31.10.17

Viva Drummond!

Do fundo do baú: Caricatura e ilustração de Carlos Drummond de Andrade.
Hoje sempre será o dia do aniversário dele. Nasceu no dia 31 de outubro de 1902, em Itabira, nas "Minas Geraes".
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30.10.17

Aniversário de Maradona! Parabéns a El pibe! (caricatura)

Traço rápido: Desculpe o atraso, é que só consegui um tempo agora. Parabéns Mestre Diego Armando (Siempre) Maradona!
La mano? Es la de Dios!!!
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Ainda sobre Maradona, um cartunzinho
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28.10.17

Cartunzinho para tentar alegrar o final de semana

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27.10.17

Caricatura de Fats Domino

No dia 24 de outubro (três dias atrás) deste ano faleceu Fats Domino, um do caras que inventou o rock e eu deixei passae batido. Aqui vai minha homenagem tardia. Viva o grande Fats Domino!
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26.10.17

Algumas Biografias de Stalin - Fim


Stalin - O fim - Uma biografia política por Deutscher

Escrita ainda quando Stalin vivia, “Stalin – Uma biografia política” é a parte inicial do projeto de uma trilogia que incluia a vida de Lenin e de Trotski. Seu autor, Isaac Deutscher, falecido em 1976, pode-se dizer foi um excepcional conhecedor da política soviética.
Confessou que nesta obra se envolveu num difícil trabalho de historiador que procurou se impor ao de ex- militante trotskista derrotado pelo biografado.
É interessante notar que ele reclamava que sua obra foi mal interpretada: acusado por uns de dar uma visão simpática do ditador e por outros de ter escrito um libelo terrível contra ele.
O resultado é uma biografia no sentido tradicional,(coisa que os trabalhos de Montefiore e dos irmãos Medvedev não são) que permite entender Stalin como animal político, que esclarece o contexto de sua ação: vai de sua infância e formação até sua vitória da segunda Guerra. Num pós-escrito avalia os anos finais de Stalin, quando sua figura foi diminuída por acontecimentos, tais como, entre outros, o triunfo da Revolução chinesa e as provocações do Marechal Tito. Mostra também que seu personagem se tornou anacrônico e seus métodos obsoletos com a modernização da URSS.
Nas suas palavras, o stalinismo que havia expulsado a barbárie da Russia por meios bárbaros criou as condições para que sua face positiva derrotasse a face negativa. Sua magnífica biografia de Trotski,(na trilogia Profeta armado, Profeta desarmado e Profeta banido) é também referência obrigatória para compreender o papel de seu arqui-inimigo Stalin e a complexidade da experiência soviética.
Na verdade, os três livros vistos nesta resenha esclarecem partes do fenômeno: se um megulha na intimidade, outro em estudos de caso, o último elabora a explicação dessa figura que constituiu um dos exemplares raros em que ocorre o fenômeno, no qual, se funde personalidade e história.Principalmente porque tinha o poder para escrever a sua própria versão.

25.10.17

Algumas Biografias de Stalin - Parte III


Stalin- Capítulo 3 - O Desconhecido

Em “Um Stalin desconhecido” os irmãos Zhores e Roy Medvedev elaboraram 15 ensaios que contemplam temas obscuros e polêmicos da biografia do líder soviético. Esses georgianos e ex- dissidentes demonstram uma visão objetiva, não contaminada pelo rancor, mas nem por isso condescendente com a figura de Stalin. Não o vêem, por exemplo como um usurpador, mas legítimo representante de uma tendência dentro da elite do partido bolchevique e que lutou arduamente entre 1923 a 1929 para “ascender ao papel de ditador”. No entanto, também não o consideram uma autoridade carismática, (e aí lançam mão de uma classificação weberiana da autoridade), mas sim como portador de um tipo de “prestígio” alcançado pelo funcionamento de uma máquina bem azeitada que produzia o que chamam de “megaproganda”.
De início desconstroem a lenda que envolve a sua morte, no qual descartam a hipótese de conspiração e envenamento que consta em vários livros. A seguir especulam sobre a existência de um herdeiro que permaneceu como eminência parda.
Examinam também o destino dos famosos arquivos secretos de Stalin que foram confiados a Beria, Malenkov e Kruchev e viraram fumaça. Revelam o objetivo por trás da destruição sistemática da memória stalinista e seus colaboradores: apagar as marcas de sangue do passado, e outros crimes, já que boa parte desses arquivos continham os famosos dossiês incriminadores que faziam parte do método de Stalin chantagear e obter a lealdade de seus comandados. Além disso, a liderança emergente temia a existência de diretrizes testamentárias do falecido que poderiam atrapalhar suas carreiras. Concluem com uma rematada bobagem: ver nesses atos de destruição da memória algo positivo. Os bastidores do famoso 20º Congresso do PCUS também é esmiuçado. Focalizam principalmente o impacto que as denúncias de Krushev tiveram na URSS, o desmanche dos gulags e o fenômeno do surgimento de duas Russias, coisa pouco estudada.
Um grande capítulo é dedicado à questão das armas nucleares. Nele dão uma pequena aula de química e física, especificando detalhes das dificuldades de construção das bombas de urânio, plutônio e de hidrogênio. E mostram o enorme esforço soviético para acompanhar os EUA, desde a mobilização de cientistas que competiam com os rápidos computadores americanos até espiões e colaboradores comunistas que mandavam suas descobertas do ocidente. Capítulo especial é dedicado ao “gulag atômico”, o uso de campos de trabalhos forçados com milhares de prisioneiros envolvidos na edificação de verdadeiras cidades, num projeto ultra-secreto que teve grandes e graves acidentes numa corrida que não economizou vidas nem de sua elite científica. A seguir narram o tragicômico episódio, onde o tenente Razin, admirador de Clausewitz perdeu uns dentes mas ganhou a patente de general.
Grotesca também é a participação do doutor Lysenko, um lamarckiano de carteirinha, na história das ciências biológicas soviéticas e no azar de vários colegas que discordavam de suas teorias.
Noutro capítulo, mostram a ambição risível que Stalin alimentava de ser um intelectual e como dava pitaco em tudo, inclusive na área da linguística. Orwell iria adorar esta parte. Dois ensaios dão conta o comportamento de Stalin durante a segunda grande Guerra mundial que segundo eles foi positiva. O líder não tremeu nas bases. Nisso estão em desarcordo com Montefiore. Não deixam de registrar que parte da debilidade das forças soviéticas, durante os embates teve origem nos expurgos que ocorreram nas suas fileiras quando grande parte da oficialidade do Exército Vermelho e da Marinha foi presa ou fuzilada. A seguir falam de um general injustiçado pela história, Josef Apanasenko, e revelam como ele foi um grande herói da Guerra sem ter participado do combate direto. Na última parte do livro, tratam da feição russa nacionalista do ditador georgiano a começar pela transformação dos seus retratos oficiais. Mostram a divergência com Lenin que inicialmente havia se impressionado com sua performance, mas discordava de sua posição não internacionalista e de seu projeto de constuição em moldes centralizadores. Essa versão contradiz Montefiori que disse ter Lenin se interessado pela idéia de Stalin de manter o império Russo unido. Antes de fechar o livro, é exposta a face sádica de Stalin quando da eliminação de Bukharin, um dos melhores quadros da revolução. Por fim falam da relação fria do líder da URSS com sua mãe, que nem nos funerais dela compareceu.
(Amanhã Final da Resenha)

