29.10.16

Debate e lançamento de livro na USP, no dia 3 de novembro/ Assunto: Uma visão ampla da Estética Marxista

O evento duplo vai rolar no dia 3 de novembro (quinta-feira) a partir das 17.30 hs, na USP, mais especificamente na Sala 14 do Prédio de Filosofia e Ciências Sociais - FFLCH - USP/Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, Butantã, São Paulo SP.
Nesse local, vai acontecer um debate cujo título-tema é "Estética Marxista: Bloch, Lukács, Brecht ou Adorno?". Ele vai reunir os professores Carlos Eduardo Jordão Machado, Arlenice Almeida da Silva, Jorge de Almeida e Tércio Redondo.
Em seguida, acontece o lançamento do livro "Um capítulo da história da modernidade estética" – 2ª edição", de Carlos Eduardo Jordão Machado (Editora Unesp) cuja capa publicamos abaixo.
No site da Editora da Unesp capturamos um resumo dessa obra de grande interesse para a compreensão da arte:
A obra reconstrói o debate sobre a vanguarda artística que mobilizou em momentos e em registros diferentes os principais pensadores marxistas de língua alemã no século XX, situando o pensamento estético de autores como Lukács, Bloch, Adorno, Eisler, Benjamin e Brecht. Nesta segunda edição, foram incorporados o capítulo "O 'debate sobre o expressionismo' como chave interpretativa da polêmica Adorno x Lukács", além de novas traduções de Lukács, como o inédito “Discurso proferido por ocasião do funeral de Bertolt Brecht” e o ensaio de Adorno “Reconciliação extorquida”.

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Lançamento do livro "A brasilidade modernista - sua dimensão filosófica", dia 8 de novembro na Livraria da Vinci


No dia 8 de novembro (terça-feira, a partir das 18,30 horas, será "relançado" no Rio de Janeiro a nova edição revista e atualizada de um livro fundamental, há bastante tempo esgotado: A brasilidade modernista - sua dimensão filosófica do professor Eduardo Jardim.
O evento vai rolar na Livraria Leonardo da Vinci, na Avenida Rio Branco, 185 (Subsolo)
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28.10.16

Palmeiras tirando onda

Do raso do baú: Vou tirar uma onda, antes que a situação mude, he he (Vale lembrar que aqui no Rio sou Botafogo, que graças ao seu elenco valoroso não caiu e "corre o seríssimo risco" de ir para a Libertadores) Viva o futebol brasileiro!
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26.10.16

Milton Nascimento....7.4 hoje 26/10/2016


Um cidadão de Juiz de Fora

Jorge Sanglard(*)


