, do tempo em que girávamos o redondo dial para mudar a emissora. Meu embalo era só no sábado à noite.

Meus favoritos estão memorizados no controle remoto, giro os canais dentro do círculo que determinei. Do "pé de sapoti" pulo para "ursos calorentos", passo reto por um filme japonês legendado em francês, em seguida uma visão geral do folclórico Parque dos Ídolos Caídos (ou Parque Jurássico dos Vermelhos), dou uma paradinha no "tudo.news" onde meus olhos se multiplicam para captar simultaneamente a locutora sorridente, o repórter congelado no canto superior direito, três faixas legendadas, mais cinco janelinhas do clima ao câmbio – ó meus olhos baratinados!

Antes que eu me sinta instalada com sofá, chá gelado e chinelas no meio do Times Square nevado, zarpo para o fundo do mar, vejo os restos de Heráclion quando pouco sei o que restou dos meus alucinantes embalos sabáticos no Papillon, além de luzes pisca-pisca do piso, do globo de espelhinhos a refletir pedaços de mim, jatos de luz-negra vindos do teto, rodopios sobre saltos plataforma, em dia de festa chovia purpurina nos cabelos, e o segredo para manter-se de pé por cinco horas seguidas era muita água mineral e combinar o ritmo bate-estaca da 'disco-dance' com o batimento cardíaco. Fora daquela pista políticos disputavam poderes, jogadores disputavam títulos, ricos disputavam esquis em Bariloche, enquanto pobres colhiam a xepa do meio-dia, e garotas classe-média saíam da aula de inglês e iam tomar sorvete com calda quente.

Já pensava na antológica miniblusa de lurex e nos balangandãs de acrílico transparente quando a garota cobrou "e os rapazes, também iam tomar sorvete?" Fui até a varanda. Olho a goiabeira para ajustar as retinas. Por hábito meus olhos mapeiam os buracos de bicho em cada fruta. Qual será a do próximo programa? Romã ou abricó-de-macaco? "Não enrola, tia!" Uns rolaram na grama e depois em roda de fogo, ou vice-versa, não sei. Uns ficaram mais bonitos depois de maduros, outros apodreceram antes de maturar, uns piraram a valer, outros se redimiram, uns sumiram na capoeira, alguns renasceram e mudaram de credo, de cara, de partido, de time, rolam outras bolas e novas dívidas. Como não tenho mais a bola cheia nem tornozelos firmes, e estou sem capital de giro... ZAPPING! Rola a rolinha na areia... eu só preciso mudar de canal!

Melhor: deixei a garota ir ao Balada-a-Diesel no meio da semana e peguei na estante para reler “A Quinta História”. Começo pela dedicatória que não foi para mim mas a tornei minha:
"As coisas da gente são sempre assim: a gente vive, vive, se debate, se esfola aos pouquinhos, arranha o braço, faz um galo na cabeça, dá murro em colchão, se cobre até a cabeça, se afoga no chuveiro, arranca e come os cabelos e as cutículas, chora, ri, sei lá o que mais... então alguém nos diz: tudo passa!" Pois, estou passando.
Tinê Soares – [11/3/2008 - 21:11:08]

22.3.08

21.3.08

Paz & Amor , um conto hippierealista


(Esta história é real em parte, hippierealista, melhor dizendo. É uma das que mais gosto. Ouvi na minha pesquisa sobre o fim dessa era cheia de flores e de calcanhares sujos de pés que calçavam sandálias humildes de sola de pneu.)
É isso aí, bicho, dos anos 60 aos 70, costuma-se dizer que rolou de tudo. Não quero nem lembrar,e mesmo que quisesse, meu camarada, não ia dar pé. Bateu um sudoeste na minha memória “mermão”. Mas, cara, acho que o anti-barato dessa época aqui no Patropi foi que o pau comeu na casa de Noca, foi uma dieta-dura militar que não deixou saudades. Sai de baixo! Tem nego que foi e não voltou, teve nego que tomou um táxi na praia de Copacabana, saindo do “pier” e disse: -Toca pro Recife! Pois é, malandro, foi uma era “já –era” de experimentalismo tanto químico como místico. Tinha o Carlos Castañeda e sua erva do diabo e um índio que baixava e a doutrina de que você deveria achar o seu lugar no mundo,o seu ponto místico geográfico, coisas assim, etc e tal ou não. Teve Woodstock e tudo mais e o hino americano explodindo na guitarra de Jimi Hendrix. No meio daquelas cabelos encaracolados, bandanas, roupas espalhafatosas, cheias de desenhos “lisérigicos”, florais e tendendo sempre para espirais , camisetas feitas artesanalmente com anilina com calças boca de sino, muito Are you experienced? e Janis Joplin tocando sem parar na vitrola que Carlão do violão conheceu Soninha da flauta. Na flauta mesmo ela só tocava “Greenleaves” e adorava aquele filme sueco Elvira Madigan em que a heroina morre comendo flores se não me engano. A união dos dois pombinhos rolou numa praia, teve troca de alianças na qual resolveram ter um casamento aberto….Eram tão datadamente hippies que seus amigos os chamavam, ele de Paz e ela de Amor . Concordavam em tudo, inclusive no time, o Fluminense, que era a única caretice que ele cultivava, ela torcia em solidariedade.
Paz & Amor, O casamento perfeito. Um casamento que começou aberto e acho que terminou escancarado. Enquanto durou, eles curtiram adoidado contar como foi com os outros com os quais dividiram a cama. Nada de promiscuidade. Não. Isso não rolava. Não curtiam um “ménage à trois”, mas transavam à vontade com parceiros que encontravam em noitadas, acampamentos, ou em bares onde pintava de tudo inclusive um sujeito que só bebia coca-cola e um outro que olhava detalhadamente uma caixa de fósforos e dizia:- Gêeenio!
A química era essa: Carlão, ou melhor, “Amor”, se excitava com as aventuras sexuais dela e ela idem, idem e o relacionamento deles esquentava pra valer. Mas o diabo sempre se mete no meio desses relacionamentos felizes e um deles apareceu e botou um sujeito bacana demais na vida de “Paz”. Como se disse depois, o cara parece que tinha pegada . “Amor” nem desconfiou, deliciado em saber como foi que o tal bacana fez “Paz” ver o céu, meu bem e o seu amor também. Surfou na rebarba, feito mané-gostoso até que num domingo, ela disse que tinha que sair mais cedo pois ia ao Maraca ver um jogo do Mengão. Do Mengão? –Que é isso, “Paz”? Você mudou de time?
- Não, é que o cara bacana que eu encontrei torce pro Flamengo. Sabe como é, essas coisas, etc e tal…
Nesse exato momento ele percebeu que o sonho tinha acabado e Santa Teresa nunca mais seria a mesma.