24.10.17

Algumas Biografias de Stalin - Parte II



Stalin - Capítulo 2- Montefiore entra nos arquivos secretos

O Czar Vermelho
Pode-se dizer, sem nenhuma dúvida que Montefiore escreveu um livro de peso. Exatamente 1 quilo e 280 gramas de uma longa e detalhada narrativa de 860 páginas carregadas de juízos nada elogiosos ao camarada Stálin. Seu trabalho é menos uma biografia e mais uma crônica de corte. A forma de contar flerta com a ficção. Em certas ocasiões utiliza de recursos literários para reconstruir diálogos, ou narrar situações que encadeiam a evolução do personagem principal até chegar a se tornar o czar vermelho. Privilegiando ações, descoladas do contexto histórico social, o autor adota uma perspectiva rasa que não capta o significado da trajetória desse controverso dirigente. Tudo parece uma sucessão de perversidades, um guia de um museu de horrores.
Parece soar falsa também a boa intenção de Montefiore que diz pretender superar a grande parte das biografias de Stalin que, segundo ele, tendem a apresentá-lo como uma aberração. Isso não o impede de acolher insinuações tais como a de que Stalin foi um agente da Ohkrana (polícia secreta do czar)nos seus tempos de subterrâneo. Ou quando solta frases que não escapam à sede de mostrar Stalin como um anormal e os bolcheviques como um bando de cruéis beberrões sanguinários. Fica a impressão que se está diante de mais uma peça condenatória, uma espécie de chute em cachorro morto, que em nada contribui para uma consistente avaliação do personagem em questão. Mas, mesmo não se livrando desse cacoete, num “morde assopra”, na medida em que avança no texto, o autor parece compreender a complexidade do biografado e se se perdoar suas recorrentes frases de efeito (tais como “A base do poder de Stalin no Partido não era o medo :era o charme”)- o livro, faz um retrato aceitável, na medida em que deixa que a intimidade revelada do biografado faça o serviço de mostrar as inúmeras e contraditórias facetas desse tirano que não poupou nem seus camaradas, suas famílias, e chegou a sacrificar seus próprios parentes.

Um dos méritos do livro é revelar seu “modus operandi” brutal de dominar onde segundo o autor, refinou os, “métodos jesuíticos” que aprendeu em sua formação de seminarista. Mostra como aplicou o procedimento inquisitorial, onde se destacam a necessidade de confissão das vítimas, o arrependimento e a fogueira. Mas o que se evidencia da leitura dessa imensa crônica é o talento ficcional de Stalin, capacidade que usou em toda sua vida para fazer o roteiro no qual, ele adapta a realidade à sua visão. Outro aspecto que chama a atenção é a paranóia como sistema de governo e o estímulo das rivalidades que não eram poucas, entre a elite de seus comandados.

Apesar de querer mostrar que as obras do período stalinista, para o bem ou para o mal, não foram produto de um só homem, o que se destaca no livro é a onipresença de Stalin. Por trás de cada vírgula dos discursos, das estrofe de poemas, dos fotogramas de alguns filmes, de decretos de expurgo ou de reabilitação, lá estava a sua chancela.

Montefiore apresenta tudo como se fosse uma grande ópera de tons trágicos. Logo de cara, joga o leitor numa tensa cena decisiva - no fatítico 8 de novembro de 1932 quando relata o solo tresloucado da segunda mulher de Stalin. Uma perturbada Nádia se retira de um jantar festivo e se suicida com um tiro de uma Mauser em seu quarto, no Palácio Potechny. O autor, que afirma ser o suicídio uma morte bolchevique, localiza neste momento o ponto de mutação do personagem que abatido pelo que depois classificou de traição de sua mulher que por sua vez o acusava de infernizar a vida de todo mundo,irá mergulhar a URSS no terror.
Após essa grande entrada , o autor recua para num curto esboço biográfico contar como Ióssif Vissariónovitch Djugachvili, conhecido pelos íntimos como Soso , na clandestinidade como Koba(camarada fichário) e mais tarde por todos como Stálin vai se transformar no homem forte da URSS. Parte da sua ascenção é narrada em lances rápidos, onde derrota seus companheiros Zinoviev e Kamenev que junto com ele compunham o triunvirato que sucedeu à morte de Lenin (que havia recomendado o seu afastamento do cargo de secretário geral em testamento ditado no leito de morte e que foi espertamente escondido) e vai até 1929, data que marca a sua projeção como líder. Momento que nas palavras do autor, a história que ele quer realmente contar começa . Ressalta que nesse ponto ele não era ainda um ditador. Era o duro bolchevique já havia vencido de forma inexplicavelmente fácil a disputa com Trotski que foi obrigado a se exilar e neutralizado a oposição de Bukharin e Rikov que mais tarde seriam eliminados. É aclamado verdadeiro sucessor de Lenin. A partir dai, gradativamente construirá a arquitetura de sua tirania até sua polêmica morte em 1953.
Assim acompanhamos os vários momentos de um longo libreto mórbido: o massacre dos kulaks, a coletivização forçada, a grande fome, o terror dos anos 1936/37, os expurgos que darão vazão à paranóia como sistema de governo, a invenção das conspirações como método para eliminar os adversários e criar a aparência de um poder sem dó que pune exemplarmente, como no caso do massacre dos oficiais do Exército vermelho que debilitou o URSS nas vésperas da segunda grande Guerra. Neste episódio, Montefiore compra uma versão onde Stalin aparece débil e vacilante não questionando as versões em que se baseou.