Com seu alegre e contundente canto de fé, esperança e sonho, Milton Nascimento (26/10/1942) se tornou um autêntico arauto da liberdade e, junto com outros companheiros de eterna travessia, teceu e entreteceu uma ponte para atravessar este verdadeiro oceano que é o Brasil. Ao mesmo tempo, Milton – como Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso – é o oceano atravessado e o barco que atravessa, e vai solidificando uma ponte sobre este mar. Essa feliz definição de Gilberto Gil sobre expoentes de sua geração sintetiza a essência musical de compositores que renovaram o panorama da MPB e permanecem atentos, como faróis. Afinal, Milton fez de seu canto um canal direto até onde o povo está, muitas vezes “com sabor de vidro e corte”, mas sempre semeando o sonho de liberdade e a esperança de ter fé na vida.
Para celebrar 50 anos de música, em 2012, o cantor e compositor escolheu para dar início às comemorações fazer um show “em casa”, no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora, num simbólico dia 21 de abril, quando Minas e o Brasil celebram o sonho libertário de Tiradentes e dos inconfidentes. E Juiz de Fora foi escolhida para essa celebração musical porque marca a vida e a trajetória de Bituca como poucas cidades deste vasto Brasil. E foi na Câmara Municipal de Juiz de Fora que o cantor e compositor teve reconhecido todo seu envolvimento com a cidade ao receber o título de Cidadão Honorário e a Medalha Nelson Silva, em 27 de novembro de 2009. Agradecido e emocionado, Milton sintetizou aquele momento: "Sou de Juiz de Fora desde que nasci". Ao ser homenageado, Bituca foi ovacionado de pé pelos juiz-foranos e reafirmou seu legado fecundo e viu confirmada a força de sua criação: sua música abre perspectivas para além de seu tempo. Sua obra é eterna.
A retribuição é por tudo que Milton fez pela MPB e por suas raízes encravadas na cidade mineira. Autor da proposta do título, quando vereador, Antônio Jorge Marques, ressaltou que a homenagem era uma retribuição da cidade a toda presença de Milton na vida de Juiz de Fora. Além dos fortes laços familiares, desde a década de 1970, Milton coleciona amizades em Juiz de Fora. Quando o médico e músico Márcio Itaboray lançou o livro "Assuntos de Vento", em 2001, com a presença de Bituca, esses laços foram revelados e, agora, com esta nova publicação sobre a trajetória e as amizades de Milton em Juiz de Fora, esses laços ficam consolidados definitivamente. Em maio de 2009, durante um show no Cine-Theatro Central, Milton afirmou com todas as letras: “Juiz de Fora é onde tenho mais amigos”. E seu parceiro de sempre, Fernando Brant, também não se cansa de bradar aos quatro ventos: “Em Juiz de Fora, eu sou de dentro”.
Na Manchester mineira, Milton também emprestou seu prestígio artístico para encabeçar lutas importantes pela preservação do patrimônio cultural. Foi de Bituca o slogan “Central, a emoção de todos nós”, que marcou as manifestações de amplos setores culturais pela preservação, pelo tombamento municipal e federal e pela aquisição pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) do histórico teatro no coração da cidade. Símbolo da vocação de vanguarda cultural da cidade, o Cine-Theatro Central corria risco e passou a ser o alvo preferencial de uma campanha por artistas plásticos, músicos, atores, diretores teatrais, escritores e jornalistas num movimento que foi vitorioso e mostrou vigor. À voz de Milton em defesa da preservação do Central, se juntaram Tom Jobim, Ney Matogrosso, João Bosco, Sueli Costa, MPB4, Affonso Romano de Sant’Anna, Carlos Bracher, Dnar Rocha, Jorge Arbach, Bibi Ferreira e Rodrigo Pederneiras do Grupo Corpo.