Flagrantes Literários

20.3.08

A voz de Tânia Bicalho canta as Mãos Brasileiras


(Este artigo sobre o terceiro disco independente da cantora mineira escrito por Jorge Sanglard(*) foi publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro na parte que trata deCultura & Espetáculos na cidade do Porto – Portugal em 17/03/2008)
Autor de duas canções integrantes do CD «Mãos Brasileiras», terceiro disco independente da cantora mineira Tânia Bicalho, o compositor Luizinho Lopes sintetiza o sentimento de quem ouve esta nova voz que surge na Música Popular Brasileira: “Quando Tânia Bicalho solta a voz, cantar parece fácil. Todas as palavras se amoldam na melodia como se fossem estrelas expostas num céu de noite límpida. Nada soa demais naquela imensidão”.
***
Tânia é tudo isso e algo mais. Além de uma intérprete vigorosa, se afirma como compositora e instrumentista. Há algum tempo, a cantora queria trabalhar mais intensamente com Sergio Natureza. Quando o conheceu, em 2002, participando do projeto Novo Canto, no Rio de Janeiro, percebeu que encontrara não só um parceiro de trabalho, mas também um grande amigo. Foi exatamente isso o que aconteceu. Tânia confessa: “Sergio mudou minha história”. Convidado para produzir «Mãos Brasileiras», Sergio Natureza não só aceitou como apresentou Jaime Alem à cantora. E Jaime assina a direção musical do CD, além de tocar violões, guitarras, viola de 12 cordas, viola caipira, gaita e cavacolêle.
Sergio Natureza confirma: “A voz de Tânia Bicalho me bateu forte logo na primeira audição. Na época, eu dirigia artisticamente o projeto Novo Canto – que lançou vários atuais grandes valores – e ouvia, sistematicamente, discos. Alguns me chamavam a atenção, mas quando coloquei o CD «Violazz», o primeiro disco da Tânia, eu senti que estava diante de uma personalidade artística ímpar, um super-talento. Pouco depois, ela se apresentou ao vivo no projeto e confirmou minha primeira impressão: carismática, super-profissional, intérprete poderosa, inspirada compositora (de quem, mais tarde, vim a me tornar parceiro), desses raros talentos que, quando acontecem, chegam como estrela de brilho maior no ‘céu de criação’, na feliz expressão de Gilberto Gil”.
E Sergio Natureza vai mais longe: “Multi-instrumentista, com um senso musical privilegiado, artista em plena ascensão, Tânia Bicalho já é bem mais do que uma grata surpresa, do que uma promessa. Trata-se, para mim, de uma personalidade da MPB”. O CD «Mãos brasileiras» fecha uma trilogia fonográfica da artista e espelha sua maturidade. O produtor ainda destaca: “Fico feliz por ter produzido este trabalho tão honesto, digno, belo, que mostra bem, em apenas 10 faixas, os múltiplos talentos de Tânia Bicalho. Que possa ser a chave para abrir, em definitivo, as portas do prestígio – sucesso que tanto ela faz por merecer”.
Segundo o diretor musical Jaime Alem, Tânia tem um grande domínio da voz no meio de tantas cantoras por esse Brasil de vozes femininas: “Ela canta, toca, compõe, faz arranjos e neste disco resolveu que não faria tudo sozinha. Foi fácil gravar e, o principal, se deixou levar, aceitou ser dirigida. Ao desafio de não estar no comando ela respondeu com interpretações emocionadas”.
Os músicos escolhidos para as gravações, habituais mosqueteiros de Jaime Alem, João Carlos Coutinho (piano), Rômulo Gomes (contrabaixo), Reginaldo Vargas (percussão) e Carlos Balla (bateria), foram unânimes em aplaudir o talento da cantora. O disco ainda teve a participação do violoncelista Marcio Malard e de Flávio Guimarães na harmônica de boca. E Tânia Bicalho tocou violão, piano, escaleta e djembê na faixa “Ar de São Tomé”, uma parceria com Lucina. Para o diretor musical, “o mais difícil foi decidir que linha adotar, já que a cantora tem muitos parceiros e compõe de maneira diversificada”. E, justamente, aí reside o maior trunfo de «Mãos Brasileiras», a sabedoria em articular, na diversidade criativa dos seus parceiros e dos compositores escolhidos para integrarem o CD, uma unidade construída com a força de sua voz e o equilíbrio dos arranjos.
Jaime Alem dá o pulo do gato: “Acho que conseguimos um equilíbrio de repertório, mesclando um pouco de pop com a MPB mais sofisticada. Acredito que essa mistura é uma tendência na música brasileira e o importante é fazer bem, e a Tânia conseguiu com louvores”. Ainda na opinião do diretor musical, “o resultado é um trabalho consistente e, ao término de cada audição, eu me convenço que vai alçar vôos altos”.
De Luizinho Lopes, Tânia Bicalho gravou duas músicas “Areia” e “Corpo de incêndios” e confessa: “De cara me apaixonei por ‘Areia’. E, ‘Corpo de incêndios’, eu quis regravar porque adoro pronunciar, degustar cada palavra dela. A partir do arranjo que fiz para esta música, registrado no CD «Violazz», Jaime deu uma incrementada com percussões, outros instrumentos de corda e um delicioso violão flamenco, que ele mesmo tocou”. Sobre a primeira, o próprio compositor enfatiza: “Quando ouvi ‘Areia’, percebi que Tânia escavou mais fundo do que eu. Da memória, puxou meu pai, para quem eu havia composto a canção, com uma força maior que a minha. Senti, naquele instante, que compor é como desenhar o mapa da mina. Naquele instante, Tânia Bicalho estava revolvendo ouro na ‘Areia’”.
A parceira, em “Espelhos”, Luhli, afirma: “Tânia Bicalho é uma artista completa. Fui gravar um disco no mesmo estúdio que ela gravou «Violazz» e o técnico me deu um CD dela. Simples assim. Me apaixonei pela sonoridade do disco, pela viola caipira usada como instrumento internacional, pelos arranjos personalíssimos, pelo quilate das canções, pela mineirice densa, pelo lirismo inteligente, e pela voz, que voz!”. Daí à amizade também foi simples, uma amiga em comum fez a ponte e começaram a se corresponder por e-mails. Segundo Luhli, “nosso primeiro encontro, em carne e osso, foi uma tarde inteira numa só cantoria feliz. Viramos fãs uma da outra. Em pouco tempo, acumulamos umas 10 parcerias, e firmou-se uma bela amizade. Mas o que mais admiro no talento de Tânia Bicalho é ela ser assim, multifacetada. Toca teclados, cordas e ritmos. Compõe e faz os arranjos para suas canções. E canta como poucas cantoras sabem cantar. Além de seu timbre único, sabe usar a técnica, a afinação e a dicção perfeitas, para tornar mais inteira sua interpretação, que vai da intensidade à delicadeza, que passeia dos blues aos sambas, e em tudo sabe dar o ritmo, o peso, a medida certa”. E Luhli faz questão de enfatizar: “Tânia Bicalho tem a teimosia dos iluminados e só canta o que acredita”.
O CD abre com “Roda Morta”, um poema-letra que Sergio Natureza escreveu e o saudoso Sergio Sampaio (1947 – 1994) colocou melodia. Tânia escolheu esta música por achá-la forte: “Adoro quem assume o que diz, sente, faz, por pior que seja, por pior que possa parecer”. Sendo assim, é ótimo cantar: “O triste em tudo isso é que eu sei disso / eu vivo disso e além disso... / eu quero sempre mais e mais”. Esta é a terceira gravação registrada: a primeira, gravada no início dos anos 90, só foi lançada em 2006, na voz do próprio Sampaio, no CD «Cruel», editado pelo selo Saravá, do Zeca Baleiro, a segunda com o Zeca para o CD «Um pouco de mim», lançado em 2005, do próprio Sergio Natureza, e agora esta versão instigante de Tânia Bicalho.
A canção “Perguntas no ar” também traz uma letra de Sergio Natureza, que Tânia musicou “lindamente, traduzindo com extrema sensibilidade o que pensei exprimir – indagações existenciais comuns a todos”, assegura o parceiro. E uma terceira canção de Sergio Natureza, no CD, “Eternamente”, é uma parceria com Tunai e Liliane, originalmente lançada pela Gal Costa no disco «Baby Gal» (1984) e posteriormente gravada por Fafá de Belém, em português e espanhol. Além disso, foi tema de novela e seriado na TV Globo e ganhou duas belas gravações de Tânia Bicalho: a primeira, forte e bela para o CD «Um pouco de mim», de Sergio Natureza, e agora a emocionante versão de Tânia para este seu terceiro CD «Mãos brasileiras». O compositor ressalta que as duas versões na voz da Tânia são em ritmo de blues, como foi originalmente composta a canção.
“Água” é de Paulinho Andrade e Oscar Neves, dois compositores de Belo Horizonte. A cantora assegura ter gostado muito dessa música e quis gravá-la para incentivar conversas sobre o tema da preservação da água, principalmente, em função do momento em que nosso planeta vive.
A música “Mais canção do que adeus” foi mostrada por Jaime Alem pouco antes das gravações começarem e, segundo a cantora: “Já na primeira audição adorei e quis gravá-la. Tudo a ver comigo. Procuro muito, através de minha música, ‘levantar a bola’. É literalmente isso: ‘quero muito mais os tons de azul do céu do que os breus / quero muito mais a luz / quero muito mais canção do que adeus’”.
E o samba “Mãos brasileiras”, da própria Tânia Bicalho, acabou por se tornar título do disco e é um passeio musical por tudo que é feito ou desfeito pelas mãos de todos. Segundo a cantora: “Foi ótimo poder contar (e cantar!) com estas mãos talentosas! Mãos brasileiras!”.
O CD, com produção executiva de Iracema Abranches, tem o selo da Funalfa Edições e foi gravado com recursos provenientes da Lei Municipal Murilo Mendes de Incentivo Cultural. E pode ser encontrado no site: www.taniabicalho.com
*Jorge Sanglard é jornalista, pesquisador e organizador da antologia «Poesia em Movimento»