Montefiore procura sempre descrever os cenários onde ocorrem as decisões em jantares pantagruélicos regados a muita vodka, sessões de cinema na madrugada em palácios do Kremlin ou nas dachas preferidas do dirigente. Outras vezes os surpreende em trens blindados e à medida que a história avança, vai apresentando um a um os coadjuvantes, os “potentados”, ou “magnatas”, como ele os classifica. Mostra o Partido como uma família incestuosa e o bolchevique como uma espécie de templário. Faz brevissimos perfis para orientar o leitor nos intrincados labirintos soviéticos. Fica-se assim conhecendo um pouco da vida de pessoas que viveram à sombra do grande chefe, sendo que alguns foram suas vítimas, gente como : Kirov, Molotov, Kalinin, Tukhatchviski, Kagánovitch, Sergo Ordjonikidze, Proskrióbichev, Vorochílov, Mikoian, Béria, Jdánov, Iejov… vão sendo “perfilados” na ordem em que entram em cena. Desta forma vai até grande finale onde o tirano mergulhado numa poça de urina agoniza enquanto uma luta silenciosa acontece nos bastidores e suspende sua última obra, a liquidação da velha guarda, iniciada no 19º Congresso em conjunto com as operações para destruir o que se chamou de “complô dos doutores” no qual foi preso entre outros notáveis, até o seu médico particular num esquema que envolvia um expurgo de judeus de todos os postos , inclusive de parentes, como Polina, esposa de Molotov que amargava uma prisão por suposto vínculo a uma conspiraração sionista- americana onde mostra que seu anti-semitismo era político.
(Continua amanhã)

23.10.17

Aniversário do rei Pelé

Antes de existir o baú: Vale a pena ver de novo. Caricatura do rei Pelé. Hoje é aniversário dele! Nasceu no dia 23 de outubro de 1940. Parabéns!!!
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Algumas biografias de Stalin (artigo já publicado aqui)

Na sequência da memória dos 100 anos da Revolução Russa,aproveito para republicar uma longa "resenha" que fala de algumas biografias de um dos personagens mais complexos e polêmicos desse movimento que surpreendeu e determinou parte significativa da História do século XX. (Vai ser publicado um capítulo por dia).


As verdades sobre Stalin - O mito e as interpretações

Capitulo I - Stalin um baixinho do barulho!
Lenin se tornaria Stalin ou Trotski, se vivesse mais tempo. Essa afirmação curiosa de Isaac Deutscher define o quadro da encruzilhada em que se encontrava a revolução que acabara de ser deflagrada e a raiz da luta que seria travada no final da década de vinte.Na perspectiva de Lenin, Moscou seria apenas uma etapa da implantação do socialismo”, cujo endereço de chegada era Berlim. A grosso modo, pode-se dizer que Trotski representava a radicalização dessa visão com sua idéia de “revolução permanente”.Stalin por sua vez representava a posição de defesa e consolidação do território conquistado sem a expansão de suas fronteiras. Ele venceu a parada, implantou a via do socialismo em um só país e comandou por três décadas o contraditório processo histórico de construção de uma estrutura política, econômica e social totalmente nova num bloco de nações que cobria uma vastíssima região do globo. Durante seu domínio esse “país” saiu do estágio semi-feudal e se projetou como uma potência nuclear. Enfrentou a blitzkieg do exército nazista na segunda Guerra mundial a um custo de 20 milhões de mortes do seu lado, mas venceu Hitler que não viveu para ver os soldados do Exército Vermelho cravando a bandeira com a foice e o martelo no coração de Berlim. E como butim desse conflito expandiu o domínio soviético a um conjunto expressivo de países do leste Europeu.
Logo após a morte de Stalin, quando em 1956 Nikita Kruschev denunciou seus fabulosos crimes no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, o mundo comunista caiu na real: afinal o “Pai dos Povos”,”O maior Gênio da História”, o “Mestre e Amigo de Todos os Trabalhadores”, o “Sol Nascente da Humanidade”, a “Força Viva do Socialismo” era um assassino?! Mesmo com o desmonte do culto da personalidade, ainda assim, por muito tempo pairou uma nuvem de sigilo sobre esse baixinho atarracado de 1.68m que gravou seu nome numa época sombria- o que o tornou um dos personagens mais enigmáticos da história do século vinte.
Isso explica a voracidade com que os pesquisadores cairam sobre os papéis que vieram a luz com a abertura, em 1991, dos arquivos com os documentos “ultra-secretos” da chamada cortina de ferro. O resultado foi uma enxurrada de biografias. Duas obras dessa novíssima onda chegaram às praias brasileiras: ”Stálin- a corte do Czar Vermelho” do historiador e jornalista inglês Simon Sebag Montefiore e ”Um Stálin desconhecido” dos gêmeos Medvedev. Aproveitando a maré vermelha, até “Stalin- Uma Biografia Política”, excelente, apesar de ter sido escrita por Isaac Deutscher em 1948 foi reeditada com nova tradução.
(continua amanhã)