Durante o governo Itamar Franco, tendo à frente do Ministério da Educação (MEC), Murílio Hingel, o Central foi tombado pelo Iphan, adquirido pela UFJF e restaurado na administração municipal de Custódio Mattos. Palco de diversas apresentações antológicas de Milton, desde os tempos do grupo Som Imaginário, o Theatro Central viu ao longo de cinco décadas Bituca revelar uma das músicas mais instigantes e vigorosas das Minas Gerais e ganhar o mundo com seu canto afiado e afinado com seu tempo. Mais carioca dos mineiros, Milton sempre marcou presença no Central para mostrar seus novos trabalhos musicais e sentir a reação do público juiz-forano. Aqui, Bituca sempre se sente em casa. E Juiz de Fora sempre soube e sabe muito bem retribuir todo esse carinho e generosidade.
A partir de 1962, como crooner no Conjunto de Célio Balona, Milton abriu alas, aos 20 anos, para uma das mais bem sucedidas trajetórias musicais brasileiras. Ao lado de Hélvius Vilela, Gileno Tiso, Wagner Tiso, Paulo Horta, Nivaldo Ornelas, Pascoal Meireles, Nazário Cordeiro e muitos outros expoentes da música em Belo Horizonte, Bituca marcava presença e amadurecia na noite e nos bailes da vida. Daí para a frente, é história marcada pelo Holiday, pelo Evolussamba, pelo Som Imaginário, pela turma do Clube da Esquina e pela afirmação de Bituca como um dos maiores cantores de seu tempo.
Milton e seus parceiros, como Ronaldo Bastos, deixaram pistas sobre suas intenções: “Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia / beber o vinho e renascer na luz de todo dia / a fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca amolada / o chão, o chão, o sal da terra, o chão, faca amolada / deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia”. Não é à toa que, em outra parceria com Ronaldo Bastos, Milton cantou: “Eu já estou com o pé na estrada / qualquer dia a gente se vê / sei que nada será como antes, amanhã”.
No palco do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, o jovem cantor, violonista e compositor Milton Nascimento, poucos dias antes de completar 25 anos, nos dias 19 e 21 de outubro de 1967, há quase 46 anos, não poderia sonhar que, a partir de suas três músicas no II Festival Internacional da Canção – “Travessia”, “Morro Velho” e “Maria, Minha Fé” –, trilharia uma autêntica travessia rumo a uma das mais significativas trajetórias na Música Popular Brasileira da segunda metade do século XX e do início do século XXI e que se projetaria como um mestre do canto.
Milton sempre entrou de coração em tudo, desde os tempos de contrabaixista nos bailes de Minas Gerais, passando pelos encontros musicais do Clube da Esquina, pela projeção a partir do segundo lugar no II FIC-1967, até consolidar uma trajetória vitoriosa na Música Popular Brasileira. O cantor e compositor nunca perguntou para onde ia esta estrada, se jogou por inteiro no caminho, seguindo “o brilho cego de paixão e fé, faca amolada”. O importante sempre foi “deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo / deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo / brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, faca amolada / irmão, irmã, irmã, irmão de fé, faca amolada”, como em “Nada será como antes”, parceria com Ronaldo Bastos.
Milton nasceu às seis horas da tarde, a “Hora do Angelus”, do dia 26 de outubro de 1942, filho de Maria do Carmo do Nascimento, cozinheira por profissão, que deixou o bairro Dom Bosco, em Juiz de Fora, Minas Gerais, para trabalhar no Rio de Janeiro. Neste ano de 2013, ele completa 71 anos. A “Hora do Angelus” relembra para os católicos o momento da anunciação, feita pelo anjo Gabriel a Maria, da concepção de Jesus Cristo, como livre do pecado original. O seu nome deriva da frase: “Angelus Domini nuntiavit Mariæ”.
