7.11.07

Enfim a letra de Woodstock


Woodstock
I came upon a child of God
He was walking along the road
And I asked him, where are you going
And this he told me

I'm going on down to Yasgur's farm
I'm going to join in a rock'n'roll band
I'm going to camp out on the land
And try and get my soul free

We are stardust
We are golden
And we've got to get ourselves
Back to the garden

Then can I walk beside you
I have come here to lose the smog
And I feel to be a cog
In something turning

Well, maybe it is just the time of year
Or maybe it's the time of man
I don't know who I am
But life is for learning

We are stardust
We are golden
And we've got to get ourselves
Back to the garden

By the time we got to Woodstock
We were half a million stong
And everywhere there was song
And celebration

And I dreamed I saw the bombers
Riding shotgun in the sky
And they were turning into butterflies
Above our nation

We are stardust
million-year-old carbon
We are golden
caught in the devil's bargain
And we've got to get ourselves
Back to the garden

(Observação: Não gostaria criticar a versão dada por Arthur Nestroviski, afinal é uma versão e como diz o ditato traduttore traditore. Mas, eu acho que ele não captou o lado místico quase bíblico da poesia de Joni Mitchell. Amanhã boto a versão dele e a que eu acho que pega essa vereda. E vocês? Vão interpretando aí e depois contribuam para a exegese da canção. A canção que segundo Camile Paglia, encerra a época da canção. Eu diria que essa canção é mais do que isso. Encerra uma utopia , uma pastoral. Ela reflete tardiamente os eventos de 68 que marcaram todo o mundo e especificamente os EUA. Neste país do norte, dois acontecimentos mexiam com a cabeça não só dos jovens. Um era a luta pelos direitos civis e a outra a luta contra a Guerra do Vietnam. Na França os estudantes derrubavam as prateleiras e diziam não ao não. Não havia uma agenda comum de reivindicações (vou botar em seguida uma resenha que fiz do livro de Kurlansky sobre 68) Mas, por enquanto o que importa é dizer que Woodstock acontece em 1969, reflexo direto dessas lutas. Pregava principalmente um encontro de jovens como exemplo para um mundo de paz e amor.Era também um empreendimento comercial que a princípio não deu certo. O pessoal começou a furar os bloqueios e invadir a fazenda. Era o MSS, Movimento dos Sem Som. É bom salientar que nesse encontro, onde não aconteceu nenhum crime, nenhuma agressão se tentava o sonho. Enquanto rolavam os três dias de rock Nixon articulava seu poder. O ardiloso Dick. Mais tarde em Altmont num concerto dos Rolling Stones um negro foi assassinado - a segurança do frágil evento estava nas mãos dos Hell's Angels. Um dia John Lennon disse que o sonho tinha acabado e que ele não acreditava em mais ninguém e que Deus era um conceito. Num outro dia nebuloso um rapaz com um exemplar de "O Apanhador no Campo de Centeio" debaixo do braço meteu um balaço no pai do Sean. Em algum momento disso aconteceu o Watergate, vieram os youppies, a especulação financeira ,a cocaina potencializando o já exacerbado espírito competivivo, o cinismo tomou conta da cena, uma visão hedonista que passou por cima dos pobres que se coçavam embaixo da Golden Gate e acabou na "Fogueira das Vaidades" (o extraordinário romance de Tom Wolf que dá um retrato fiel dessa época),E não podemos esquecer do "Psicopata americano", os espantosos avanços da era do computador, a "new age", o individualismo, grana fácil das bolsas, uma baita solidão, 'Denise está chamando", a música eletrônica, o dançar sozinho nas boates da moda, as grifes e seu mundo artificial, uma dificuldade de amar, de sonhar, um mundo brutalmente material, o "reaganismo", o "tatcherismo", o desemprego, o punk, a crise estrutural do capitalismo se desenhando e mais tarde arrastando o leste europeu, anarquia como solução para a classe operária abandonada pelos partidos obreiros(a traição dos trabalhistas ingleses com o blefe Blair) e pelo Estado do bem estar, a ideologia neoliberal e o novo Deus-Mercado ditando as regras.E assim desembocamos na concepção de globalização em que uns são turistas, o poder está naquelas agências capazes de criar a maior sensação de incerteza. À margem uma massa denominada de vagabundos, párias desprezíveis que devem ficar presos em seus locais imundos, e se se comportarem fora da pauta devem ser encarcerados. A reacão dos guetos, as favelas o rap, o funk, o mercado paralelo dos alteradores de consciência, a boca das drogas...Bauman explica melhor isso tudo.(Globalização e conseqüências humanas) Assim o mundo ficou pior, mas pode ser uma fase, um ciclo. Tem uma garotada que pensa diferente dessa grande mentira que é o grande cassino em que transformaram o mundo.Pensa diferente desse fascismo disfarçado, embora tenha encontrado um mundo que pensa ser um eterno presente. Cadê o futuro?

4 comentários:

Anônimo disse...

Enquanto os hippies deitavam e rolavam no pó das estrelas douradas, naquele gramado sideral americano, em França os jovens caminhavam lado a lado a cantar:
"C'est une poupée, qui fait non, non, non, nonnnnnn..."

Anônimo disse...

há um erro, ouso dizer, no 'paraíso perdido': na realidade Eva /Adam saem do paraíso com a árvore da vida na mão para plantá-la fora: eis o livre-arbítrio, dado por Deus ao ser humano mulher/homem para criarem eles mesmos o céu. Não invento esta versão da minha cabeça, é tradição. Culpa? que culpa? zé

LIBERATI disse...

Queridos amigos Tinê e Zé, aguardem a tradução e a minha traição na letra de Joni Mitchel. A culpa , segundo Nietzsche foi inventada por Paulo de Tarso.
Agora, por que foram expulsos do "Paraíso"? e por que os estudantes franceses grafitavam os muros e faziam aqueles belos afiches dizendo "Queremos a Imaginação no Poder"
Que beleza! Enquanto isso um personagem de Godard tomava um longo café com leite e passava manteiga numa baguete enquanto falava do imperialismo americano e que os EUA eram um tigre de papel.
Veremos isso na resenha do texto de Kurlansky que pretendo botar no ar em capítulos como Salinger e Grande Sertão.
Um baita abraço

Anônimo disse...

Pessoal,
Ja' que estamos "revisitando" a epoca, recomendo a leitura do livro "Geracao em Transe - Memorias do tempo do tropicalismo" de Luiz Carlos Maciel (Nova Fronteira, 1996) que mostra como o Brasil era contemporaneo em 1967. Abracos!