100 anos de Revolução Russa em caricaturas

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Do fundo do baú: Hoje encerro a série de caricaturas dos principais líderes que fizeram a Revolução Russa (claro que existiram outros, mas esses que caricaturei se destacaram como os que deram os rumos fundamentais ao movimento).
O personagem mais complexo, sem dúvida, foi o ex-seminarista georgiano Joseph Vissarionovich Djugashvili, um baixinho do barulho (tinha 1metro e 68 de altura), também conhecido como Stalin (que quer dizer "homem de aço"em russo).
Um sujeito de carne e osso que os comunistas de boa parte do mundo, por um certo tempo, chamaram de "Guia Genial dos Povos",“Pai dos Povos”,”O maior Gênio da História”, o “Mestre e Amigo de Todos os Trabalhadores”, o “Sol Nascente da Humanidade”, a “Força Viva do Socialismo” e que boa parte do povo russo identificava simplesmente como "Paizinho".
É essa a caricatura dele que trago hoje para finalizar a série.
Sei que é um terreno minado falar desse personagem, acusado de grandes crimes, e além disso, de ser um dos artífices do totalitarismo. Falar nele toca em muitas feridas ainda abertas.
Não é à toa, ele governou com mão de ferro a URSS durante três décadas e atravessou o mar revolto da história que marcou o século XX, transformando um país semi-feudal numa potência nuclear, articulando a sobrevivência do regime soviético com um sistema burocrático monstruoso (herdado do czarismo), intrigas cruéis, deportações para campos de trabalho forçado na Sibéria, processos arbitrários, assassinatos, fuzilamentos, envenenamentos e manobras internacionais rocambolescas. O pior, fez tudo isso com uma habilidade de equilibrista chinês de pratos (quebrando vários é claro). O peso de seus crimes é algo hoje reconhecido como imperdoável, mas ele contraditoriamente proporcionou alguns triunfos.
Sua maior conquista foi, sem dúvida, a vitória sobre o nazismo (junto com os Aliados: Estados Unidos e Inglaterra - a França estava ocupada), claro que à custa de milhões de vidas, tanto dos soldados do Exército Vermelho que liberaram meia Europa, como do povo que enfrentou a fome, o frio e o fogo da artilharia nazi . Um povo que teve suas cidades arrasadas, um país que teve seu parque industrial desmontado e voltado para uma economia estritamente de guerra. Mas ouso imaginar como o historiador Hobsbawn, que se não fosse essa vitória, não existiria o sistema democrático liberal que hoje impera no mundo. Pior, talvez , a parte que não teria sido destruída , poderia ter se transformado num cenário distópico, higiênico (no pior sentido) e controlado exibido na série "O Homem do Castelo Alto" de Philip K. Dick. Um mundo parte "nazificado", parte entregue ao Império nipônico...
Se eu fosse escrever sobre ele aqui, seria um "textão" e levaria um mês catando milho no teclado do computador para não chegar a algo significativo.
Prefiro contar uma pequena história: Estava no começo da leitura de dois livros que tinham sido lançados a partir do ano 2000, que tentavam ampliar a biografia de Stalin, avançando para além daquela tornada clássica, escrita por Isaac Deutscher, publicada aqui no Brasil em 2 volumes, cujo título era "Stalin - a história de uma Tirania".
Tais livros imaginava-se, tinham uma vantagem, pois seus autores alcançaram acesso aos documentos que tinham sido liberados no fim da década de 90 do século passado sobre o período "Stalin". Entusiasmado, me encontrava no meio da tarefa de escrever uma grande resenha sobre o tema, quando fui atingido por um "passaralho". (Qualquer dia boto aqui o genial verbete humorístico "passaralho" feito por um dos geniais companheiros de redação - no estilo do Dicionário Aurélio).
De repente fiquei boiando com aqueles enormes livros e um monte de anotações na calmaria que aguarda os desempregados… Mas não desisti da tarefa, com uma certa teimosia, como precisava manter a mente ocupada e mostrar meu trabalho (tanto de desenho como de texto), criei um blog e lá fiz uma resenha que me custou muitas noites em que queimei minhas pestanas , procurando analisar aquelas biografias disponíveis.
Acredito que a leitura dessa longa "matéria" seria útil para mapear o terreno de quem busca algum entendimento sobre essa figura tão sombria, e participar um pouco da aventura daqueles que tentaram desvendar esse personagem polêmico e contraditório, do qual, por muito tempo se soube tão pouco.
(Após esta série de caricaturas vou postar novamente a ampla resenha sobre as biografias de Stalin. Espero que tenham a paciência de ler)

22.10.17

100 anos da Revolução Russa em caricaturas

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Do fundo do baú: Para continuar a pequena série do personagens da Revolução Russa trago a caricatura de Léon Trotsky (1879-1940),o grande líder revolucionário, o intelectual que organizou o chamado "Exército Vermelho".
Sua trajetória está bem estabelecida na ampla biografia escrita por Issac Deutscher, dividida em três tomos: " O Profeta Armado"(que cobre o período de 1879-1921), "O Profeta Desarmado"(sobre o período de 1921 a 1929) e "O Profeta Banido"(que vai de 1929 a 1940). Além disso para mais detalhes, existe o livro da própria lavra de Trotsky cujo título é "Minha Vida- Ensaio autobiográfico".
Existe porém, um outro biógrafo dele ( e essa informação eu apanhei na Wikipédia), o historiador francês Pierre Broué, que, afirmam certos especialistas, entrevistou contemporâneos de Trotsky e teve acesso a documentos e fontes que Deutscher não consultou - os arquivos de seu filho Leon Sedov, por exemplo. Ele escreveu uma biografia diferente em certos aspectos, com o título "Trotsky".
Como uma das principais cabeças da Revolução de outubro, esse líder era defensor da chamada "Revolução Permanente", caminho que tinha por objetivo espalhar, ampliar o movimento revolucionário pela Europa conturbada daqueles tempos, como forma de sobrevivência da própria Revolução emparadada pelas forças das nacões européias e asiáticas contrárias ao socialismo.
Também teorizou acerca da realização do capitalismo - a famosa teoria da" lei do desenvolvimento desigual e combinado" do sistema, o que explicaria as diferenças entre os avanços econômicos em determinados países e o chamado "atraso" , ou subdesenvolvimento de outros.
Depois da morte de Lenin, Trotsky entrou em conflito com Stalin, que tinha diferentes orientações para a URSS na sua cabeça e entre elas defendia o "socialismo em um só país", tendo a Russia como cenário no qual esse novo sistema deveria se consolidar antes de partir para outros territórios. Trostky perdeu a parada e depois de muitos conflitos dentro do Partido bolchevique, foi obrigado a deixar a URSS e partir para um longo e tumultuado exílio. Talvez ele seja o personagem mais trágico dessa Revolução.
Trotsky, como todo mundo está careca de saber, foi assassinado no México (seu último refúgio), por um agente da GPU ( polícia política que substituiu a Tcheka e que depois virou KGB). O nome do assassino é Ramon Mercader. Essa história foi contada com detalhes no estilo dos "thrillers" , na ficção saborosa de Leonardo Padura, no livro "O homem que amava os cachorros". Parece que essa obra vai virar filme em breve.Existe também uma outra obra de ficção sobre o mesmo tema que tem por título "A Segunda Morte de Ramón Mercader", escrita por Jorge Semprun, que dizem ser excelente.

100 anos da Revolução Russa em caricaturas

Do raso do baú/ Começo hoje uma série de caricaturas de alguns poucos homens que lutaram para fazer acontecer a Revolução Russa, que comemora seus 100 anos neste outubro.
Começo por Lenin, ou Vladimir Ilyich Ulyanov (1870 -1924). Esse baixinho (tinha 1 metro e 65 centímetros de altura) foi a principal cabeça - articulador e agitador da Revolução.
Dizem certos historiadores que ele imaginava no início, ser Berlim o cenário ideal para estourar esse grande movimento do século XX , (esse seria destino final do trem que o trouxe para Moscou), pois o capitalismo e o operariado alemão se encontravam em condições mais avançadas para abrigar suas ideias revolucionárias.
Mas aí surgiram as ironias da História (título de um livro de Isaac Deutscher), a Russia, um país gigantesco (habitado por povos diversos com culturas e dialetos que não se falavam), de economia praticamente semi-feudal, sob um regime autocrático - o czarismo, furou a fila e deu no que deu…Se não tem tu, vai tu mesmo! Morreu 7 anos depois de deflagrado o movimento que transtornou a História da humanidade por um bom tempo. Não viu portanto, a sua obra se completar, apenas os andaimes de sua construção.
Lenin tem uma frase muito interessante entre as várias que cunhou, que diz "Paciência e ironia são duas armas de um revolucionário". Ao que parece, os revolucionários russos não tiveram tempo para seguir seu conselho.
Só conheço, mas não li, uma biografia dele: "Lenin" (publicada no ano 2000 pelo selo editorial Difel - da Editora Brertrand/Brasil), escrita pelo inglês Robert Service. Ela tem como subtítulo "A Biografia definitiva".Não sei se é uma boa biografia, já começa o livro falando que Lenin não era um figura fácil e generosa. Ôpa! Creio é um "tema" muito complexo para de destrinchar em apenas 553 páginas. A conferir.
Obs: Nunca fui solicitado a fazer uma caricatura desse personagem, no meu trabalho na imprensa.
Das várias tentativas recentes que fiz, cheguei ao resultado que mostro aqui .Vou ver se com mais tempo eu consigo algum tipo de aperfeiçoamento na sua caracterização (sem seu tradicional boné- o que tornaria mais fácil sua caricatura).
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18.10.17

