12.2.10

Homenagem do Gerdal: Uma lembrança de Roberto Roberti, compositor inscrito na pauta do carnaval de todos os tempos - "Música, maestro!"



"Ai, ai, ai, Isaura,
          hoje eu não posso ficar.
          Se eu cair em teus braços,
          não há despertador que me faça acordar..."
          ("Isaura", samba de 1945, composto por Roberto Roberti e Herivelto Martins)
  
 
        Irrequieto, atento aos fatos, observador dos costumes, sempre com uma caneta na mão e uma ideia na cabeça para uma música - especialmente samba ou marcha de carnaval -, como já o descreveu Mário Lago, seu parceiro na clássica "Aurora", o tijucano Roberto Roberti (foto acima) completaria 95 anos no dia 9 de agosto deste 2010. Com Mário Lago faria ainda, por exemplo, a marcha "Eu Quero Ver É a Pé", mas, sobretudo, na companhia de Arlindo Marques Jr. - um jornalista letrista como Orestes Barbosa -, desfrutaria da parceria mais constante. De ambos, entre outros, são os sucessos "Abre a Janela" ("abre a janela, formosa mulher/e vem dizer adeus a quem te adora/apesar de te amar como sempre amei/na hora da orgia eu vou embora..."), de 1938, e "O Homem sem Mulher Não Vale Nada ("saí de casa disposto a procurar/ aquela que há de ser a minha amada/pois o meu coração é que me faz recordar/que o homem sem mulher não vale nada"), do ano seguinte, ambos gravados por Orlando Silva; "Nós, Os Carecas", de 1942, pelo conjunto Anjos do Inferno, e "Sistema Nervoso" (também na parceria com Wilson Batista), gravado por Orlando Correia em 1953..
          De um encontro casual com o humorista Jorge Murad (que por muito tempo teve um programa líder de audiência no rádio, "Pensão do Salomão"), resultou a marcha "Até Papai", também composta com Arlindo Marques Jr., gravada pela dupla Joel e Gaúcho (a mesma do registro original de "Aurora") e bastante cantada no carnaval de 1941. Também o foram a marcha "Que Passo É Esse, Adolfo?", feita com Haroldo Lobo para o carnaval do mesmo ano e gravada por Aracy de Almeida, e o samba "Eu Não Posso Ver Mulher", em companhia de Oswaldo Santiago, ainda em 1941, com gravação de Francisco Alves. Tirante o antes chamado tríduo momesco, esse desassossego criativo de Roberto Roberti fluiria para desaguadouros rítmicos menos agitados e alegres, como nos compassos romanticamente envolventes de um belo fox-canção, "Dos Meus Braços Tu Não Sairás", um dos maiores sucessos interpretados pelo "Metralha", o cantor Nelson Gonçalves.        
          No início dos anos 90, tive a satisfação de conversar com Roberto Roberti, pela manhã, em meios de semana, por várias vezes, ao telefone, quando ele, por exemplo, contava-me histórias das suas músicas, sem que eu, no entanto, por causa do meu horário de trabalho, pudesse conhecê-lo pessoalmente. Eram ocasiões em que ele ligava para o meu pai para avisar que viria ao Rio, vindo do sítio onde morava, em Conrado - distrito de Miguel Pereira -, e ambos, à tarde, ao longo de dois anos, encontravam-se no Centro do Rio para um bate-papo descontraído num bar ou numa leiteria, ocasiões ainda em que Roberto Roberti costumava passar na UBC (União Brasileira de Compositores) para cuidar de um ou outro interesse profissional e rever amigos na entidade. Uma amizade de contato amiudado por dois anos, nascida em Conrado, na casa de Roberto Roberti, vizinho de um tio meu, irmão do meu pai, que o apresentou a ele. Por várias vezes, meu pai esteve lá, nessa paragem fluminense, onde, ainda na casa de Roberti, passou momentos muito agradáveis e divertidos, dos quais até resultaram três marchinhas inéditas dele com o meu velho, que as tem gravadas em audiocassete na voz do próprio anfitrião. Como diz Mário Lago em depoimento dado em raríssimo programa de tevê feito em 1992 com Roberto Roberti pela antiga TV E - da série "Em Algum Lugar do Passado" -, a palavra "inquietação" foi feita esperando que ele nascesse, pois em tudo Roberto Roberti, morto em 16 de agosto de 2004, detectava um motivo para composição. Como neste outro sucesso dele, de 1939, com letra de Arlindo Marques Jr. e gravação de Dircinha Batista: "Música, maestro!/quero ver o meu amor dançar/que bom, ioiô/que bom, iaiá/tá na hora do baile começar/música, maestro!/não deixe o samba esfriar..."

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