Bituca – apelido dado pela mãe adotiva Lília Silva Campos –, como era conhecido na família e entre os amigos, depois do segundo lugar na classificação geral e da premiação como melhor intérprete do II FIC-1967, inscreveria o nome Milton Nascimento no primeiro time de compositores e cantores que renovariam a MPB. Os festivais injetavam sangue novo no universo cultural brasileiro e a música ainda era uma das poucas manifestações de expressão popular no Brasil dos primeiros anos da ditadura militar.
Em entrevista exclusiva, publicada pela Tribuna de Minas, em Juiz de Fora em outubro de 1987, marcando os 20 anos da premiação de “Travessia”, durante o lançamento do disco “Yauaretê”, Milton confessaria: “Desde criança, eu sabia que ia mexer com a música. Nunca me enganei, nem minha família, nem nada. Todo mundo já sabia que era música mesmo. Apesar de morar em Três Pontas, que naquela época era longe, a estrada era de terra, sabia que ia sair e ia procurar...Se ia vencer, só Deus sabia, mas eu ia tentar. Acontece que a música caminha comigo como a minha alma. Por isso e pelo fato de cada canção refletir um momento meu, chega nas pessoas com a mesma intensidade que estou querendo botar pra fora, e aí não tem barreira de língua, não tem barreira de chão, não tem nada, em qualquer parte”.
Para ilustrar essa entrevista, o artista plástico Jorge Arbach criou com exclusividade uma imagem de forte impacto. Inseriu recortes dos olhos, do nariz e da boca de Milton num desenho de uma onça negra, um Yauaretê. A capa do referido disco trazia a foto de um Yauaretê e inspirou Arbach em sua criação. O resultado final da obra de arte é um desenho intenso e instigante.
O sucesso de “Travessia”, parceria entre Milton Nascimento e Fernando Brant, no II FIC-1967, projetou Milton como um cometa. Mas a criatividade e a qualidade musical do novo talento transcenderam os limites da passagem de um cometa e o transformaram num feixe de luz permanente a apontar caminhos na Música Popular Brasileira. O próprio Milton já afirmou: “Isso está nas mãos do que se quiser chamar, pode ser Deus, pode ser destino, pode ser o que for”.
Amigo de sempre e parceiro, Márcio Borges, em depoimento exclusivo, descreve a emoção que tomou conta da apresentação de “Travessia”: “De tarde nós saímos do hotel, todos no mesmo ônibus, rumo ao Maracanãzinho. Eu ia sentado ao lado de Toninho Horta, com quem havia classificado a dolorosa canção ‘Correntes’. Mas no ônibus só se falava no Bituca, o cara que havia classificado três canções, uma delas considerada a favorita para ganhar o festival. Senti uma emoção muito grande quando o ônibus ultrapassou os portões que davam direto no fundo do enorme palco. Parecia dia de futebol. As filas já davam volta no estádio e ainda nem era de noite. O ensaio geral foi impressionante. Astros e estrelas da música nacional e internacional circulavam em áreas restritas – e eu lá! Quando caiu a noite, vi o estádio encher-se de gente. Vi as arquibancadas se colorirem de todas as cores e matizes, cabelos, cartazes e bandeiras. Vi chegar a hora de ‘Travessia’. A favorita de todos. Bituca colocou o Maracanãzinho de pé e foi classificado. ‘Correntes’ ficou de fora. Fomos torcer pelo Bituca e pelo Fernando, que surpreendentemente, e contra todas as emoções presentes, inclusive a do vencedor Guarabyra, conseguiram apenas um segundo lugar. Na reapresentação da música, vencedora moral e imortal, o apresentador Hilton Gomes chamou os nomes de Milton Nascimento e Fernando Brant e eles saíram de perto de nós para voltarem ao palco. Eu e Gonzaguinha corremos atrás deles e nos sentamos no limite extremo entre a coxia e o palco, bem aos pés dos nossos amigos. Sei que quando vimos e ouvimos o Maracanãzinho cantar com os dois e soltar a voz nas estradas, não conseguimos conter a emoção. Eu e Gonzaguinha nos abraçamos e deixamos nossas lágrimas correrem soltas, molhando os ombros um do outro. Quarenta anos se passaram desde aquela noite. Mas aquelas lágrimas serão para sempre”.