Evandro Teixeira lança livro sobre Passeata dos 100 Mil


O genial fotógrafo Evandro Teixeira lança no dia 26 de Março na Livraria da Travessa do Shopping Leblon a partir das 19 horas o livro 68 Destinos -Passeata dos 100 Mil Vai ter de tudo um pouco. Um debate sobre o ano de 68 mediado pelo jornalista Augusto Nunes com a participação de Heloisa Buarque de Hollanda, Jean Marc Van Der Weid, Vladimir Palmeira e em seguida a noitada de autógrafos deste mestre do fotojornalismo que é o nosso querido Evandro. Todos lá!
Clique na imagem para ampliar e saber mais sobre o evento.

Meus pré-histéricos

19.3.08

18.3.08

17.3.08

16.3.08

15.3.08

Flagrantes Literários - Livros de Gênero

Crônica da Tinê - Diário de uma Xereta Rural


Não sei assobiar. Sentei na pedra para ensaiar. Fiquei aos bicos. Soprava baixo com medo de me verem naquele exercício ridículo. Paranoia não tem mais acento, pensei, mas continua em paranóide, adenóide, debilóide. Fiuuuuu... saiu tímido. Nunca foi o meu forte me fazer entender pelos outros, que ao menos com estes emplumados de bico eu tenha sorte.

