30.4.08

Uti Possidetis ou Quem está pegando quem


(A notícia sensacionalista atual que contempla o jogador de futebol Ronaldo (alcunhado de fenômeno pelo seu desempenho em campo) diz que ele se meteu numa encrenca com travestis num motel da Barra. Os diários populares são todos unânimes em dizer que um dos travestis se transformou num zagueiro tuculento, e ao que parece fez uma marcação homem a homem em cima do centro-avante o que resultou na ida de todos para uma delegacia.
A vida privada dos outros não me interessa de maneira nenhuma, mas há um grande interesse das pessoas nessa coisa de I tube, You tube, We tube...onde tem sempre um vídeo registrando eventos desta natureza e outras coisas terríveis sobre o gênero humano)
Sintetizando, o povo quer saber quem está pegando quem na esfera das celebridades e subcelebridades..
Por essas e outras fui procurar uma croniqueta que fiz faz algum tempo e encontrei na minha gaveta empoeirada o cometimento que segue abaixo
)
Na tentativa de aprofundar o conhecimento sobre essa curiosidade dos não célebres sobre o que acontece com os célebres e os que se tornam célebres com a desgraça dos célebres, fui pesquisar na história da humanidade a genealogia da “pegação” e encontrei um documento que demonstra inequivocamente que desde a mais remota antiguidade tem sempre alguém interessado no que ocorre sob os lençois alheios.
Num fragmento encontrado no interior de urna em uma terma romana de século ainda não determinado achamos o seguinte relato:
“Tarquínio Prisco foi visto de mãos dadas com Commodus (o de lábio leporino) ao lado do monte Albano. Statilia Messalina, terceira esposa de Nero, garantem pescadores de fim de semana, mergulhava nua no Tibre, enquanto seu amante Sérvio Tulio, praticava a oratória, dizem as más línguas, numa "comitia curiata"(espécie de Assembléia formada pelas cúrias) e que se fazia acompanhar por Claudius Erectus, menino levado dos subúrbios do Lazio. Saibam que era comum nesse tempo de excessos manter um mancebo a disposição para jogos eróticos pouco ortodoxos.
Em outra ocasião festiva, melhor dizendo, uma orgia dos diabos, organizada pelo casal Caio Licínio Estolão e Lúcio Sexto foi pronunciada entre um ui e um ai, a primeira proposta que permitiu o acesso de plebeus aos bacanais. Isso resultou na chamada “Lex Licinia Sextia” e na palavra de ordem “Bacanal Já!” Houve que dissesse “Vamos organizar o contubérnio.” Outro marco (não confundir com Marcus, o matador do monte Palatino) da época foi quando Caio Petélio Libo Visolo, lendário cônsul depois da segunda guerra Samnita atenuou as leis contra os credores e com isso abriu caminho para a criação dos primeiros “concilium plebes” onde umas meninas bárbaras no verdeiro sentido do termo puderam mais tarde, enfim devorar o general Plúbio Cornélio Africanus Maior, que na intimidade era chamado de “Agrippina I” por causa de sua amizade calorosa com Germanicus, o general alemão que ficou célebre por ter cruzado duas vezes o Rubicão dizendo “Alea jacta est, alea jacta est!”(a sorte está jogada, jogadíssima!)