Lançamento: "Graça Torta"

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Minha querida amiga, a professora Lígia Dabul, lança seu livro de poemas "Graça Torta", em edição bilíngue (português/inglês).
O evento vai rolar no dia 23/10/2027, no Moviola Bistrô, a partir das 19,30 horras/ Rua das Laranjeiras, 280 - Lojas B e C.
Todos lá!!!

17.10.17

50 anos de TRAVESSIA num texto emocionante de Jorge Sanglard

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Milton Nascimento: “A música caminha comigo como a minha alma”

No palco do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, o jovem cantor, violonista e compositor Milton Nascimento, poucos dias antes de completar 25 anos, nos dias 19 e 21 de outubro de 1967, há 50 anos, não poderia sonhar que, a partir de suas três músicas no II Festival Internacional da Canção – “Travessia”, “Morro Velho” e “Maria, Minha Fé” –, trilharia uma autêntica travessia rumo a uma das mais significativas trajetórias na Música Popular Brasileira da segunda metade do século XX e se projetaria como um dos maiores cantores de seu tempo.
Milton sempre entrou de coração em tudo, desde os tempos de contrabaixista nos bailes de Minas Gerais, passando pelos encontros musicais do Clube da Esquina, pela projeção a partir do segundo lugar no II FIC-1967, até consolidar uma trajetória vitoriosa na Música Popular Brasileira. O cantor e compositor nunca perguntou para onde ia esta estrada, se jogou por inteiro no caminho, seguindo “o brilho cego de paixão e fé, faca amolada”. O importante sempre foi “deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo / deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo / brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, faca amolada / irmão, irmã, irmã, irmão de fé, faca amolada”, como em “Nada será como antes”, parceria com Ronaldo Bastos.
Milton nasceu às seis horas da tarde, a “Hora do Angelus”, do dia 26 de outubro de 1942, filho de Maria do Carmo do Nascimento, cozinheira por profissão, que deixou Juiz de Fora, em Minas Gerais, para trabalhar no Rio de Janeiro. A “Hora do Angelus” relembra para os católicos o momento da anunciação, feita pelo anjo Gabriel a Maria, da concepção de Jesus Cristo, como livre do pecado original. O seu nome deriva da frase: “Angelus Domini nuntiavit Mariæ”. Em Juiz de Fora, na Câmara Municipal, Milton recebeu o título de Cidadão Honorário e a Medalha Nelson Silva, em 27 de novembro de 2009. A retribuição é por tudo que Bituca fez pela MPB e por suas raízes encravadas na cidade mineira. Desde a década de 1970, Milton coleciona amizades em Juiz de Fora. Quando o médico e músico Márcio Itaboray lançou o livro "Assuntos de Vento", em 2001, esses laços foram consolidados. Em maio de 2009, durante show no Theatro Central, Milton disse que Juiz de Fora é onde ele tem mais amigos. E no dia da entrega do Título de Cidadão Honorário, ele sintetizou: "Sou de Juiz de Fora desde que nasci".
Bituca – apelido dado pela mãe adotiva Lília Silva Campos –, como era conhecido na família e entre os amigos, depois do segundo lugar na classificação geral e da premiação como melhor intérprete do II FIC-1967, inscreveria o nome Milton Nascimento no primeiro time de compositores e cantores que renovariam a MPB. Os festivais injetavam sangue novo no universo cultural brasileiro e a música ainda era uma das poucas manifestações de expressão popular no Brasil dos primeiros anos da ditadura militar.
Em entrevista exclusiva, em outubro de 1987, marcando os 20 anos da premiação de “Travessia”, durante o lançamento do disco “Yauaretê”, Milton confessaria: “Desde criança, eu sabia que ia mexer com a música. Nunca me enganei, nem minha família, nem nada. Todo mundo já sabia que era música mesmo. Apesar de morar em Três Pontas, que naquela época era longe, a estrada era de terra, sabia que ia sair e ia procurar...Se ia vencer, só Deus sabia, mas eu ia tentar. Acontece que a música caminha comigo como a minha alma. Por isso e pelo fato de cada canção refletir um momento meu, chega nas pessoas com a mesma intensidade que estou querendo botar pra fora, e aí não tem barreira de língua, não tem barreira de chão, não tem nada, em qualquer parte”.
O sucesso de “Travessia”, parceria entre Milton Nascimento e Fernando Brant, no II FIC-1967, projetou Milton como um cometa. Mas a criatividade e a qualidade musical do novo talento transcenderam os limites da passagem de um cometa e o transformaram num feixe de luz permanente a apontar caminhos na Música Popular Brasileira. O próprio Milton já afirmou: “Isso está nas mãos do que se quiser chamar, pode ser Deus, pode ser destino, pode ser o que for”.
Amigo de sempre e parceiro, Márcio Borges, em depoimento exclusivo, descreve a emoção que tomou conta da apresentação de “Travessia”: “De tarde nós saímos do hotel, todos no mesmo ônibus, rumo ao Maracanãzinho. Eu ia sentado ao lado de Toninho Horta, com quem havia classificado a dolorosa canção ‘Correntes’. Mas no ônibus só se falava no Bituca, o cara que havia classificado três canções, uma delas considerada a favorita para ganhar o festival. Senti uma emoção muito grande quando o ônibus ultrapassou os portões que davam direto no fundo do enorme palco. Parecia dia de futebol. As filas já davam volta no estádio e ainda nem era de noite. O ensaio geral foi impressionante. Astros e estrelas da música nacional e internacional circulavam em áreas restritas – e eu lá! Quando caiu a noite, vi o estádio encher-se de gente. Vi as arquibancadas se colorirem de todas as cores e matizes, cabelos, cartazes e bandeiras. Vi chegar a hora de ‘Travessia’. A favorita de todos. Bituca colocou o Maracanãzinho de pé e foi classificado. ‘Correntes’ ficou de fora. Fomos torcer pelo Bituca e pelo Fernando, que surpreendentemente, e contra todas as emoções presentes, inclusive a do vencedor Guarabyra, conseguiram apenas um segundo lugar. Na reapresentação da música, vencedora moral e imortal, o apresentador Hilton Gomes chamou os nomes de Milton Nascimento e Fernando Brant e eles saíram de perto de nós para voltarem ao palco. Eu e Gonzaguinha corremos atrás deles e nos sentamos no limite extremo entre a coxia e o palco, bem aos pés dos nossos amigos. Sei que quando vimos e ouvimos o Maracanãzinho cantar com os dois e soltar a voz nas estradas, não conseguimos conter a emoção. Eu e Gonzaguinha nos abraçamos e deixamos nossas lágrimas correrem soltas, molhando os ombros um do outro. Quarenta anos se passaram desde aquela noite. Mas aquelas lágrimas serão para sempre”.

