11.4.11

Luiz Bonfá: dez anos de silêncio de um violão brasileiro de amplitude internacional





Prezados amigos,
 
           Manhã, tão bonita manhã a brasileira a cujos primeiros raios de sol se juntam, na nossa percepção musical, as cordas do violão de Luiz Bonfá (fotos acima), numa delas com Tom Jobim) e tão clara e magnânima quanto o som delas característico. Uma manhã de carnaval iluminada em si mesma de todas as belas manhãs do planeta, de todas as estações do ano, já que o clássico desse carioca com letra de um pernambucano, Antônio Maria, inicialmente gravada por um paulista, Agostinho dos Santos, e feita para um longa, "Orfeu Negro", dirigido por um francês, Marcel Camus, em 1958, ganhou trânsito internacional, apreciada em tantas outras vozes de prestígio, como as de Frank Sinatra, Sarah Vaughan, Tony Bennett, Diana Krall e Perry Como. Também na trilha do filme, com letra de Maria, outra de Bonfá teria grande relevo, "Samba de Orfeu", em momento em que para este representaria um divisor de águas a partir do qual seus acordes, seu requinte técnico e sua harmonia refinada, aprimorada no convívio com Garoto ("Costumávamos ir para a casa dele, em Copacabana, e tocar durante horas, só nós dois", dizia Bonfá ), dotavam o seu instrumento de qualidade do tipo exportação. Autodidata a princípio, mas depois aluno de música clássica, já adolescente, do uruguaio Isaías Sávio, que nele vislumbrava um concertista para o calor do aplauso universal, em Luiz Bonfá tocou mais alto o apelo da canção popular, ouvida na infância, particularmente nas reuniões em que o pai, italiano, violonista e seresteiro, recebia em casa amigos como Pixinguinha e Bororó. Nascido em 1922, nos anos 40 já atuava na Rádio Nacional como componente do Quitandinha Serenaders (conjunto que gravou com sucesso "Felicidade", de Lupicínio Rodrigues, e foi batizado pelo produtor Carlos Machado quando de shows que este promoveu no Hotel Quitandinha, em Petrópolis) e, em 1946, realizou a sua primeira incursão no disco, pela Continental, com duas músicas de sua lira: "Uma Prece" e "Pescaria em Paquetá". Em 1953, com o desfazimento do conjunto, de que também tomou parte o ator gaúcho Alberto Ruschel - do premiado longa "O Cangaceiro" -, Bonfá deu asas próprias à criação e execução, tornando-se, pelo dedilhado "avant la lettre", muito melodioso e bem suprido de lirismo, uma ponte entre o samba-canção e a bossa nova, à qual se integraria, participando, em 1962, da famosa apresentação no Carnegie Hall, em Nova York. Foi o único compositor brasileiro gravado por um deus do rock, Elvis Presley, com a canção "Almost in Love", que, em 1996, intitulou um CD da bem conceituada internacionalmente Ithamara Koorax, todo dedicado a Bonfá - que tocou em várias faixas -, após  ele ter morado por longos anos nos Estados Unidos, onde trabalhou com Eumir Deodato e deu expansão mais jazzística à expressão da sua arte. Uma arte "non stop" de "master classes" de violão, "bonfabulosa".    
           Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção. 
 
           Um abraço,
 
           Gerdal
 
Pós-escrito: 1) Luiz Bonfá faleceu em 12 de janeiro de 2001 e dedico estas linhas de recordação ao seu sobrinho, compositor e também violonista dos bons, Tavynho Bonfá;
                      2) na sequência dos "links" abaixo: a) Luiz Bonfá, ao violão, e Fafá Lemos, ao violino, tocam "As`Pastorinhas", de Noel Rosa e Braguinha, faixa do elepê "Bonfafá" (foto de capa abaixo), de 1958, da Odeon; b) Bonfá em programa de Mike Douglas, na tevê norte-americana, em emissão em preto e branco dos anos 60, tocando "Menina Flor", composta com Maria Helena Toledo e mostrando uma batucada ao violão; c) o violonista-compositor lembrado por sua belíssima "Non Stop to Brazil"; d) um excepcional intérprete de Bonfá, o carioca Dick Farney, canta "Samba de Duas Notas";  e) outra gema de Bonfá, "Gentle Rain", pela dulcíssima Astrud Gilberto; f) Antonio Carlos Jobim, ao piano, com a banda que o acompanhou nos anos finais da vida dele, canta "Correnteza", maravilha da sua parceria com Bonfá; g) Bonfá canta, de sua autoria", "Perdido de Amor", acompanhando-se ao violão, expressão do seu marcante lirismo e muito bem reinterpretada, em 1995, em faixa-título de elepê da Som Livre, por Emílio Santiago.  
 
 
            http://www.youtube.com/watch?v=i9h8q8pp2Xs&feature=related ("As Pastorinhas")

 
             http://www.youtube.com/watch?v=CXT9M9eSG6k (Bonfá na tevê americana)
 
             http://www.youtube.com/watch?v=4bFT8iMfcaE&feature=related ("Non Stop to Brazil")
 
             http://www.youtube.com/watch?v=R8VpEJNspjs ("Samba de Duas Notas")
 
             http://www.youtube.com/watch?v=s6ndU7GKpjI&feature=fvwrel ("Gentle Rain')
 
              http://www.youtube.com/watch?v=8ZxxEf3hWXc&feature=related ("Correnteza")
 
             http://www.youtube.com/watch?v=NM_VUHoIlaQ ("Perdido de Amor")

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