Mas na última temporada, quem fez o maior sucesso mesmo, foi o trácio Espartacus, também conhecido como Kirk Douglas que chefiou uma charmosa revolta de escravos e gladiadores trajando os últimos modelitos da moda- últimos no seu cruel sentido. Essa foi história narrada com grande competência por um cineasta britanicus de nome Kubrick, que só estava alí por um paradoxo temporal – Ó têmpora, Ó moris ( para os analfas em latinidades como eu, isso quer dizer: “Ó tempos, Ó costumes!) – dizem que quem traduziu esse desabafo romano foi Machado de Assis, que como todos sabem é um famoso escritor do Cosme Velho, que fica ao lado de Cosme Novo alí por perto da via Ápia menor.
De qualquer forma, conta-se que o herói gladiador foi vencido por um playboy, o riquíssimo Marco Licínio Crasso – que fazia jus ao seu sobrenome e que mandou crucificar 6.000 dos companheiros do trácio que ele só conseguiu traçar depois de morto, num churrasquinho macabro onde inventou a prática da necrofilia.
Observe-se que a sodomia tinha sido já patenteada na cidade de Sodoma que rivalizava como Gomorra em formas estranhas de relacionamento.
A dupla Tibério e Caio Semprônio Graco não ficou atrás inaugurou a especulação imobiliária em Roma num “megashow” capitaneado por Cipião Emiliano, que tinha uma Linda voz e cantava todos. O único baixo astral da festa foi quando Marco Otávio entrou numas de vetar a medida especulativa (de speculus), aumentando a temperatura da sauna . O sogro de Caio, Ápio Cláudio Pulcro,no entanto, ao manobrar pelos bastidores, foi pelos fundos do camarote do “Vinho Vespasianus” e teve um contratempo que deu o tom da época- rodou a baiana quando viu sua esposa Poppaea, já balzaquena, numa tenda agarrada com Russel Crowe, outro truculento gladiador dentro e fora das telas. A crônica do evento, cantada em prosa e verso pelo poeta Vinicius de Moralis considerou tudo isso uma caipirada. Disse que Roma era o túmulo do samba e o ator australianus um canastrão de primeira. Não é que o simplório cobriu de tabefes o pobre do marido traído, como se já não bastasse o enganado acumular o consulado da Cornuália.
Para terminar, todo o império Serrano sabe de cor e salteado o enredo do incendiário Nero. Dizem as mais obscenas línguas que o pimpolho fogueteiro “pegou” Agripina, sua própria mãe de forma muito ardente. Calígula, por outro lado, parece que depois de ter “ficado” com sua irmã , “pegou” o seu cavalo, que também passou a ser conhecido como senador Incitatus.”
Acho melhor parar por aqui, pois isso já virou um samba do romano doido.
(Nota da redação: Se você acha esse relato maluco, sem pé nem cabeça, leia o livro Satyricon de Petronio - tem uma tradução moderníssima de Paulo Leminski que afirma num prefácio que se trata do mais antigo de todos os romances- quem sabe o pioneiro desse gênero literário que continua de pé apesar de muita gente já te feito seu obituário. Este livro da época de Nero é um escândalo e mostra muita coisa dos usos e costumes da Roma escravagista)

