16.5.10

Dica do Gerdal:Teresa Cristina e Chico César assobem nos aro e puxam o fio da teia que traz João do Vale na asa do vento, neste domingo, a palco cario





"Peguei um trem em Teresina/pra São Luís do Maranhão/atravessei o Parnaíba/ai, ai, que dor no coração/o trem danou-se naquelas brenhas/soltando brasa e comendo lenha/comendo lenha e soltando brasa/tanto queima como atrasa..."
 
        Prezados amigos,
 
        E, assim, em itinerário distinto ao do bem percorrido na voz pela igualmente saudosa Irene Portela, João do Vale, natural de Pedreiras, maranhense como ela, saiu de São Luís e veio para o Rio de Janeiro, onde, apesar dos percalços sofridos, conquistou merecido destaque na história da MPB. Antes, porém, de "vir pro Rio morar", em 1950, trabalhando inicialmente em obra da construção civil em Ipanema, passou por diversas cidades, nas quais também "ralou" como pedreiro, além de garimpeiro - em Teófilo Otoni (MG) - e ajudante de caminhão, mantendo sempre consigo o vínculo cultural com o chão de origem, que o viu, ainda garoto, compositor de versos em grupo de bumba-meu-boi. Em anos dourados da Rádio Nacional, na antiga capital federal, conheceu um parceiro famoso e grande contador de "causos", o caruaruense Luiz Vieira, de cuja lavra comum surgiriam pérolas como "Estrela Miúda" - originalmente gravada por Marlene, em 1953 - e "A Voz do Povo" - faixa, por exemplo, do primeiro elepê gravado por outra maranhense, cheia de suingue, a cantora e pianista Tania Maria, em 1966, pela Continental. Com a primeira parte feita por João do Vale e a segunda por Luiz Vieira, o xote "Na Asa do Vento", do qual Caetano Veloso fez importante registro no elepê "Joia", em 1975, foi primeiramente cantado em disco por Dolores Duran, em 1956, e dá nome ao espetáculo em que um ex-jornalista paraibano, Chico César (foto acima), e uma carioca do samba trazida à luz do sucesso pela noite da Lapa, Teresa Cristina (foto acima), puxam o fio da teia que conduz - neste domingo, 16 de maio, às 19h30, no Teatro Nelson Rodrigues (Av. Chile, 230) - a uma memória cantada e contada do criador de "Carcará", que revelou Maria Bethania em 1967, no histórico show "Opinião", substituindo Nara Leão. Nele, Zé Kéti e o próprio João do Vale atuaram como os outros vértices de um triângulo socialmente escaleno, em que interagiam, na cena aberta do Opinião, por ideia de Oduvaldo Viana Filho, a moça de classe média, o suburbano pobre e o migrante de profissão esperança."Na Asa do Vento" tem ainda a participação do conjunto Pedra Lispe e do ator Flávio Bauraqui, com direção de Inez Viana ("flyer" abaixo).      
        Parceiro do sumido Ruy Maurity, o economista e crítico musical Márcio Paschoal lançou, há dez anos, pela Lumiar, a biografia "Pisa na Fulô, Mas Não Maltrata o Carcará", no que foi acompanhado, em termos evocativos, pelo polivalente Tião Carvalho, maranhense radicado em Sampa, que gravou, em 2006, um belo tributo a João do Vale - "um gênio", como a este costuma referir-se Luiz Vieira. Tião foi um dos muitos artistas - como Chico Buarque, Clementina de Jesus, Luiz Gonzaga, Djavan e até a argentina Mercedes Sosa - que, nos anos 80, às terças, passaram pelo Forró Forrado, no Catete, uma atração de ritmo arretado, animada pelo semi-analfabeto João, que aos 12 anos, na Praia Grande, em São Luís, também encarnou, na vida real, aquele "menino que foi pra feira vender sua laranja pra se sustentar", descrito em letra do violonista Theo de Barros para um sucesso conjunto de Elis Regina e Jair Rodrigues. Típico poeta do povo, de que tantos ainda não têm ciência, João, morto em 1996, paralítico, sem dinheiro e vitimado por derrame cerebral, pode ser visto, em "links" do Youtube,  abaixo, nas três partes de um documentário sobre ele dirigido por Werinton Kermes. Em três outros "links", é mostrado com Jackson do Pandeiro, lembrando o clássico baião "O Canto da Ema" (de João do Vale, Alventino Cavalcanti e Ayres Vianna), e ele próprio lembrado pelo conjunto de cegos maranhenses Tribo de Jah em "De Teresina a São Luís" (dos versos supradestacados, na parceria com Luiz Gonzaga) e pelo cearense Ednardo em "Na Asa do Vento", numa vigorosa e inusitada recriação.

http://www.youtube.com/watch?v=nCRNCkK7358
 

http://www.youtube.com/watch?v=qUawNS9JTP8
 

http://www.youtube.com/watch?v=d-f3YCUwrfU&feature=related
  

http://www.youtube.com/watch?v=OOvJ9C0m6zc

 
 
http://www.youtube.com/watch?v=xJv2Vw_64XI
 

http://www.youtube.com/watch?v=y3T2Pk0E4rs&NR=1
 

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