
Esboços para abordar a obra de Michelangelo Antonioni
I- Deserto Vermelho em Paraty
Devem existir muitas maneiras de se aproximar da obra de um artista como Antonioni. É claro que minha cuca explodiu em 1968 (ou foi 69) com Blow Up que foi feito em 1966 (chamado aqui curiosamente, homenageando nossas raízes lusas, de "Depois daquele beijo"). Mas até chegar ao meu blow up pessoal ( minha epifania) enfrentei uma lunga giornata notte addentro. Vou começar com uma experiência pessoal, transferível...
Foi numa noite do fim dos anos 60. Eu tinha meus 17 anos e estava "acampado" em Paraty com minha irmã, seis anos mais nova. Nossa barraca era mínima e para nós tudo era uma grande aventura, a primeira vez que saíamos juntos para longe da Água Fria. Eu tinha uma namorada que era um sonho de tão linda. Ela já era de maior, dirigia como um Fittipaldi e se juntou a nós naquele acampamento, onde mostrou muita habilidade na caça aos mosquitos e dividiu conosco um rango feito no fogão jacaré. Tratava-se de uma arraia entre as três que pesquei junto com um metalúrgico em férias e que alimentou o camping inteiro. Mas isso é conversa de pescador, vamos ao que interessa. Na referida noite, sinceramente não me lembro em que circunstâncas, fomos parar num cinema, talvez o único da cidade na época. Porém nem tudo é nebuloso. Recordo perfeitamente que estava passando O Deserto Vermelho ( Il Deserto Rosso) de Michelangelo Antonioni, um sujeito com o qual eu não tinha nenhuma intimidade. Pensamos que era um filme de aventuras. ( O conteito de filme de ação acho que veio muito tempo depois) Pegamos o filme já iniciado, tropeçando no escurinho do cinema a procura de um lugar. Como todos devem fazer alguma idéia, se um filme caretão, (com começo meio e fim) já é difícil de acompanhar depois de se perder as cenas iniciais (Exisitiu um crítico no Rio de Janeiro - do qual gosto muito que começava a seu artigo em geral descrevendo as primeiras cenas dos filmes - alí para ele, acho estava a chave dos mistérios do ecrã), imagine um filme cabeça, complicadíssmo! Foi um breve contra a luxúria. É claro que não entendemos chongas. Saímos, imagino que foi no meio, nem tenho idéia, pois parecia que haveria uma eternidade pela frente para a gente assistir em ritmo lento quase parando.. Preferimos o céu e o mar e o céu azul de Paraty em vez do deserto vermelho de Antonioni. (Continua)
3 comentários:
Assisti a estréia de Blow-Up no Roxy (ou foi no Veneza?); não entendia o motivo de tanto auê por causa de um fotógrafo com ar "blasé"... só queria ficar babando para o Terence Stamp, com aquela franjinha beatleniana... Deste filme aí, só lembro da Vitti, a "Bardot" italiana.
Eu nunca acampei com irmãos. Muito menos em Parati.
Querida Tinê, voltarei aos dois filmes. Antes falarei da trilogia da incomunicabilidade. São esboços, nada é definitivo. Para ti pelo que vejo é Parati, para mim nem sempre foi Paraty, mas acho legal Paraty.
Mas esse não foi o único acampamento em que levei minha irmã, teve um outro muito mais precário, sem cinema mas com muita aventura.
bjs
Querida Tinê, já ia esquecendo, o galo amarelo feito com ladrilhos da Estação Cantagalo é da autoria de Urbano Alves Iglesias- obra de outubro de 2006
bjs
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