Enquanto meu Site não sai... Ilustra s/ Pirataria nos EUA

29.4.08

28.4.08

Enquanto meu Site não sai...Ilustra: Ostracismo


Lápis de Cor, Ecoline/ efeitos de Painter e Photoshop

Enquanto meu Site não sai...Ilustra Goyesca

26.4.08

Enquanto meu Site não sai...Ilustra "Afghan"


Lápis de cor sobre cartão reciclado / efeitos de Painter e Photoshop

25.4.08

O Inspetor Geral está na Escola de Sociologia e Política de São Paulo


O grupo de teatro amador que minha amiga socióloga Flávia de Castro y Castro também estará na VIRADA CULTURAL paulistana.
Desta vez com a peça O Inspetor Geral de Nicolai Gogol, logo noprimeiro dia.
Será no _sábado, dia 26/04/08 às 19:00 horas na Faculdade de Sociologia e Política que fica na rua General Jardim, 522 - Vila Buarque,
região central da cidade de São Paulo, próxima às estações República e
Santa Cecília do Metrô."De grátis".
Todos lá!

A abelha diabética ?


(Qualquer dia conto a história real de uma abelha que mesmo morta picou o braço de um amigo meu. Mas hoje quero falar de outra abelha real, não a que produz a geléia real, mas a que produz a geléia geral. É uma dica para os cientistas começarem a estudar as novas formas de insetos que estão pintando por aí em decorrência dessa descacetação que o ser humano está criando no planeta, talvez uma mutação, quem sabe?).
Estava com minha mulher almoçando num restaurante "natural" quando vi uma abelha que namorava uma garrafinha de Dietil ou Adocil como se fosse uma flor, ia e voltava e dava suas bicadinhas no que restava de líquido do produto dietético...Pensei com meus botões de rosa, ou essa abelha é diabética, ou é uma drogada sem noção. Fiquei imaginando ela lá na colméia produzindo seu mel contando suas aventuras no admirável mundo novo para suas amigas que vieram de uma florada silvestre... O zumzum deve ter sido assim: - Vocês estão por fora, na moral! O negócio é o ciclamato, bicho!

Enquanto meu Site não sai...Ilustra s/ Violência Verbal


Lápis sobre papel sulfite / efeitos de Painter e Photoshop

24.4.08

Em primeira mão: 1968 - Eles só queriam mudar o mundo


Em primeira mão: o livro dos meus queridos amigos Regina Zappa e Ernesto Soto - 1968 Eles só queriam mudar o mundo ( Jorge Zahar Editor - título muito feliz por sinal) já está na praça e vai ser lançado oficialmente no dia 13 de maio - terça-feira a partir das 20 horas na Livraria da Travessa na rua Visconde de Pirajá 572 em Ipanema.
Curiosidade: na capa está uma foto da pessoa do meu amigo, o grande designer Tulio Mariante em ação revolucionária pichando a palavra Liberdade num muro em letras caixa alta sem serifa. O local me parece que é uma faculdade que fica na Urca num dia de cerco e muita pancadaria. Depois eu digo quem clicou o infante.
Eu acompanhei de perto a feitura desse livro e recomendo para quem quer saber o que foi 1968 e "algo mais" sobre esse ano que mudou o mundo e continua mudando ainda hoje. Na linguagem da época, o livro está bárbaro, muito legal, o bicho!

