23.3.09

Homenagem do Gerdal - A carioca Bidu Reis: longevidade bem disposta, com muita poesia e boa música


"Garçom, apague esta luz/que eu quero ficar sozinha/garçom, me deixe comigo/que a mágoa que eu tenho é só minha/quantos estão pelas mesas/bebendo tristezas, querendo ocultar/o que se afoga no copo, renasce na alma, desponta no olhar..." Com esse hino nacional da dor-de-cotovelo, Bidu Reis, cantora, compositora e pianista, logrou o seu maior êxito, em 1957, pelo inconfundível grave do recado de Nora Ney. Lançado pouco antes, na Rádio Nacional, pela própria Bidu Reis, "Bar da Noite" teve melodia aplicada sob medida por ela à letra que Haroldo Barbosa, colega de emissora, lhe confiara com essa finalidade. Em 1955, Os Cariocas já haviam lançado da dupla o samba "Qu`est-ce Que Tu Penses?", e, com Dora Lopes, no ano seguinte, com "Quatro Histórias Diferentes", e Mário Lago, em 1958, com "Tudo Passa", por exemplo, essa carioca do Meier, moradora do Rio Comprido, encontraria, por exemplo, dois outros parceiros de destaque. Na mesma Nacional campeã de audiência da época, conhecendo um fotógrafo vindo de São Fidélis (RJ), Mário Lattini, outro sucesso surgiu de imediato: o bolero "Interesseira", gravado por um ex-balconista de farmácia, o baiano Anísio Silva. Há muito dedicada aos destinos da União Brasileira de Compositores (UBC) e ao mister poético, Bidu Reis é também autora de um livro infantil, "A Inteligência dos Animais", talvez inspirado na sua longa lida com a criação de canários.
De uma brincadeira dos seus verdíssimos anos - "bidu, bidu, bidu...", com cosquinha no queixo -, feita pelo pai, também pianista, com ela no colo, adveio a Edila Luísa Reis a ideia de adotar o mimo no nome artístico, numa carreira principiada na adolescência em dupla de curta existência, As Moreninhas, com Emilinha Borba, um ano mais velha do que ela, na Rádio Nacional e em outras emissoras. Retornando à Nacional, em 1939, após um lapso de afastamento das ondas curtas, Bidu integraria outras formações vocais, como As Três Marias (inicialmente ao lado de Marília Batista e Regina Célia), esta por iniciativa de um dos diretores da estação, José Mauro. Estava, então, em curso o ano de 1942, no qual participaram do primeiro registro em disco, acompanhando Linda Batista numa das mais belas inspirações de Herivelto Martins, "Bom Dia", em parceria com Aldo Cabral. Há alguns meses, tive a satisfação de conversar longamente com Bidu ao telefone, numa ligação em que esbanjou, no dizer dos franceses, "savoir-faire" e "joie de vivre". Curiosamente, a esportiva Bidu, seguindo caminho inverso ao daquele que leva "fracassados do amor" ao "tristonho sindicato de sócios da mesma dor" - ou seja, o caminho de quem segue a seta dos versos do seu famoso samba-canção -, não bebe nem fuma. No último dia 5 de março, com saúde e muita disposição, completou 89 anos.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
(NR- Na foto que ilustra este post, Emilinha Borba e Bidu Reis)

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