Trajetória de sucesso


A trajetória do cantor e compositor mineiro mais carioca que existe – Milton nasceu no Rio de Janeiro, veio morar com a avó no bairro Dom Bosco, em Juiz de Fora e foi criado em Três Pontas – foi contada em detalhes na biografia “Travessia – A vida de Milton Nascimento” (Record), da jornalista mineira Maria Dolores, nascida em Belo Horizonte e criada também em Três Pontas. O livro, que está na segunda edição, é um mergulho na vida e na música de Milton e revela aqui e ali detalhes da consolidação do mestre do Clube da Esquina como um ícone da MPB.
Em depoimento exclusivo, Maria Dolores fala do livro, para dizer sobre Milton: “Essa biografia começou como projeto de conclusão do meu curso de Comunicação Social - Jornalismo, na Universidade Federal de Minas Gerais, em 2003. Eu queria fazer um livro reportagem de algo relacionado a Três Pontas, cidade onde cresci. Entre os temas mais interessantes – a cafeicultura, o Padre Victor (um padre negro milagreiro) e o Milton Nascimento – preferi fazer sobre o Milton. A idéia era contar a vida dele na cidade. Aproveitei um dia que ele estava em Três Pontas, criei coragem, e fui atrás dele. Disse que ia fazer o trabalho e pedi uma entrevista. Ele aceitou fazer. Uns quatro meses depois fui fazer a entrevista e aí eu já tinha realizado uma pesquisa sobre ele, e descoberto que não havia quase nenhum material biográfico do Milton, a não ser essas biografias resumidas de sites, revistas, etc.. O que tinha de mais completo era o livro do Márcio Borges, ‘Os sonhos não envelhecem – histórias do Clube da Esquina’, que é ótimo e tem o Milton como personagem principal, mas aborda só um período da vida dele, até bem extenso, e fala também dos outros personagens do Clube da Esquina. Resolvi então escrever uma biografia do Milton, a primeira, ainda mais ao descobrir o quanto a vida dele era incrível, como um romance”. O livro abrange o período que vai de 1939, antes mesmo de Milton nascer, até 2005.
Desde a primeira parceria com Fernando Brant, “Travessia”, Milton abriu alas para uma geração de grandes músicos e compositores mineiros e nunca transigiu sua arte, nunca aceitou os apelos fáceis da massificação. Na entrevista citada, Milton declarou incisivo: “A massificação vai bitolando a cabeça das pessoas e bitola a música popular brasileira também”. Assim, o cantor e compositor sempre procurou a qualidade musical, sabedor de que escolhera um caminho mais difícil, porém, passadas quatro décadas de seu batismo de fogo com a interpretação de “Travessia”, fica a certeza de que a criatividade e a qualidade resistem a tudo.
Fernando Brant, em depoimento exclusivo, afirmou que “a música de Milton Nascimento não se explica, ouve-se. Desde que o conheci, e à sua música, o Bituca é um repertório de surpresas interminável. Até hoje, quando ele me mostra algo que acabou de compor, sua genialidade não dá descanso. Ele me surpreende agora como me surpreendia 30 anos atrás. A melodia, o ritmo, a harmonia, ele sintetiza o mundo em suas músicas. Devo a ele não só o fato de encontrar uma profissão que me sustenta e dá prazer, como a oportunidade de colocar minhas palavras e minhas idéias em canções belas e diferentes. E, ainda por cima, ele as canta. Ele é fonte inesgotável da música popular brasileira, um gênio”.
Outro artista plástico que retratou Milton Nascimento com rara sensibilidade é Eliardo França. Um dos mais importantes ilustradores brasileiros da literatura infantil e infanto-juvenil, Eliardo também se consolidou como pintor e utilizou da técnica mista para criar o rosto de Bituca sobreposto à imagem de uma igreja barroca mineira. A fusão das imagens marca bem a essência das coisas mineiras no universo do cantor e compositor. Esta ilustração foi publicada com exclusividade em matéria sobre Milton em Portugal e depois ganhou uma versão digital para texto editado no Portal Cronópios, em São Paulo.


