10.6.08

Novo livro sobre o Poder


O Professor Marco Aurélio Nogueira acaba de publicar um livro sobre o poder Potência, Limites e Seduções do Poder pela Editora Unesp. A idéia foi fazer um livro didático sobre o tema sem ser chato. Marco Aurélio alia um baita conhecimento de Ciências Políticas com um texto ágil, leve, agradável e que consegue nos fazer viajar por temas complicadíssimos com a maior tranqüilidade, isso sem baixar nível.
Quem quiser comprar o livro é só procurar ou diretamente na Editora Unesp ou nas livrarias existentes. Nos sites tipo Fnac, Submarino, Cultura e Saraiva, sempre se encontram descontos.
Vai ai embaixo a reprodução da introdução dessa obra só para dar uma idéia desse cometimento do meu amigo Marco Aurélio:
“ O tema não aceita indiferença. Sempre houve e sempre haverá quem receie o poder ou se incomode com o poder. De uma ou outra forma, todos são magnetizados por ele. O poder seduz. A própria sedução é um de seus principais recursos. Sempre há quem sofra com o poder e quem cobice o poder.

É um assunto universal, de todos os tempos, presente em todas as culturas, objeto de conversas de bar e de tratados refinados escritos por pensadores dos mais diferentes estilos e das mais díspares orientações ideológicas. É daqueles temas que costumamos chamar de clássicos, que nunca saem de cena e que se tornam sempre mais fascinantes a cada nova abordagem, ainda que não fiquem necessariamente mais bem compreendidos. Podemos partir dos antigos filósofos gregos, passar pelas reflexões teológicas da Idade Média, freqüentar os clássicos modernos (Maquiavel, Hobbes, Kant, Rousseau, Hegel, Marx) e chegar aos contemporâneos, e iremos nos deparar com a mesma inquietação, com o mesmo interesse em entender as armadilhas, as sinuosidades, as misérias e a potência do poder.

Por que alguns mandam e outros obedecem? De que métodos e recursos se valem os que mandam? Como conseguem obter apoio e consentimento? Como justificam e como é recepcionado este poder? Em seu famoso Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1762), Jean-Jacques Rousseau propôs-se claramente a explicar por qual “encadeamento de prodígios” o forte – isto é, a maioria -- pôde resolver-se a servir ao fraco, aceitando uma dominação que, em nome de uma “felicidade real”, deu-lhe apenas uma “tranqüilidade imaginária“. Não foi o primeiro a se dedicar ao problema, mas seu texto marcou época na história do pensamento político.

Amado e odiado indistintamente, o poder perturba, leva pessoas à loucura, corrompe e alucina, mas também serve para que se movam montanhas e para que multidões dispersas se organizem. O poder reprime e prejudica, mas também acalenta, protege, incentiva e beneficia. Costuma ser utilizado tanto para conservar quanto para revolucionar, tanto para promover mudanças quanto para preservar o status quo. É visto como instrumento e como fim último, como recurso e como meio de vida.

Diante do poder, não há como simplesmente darmos de ombros e acharmos que não tem nada a ver. Podemos não gostar dele, mas não temos como evitá-lo nem como subestimá-lo. Podemos pensar que ele não é um tema atraente, que há coisas melhores para se estudar, mas não compreenderemos os horrores e as maravilhas do mundo se não incluirmos o poder e não tentarmos decifrar o poder.

O anedotário sobre o poder é ilimitado. Todo povo cria fantasias sobre o poder e o explica de algum modo. Não há quem não ache, ao menos por uma vez, que os governos são sempre arrogantes com os cidadãos mais fracos e rastejam diante dos poderosos. Todos crêem que os políticos são simpáticos quando precisam pedir votos aos eleitores e se convertem na encarnação mesma da empáfia e da soberba quando chegam ao poder. A vida está cheia de pequenos tiranetes que se incham quando põem a mão em alguma nesga de poder. Servidores públicos, policiais, gerentes de banco, empresários, chefes de seção, jornalistas, técnicos de futebol, professores, top-models e artistas famosos sempre têm seu instante de poder e arrogância. Nestas ocasiões, pisoteiam e maltratam quem lhes aparecer pela frente, abusando de todos os recursos de que dispõem para humilhar o próximo ou para dele se distanciar. São momentos parecidos com os quinze minutos de fama que Andy Warhol atribuiu como “direito” para cada um dos habitantes das sociedades dotadas de um forte sistema de mídia. A fama e o poder muitas vezes andam juntos, mas são coisas bem diferentes.

O texto que se segue pode ser entendido como um convite para que nos interessemos pelo tema. Seguindo a sugestão feita décadas atrás por um pequeno livro do filósofo Gérard Lebrun (1981), tentaremos seduzir o leitor a olhar o poder como assunto digno, crucial, estratégico, se possível desfazendo-se de alguns preconceitos e indo além de algumas “evidências”. O plano não é convencer ninguém nem da “bondade” nem da “maldade” intrínsecas ao poder, mas sim abrir algumas clareiras para que se possa pensar o poder como um fato integrado à vida, que se insinua em nossos discursos, em nossos relacionamentos amorosos, em nossa atividade produtiva, nas lutas que travamos para ser felizes ou simplesmente para defender nossos interesses.

O poder está em toda parte. Tem muitas faces, múltiplas dimensões e inúmeras falas. Exibe-se e se oculta com igual dedicação. Ama a exposição e não vive sem o segredo. Podemos odiá-lo, cobiçá-lo, combatê-lo ou apenas temê-lo. Justamente por isso, não temos o direito de ignorá-lo e de não tentarmos compreendê-lo. Se assim procedermos, acabaremos por não saber bem o que fazer com o poder que temos e com todos os pequenos e grandes poderes com que interagimos. ”

Um comentário:

ze disse...

Haviam os Três Estados - que eram quatro. É o molde tradicional. Estas coisas não acabam.