Vou à segunda etapa. Um tanto avoada, observo. Remexo idéias por dentro.Todo passarinho acorda bem-disposto. Queria ser assim. Quando consigo madrugar chego à janela para ver os voos curtos e assanhados. As aves cantam, catam piolho, tomam banho frio e vão caçar. Cochilam ao meio-dia. À tarde, voo-livre. Socializam. Cortejam. Tomam banho de terra, fazem mais uma boquinha e vão sossegar as penas em algum galho protegido. Quando escurece já estão com a cabeça enfiada sob a asa.

Próximo de onde estou existia o inhapim. Desapareceu. Da ave pernalta preta e branca ficou o símbolo para cidade que surgiu na região dos inhapins. Dizem que os quero-queros são aparentados aos bem-te-vis. Haverá relação entre a visão e a cobiça? Não. O homem é que põe olho-gordo em tudo. Passarinho é feito de bico, penas, virtudes e delicadezas. Vejo os bem-te-vis amarelo e azul, cores benfazejas e, segundo a crendice popular, anunciam chuva.

Fui fotografar a família de azulões. Parecia fácil. Aquelas goelinhas escancaradas pareciam dizer "também quero, também quero" a larva suculenta que a mãe deles prometia. Escondido dos gaviões, o ninho estava na copa cerrada de uma pequena árvore. Tive de subir nuns caixotes para com uma mão afastar as folhas e com a outra focá-los na máquina. No chão irregular me desequilibrei, caí. Estardalhaço! Lá se foram minhas boas-maneiras. Aos olhos da dona azulona eu era um monstro a ser despistado para longe de suas crias. Ela ficou um tempão no alto de um poste próximo, me observando. Quando eu me distraía ela VUPT, entrava por baixo, e não pelo alto onde montei a máquina. Ela fez tanto rodeio que desisti. O jardineiro riu. Não é assim, dona. A senhora tem que se disfarçar. Voltei para casa chateada, com pé torcido, fotos tremidas, em busca de um disfarce. Improvisei galhos no chapéu de palha. Foi tarde. Caiu toró. Quando retornei, o ninho estava vazio.

Como chateação pouca é bobagem, o vizinho conseguiu a proeza de atrair um beija-flor, só para provocar o meu "também quero". Não me dei por vencida:
--- Estica a mão aí, moço, por favor, fique quieto!
Clique, clique, clique.

Tinê Soares – 10/3/2008 - 23:47:03
NR: A foto e a arte são da Tinê também.

14.3.08

13.3.08

12.3.08

Fao Miranda canta Billie Holiday


Fao Miranda continua por mais um mês lá no Columbia Bistrô todas as quartas , em Salvador - Bahia.
Agora com Bruno Aranha no teclado e Alexandre Montenegro no contrabaixo.
O Columbia fica na Brigadeiro Faria Rocha no Rio Vermelho. Clique em cima da imagem para saber mais detalhes. Soteropolitanos, todos lá! Turistas também, ela canta demais!

Flagrantes Literários

11.3.08

Crônica - Filmes Cabeça


(Enquanto eu quebro pedra, com muito prazer, aqui na minha prancheta,sob um sol de derreter catedrais, como disse o saudoso Nelson Rodrigues, vocês (espero) vão se divertindo com umas crônicas que publiquei em priscas eras. Esta é uma das que gosto mais)
Um homem numa cama com uma mulher. Só aparecem detalhes: o peito dele contra os seios dela; as nádegas dela, de perfil, enquanto cavalga o rapaz. A câmera sobe lentamente para o lustre que acende no
momento do orgasmo dela. Fecha num close em seu rosto contraído. Corta para os dois adormecidos e cobertos por um lençol de cetim . O homem abre os olhos e estica a mão para uma pasta, de onde retira um facão de caçador. Na cena seguinte, ele entra num elevador com a cabeça da mulher debaixo do braço envolta num saco plástico. Este é o típico filme americano de serial-killer.

Se o mesmo ator entrasse com sua própria cabeça debaixo do braço, seria um filme de Buñuel e Salvador Dalí. Agora, se um casal entrar num elevador , perder a cabeça, no meio do caminho apertar o botão de
emergência para travar a geringonça e inciar um caloroso ato sexual na frente da câmera de vigilância, o filme é brasileiro. O pacote incluirá um corte para a sala de controle dos vídeos do edifício, onde
porteiros e seguranças se deleitam em frente a vários monitores. Não se impressione com as exclamações cabeludas que eles emitem.

Se fosse um travesti que entrasse no elevador com a cabeça de um homem e explicasse para o ascensorista que se trata do amante de sua mãe, que, na verdade, é seu pai, um toureiro “drag queen” que se apaixonou
por um enfermeiro morfinômano, então é um filme de Almodóvar. Só falta escolher uma trilha sonora com Bola de Nieve, cenários misturando roxo-batata, tons de vermelho e rosa-choque.

No caso de o homem entrar no elevador, cortar a cabeça do ascensorista e depois recitar umas frases de Hamlet, o filme será do pessoal do Dogma. Todos que estiverem no elevador agirão normalmente, como se nada tivesse acontecido. E não vai ter nenhuma musiquinha de fundo.

Se o homem, antes de entrar no elevador sem nenhuma cabeça debaixo do braço, ficar contando em detalhes para uma mulher entediada, num café, fumando muito, o seu desejo de um dia entrar com a cabeça dela num elevador, então, é um filme francês, provavelmente do Godard.

Mas, existe a possibilidade dele não entrar no elevador, e nem falar na tal cabeça, que poderia um dia carregar debaixo do braço. No lugar disso, discorreria sobre a sua dor de cabeça. Falaria da angústia, das amarras que a vida cria para manter um crânio grudado num corpo que não o quer ali. Então, é um filme sueco à la Bergman.