Trajetória de sucesso

A trajetória do cantor e compositor mineiro mais carioca que existe – Milton nasceu no Rio de Janeiro e foi criado em Três Pontas – é contada em detalhes na biografia “Travessia – A vida de Milton Nascimento” (Record), da jornalista mineira Maria Dolores, nascida em Belo Horizonte e criada também em Três Pontas. O livro, que está na segunda edição, é um mergulho na vida e na música de Milton e revela aqui e ali detalhes da consolidação do mestre do Clube da Esquina como um ícone da MPB.
Em depoimento exclusivo, Maria Dolores fala do livro, para dizer sobre Milton: “Essa biografia começou como projeto de conclusão do meu curso de Comunicação Social - Jornalismo, na Universidade Federal de Minas Gerais, em 2003. Eu queria fazer um livro reportagem de algo relacionado a Três Pontas, cidade onde cresci. Entre os temas mais interessantes – a cafeicultura, o Padre Victor (um padre negro milagreiro) e o Milton Nascimento – preferi fazer sobre o Milton. A idéia era contar a vida dele na cidade. Aproveitei um dia que ele estava em Três Pontas, criei coragem, e fui atrás dele. Disse que ia fazer o trabalho e pedi uma entrevista. Ele aceitou fazer. Uns quatro meses depois fui fazer a entrevista e aí eu já tinha realizado uma pesquisa sobre ele, e descoberto que não havia quase nenhum material biográfico do Milton, a não ser essas biografias resumidas de sites, revistas, etc.. O que tinha de mais completo era o livro do Márcio Borges, ‘Os sonhos não envelhecem – histórias do Clube da Esquina’, que é ótimo e tem o Milton como personagem principal, mas aborda só um período da vida dele, até bem extenso, e fala também dos outros personagens do Clube da Esquina. Resolvi então escrever uma biografia do Milton, a primeira, ainda mais ao descobrir o quanto a vida dele era incrível, como um romance”.
A autora confessa que conhecia o trabalho dele, mas não profundamente: “Até então nunca tinha sido uma pessoa que tem o costume de ouvir música, engraçado isso, né? Então, primeiro me apaixonei pela história, pelo personagem. Depois, pela obra, pelo artista, que, no final das contas, descobri não ter como separar um do outro. Pedi outras entrevistas e ele concordou. Deixou também que eu acompanhasse ensaios, shows, fosse na sua casa, pesquisasse seu material pessoal. Para a faculdade entreguei um trabalho resumido, só da vida dele em Três Pontas, e depois continuei”.
O livro abrange o período que vai de 1939, antes mesmo de Milton nascer, até 2005. Maria Dolores afirma que já conhecia o cantor, “claro, desde criança, mas não tinha uma relação próxima com o Milton” e fala da proximidade que a elaboração do livro possibilitou: “nesses quatro anos e meio de trabalho, que eu passei a conviver com o Milton, descobri a pessoa incrível que ele é, um ser humano especial, um artista especial, cheio de mistério ao seu redor, magia, alguém que tem uma generosidade imensa. Não tem como trabalhar com o Milton, com o Bituca, né, e não se tornar amigo dele, ainda mais ele, que tem tantos amigos. Hoje posso dizer que me tornei uma amiga dele e ele se tornou alguém especial pra mim, uma relação dessas que a gente sabe que dura. Eu não esperava que isso fosse acontecer, na verdade, nem pensava nisso, mas foi uma feliz surpresa descobrir essa amizade e a maior conquista com o livro”.
Desde a primeira parceria com Fernando Brant, “Travessia”, Milton abriu alas para uma geração de grandes músicos e compositores mineiros e nunca transigiu sua arte, nunca aceitou os apelos fáceis da massificação. Na entrevista citada, Milton declarou incisivo: “A massificação vai bitolando a cabeça das pessoas e bitola a música popular brasileira também”. Assim, o cantor e compositor sempre procurou a qualidade musical, sabedor de que escolhera um caminho mais difícil, porém, passadas quatro décadas de seu batismo de fogo com a interpretação de “Travessia”, fica a certeza de que a criatividade e a qualidade resistem a tudo.
Fernando Brant, em depoimento exclusivo, afirma que “a música de Milton Nascimento não se explica, ouve-se. Desde que o conheci, e à sua música, o Bituca é um repertório de surpresas interminável. Até hoje, quando ele me mostra algo que acabou de compor, sua genialidade não dá descanso. Ele me surpreende agora como me surpreendia 30 anos atrás. A melodia, o ritmo, a harmonia, ele sintetiza o mundo em suas músicas. Devo a ele não só o fato de encontrar uma profissão que me sustenta e dá prazer, como a oportunidade de colocar minhas palavras e minhas idéias em canções belas e diferentes. E, ainda por cima, ele as canta. Ele é fonte inesgotável da música popular brasileira, um gênio”.

