23.4.09

Homenagem do Gerdal -Synval Silva - 15 anos de saudade desse condutor de Carmen Miranda ao sucesso


Taí o samba que você pediu, Marina/taí, eu fiz tudo e você desistiu, Marina/taí, meu amor, toda a minha afeição/e você vai me matando pouco a pouco de paixão..." Era 1968, ano da I Bienal do Samba, e, com essa outra "Marina", bem mais espevitada no ritmo e no proceder que a de Caymmi, Synval Silva, com a interpretação de Noite Ilustrada, brilhava numa das eliminatórias da contenda musical, ganha por Elis Regina com "Lapinha", de Baden Powell e Paulo César Pinheiro. "Marina" ´é um samba que o próprio Synval regravou, aos 61 anos, na faixa de abertura do único elepê que lançou, em 1973, com arranjos de Nelsinho e Peruzzi, pela série Documento da RCA. Parceiro de Nélson Trigueiro em "Crioulo Sambista" ("Quase todo crioulo do morro é sambista/toda mulata bonita é artista/desempenha diversos papéis sozinha/à noite, ela samba no morro/de dia, ela enfrenta a cozinha...") e de Herivelto Martins em "Negro Artilheiro" ("Roda de samba de negro não tem mais cachaça/há muito negro artilheiro defensor da raça..."), Synval também deu emissão própria, na faixa final desse disco, à sua bela exaltação, de recorte clássico, "Brasil, Explosão do Progresso" - feita com Jorge Melodia -, um samba-de-enredo que embalou o desfile de 1973 da Império da Tijuca, escola de samba da qual foi fundador, baseada no Morro da Formiga, na Tijuca, onde morou por muito tempo.
"Coração, governador da embarcação do amor/coração, meu companheiro na alegria e na dor/a felicidade procurada corre/e a esperança é sempre a última que morre.." Esse samba, "Coração", foi uma das vias, nem sempre bem pavimentadas, pelas quais Synval Silva, motorista particular de Carmen Miranda, conduziu-a ao concorrido destino do sucesso. O mesmo percurso ela fizera com "Arlequim de Bronze" ("Ó Deus, eu me acho tão cansada/ao voltar da batucada/que tomei parte lá na Praça Onze/ganhei no samba um arlequim de bronze/minha sandália quebrou o salto/e eu perdi o meu mulato lá no asfalto...."), outro samba de Synval, de cujas piadas a Pequena Notável ria-se à larga, não raro arranjando-lhe um bico de corista em gravações ou mesmo em algumas das suas apresentações. Se Carmen é reverenciada neste ano pelo seu centenário de nascimento, também é justo que Synval Silva seja lembrado por outra data enxuta: em 14 de abril de 1994, esse mineiro nascido em Juiz de Fora, como Geraldo Pereira, após ter valorizado a nossa música popular, guardava no lenço uma lágrima sentida e dava o seu adeus à batucada. "Adeus, adeus/meu pandeiro do samba, tamborim de bamba/ já é de madrugada...."
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
A tempo: dedico essas modestas linhas de preito pessoal a Synval Silva ao cantor Carlos Mauro, do conjunto Tio Samba. O Tio Samba, juntamente com uma cantora admirável, Simone Lial, tem feito uma magnífica reminiscência, "É Batata!", da trajetória de Carmen Miranda. Vi o espetáculo por duas vezes no Centro Cultural Carioca - retorna a esse palco no próximo mês, como anunciado - e, nessas oportunidades, Carlos Mauro, também condutor da narrativa e fã de Synval, sublinhou que se trata de um compositor não tão conhecido ou lembrado, como deveria. É o que dá viver num país culturalmente maravilhoso e variado, cuja memória de grandes artistas, no entanto, especialmente na mídia de massa, pelo descaso ou pela ignorância, costuma ser tratada com a profundidade de um pires.
NR: A foto que ilustra este post foi obtida no blog cifra antiga no seguinte endereço http://cifrantiga2.blogspot.com/2007/02/synval-silva.html

Um comentário:

Carlos Mauro disse...

Muito obrigado, Gerdal, pela honrosa deferência que você me prestou ao lembrar-se de mim em sua tocante homenagem a um dos mais brilhantes compositores brasileiros, o grande Synval Silva. Eu e todos os meus companheiros do Tio Samba não fazemos mais do que a nossa obrigação pois, ao falarmos sobre este sambista genial e apresentarmos algumas de suas músicas, estamos tentando retribuir o imenso carinho do nosso público com o melhor da música brasileira que nos é acessível.