Para dizer a verdade, não sei como terminar essa crônica, nem onde estava com a cabeça quando comecei a escrevê-la.

Noiteceu aqui em casa


Se fosse vinil já teria furado. O disco Noiteceu de Luizinho Lopes não parou de tocar aqui em casa. Luizinho vem com um grupo muito competente de parceiros, músicos e vozes (veja mais embaixo a crítica de Jorge Sanglard ao CD- onde ele dá a ficha completa). Sem dúvida, um marco, um tesouro a ser descoberto pela mídia tradicional. Letras inspiradíssimas, música boa das Geraes e do Sertão-Mundo.

10.3.08

Flagrantes Literários

Flagrantes Literários

Stalin - O fim - Uma biografia política por Deutscher


Escrita ainda quando Stalin vivia, “Stalin – Uma biografia política” é a parte inicial do projeto de uma trilogia que incluia a vida de Lenin e de Trotski. Seu autor, Isaac Deutscher, falecido em 1976, pode-se dizer foi um excepcional conhecedor da política soviética. Confessou que nesta obra se envolveu num difícil trabalho de historiador que procurou se impor ao de ex- militante trotskista derrotado pelo biografado.É interessante notar que ele reclamava que sua obra foi mal interpretada: acusado por uns de dar uma visão simpática do ditador e por outros de ter escrito um libelo terrível contra ele.
O resultado é uma biografia no sentido tradicional,(coisa que os trabalhos de Montefiore e dos irmãos Medvedev não são) que permite entender Stalin como animal político, que esclarece o contexto de sua ação: vai de sua infância e formação até sua vitória da segunda Guerra. Num pós-escrito avalia os anos finais de Stalin, quando sua figura foi diminuída por acontecimentos, tais como, entre outros, o triunfo da Revolução chinesa e as provocações do Marechal Tito. Mostra também que seu personagem se tornou anacrônico e seus métodos obsoletos com a modernização da URSS. Nas suas palavras, o stalinismo que havia expulsado a barbárie da Russia por meios bárbaros criou as condições para que sua face positiva derrotasse a face negativa. Sua magnífica biografia de Trotski,(na trilogia Profeta armado, Profeta desarmado e Profeta banido) é também referência obrigatória para compreender o papel de seu arquiinimigo Stalin e a complexidade da experiência soviética.
Na verdade, os três livros vistos nesta resenha esclarecem partes do fenômeno: se um megulha na intimidade, outro em estudos de caso, o último elabora a explicação dessa figura que constituiu um dos exemplares raros em que ocorre o fenômeno, no qual, se funde personalidade e história.Principalmente porque tinha o poder para escrever a sua própria versão.

8.3.08

Viva Música! Viva a novidade Viva Música!


A Agenda VivaMúsica! chega com tudo. Projeto gráfico novo, e aumento de tiragem. Este número chegou ao público comemorando o dia de nascimento de Villa-Lobos e cravando o Dia da Música Clássica no calendário da cidade e do Estado do Rio. E não fica só nisso. A brava editora Heloisa Fischer fala das outras novidades de VM!
"O roteiro dia- a- dia passa a publicar, além dos compositores, as músicas a serem executadas nos programas - informação importante para sua ida ao evento. A seção de notas e os destaques da programação do mês cresceram e estão posicionados nas páginas iniciais. A revista está mais ilustrada."
VivaMúsica! é distribuida gratuitamente em 35 pontos da cidade:
Barra/Livraria Argumento - Rio Design -Barra
Botafogo/Livraria Unibanco Arteplex
Centro/Arlequim - Paço Imperial, Associação de Canto Coral, Espaço Cultural BNDS, CCBB(bilheteria), Conservatória Brasileiro de Música, Escola de Música UFRJ, Escola Villa-Lobos, Rádio MEC, Sala Cecília Meirelles(bilheteria) , Livraria Al-Farabi, Sindicato dos Músicos, Theatro Municipal (balcão da entrada dos artistas)
Copacabana/ Modern Sound, Sala Baden Pawell
Flamengo/ Espaço Cultural Finep (somente em dias de concertos), Oi Futuro
Gávea/ Instituto Moreira Salles
Humaitá/ Ibam (somente em dias de concertos)
Ipanema/ Livraria da Travessa, Livraria Letras e Expressões
Laranjeiras/ Livraria Moviola, Seminários de Música Pró-Arte
Leblon/ Livraria Argumento, Livraria Letras e Expressões, MusicAtiva
Santa Teresa/ Cine Santa Teresa
São Conrado/ Escola de Música da Rocinha
Tijuca/ Centro de Referência da Música Carioca
Urca/ Fórum UFRJ (somente em dias de concertos), Instituto Villa-Lobos da UNIRIO
Vista Alegre/ Lona Cultural João Bosco
Niterói/ Centro de Artes UFF, Teatro Municipal de Niterói
Ah, ia me esquecendo: a capa deste número é da autoria deste blogueiro que vos fala! Tive a honra de fazer esta ilustração.
Como diz um grande escritor amigo meu: -Seguimos junto.