O artista é o arauto da liberdade

Na referida entrevista exclusiva, Milton adverte que criaram um tipo de música, um tipo de som, que virou tudo a mesma coisa e, num mercado fechado, a renovação de artistas é mais difícil, porque as grandes gravadoras determinam a política para a área musical, só investindo naquilo que elas acreditam que dá retorno. E revela: “Eu apareci numa época em que todo mundo estava brotando, com mil experiências diferentes, não tinha um som pasteurizado. Nos últimos tempos é mais difícil a pessoa nova ser ouvida, mas não impossível”. Já em 1987, Milton advertia na mesma entrevista: “É terrível ver um país como esse, onde o músico se forma por esforço próprio, porque não tem escola, nem nada. O Brasil é um desamparo total, e com tantos músicos fantásticos tendo que tocar qualquer coisa, sem poder desenvolver seu próprio trabalho musical, é muito triste. E olhe que o país é rico, é tão grande, com tanta diversidade e o povo é muito musical. Mas prefiro não perder a esperança, porque o dia em que eu perder a esperança, paro de cantar, minha vida acaba”.
Para Milton, o Brasil é um país onde a mistura é tão forte que todas as influências que vierem nas coisas feitas honestamente virão para acrescentar, mas nunca para esmagar a cultura brasileira: “medo de influência esmagar eu não tenho nenhum não”. E arremata: “O lance da arte é a liberdade, o artista é o arauto da liberdade”.
Nélson Ângelo, parceiro dos primeiros tempos, em depoimento exclusivo comenta: “Meu primeiro contato com Milton Nascimento, meu amigo Bituca, deu-se no ano de 1964, em Belo Horizonte, logo após um show do grupo Opinião, realizado no Teatro Francisco Nunes. Desde então construímos uma sólida amizade que dura até hoje, pautada em muito respeito, atenção e paixão pela música. Sempre fomos parceiros em diferentes formas: como amigos, na vida, em trabalhos. Antes mesmo de ‘Travessia’, já curtíamos e nos admirávamos. Nesta época compus ‘Fim de caminho’, ‘Canto triste’ (anterior a do Edu e Vinícius; claro que mudei o título da minha!) e o Bituca tocava pra mim ‘Crença’ e ‘Terra’, parcerias dele com o Márcio Borges. No mesmo período, compus com o Valdimir Diniz a música ‘Ciclo do Ouro’, que foi muito elogiada pelo Milton. Ele foi um grande incentivador do meu trabalho. Mais tarde um pouco, ele e o Márcio fizeram uma que foi dedicada a mim (pelo menos foi o que me contaram), chamada ‘Irmão de fé’”.
Ainda segundo, Nélson Ângelo, “quando o Bituca conheceu o Fernando Brant, foram logo estreando com ‘Travessia’, e muitas outras que surgiram e marcaram seu lugar na história. Mais tarde, eu e ele fizemos ‘Sacramento’ e ‘Testamento’, ambas músicas minhas e letras do Milton. Mais tarde ainda, o samba enredo ‘Reis e Rainhas do Maracatu’, com mais dois parceiros: o Novelli e o Fran”.
Portanto, assegura Nélson Ângelo, “minha opinião sobre o Milton e parcerias é abrangente da mesma forma como foi consolidada nossa amizade. Sou suspeito sobre todas as instâncias e circunstâncias. Ainda bem que a admiração e a boa impressão são compartilhadas com tantas pessoas mundo afora que conhecem o assunto”.
O livro de Maria Dolores aponta “Travessia” como a primeira letra da vida de Fernando Brant, escrita sob pressão, jogada, num papel dobrado, na mesa da padaria São José, em Belo Horizonte. O nome da música foi inspirado no livro “Grande Sertão: Veredas”, do escritor mineiro Guimarães Rosa, que tinha como última palavra da obra o termo “Travessia”. O próprio Milton explicaria a escolha: “O importante não é a saída, nem a chegada, mas a travessia”.
A segunda letra de Brant foi “Outubro”, e o parceiro teria dito anteriormente a Milton: “Agora que você me pôs nessa, trata de compor outra música para eu colocar uma letra logo, senão estou perdido!”. O assédio da imprensa, logo após as apresentações no II FIC-1967, mexia com os dois tímidos compositores mineiros. Segundo Maria Dolores, o cantor, compositor e violonista Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura no Brasil, disse certa vez que a timidez de Milton não é uma timidez pura, mas um ato de observação: “Ele é como essas pedras enormes da Gávea, quietas, silenciosas...observa tudo ao seu redor, fala com o olhar e, quando usa palavras, diz a coisa certa no momento certo”.
Caetano Veloso também fez revelações, no livro, sobre Milton: “Ele é uma força profunda da expressão cultural brasileira, com raízes muito fortes na nossa história e com um talento na área da genialidade, uma coisa meio espiritual, e se há algo que a gente possa chamar de espiritual é exatamente isso, é quando alguém está ligado a tantas coisas tão importantes por fatores casuais, tantas vezes. Isso para mim é o caso de Milton, é o caso mais radical desse acontecimento no Brasil”.
Só mesmo Milton Nascimento para tornar permanente toda a emoção de coisas tão simples e fundamentais como as brincadeiras de crianças, a cumplicidade entre amigos de verdade, a pulsação de um povo na luta pela liberdade, a dor do amor e do desamor, tudo isso com “o coração aberto em vento, por toda eternidade, com o coração doendo de tanta felicidade”.
No livro, “Os sonhos não envelhecem – histórias do Clube da Esquina” (Geração Editorial), escrito por Márcio Borges, o parceiro e amigo mergulha na essência das vivências desde os tempos em que se conheceram no Edifício Levy, em Belo Horizonte, até a gravação do disco “Angelus”, em 1993. Este disco foi concebido por Milton para simbolizar sua trajetória de vida e seu compromisso com a música.
A partir dos anos 1960 e até esta primeira década do século XXI, Milton e seus parceiros, como Ronaldo Bastos, deixaram pistas sobre suas intenções: “Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia / beber o vinho e renascer na luz de todo dia / a fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca amolada / o chão, o chão, o sal da terra, o chão, faca amolada / deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia”. Não é à toa que, em outra parceria com Ronaldo Bastos, Milton cantou: “Eu já estou com o pé na estrada / qualquer dia a gente se vê / sei que nada será como antes, amanhã”. Com seu alegre e contundente canto de fé, de esperança e de sonho, Milton Nascimento se tornou um autêntico arauto da liberdade e, junto com outros companheiros de eterna travessia, teceu e entreteceu uma ponte para atravessar este verdadeiro oceano que é o Brasil.
Ao mesmo tempo, Milton – como Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso – é o oceano atravessado e o barco que atravessa, e vai solidificando uma ponte sobre este mar. Essa feliz definição de Gilberto Gil sobre expoentes de sua geração sintetiza a essência musical de compositores que renovaram o panorama da MPB e permanecem atentos, como faróis. Afinal, Milton fez de seu canto um canal direto até onde o povo está, muitas vezes “com sabor de vidro e corte”, mas sempre semeando o sonho e a esperança de ter fé na vida.

