30.4.08

Uti Possidetis ou Quem está pegando quem


(A notícia sensacionalista atual que contempla o jogador de futebol Ronaldo (alcunhado de fenômeno pelo seu desempenho em campo) diz que ele se meteu numa encrenca com travestis num motel da Barra. Os diários populares são todos unânimes em dizer que um dos travestis se transformou num zagueiro tuculento, e ao que parece fez uma marcação homem a homem em cima do centro-avante o que resultou na ida de todos para uma delegacia.
A vida privada dos outros não me interessa de maneira nenhuma, mas há um grande interesse das pessoas nessa coisa de I tube, You tube, We tube...onde tem sempre um vídeo registrando eventos desta natureza e outras coisas terríveis sobre o gênero humano)
Sintetizando, o povo quer saber quem está pegando quem na esfera das celebridades e subcelebridades..
Por essas e outras fui procurar uma croniqueta que fiz faz algum tempo e encontrei na minha gaveta empoeirada o cometimento que segue abaixo
)
Na tentativa de aprofundar o conhecimento sobre essa curiosidade dos não célebres sobre o que acontece com os célebres e os que se tornam célebres com a desgraça dos célebres, fui pesquisar na história da humanidade a genealogia da “pegação” e encontrei um documento que demonstra inequivocamente que desde a mais remota antiguidade tem sempre alguém interessado no que ocorre sob os lençois alheios.
Num fragmento encontrado no interior de urna em uma terma romana de século ainda não determinado achamos o seguinte relato:
“Tarquínio Prisco foi visto de mãos dadas com Commodus (o de lábio leporino) ao lado do monte Albano. Statilia Messalina, terceira esposa de Nero, garantem pescadores de fim de semana, mergulhava nua no Tibre, enquanto seu amante Sérvio Tulio, praticava a oratória, dizem as más línguas, numa "comitia curiata"(espécie de Assembléia formada pelas cúrias) e que se fazia acompanhar por Claudius Erectus, menino levado dos subúrbios do Lazio. Saibam que era comum nesse tempo de excessos manter um mancebo a disposição para jogos eróticos pouco ortodoxos.
Em outra ocasião festiva, melhor dizendo, uma orgia dos diabos, organizada pelo casal Caio Licínio Estolão e Lúcio Sexto foi pronunciada entre um ui e um ai, a primeira proposta que permitiu o acesso de plebeus aos bacanais. Isso resultou na chamada “Lex Licinia Sextia” e na palavra de ordem “Bacanal Já!” Houve que dissesse “Vamos organizar o contubérnio.” Outro marco (não confundir com Marcus, o matador do monte Palatino) da época foi quando Caio Petélio Libo Visolo, lendário cônsul depois da segunda guerra Samnita atenuou as leis contra os credores e com isso abriu caminho para a criação dos primeiros “concilium plebes” onde umas meninas bárbaras no verdeiro sentido do termo puderam mais tarde, enfim devorar o general Plúbio Cornélio Africanus Maior, que na intimidade era chamado de “Agrippina I” por causa de sua amizade calorosa com Germanicus, o general alemão que ficou célebre por ter cruzado duas vezes o Rubicão dizendo “Alea jacta est, alea jacta est!”(a sorte está jogada, jogadíssima!)
Mas na última temporada, quem fez o maior sucesso mesmo, foi o trácio Espartacus, também conhecido como Kirk Douglas que chefiou uma charmosa revolta de escravos e gladiadores trajando os últimos modelitos da moda- últimos no seu cruel sentido. Essa foi história narrada com grande competência por um cineasta britanicus de nome Kubrick, que só estava alí por um paradoxo temporal – Ó têmpora, Ó moris ( para os analfas em latinidades como eu, isso quer dizer: “Ó tempos, Ó costumes!) – dizem que quem traduziu esse desabafo romano foi Machado de Assis, que como todos sabem é um famoso escritor do Cosme Velho, que fica ao lado de Cosme Novo alí por perto da via Ápia menor.
De qualquer forma, conta-se que o herói gladiador foi vencido por um playboy, o riquíssimo Marco Licínio Crasso – que fazia jus ao seu sobrenome e que mandou crucificar 6.000 dos companheiros do trácio que ele só conseguiu traçar depois de morto, num churrasquinho macabro onde inventou a prática da necrofilia.
Observe-se que a sodomia tinha sido já patenteada na cidade de Sodoma que rivalizava como Gomorra em formas estranhas de relacionamento.
A dupla Tibério e Caio Semprônio Graco não ficou atrás inaugurou a especulação imobiliária em Roma num “megashow” capitaneado por Cipião Emiliano, que tinha uma Linda voz e cantava todos. O único baixo astral da festa foi quando Marco Otávio entrou numas de vetar a medida especulativa (de speculus), aumentando a temperatura da sauna . O sogro de Caio, Ápio Cláudio Pulcro,no entanto, ao manobrar pelos bastidores, foi pelos fundos do camarote do “Vinho Vespasianus” e teve um contratempo que deu o tom da época- rodou a baiana quando viu sua esposa Poppaea, já balzaquena, numa tenda agarrada com Russel Crowe, outro truculento gladiador dentro e fora das telas. A crônica do evento, cantada em prosa e verso pelo poeta Vinicius de Moralis considerou tudo isso uma caipirada. Disse que Roma era o túmulo do samba e o ator australianus um canastrão de primeira. Não é que o simplório cobriu de tabefes o pobre do marido traído, como se já não bastasse o enganado acumular o consulado da Cornuália.
Para terminar, todo o império Serrano sabe de cor e salteado o enredo do incendiário Nero. Dizem as mais obscenas línguas que o pimpolho fogueteiro “pegou” Agripina, sua própria mãe de forma muito ardente. Calígula, por outro lado, parece que depois de ter “ficado” com sua irmã , “pegou” o seu cavalo, que também passou a ser conhecido como senador Incitatus.”
Acho melhor parar por aqui, pois isso já virou um samba do romano doido.
(Nota da redação: Se você acha esse relato maluco, sem pé nem cabeça, leia o livro Satyricon de Petronio - tem uma tradução moderníssima de Paulo Leminski que afirma num prefácio que se trata do mais antigo de todos os romances- quem sabe o pioneiro desse gênero literário que continua de pé apesar de muita gente já te feito seu obituário. Este livro da época de Nero é um escândalo e mostra muita coisa dos usos e costumes da Roma escravagista)

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