O artista é o arauto da liberdade


Na referida entrevista exclusiva publicada em Juiz de Fora, Milton adverte que criaram um tipo de música, um tipo de som, que virou tudo a mesma coisa e, num mercado fechado, a renovação de artistas é mais difícil, porque as grandes gravadoras determinam a política para a área musical, só investindo naquilo que elas acreditam que dá retorno. E revela: “Eu apareci numa época em que todo mundo estava brotando, com mil experiências diferentes, não tinha um som pasteurizado. Nos últimos tempos é mais difícil a pessoa nova ser ouvida, mas não impossível”. Já em 1987, Milton advertia na mesma entrevista publicada na Tribuna de Minas: “É terrível ver um país como esse, onde o músico se forma por esforço próprio, porque não tem escola, nem nada. O Brasil é um desamparo total, e com tantos músicos fantásticos tendo que tocar qualquer coisa, sem poder desenvolver seu próprio trabalho musical, é muito triste. E olhe que o país é rico, é tão grande, com tanta diversidade e o povo é muito musical. Mas prefiro não perder a esperança, porque o dia em que eu perder a esperança, paro de cantar, minha vida acaba”.
Para Milton, o Brasil é um país onde a mistura é tão forte que todas as influências que vierem nas coisas feitas honestamente virão para acrescentar, mas nunca para esmagar a cultura brasileira: “medo de influência esmagar eu não tenho nenhum não”. E arremata: “O lance da arte é a liberdade, o artista é o arauto da liberdade”.
Nélson Ângelo, parceiro dos primeiros tempos, em depoimento exclusivo comenta: “Meu primeiro contato com Milton Nascimento, meu amigo Bituca, deu-se no ano de 1964, em Belo Horizonte, logo após um show do grupo Opinião, realizado no Teatro Francisco Nunes. Desde então construímos uma sólida amizade que dura até hoje, pautada em muito respeito, atenção e paixão pela música. Sempre fomos parceiros em diferentes formas: como amigos, na vida, em trabalhos. Antes mesmo de ‘Travessia’, já curtíamos e nos admirávamos. Nesta época compus ‘Fim de caminho’, ‘Canto triste’ (anterior a do Edu e Vinícius; claro que mudei o título da minha!) e o Bituca tocava pra mim ‘Crença’ e ‘Terra’, parcerias dele com o Márcio Borges. No mesmo período, compus com o Valdimir Diniz a música ‘Ciclo do Ouro’, que foi muito elogiada pelo Milton. Ele foi um grande incentivador do meu trabalho. Mais tarde um pouco, ele e o Márcio fizeram uma que foi dedicada a mim (pelo menos foi o que me contaram), chamada ‘Irmão de fé’”.
Ainda segundo, Nélson Ângelo, “quando o Bituca conheceu o Fernando Brant, foram logo estreando com ‘Travessia’, e muitas outras que surgiram e marcaram seu lugar na história. Mais tarde, eu e ele fizemos ‘Sacramento’ e ‘Testamento’, ambas músicas minhas e letras do Milton. Mais tarde ainda, o samba enredo ‘Reis e Rainhas do Maracatu’, com mais dois parceiros: o Novelli e o Fran”. Portanto, assegura Nélson Ângelo, “minha opinião sobre o Milton e parcerias é abrangente da mesma forma como foi consolidada nossa amizade. Sou suspeito sobre todas as instâncias e circunstâncias. Ainda bem que a admiração e a boa impressão são compartilhadas com tantas pessoas mundo afora que conhecem o assunto”.
Travessia” é a primeira letra da vida de Fernando Brant, escrita sob pressão, jogada, num papel dobrado, na mesa da padaria São José, em Belo Horizonte. O nome da música foi inspirado no livro “Grande Sertão: Veredas”, do escritor mineiro Guimarães Rosa, que tinha como última palavra da obra o termo “Travessia”. O próprio Milton explicaria a escolha: “O importante não é a saída, nem a chegada, mas a travessia”.
A segunda letra de Brant foi “Outubro”, e o parceiro teria dito anteriormente a Milton: “Agora que você me pôs nessa, trata de compor outra música para eu colocar uma letra logo, senão estou perdido!”. O assédio da imprensa, logo após as apresentações no II FIC-1967, mexia com os dois tímidos compositores mineiros. O cantor, compositor e violonista Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura no Brasil, disse certa vez que a timidez de Milton não é uma timidez pura, mas um ato de observação: “Ele é como essas pedras enormes da Gávea, quietas, silenciosas...observa tudo ao seu redor, fala com o olhar e, quando usa palavras, diz a coisa certa no momento certo”.
Caetano Veloso também fez revelações sobre Milton: “Ele é uma força profunda da expressão cultural brasileira, com raízes muito fortes na nossa história e com um talento na área da genialidade, uma coisa meio espiritual, e se há algo que a gente possa chamar de espiritual é exatamente isso, é quando alguém está ligado a tantas coisas tão importantes por fatores casuais, tantas vezes. Isso para mim é o caso de Milton, é o caso mais radical desse acontecimento no Brasil”.
Só mesmo Milton Nascimento para tornar permanente toda a emoção de coisas tão simples e fundamentais como as brincadeiras de crianças, a cumplicidade entre amigos de verdade, a pulsação de um povo na luta pela liberdade, a dor do amor e do desamor, tudo isso com “o coração aberto em vento, por toda eternidade, com o coração doendo de tanta felicidade”.
No livro, “Os sonhos não envelhecem – histórias do Clube da Esquina” (Geração Editorial), escrito por Márcio Borges, o parceiro e amigo mergulha na essência das vivências desde os tempos em que se conheceram no Edifício Levy, em Belo Horizonte, até a gravação do disco “Angelus”, em 1993. Este disco foi concebido por Milton para simbolizar sua trajetória de vida e seu compromisso com a música.