A comunhão da criação

Um dos momentos mágicos vivenciados por Milton Nascimento, simbolicamente num dia dedicado à consciência negra, em 20 de novembro de 1999, foi quando o pintor mineiro Carlos Bracher, mergulhado nas cores e ao som das canções do Clube da Esquina e da Nona Sinfonia de Beethoven (1770 – 1827), pintou em óleo sobre tela, durante cerca de 1h30, o retrato do cantor e compositor, antecedendo uma apresentação no baile-show intitulado “Crooner”, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Pela primeira vez, Bracher – um dos grandes pintores brasileiros – retratava um artista negro e foi buscar inspiração no erê que dá vivacidade a Milton Nascimento.
Ao expressar o menino que impregna a alma de Milton de alegria e de generosidade, o pintor mineiro celebrava a eterna juventude do autor de “Travessia” (em parceria com Fernando Brant). E Milton estabeleceu com Bracher uma relação de intensidade imensurável. Simplicidade e criatividade de mãos dadas e corações abertos, estabelecendo um elo de cumplicidade e possibilitando um encontro de almas capazes de irradiar harmonia, onde cada um a seu modo criou as condições para estabelecer a alquimia das cores e dos sons. O artista da voz e o artista das cores unidos na comunhão da criação.
Ao reconhecer-se como um erê (como os meninos da capa do antológico disco “Clube da Esquina”, de 1972), Milton posou para o retrato de Bracher deixando fluir todo o sentimento de eternidade que sua música passa e que sua travessia revela, trilhando o caminho da criatividade e do compromisso com a cidadania cultural e com a vida. Como o romancista Guimarães Rosa e o poeta Carlos Drummond de Andrade, Milton Nascimento encarna em sua obra musical a essência de Minas Gerais, a alma brasileira e a universalidade artística dos grandes criadores. Como um mago das cores, Bracher tão- somente revelou essa magia num retrato com a força da emoção de Milton.
No verso do óleo sobre tela, o pintor escreveu: “Meu caro Milton, que assim seja, que este Deus da vida e da arte nos possa abençoar. Obrigado Milton, por essa força contida na sua vasta voz”. Entre a timidez e a felicidade estampada, o cantor, depois de trocar um forte abraço com o pintor, confidenciou ao jornalista, que acompanhou tudo, a satisfação de ter vivenciado aquele momento de intensa troca de energia e de revelação de sua alma de eterno menino nas cores densas e inspiradas de Bracher.
O retrato está na sala da casa de Milton.

Texto de Jorge Sanglard
(Jornalista e pesquisador. Escreve em jornais em Portugal e no Brasil)

14.10.17

Caricatura de José de Alencar

Do fundo do baú: ilustração com caricatura de José de Alencar (1829 - 1877).
Confesso que não tenho a mínima ideia do que estão fazendo aí essas outras figuras : a famosa gueixa de "Madame Butterfly", seu amor, o tal tenenete da marinha americana e as moças nuas no fundo da cena. Decerto tinham relação com o conteúdo da matéria, que eu não me recordo mais. Tudo isso saiu no caderno Ideias do old JB.
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12.10.17

Um cartunzinho para o dia da criança

Do fundo do baú: Já que hoje é dia da criança, um cartunzinho infantil - acho que educativo, he he
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11.10.17

Homenagem ao Messi

Traço rápido: chargezinha esportiva em homenagem ao Messi, que regeu, tocou o bandoneón e animou a festa que vai ser a Copa de 2018.
Dizem as más línguas que apresentaram o bandoneón a ele, minutos antes de começar a partida... E eu digo que tocou como Piazzolla (um tango bem moderninho).
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10.10.17

MONK 100... o tempo não mata o passado

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Há exatos 100 anos, em 10 de outubro de 1917, Thelonious Monk nasceu em Rock Mount. Grande pianista e compositor, injetou sangue novo no jazz e se afirmou como um dos mais inventivos improvisadores de seu tempo. falecido há 35 anos, em Weehawken, Nova Jérsei, em 17 de fevereiro de 1982, deixou como legado uma obra inquietante e de imensa criatividade: "Epistrophy", "Round Midnight", "Blue Monk", e "Straight No Chaser" são exemplos de suas obras primas jazzísticas.
Ao lado de Dizzy Gillespie e Charlie Parker, foi uma das pedras fundamentais do bebop, estilo que tornou o jazz arte e superou o swing meramente dançante. Mas sua contribuição musical foi além do bebop com a introdução de dissonâncias e variações melódicas impregnadas de recursos percussivos ao piano. Enfim, foi um dos gênios da transformação permanente do jazz.
Parte de sua trajetória musical e de vida pode ser conferida no documentário "Thelonious Monk: Straight, No Chaser", de 1989, produzido por Clint Eastwood e com direção de Charlotte Zwerin. Postumamente, em 1993, Monk foi agraciado com o Grammy Lifetime Achievement Award e, em 2006, sua memória foi referenciada com o Prêmio Pulitzer de Música.
Texto de Jorge Sanglard
(Jornalista e pesquisador. Escreve em jornais em Portugal e no Brasil)


Cartum Mitológico

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8.10.17

Caricatura de Silvio Santos

Do fundo do baú: olhe o que eu encontro fuçando no baú! A caricatura de Silvio Santos, justamente no dia dele - o domingão no qual, junto com suas colegas de trabalho ele joga aviõezinhos de notas de 100 e 50 reais em cima do povo do auditório. Não podia perder a oportunidade e deixar passar batido esse registro.
Testemunhei, faz tempo, a fila que se fazia para assistir o programa dele, no antigo Cine Sol (onde assisti, na minha adolescência "A Ponte do Rio Kwai", título que ouvi na voz de um apresentador de rádio como "A Ponte do Rio Que Vai" - claro numa leitura desatenta e equivocada, he he), na Vila Guilherme - em Sampa. Era uma coisa impressionante! Parece que hoje ele mudou o lugar de seu show...
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5.10.17

Rui de Carvalho na área, agora com suas pinturas

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Meu querido amigo, o compositor e cantor Rui de Carvalho comete também suas pinturas com desenvoltura.
No dia do seu aniversário, 7 de outubro(sábado), ele exibe os retratos de 11 bambas do samba, no Bar Il Piccolo Biergarten , na rua dos Inválidos, nº135, na Lapa.
O evento que inclui também um show de músicas (com a participação de Liz Araújo e André Penna-Firme) vai rolar das 14 às 17 horas.
Todo mundo lá!

4.10.17

Hoje é dia dele: São Francisco de Assis

Este desenho foi solicitado por um amigo para uso da "Casa de Francisco de Assis", uma entidade que mantém uma creche.
Viva São Francisco, amigo da natureza e dos viventes!!!
E vivam os homens de boa vontade!!!
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