10.6.08

Saci - Mascote da Copa. Por que não?


(Texto de Mouzar Benedito retirado do site ViaPolítica)
Saci: mascote da Copa
O ano de 2014, quando acontecerá a Copa do Mundo no Brasil, ainda está longe, reconhecemos. Mas, desde já, depois de uma reunião na Biblioteca Monteiro Lobato, em São Paulo, decidimos começar uma campanha para escolher o Saci como mascote da Copa do Mundo que será realizada no Brasil.

Tem sentido, e muito.

Se a gente bobear, lobistas, marqueteiros e alguma grande agência de publicidade vão inventar um mascote qualquer, que não terá nada a ver com o Brasil e a cultura brasileira, e ganharão muito dinheiro em cima disso. E será um mascote que, terminada a Copa, ninguém mais vai lembrar, como aconteceu com o tal Cauê, um sol estilizado, muito esquisito, mascote dos Jogos Panamericanos do Rio. Não pegou, não colou. Quem tem, por exemplo, uma camiseta com o Cauê estampada? Nunca vi. Pode ser que tenha, mas nunca vi.

O Saci tem muitas vantagens.

Primeiro, sendo um mito, habitante do nosso imaginário, não vai render direitos autorais a ninguém. O que poderão (e será bom) fazer é um concurso para escolha do melhor Saci, em que poderão concorrer cartunistas, ilustradores e desenhistas em geral, inclusive amadores.

Depois, podemos listar ainda uma séria de qualidades dele. Uma é a cor negra, característica da maioria dos brasileiros pobres, vítimas de preconceitos, e também, acredito, da maioria dos nossos futebolistas. Para completar, é deficiente físico, sem roupa... e é um brincalhão, um gozador nato. Mais brasileiro do que isso, impossível.

Tem mais: na origem, ele era um indiozinho protetor da floresta, com duas pernas. Depois é que ganhou a cor negra como a dos escravos que o adotaram. E foi aí que perdeu uma perna. São várias histórias sobre como isso aconteceu. Uma delas, que preferimos, é que ele foi escravizado, e dormia preso por grilhões em uma perna. Uma noite, cortou a perna e fugiu. Preferiu ser um perneta livre do que um escravo com duas pernas. Portanto, é um libertário. Aí, ganhou um gorrinho vermelho, dado pelos brancos.

Na Europa, vários mitos têm gorrinhos mágicos semelhantes ao dele. Durante a Revolução Francesa, os republicanos usavam também um gorrinho como o dele. Na Roma antiga, o escravo que se tornava livre também ganhava um gorrinho vermelho, chamado píleo. Então, ele é a síntese dos três povos que formaram o brasileiro: ameríndios, africanos e europeus. Só não tem orientais na sua formação porque eles começaram a chegar aqui no século XX. Mas tem quem conte que andou vendo Saci de olho puxadinho no bairro da Liberdade, em São Paulo, povoado principalmente por japoneses e chineses.

Mas ainda não acabei. O Saci, como outros mitos de origem indígena, é um protetor do meio ambiente, principalmente da mata. Outros mitos protegem a água e os peixes (Iara), os campos (Boitatá) e os animais (Caipora), mas o Saci é o mais conhecido de todos, é o mais popular dos mitos brasileiros. Se a gente fala dos outros mitos, conforme o lugar, é preciso explicar o que é, o que faz. O Saci, não. Se falamos dele em qualquer estado brasileiro, todos sabem que é um negrinho perneta, brincalhão, aprontador, que pita um cachimbinho, tem um gorrinho vermelho, que é mágico e anda nos redemoinhos.

Se ele for o escolhido, o mundo todo vai se interessar por conhecer um pouco da nossa cultura popular, ao contrário de mascotes inventados do nada. Já imaginou chegar a países da África, Europa, Oceania, Ásia e América e dar de cara com pessoas usando camisetas com estampa do Saci? Será o Brasil espalhado pelo mundo.

Viva o Saci, com a bola no único pé (fabricantes de chuteiras chiarão?) dando um baile nos gringos! Antes que algum aventureiro lance mão da mascote da Copa... escolhamos o Saci. Queremos o Saci!

7/6/2008
Sobre o autor, leia também 1968, por aí... Memórias burlescas da ditadura , uma resenha de Omar L. de Barros Filho publicado aqui neste blogue também sobre o recém lançado livro de Mouzar Benedito.

6 comentários:

J.BOSCO disse...

Liberati, achei a idéia fantástica,o saci é um símbolo que pode representar em todos os sentido culturais a cara do Brasil.Tem salão de humor que ainda não sacou esse mascote de nosso imaginário popular amazônico!!
Essa idéia tem meu voto!!!
abração

LIBERATI disse...

Pois é J.Bosco, a idéia é do nosso grande jornalista e escritor Mouzar Benedito. Eu acho que vai dar o maior pé.
Um abração

ze disse...

o gorro vermelho da Revolução francesa é o barrete frígio; me parece chapéu antigo símbolo da república (acho que o Zuenir falou que '68 nunca acaba porque a Revolução nunca acaba, a idéia da Igualdade, Liberdade, Fraternidade e depois o Comunismo mesmo). o pessoal puritano é contra tabaco e cânhamo, e vão chiar. a idéia de um pé só é ótima.

LIBERATI disse...

Caro Zé, o grande mérito dessa proposta do Mouzar é causar uma polêmica dos diabos. É por isso que ela é ótima. Derruba todas as idéias do politicamente correto. Nosso herói Saci é genial!
Um abraço

ze disse...

O curupira, caipora, capoeira, com os pés para trás é amigo íntimo do saci, está do lado dele! se encontram sempre no meio da mata e conversam. felicidades.

Caio de Santi disse...

E o Saci, mascote do INTERNACIONAL, é o único campeão de TUDO!

SACI, SACI, SACI!