25.10.17
Algumas Biografias de Stalin - Parte III
Stalin- Capítulo 3 - O Desconhecido
Em “Um Stalin desconhecido” os irmãos Zhores e Roy Medvedev elaboraram 15 ensaios que contemplam temas obscuros e polêmicos da biografia do líder soviético. Esses georgianos e ex- dissidentes demonstram uma visão objetiva, não contaminada pelo rancor, mas nem por isso condescendente com a figura de Stalin. Não o vêem, por exemplo como um usurpador, mas legítimo representante de uma tendência dentro da elite do partido bolchevique e que lutou arduamente entre 1923 a 1929 para “ascender ao papel de ditador”. No entanto, também não o consideram uma autoridade carismática, (e aí lançam mão de uma classificação weberiana da autoridade), mas sim como portador de um tipo de “prestígio” alcançado pelo funcionamento de uma máquina bem azeitada que produzia o que chamam de “megaproganda”.
De início desconstroem a lenda que envolve a sua morte, no qual descartam a hipótese de conspiração e envenamento que consta em vários livros. A seguir especulam sobre a existência de um herdeiro que permaneceu como eminência parda.
Examinam também o destino dos famosos arquivos secretos de Stalin que foram confiados a Beria, Malenkov e Kruchev e viraram fumaça. Revelam o objetivo por trás da destruição sistemática da memória stalinista e seus colaboradores: apagar as marcas de sangue do passado, e outros crimes, já que boa parte desses arquivos continham os famosos dossiês incriminadores que faziam parte do método de Stalin chantagear e obter a lealdade de seus comandados. Além disso, a liderança emergente temia a existência de diretrizes testamentárias do falecido que poderiam atrapalhar suas carreiras. Concluem com uma rematada bobagem: ver nesses atos de destruição da memória algo positivo. Os bastidores do famoso 20º Congresso do PCUS também é esmiuçado. Focalizam principalmente o impacto que as denúncias de Krushev tiveram na URSS, o desmanche dos gulags e o fenômeno do surgimento de duas Russias, coisa pouco estudada.
Um grande capítulo é dedicado à questão das armas nucleares. Nele dão uma pequena aula de química e física, especificando detalhes das dificuldades de construção das bombas de urânio, plutônio e de hidrogênio. E mostram o enorme esforço soviético para acompanhar os EUA, desde a mobilização de cientistas que competiam com os rápidos computadores americanos até espiões e colaboradores comunistas que mandavam suas descobertas do ocidente. Capítulo especial é dedicado ao “gulag atômico”, o uso de campos de trabalhos forçados com milhares de prisioneiros envolvidos na edificação de verdadeiras cidades, num projeto ultra-secreto que teve grandes e graves acidentes numa corrida que não economizou vidas nem de sua elite científica. A seguir narram o tragicômico episódio, onde o tenente Razin, admirador de Clausewitz perdeu uns dentes mas ganhou a patente de general.
Grotesca também é a participação do doutor Lysenko, um lamarckiano de carteirinha, na história das ciências biológicas soviéticas e no azar de vários colegas que discordavam de suas teorias.
Noutro capítulo, mostram a ambição risível que Stalin alimentava de ser um intelectual e como dava pitaco em tudo, inclusive na área da linguística. Orwell iria adorar esta parte. Dois ensaios dão conta o comportamento de Stalin durante a segunda grande Guerra mundial que segundo eles foi positiva. O líder não tremeu nas bases. Nisso estão em desarcordo com Montefiore. Não deixam de registrar que parte da debilidade das forças soviéticas, durante os embates teve origem nos expurgos que ocorreram nas suas fileiras quando grande parte da oficialidade do Exército Vermelho e da Marinha foi presa ou fuzilada. A seguir falam de um general injustiçado pela história, Josef Apanasenko, e revelam como ele foi um grande herói da Guerra sem ter participado do combate direto. Na última parte do livro, tratam da feição russa nacionalista do ditador georgiano a começar pela transformação dos seus retratos oficiais. Mostram a divergência com Lenin que inicialmente havia se impressionado com sua performance, mas discordava de sua posição não internacionalista e de seu projeto de constuição em moldes centralizadores. Essa versão contradiz Montefiori que disse ter Lenin se interessado pela idéia de Stalin de manter o império Russo unido. Antes de fechar o livro, é exposta a face sádica de Stalin quando da eliminação de Bukharin, um dos melhores quadros da revolução. Por fim falam da relação fria do líder da URSS com sua mãe, que nem nos funerais dela compareceu.
(Amanhã Final da Resenha)
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