Stalin- Capítulo 3 - O Desconhecido


Em “Um Stalin desconhecido” os irmãos Zhores e Roy Medvedev elaboraram 15 ensaios que contemplam temas obscuros e polêmicos da biografia do líder soviético. Esses georgianos e ex- dissidentes demonstram uma visão objetiva, não contaminada pelo rancor, mas nem por isso condescendente com a figura de Stalin. Não o vêem, por exemplo como um usurpador, mas legítimo representante de uma tendência dentro da elite do partido bolchevique e que lutou arduamente entre 1923 a 1929 para “ascender ao papel de ditador”. No entanto, também não o consideram uma autoridade carismática, (e aí lançam mão de uma classificação weberiana da autoridade), mas sim como portador de um tipo de “prestígio” alcançado pelo funcionamento de uma máquina bem azeitada que produzia o que chamam de “megaproganda”.
De início desconstroem a lenda que envolve a sua morte, no qual descartam a hipótese de conspiração e envenamento que consta em vários livros. A seguir especulam sobre a existência de um herdeiro que permaneceu como eminência parda.
Examinam também o destino dos famosos arquivos secretos de Stalin que foram confiados a Beria, Malenkov e Kruchev e viraram fumaça. Revelam o objetivo por trás da destruição sistemática da memória stalinista e seus colaboradores: apagar as marcas de sangue do passado, e outros crimes, já que boa parte desses arquivos continham os famosos dossiês incriminadores que faziam parte do método de Stalin chantagear e obter a lealdade de seus comandados. Além disso, a liderança emergente temia a existência de diretrizes testamentárias do falecido que poderiam atrapalhar suas carreiras. Concluem com uma rematada bobagem: ver nesses atos de destruição da memória algo positivo. Os bastidores do famoso 20º Congresso do PCUS também é esmiuçado. Focalizam principalmente o impacto que as denúncias de Krushev tiveram na URSS, o desmanche dos gulags e o fenômeno do surgimento de duas Russias, coisa pouco estudada.
Um grande capítulo é dedicado à questão das armas nucleares. Nele dão uma pequena aula de química e física, especificando detalhes das dificuldades de construção das bombas de urânio, plutônio e de hidrogênio. E mostram o enorme esforço soviético para acompanhar os EUA, desde a mobilização de cientistas que competiam com os rápidos computadores americanos até espiões e colaboradores comunistas que mandavam suas descobertas do ocidente. Capítulo especial é dedicado ao “gulag atômico”, o uso de campos de trabalhos forçados com milhares de prisioneiros envolvidos na edificação de verdadeiras cidades, num projeto ultra-secreto que teve grandes e graves acidentes numa corrida que não economizou vidas nem de sua elite científica. A seguir narram o tragicômico episódio, onde o tenente Razin, admirador de Clausewitz perdeu uns dentes mas ganhou a patente de general.
Grotesca também é a participação do doutor Lysenko, um lamarckiano de carteirinha, na história das ciências biológicas soviéticas e no azar de vários colegas que discordavam de suas teorias.
Noutro capítulo, mostram a ambição risível que Stalin alimentava de ser um intelectual e como dava pitaco em tudo, inclusive na área da linguística. Orwell iria adorar esta parte. Dois ensaios dão conta o comportamento de Stalin durante a segunda grande Guerra mundial que segundo eles foi positiva. O líder não tremeu nas bases. Nisso estão em desarcordo com Montefiore. Não deixam de registrar que parte da debilidade das forças soviéticas, durante os embates teve origem nos expurgos que ocorreram nas suas fileiras quando grande parte da oficialidade do Exército Vermelho e da Marinha foi presa ou fuzilada. A seguir falam de um general injustiçado pela história, Josef Apanasenko, e revelam como ele foi um grande herói da Guerra sem ter participado do combate direto. Na última parte do livro, tratam da feição russa nacionalista do ditador georgiano a começar pela transformação dos seus retratos oficiais. Mostram a divergência com Lenin que inicialmente havia se impressionado com sua performance, mas discordava de sua posição não internacionalista e de seu projeto de constuição em moldes centralizadores. Essa versão contradiz Montefiori que disse ter Lenin se interessado pela idéia de Stalin de manter o império Russo unido. Antes de fechar o livro, é exposta a face sádica de Stalin quando da eliminação de Bukharin, um dos melhores quadros da revolução. Por fim falam da relação fria do líder da URSS com sua mãe, que nem nos funerais dela compareceu.
(Amanhã Final da Resenha)

Flagrantes Literários - Mais Kafka

Crônica da Tinê - Hodierno


Existem palavras que a gente ouve e repete, sem saber ao certo o significado ou apenas parte dele. Preguiça de ir ao "pai dos burros". Ao gostar da sonoridade da palavra, ou do seu efeito nas pessoas, lhe damos um outro sentido, de acordo com a situação. Alguém repete, acrescenta mais um tanto conforme o seu entendimento e passa adiante, de boca em boca, feito cédula de mão em mão, com acréscimos de desenhos safados, ditados, preces, rasgos com durex. Também acontece da palavra se repetir em cantochão para fins comerciais, seja por músico do pop, do forró, na tevê, e mesmo que você não curta pop, forrozão e despreze comercial, entra pelo ouvido, se entranha no subconsciente, se agrega ao repertório do ouvinte e um dia a palavra escapole da boca e volta à circulação verbal de todos.

Já tinha notado que "bacana" dos anos 50 retornou às bocas. Eu continuo a achar tudo "legal", e no interior ainda há quem ache tudo "joinha", só falta o "é uma brasa, mora?". Ary Barroso dizia que bochecha é uma palavra engraçada. À parte algumas bochechas com covinhas, não vejo graça na palavra em si. Caía na risada, sim, quando ouvia minha vó se referir à "espinhela caída". Já o "periclitante" eu achava que era alguma espécie de periquito cantante. Hoje, “bombar” não é “levar bomba” na escola. Usei muito “na rebimboca da parafuseta", mandei gente para a "tonga da mironga", embora naquela época não fizesse menor idéia do que era mas - como todos - "caía de bossa", só por causa da música. O que chamo no Rio de "papagaiado", em Minas digo "macaqueiro". Os significados ultrapassam rincões: desdobram-se ao longo de nossa existência enquanto usuários da língua. Por isso acho que bi-anualmente os dicionários deviam ser revisados através de fascículos avulsos para que pudéssemos atualizar nossa coleção de palavras. Seriam enviados "de grátis" pela Receita Federal...

Fazia estas explanações, sentada à mesa da "Engenhoca do Chuveiro". Se fosse casa de material elétrico, vá lá. Mas lanchonete?! A resposta é simples: quando montava o negócio, o dono levou um choque no chuveiro, ficou de cama, teve de adiar a inauguração. Além disso, o dono não queria estrangeirices, nada de "X-burg's", serviria o brasileiro "Buraco Quente". É. Ele estava certo, muito certo, certíssimo em seu argumento novelesco.