Milton e Bracher, a comunhão da criação


Um dos momentos mágicos vivenciados por Milton Nascimento, em Juiz de Fora, simbolicamente num dia dedicado à consciência negra, em 20 de novembro de 1999, foi quando o pintor mineiro Carlos Bracher, mergulhado nas cores e ao som das canções do Clube da Esquina e da Nona Sinfonia de Beethoven (1770 – 1827), pintou em óleo sobre tela, durante cerca de 1h30, o retrato do cantor e compositor, antecedendo uma apresentação no baile-show intitulado “Crooner”. Pela primeira vez, Bracher – um dos grandes pintores brasileiros – retratava um artista negro e foi buscar inspiração no erê que dá vivacidade a Milton Nascimento.
Ao expressar o menino que impregna a alma de Milton de alegria e de generosidade, o pintor mineiro celebrava a eterna juventude do autor de “Travessia” (em parceria com Fernando Brant). E Milton estabeleceu com Bracher uma relação de intensidade imensurável. Simplicidade e criatividade de mãos dadas e corações abertos, estabelecendo um elo de cumplicidade e possibilitando um encontro de almas capazes de irradiar harmonia, onde cada um a seu modo criou as condições para estabelecer a alquimia das cores e dos sons. O artista da voz e o artista das cores unidos na comunhão da criação.
Ao reconhecer-se como um erê (como os meninos da capa do antológico disco “Clube da Esquina”, de 1972), Milton posou para o retrato de Bracher deixando fluir todo o sentimento de eternidade que sua música passa e que sua travessia revela, trilhando o caminho da criatividade e do compromisso com a cidadania cultural e com a vida. Como o romancista Guimarães Rosa e o poeta Carlos Drummond de Andrade, Milton Nascimento encarna em sua obra musical a essência de Minas Gerais, a alma brasileira e a universalidade artística dos grandes criadores. Como um mago das cores, Bracher tão- somente revelou essa magia num retrato com a força da emoção de Milton.
No verso do óleo sobre tela, o pintor escreveu: “Meu caro Milton, que assim seja, que este Deus da vida e da arte nos possa abençoar. Obrigado Milton, por essa força contida na sua vasta voz”. Entre a timidez e a felicidade estampada, o cantor, depois de trocar um forte abraço com o pintor, confidenciou ao jornalista, que acompanhou tudo, a satisfação de ter vivenciado aquele momento de intensa troca de energia e de revelação de sua alma de eterno menino nas cores densas e inspiradas de Bracher.
O retrato está na sala da casa de Milton no Rio de Janeiro.
(*)Jorge Sanglard é jornalista, pesquisador e produtor cultural. Escreve em jornais de Portugal e do Brasil







18.10.16

Concurso de Caricaturas do Chico Buarque

Vou botar no ar o "release" para dar uma ideia do Concurso. (Clique na imagem para ampliar e VER melhor) Inscreva seu material pelo site - link:
http://www.quemteviuquemteve.net.br/


CHICO BUARQUE é tema de concurso nacional de caricaturas


Estão abertas as inscrições para o concurso nacional de caricaturas “Quem te viu quem te vê”, que tem como tema o compositor Chico Buarque de Hollanda.

Promovida pelo Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) e com curadoria do desenhista e agitador cultural Zé Roberto Graúna, a iniciativa vai selecionar 40 trabalhos autorais para fazer parte de um catálogo e também circular em exposição. E mais, as três melhores artes receberão prêmios em dinheiro. A inscrição é gratuita e deve ser feita pela internet.

Os desenhos serão avaliados por um corpo de jurados formado pelo desenhista profissional Cássio Loredano, pelo jornalista-ilustrador Bruno Liberati e pelo ilustrador e publicitário Eduardo Baptistão.

Os interessados, amadores ou profissionais, de todas as idades, devem acessar o site www.quemteviuquemteve.net.br e preencher a ficha de inscrição com nome completo, número de CPF, Estado onde reside, telefone e e-mail para contato. Após preenchimento dos campos, o proponente deverá anexar a caricatura e clicar em “Enviar”. Os trabalhos tem que estar na proporção do formato A3 (29,7 cm x 42 cm), nas extensões JPEG ou PDF, com resolução mínima de 150 DPI e com limite máximo de 2MB. A técnica gráfica é livre. As inscrições podem ser realizadas até o dia 13 de novembro de 2016.

Parte das comemorações dos 10 anos do IMMuB, o concurso, o segundo idealizado pela instituição, promete repetir o sucesso do anterior - “Noel é 100” – se consagrando como uma interessante forma de celebrar a música brasileira, com trabalhos autênticos e criativos.

De acordo com o diretor-presidente do IMMuB, João Carlos Carino, o projeto usa a linguagem da caricatura como uma inovadora alternativa para promover e registrar a memória musical do país.

Sobre Chico Buarque...
Conhecido por sua influência poética, melódica e harmônica, Chico Buarque nasceu no Rio de Janeiro, em 1944, e vem, desde então, construindo sua história com profunda paixão pela música, política e futebol. Filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim, Chico cresceu rodeado por livros e manifestações artísticas.