Então deixo de lado as literatices para ler algumas pérolas no provão do ENEM (avalia o estudante graduado superior) em terras capixabas; pincei três exemplos:

"As autoridades estão preocupadas com a ploleferação da pornofonografia na Internet."

"Não cei se o presidente está melhorando as insdiferenças sociais ou promovendo o sarneamento dos pobres. Me pré-ocupa o avanço regressivo da violência urbana."

"O nervo ótico transmite idéias luminosas para o cérebro."

Quem gosta de destrinchar palavra é acadêmico. Complicar para quê? Axo que vou ouvir um CD dos "Raimundos". Quanto ao mundo das idéias... é preciso muito quengo.

(Tinê Soares – 05/03/2008 - 17:20:28)

7.3.08

6.3.08

Stalin - Capítulo 2- Montefiore entra nos arquivos secretos


O Czar Vermelho
Pode-se dizer, sem nenhuma dúvida que Montefiore escreveu um livro de peso. Exatamente 1 quilo e 280 gramas de uma longa e detalhada narrativa de 860 páginas carregadas de juízos nada elogiosos ao camarada Stálin. Seu trabalho é menos uma biografia e mais uma crônica de corte. A forma de contar flerta com a ficção. Em certas ocasiões utiliza de recursos literários para reconstruir diálogos, ou narrar situações que encadeiam a evolução do personagem principal até chegar a se tornar o czar vermelho. Privilegiando ações, descoladas do contexto histórico social, o autor adota uma perspectiva rasa que não capta o significado da trajetória desse controverso dirigente. Tudo parece uma sucessão de perversidades, um guia de um museu de horrores.
Parece soar falsa também a boa intenção de Montefiore que diz pretender superar a grande parte das biografias de Stalin que, segundo ele, tendem a apresentá-lo como uma aberração. Isso não o impede de acolher insinuações tais como a de que Stalin foi um agente da Ohkrana (polícia secreta do czar)nos seus tempos de subterrâneo. Ou quando solta frases que não escapam à sede de mostrar Stalin como um anormal e os bolcheviques como um bando de cruéis beberrões sanguinários. Fica a impressão que se está diante de mais uma peça condenatória, uma espécie de chute em cachorro morto, que em nada contribui para uma consistente avaliação do personagem em questão. Mas, mesmo não se livrando desse cacoete, num “morde assopra”, na medida em que avança no texto, o autor parece compreender a complexidade do biografado e se se perdoar suas recorrentes frases de efeito (tais como “A base do poder de Stalin no Partido não era o medo :era o charme”)- o livro, faz um retrato aceitável, na medida em que deixa que a intimidade revelada do biografado faça o serviço de mostrar as inúmeras e contraditórias facetas desse tirano que não poupou nem seus camaradas, suas famílias, e chegou a sacrificar seus próprios parentes.

Um dos méritos do livro é revelar seu “modus operandi” brutal de dominar onde segundo o autor, refinou os, “métodos jesuíticos” que aprendeu em sua formação de seminarista. Mostra como aplicou o procedimento inquisitorial, onde se destacam a necessidade de confissão das vítimas, o arrependimento e a fogueira. Mas o que se evidencia da leitura dessa imensa crônica é o talento ficcional de Stalin, capacidade que usou em toda sua vida para fazer o roteiro no qual, ele adapta a realidade à sua visão. Outro aspecto que chama a atenção é a paranóia como sistema de governo e o estímulo das rivalidades que não eram poucas, entre a elite de seus comandados.

Apesar de querer mostrar que as obras do período stalinista, para o bem ou para o mal, não foram produto de um só homem, o que se destaca no livro é a onipresença de Stalin. Por trás de cada vírgula dos discursos, das estrofe de poemas, dos fotogramas de alguns filmes, de decretos de expurgo ou de reabilitação, lá estava a sua chancela.

Montefiore apresenta tudo como se fosse uma grande ópera de tons trágicos. Logo de cara, joga o leitor numa tensa cena decisiva - no fatítico 8 de novembro de 1932 quando relata o solo tresloucado da segunda mulher de Stalin. Uma perturbada Nádia se retira de um jantar festivo e se suicida com um tiro de uma Mauser em seu quarto, no Palácio Potechny. O autor, que afirma ser o suicídio uma morte bolchevique, localiza neste momento o ponto de mutação do personagem que abatido pelo que depois classificou de traição de sua mulher que por sua vez o acusava de infernizar a vida de todo mundo,irá mergulhar a URSS no terror.
Após essa grande entrada , o autor recua para num curto esboço biográfico contar como Ióssif Vissariónovitch Djugachvili, conhecido pelos íntimos como Soso , na clandestinidade como Koba(camarada fichário) e mais tarde por todos como Stálin vai se transformar no homem forte da URSS. Parte da sua ascenção é narrada em lances rápidos, onde derrota seus companheiros Zinoviev e Kamenev que junto com ele compunham o triunvirato que sucedeu à morte de Lenin (que havia recomendado o seu afastamento do cargo de secretário geral em testamento ditado no leito de morte e que foi espertamente escondido) e vai até 1929, data que marca a sua projeção como líder. Momento que nas palavras do autor, a história que ele quer realmente contar começa . Ressalta que nesse ponto ele não era ainda um ditador. Era o duro bolchevique já havia vencido de forma inexplicavelmente fácil a disputa com Trotski que foi obrigado a se exilar e neutralizado a oposição de Bukharin e Rikov que mais tarde seriam eliminados. É aclamado verdadeiro sucessor de Lenin. A partir dai, gradativamente construirá a arquitetura de sua tirania até sua polêmica morte em 1953.
Assim acompanhamos os vários momentos de um longo libreto mórbido: o massacre dos kulaks, a coletivização forçada, a grande fome, o terror dos anos 1936/37, os expurgos que darão vazão à paranóia como sistema de governo, a invenção das conspirações como método para eliminar os adversários e criar a aparência de um poder sem dó que pune exemplarmente, como no caso do massacre dos oficiais do Exército vermelho que debilitou o URSS nas vésperas da segunda grande Guerra. Neste episódio, Montefiore compra uma versão onde Stalin aparece débil e vacilante não questionando as versões em que se baseou.