Desde a década de 1960, Chico é conhecido como uma das personalidades mais importantes da música no país, tendo conquistado prêmios em festivais como da Música Popular Brasileira (1966), com sua composição “A banda”, interpretada pela cantora Nara Leão; assim como no III Festival Internacional da Canção (1968), com a música “Sabiá”, escrita em parceria com o maestro e compositor Tom Jobim.

Ao longo da carreira, fez parcerias com compositores e intérpretes de grande destaque, entre eles, Vinicius de Morais, Tom Jobim, Toquinho, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Edu Lobo e Francis Hime. A discografia do artista conta com mais de 30 discos e cerca de 400 canções autorais.

O IMMuB...
Organização não governamental sem fins lucrativos com sede em Niterói-RJ, tem como objetivo documentar, catalogar e divulgar o acervo musical brasileiro, passado e presente, através da manutenção e atualização de um banco de dados virtual. O resultado é o maior arquivo online de informações, sons e imagens da discografia brasileira, disponível na internet para consultas gratuitas.

Com 10 anos de estrada, a entidade já mapeou e catalogou mais de 81 mil discos produzidos no país. Isto equivale a aproximadamente 500 mil fonogramas, reunindo cerca de 90 mil compositores e intérpretes. O trabalho abrange toda a história da música brasileira, desde a primeira gravação, em 1902, até os lançamentos mais recentes.

O Instituto atua também como produtora cultural e já realizou diversos projetos como shows, produção de livros, ciclos de pensamento, CDs e DVDs, além de eventos de grande porte como “3o Salão da Leitura de Niterói” e o “Niterói – Encontro com América do Sul”. O IMMuB promove, ainda, atividades voltadas para educação musical, bem como a formação de grupos, bandas e orquestras. Saiba mais em www.immub.org.br.



13.10.16

Caricatura de Dario Fo

Dario Fo, autor entre outras obras de "Morte acidental de um anarquista" faleceu hoje.
Ele também recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1997.
Meu querido amigo Julio Lubetkin, que vive na Itália, publicou uma homenagem ao genial dramaturgo italiano utilizando uma caricatura que fiz dele.
Quero agradecer aqui de coração ao Julio, pois faz algumas horas que estou procurando em vão essa caricatura na bagunça da minha mapoteca. Ainda bem que cedi uma cópia a você. Viva Dario Fo!!!
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Caricaturas de Bob Dylan - agora Prêmio Nobel de Literatura

Do fundo do baú e da boca do forno: dois momentos de Bob Dylan, que acaba de ganhar o Nobel de Literatura.
Polêmicas à parte , as letras do bardo americano são geniais.
A primeira caricatura que aparece aqui (colorida), faz parte de um conjunto maior que foi capa da revista Programa do old JB , na época em que Bob Dylan se apresentou com os Rolling Stones aqui no Rio. A segunda (apresenta Bob Dylan quando jovem) é uma ilustração do livro (lançado faz pouco tempo) "Diários da Patinete - sem um pé em Nova Iorque", da escritora Lidia Santos.
Em "All Along The Watchtower" ele diz:
"There must be some way out of here," said the joker to the thief,
"There's too much confusion, I can't get no relief.
Businessmen, they drink my wine, plowmen dig my earth,
None of them along the line know what any of it is worth...
"
Nada mais atual, he he

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12.10.16

Caricatura de Cartola


Do fundo do baú: (reformulada) caricatura de Cartola. Viva ele!!!
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8.10.16

Grande Sertão/ Estudo

Estudo em ecoline e aquarela para série "Grande Sertão". Não sei se vai evoluir para tela ou se vai ficar na fase de desenho. Esta arte foi feita em homenagem ao traço de Aldemir Martins.
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6.10.16

Caricatura de Ulysses Guimarães/ 100º aniversário dele

Do fundo do baú: Charge que fiz tendo Ulysses Guimarães como objeto. Foi publicada, creio, no dia 25/01/1988 no old JB (na verdade não sei se foi no mês de janeiro (01) ou julho (07), pois a letra do diagramador não estava muito clara nesse ponto da data).
Hoje se comemora o 100º aniversário desse grande político, que ao que parece, na data em que fiz esta charge, ele, como bom cacique, estava passando por dificuldades na tribo e na relação com a oposição.
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