Montefiore procura sempre descrever os cenários onde ocorrem as decisões em jantares pantagruélicos regados a muita vodka, sessões de cinema na madrugada em palácios do Kremlin ou nas dachas preferidas do dirigente. Outras vezes os surpreende em trens blindados e à medida que a história avança, vai apresentando um a um os coadjuvantes, os “potentados”, ou “magnatas”, como ele os classifica. Mostra o Partido como uma família incestuosa e o bolchevique como uma espécie de templário. Faz brevissimos perfis para orientar o leitor nos intrincados labirintos soviéticos. Fica-se assim conhecendo um pouco da vida de pessoas que viveram à sombra do grande chefe, sendo que alguns foram suas vítimas, gente como : Kirov, Molotov, Kalinin, Tukhatchviski, Kagánovitch, Sergo Ordjonikidze, Proskrióbichev, Vorochílov, Mikoian, Béria, Jdánov, Iejov… vão sendo “perfilados” na ordem em que entram em cena. Desta forma vai até grande finale onde o tirano mergulhado numa poça de urina agoniza enquanto uma luta silenciosa acontece nos bastidores e suspende sua última obra, a liquidação da velha guarda, iniciada no 19º Congresso em conjunto com as operações para destruir o que se chamou de “complô dos doutores” no qual foi preso entre outros notáveis, até o seu médico particular num esquema que envolvia um expurgo de judeus de todos os postos , inclusive de parentes, como Polina, esposa de Molotov que amargava uma prisão por suposto vínculo a uma conspiraração sionista- americana onde mostra que seu anti-semitismo era político.
(Continua amanhã)

Flagrantes Literários

5.3.08

As verdades sobre Stalin - O mito e as interpretações


(Hoje se "comemora" o 55º aniversário da morte de Stalin. Teve gente que comemorou mesmo. Dizem que centenas de pessoas foram botar flores no túmulo dele lá perto do Kremlin. Quem diria, o velho Josef virou um fenômeno pop! Várias biografias foram editadas e reeditadas faz pouco tempo. Seria ele um monstro? Um produto de sua época? Quem foi essa figura que marcou o século XX? Com o objetivo de botar um pouco de luz nessa história de trevas vou republicar uma resenha que escrevi faz algum tempo sobre várias biografias que foram escritas sobre ele. Tenham paciência, vou botar no ar um bloco de texto por dia. E mais, gastei muita pestana lendo de madrugada para fazer este trabalho. Portanto sejam compeeensivos.)
Capitulo I - Stalin um baixinho do barulho!
Lenin se tornaria Stalin ou Trotski, se vivesse mais tempo. Essa afirmação curiosa de Isaac Deutscher define o quadro da encruzilhada em que se encontrava a revolução que acabara de ser deflagrada e a raiz da luta que seria travada no final da década de vinte.Na perspectiva de Lenin, Moscou seria apenas uma etapa da implantação do socialismo”, cujo endereço de chegada era Berlim. A grosso modo, pode-se dizer que Trotski representava a radicalização dessa visão com sua idéia de “revolução permanente”.Stalin por sua vez representava a posição de defesa e consolidação do território conquistado sem a expansão de suas fronteiras. Ele venceu a parada, implantou a via do socialismo em um só país e comandou por três décadas o contraditório processo histórico de construção de uma estrutura política, econômica e social totalmente nova num bloco de nações que cobria uma vastíssima região do globo. Durante seu domínio esse “país” saiu do estágio semi-feudal e se projetou como uma potência nuclear. Enfrentou a blitzkieg do exército nazista na segunda Guerra mundial a um custo de 20 milhões de mortes do seu lado, mas venceu Hitler que não viveu para ver os soldados do Exército Vermelho cravando a bandeira com a foice e o martelo no coração de Berlim. E como butim desse conflito expandiu o domínio soviético a um conjunto expressivo de países do leste Europeu.
Logo após a morte de Stalin, quando em 1956 Nikita Kruschev denunciou seus fabulosos crimes no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, o mundo comunista caiu na real: afinal o “Pai dos Povos”,”O maior Gênio da História”, o “Mestre e Amigo de Todos os Trabalhadores”, o “Sol Nascente da Humanidade”, a “Força Viva do Socialismo” era um assassino?! Mesmo com o desmonte do culto da personalidade, ainda assim, por muito tempo pairou uma nuvem de sigilo sobre esse baixinho atarracado de 1.68m que gravou seu nome numa época sombria- o que o tornou um dos personagens mais enigmáticos da história do século vinte.
Isso explica a voracidade com que os pesquisadores cairam sobre os papéis que vieram a luz com a abertura, em 1991, dos arquivos com os documentos “ultra-secretos” da chamada cortina de ferro. O resultado foi uma enxurrada de biografias. Duas obras dessa novíssima onda chegaram às praias brasileiras: ”Stálin- a corte do Czar Vermelho” do historiador e jornalista inglês Simon Sebag Montefiore e ”Um Stálin desconhecido” dos gêmeos Medvedev. Aproveitando a maré vermelha, até “Stalin- Uma Biografia Política”, excelente, apesar de ter sido escrita por Isaac Deutscher em 1948 foi reeditada com nova tradução.
(continua amanhã)

Fragmento do dia

"Em Revisão crítica do cinema brasileiro, livro publicado em 1963, Glauber Rocha faz uma avaliação do passado para legitimar o Cinema Novo no presente, esclarecer seus princípios. Como acontece com os líderes de rupturas, ele age como um inventor de tradições."
(Ismail Xavier na abertura do capítulo O Cinema Brasileiro Moderno em Cinema Brasileiro Moderno - Paz e Terra)
Nota da Redação: Grande Glauber, sempre inventando!

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