O Eterno Retorno de Shakespeare


(Curiosamente, ontem, dia 23 de abril Shakespeare faria aniversário de nascimento e de morte. Pois nasceu dia 23 de abril de 1564 e morreu dia 23 de abril de 1616 – acho que foi algum diretor de marketing que bolou isso, mas aqui vai uma croniqueta modificada que um dia publiquei em alguma página hoje empoeirada – A Wikipédia informa que esta data refere-se ao calendário juliano. No calendário gregoriano, Shakespeare foi batizado em 6 de Maio)
Tem uma senhora no condomínio em que moro que me acha com cara de balcão de informações. Ontem me perguntou quando eu passava pelo playground, se coelho bota ovo.
Percebi que viria algo mais pesado depois e respondi:- Só na época da Páscoa. Ela se deu por satisfeita, mas como não gosto de deixar um bom papo morrer assim,comentei,- A senhora sabia que ontem foi o aniversário de Shakespeare?
Não tinha nada a ver com o assunto em tela, mas deu resultado, ela mandou essa: - Que nome esquisito! Parece nome de um cara que levou um sacode?
Contive o riso e pacientemente expliquei que se tratava do maior dramaturgo inglês de todos os tempos.
-Para mim, inglês é tudo invertido. Ela mandou num cruzado.
Fingi que não ouvi e mostrei um jornal e jabeei:
- A Senhora sabia que tem sempre uma peça dele em cartaz no Rio? Acho que é para irritar a crítica Barbara Heliodora.
Ela devolveu com um direto no meu fígado: Esse tal de Milkshakespire não é da minha época, eu gostava mesmo era do Vicente Celestino, Gilda de Abreu, Cyll Farney, Mazzaropi...
Cambaleei, mas voltei ao centro do ringue, não deixei a veneranda senhora respirar , disse que Shakespeare nunca tinha ficado fora de moda. Que me lembrava que seu eterno retorno tinha começado com aquele ator Kenneth Branagh .
-Branagáf? Ela se espantou. Pensou que eu tinha engolido algum mosquito da dengue. Confessei que era impossível pronunciar aquele nome. Pois é, esse cara mesmo fez um filme baseado no texto Henrique V do mago de Stratford-upon-Avon .
-Avon já é uma coisa do meu tempo. Ela falou como se mandasse um direto nas minhas fuças.
Já estava para desistir daquele papo aranha, quando ela voltou do mundo paralelo em que estava a me gozar e falou, lúcida como um expert do The Independent: Meu filho, vocé pensa que eu estou gagá, não é? Pois saiba que vocé está indo com a cocada e eu já estou voltando com a bandeja. Sei muito bem que depois desse Kenneth teve uma adptação bem afrescalhada de Romeu e Julieta com o Leonardo de Carpacio no papel principal.Antes que eu a corrigisse, ainda perplexo ela bateu no meu ombro e disse:
- É de Caprio eu sei, I’m kidding! Ha Ha Ha, entre risos disse:- se não me engano o diretor era…Não entendi mais nada. Ela continuou, depois veio “Shakespeare apaixonado”Com aquela garota de nome e sobrenome impronunciáveis:- essa tal de Gwyneth Paltrow.
Mas desses filmes mais recentes,o que mais gostei, foi o trabalho de Al Pacino, quando ele faz uma espécie de documentário sobre a dificuldade de entender Ricardo III.
Ali ele mostra que algumas peças do “Milkshake” são tão difíceis de compreender que deveriam vir acompanhadas de uma bula. Ele entrevista gente na rua que sabia falas de suas peças, mas não lembrava nada sobre os enredos em que elas se encaixavam. Pacino , então magistralmente nos leva a uma viagem onde tenta entender e explicar a complexidade da trama. Quer mais? Então fique aqui sentado esperando Godot. Quem sabe amanhã eu te falo sobre as frases do Milk, e conto as fofocas, uma delas diz que as peças na verdade foram escritas pela irmã dele. Essas feministas….

22.4.08

Ah, o amor!

A alma encantadora das ruas do Rio em Revista


Hoje, dia 22 de abril, às 19 horas na Livraria Travessa em Ipanema vai rolar o lançamento da revista Rio Etc - a alma encantadora das ruas
Segundo e-mail com o convite que recebemos vai rolar um evento paralelo : alguns autores que se inspiraram ou usaram o Rio como cenário estarão no lançamento, autografando seus livros, como Fernando Molica ("O ponto da partida", "Bandeira branca, amor"), Alexandre Fraga ("Canibal de Copacabana") e Marcelo Moutinho ("Prosas cariocas", entre outros).
Todos lá!

21.4.08

Jacob Pinheiro Goldberg debate violência e lança livro sobre cinema



(Este artigo foi escrito por Jorge Sanglard e fala de dois eventos . Num Jacob Pinheiro Goldberg debate a violência urbana dia 24 de Abril às 19 horas no Auditório da OAB de Juiz de Fora na Avenida dos Andradas, 696 no Morro da Glória e no outro ele lança um livro - "Psicologia em Curta Metragem no mesmo dia e na mesma hora e no mesmo local- tudo isto está no referido artigo, mas não custa reforçar. A arte do cartaz do debate sobre violência é do meu amigo Jorge Arbach)

Jacob Pinheiro Goldberg
debate a violência urbana
e lança livro sobre o cinema

A fronteira é a pátria de Jacob Pinheiro Goldberg, a esquina, sua peregrinação. Ao transitar pela psicologia, literatura, cinema e direito, Goldberg amplia sua visão de mundo e lança um feixe de luz para a compreensão dos conflitos que marcam estes primeiros anos do Século XXI. Para o escritor e psicanalista, todo mundo constrói seu filme e ninguém consegue escapar do script, mesmo as pessoas sem nenhum tipo de contato com o cinema acabam criando e incorporando um personagem em seu dia-a-dia e produzem um roteiro, até sem querer. Afinal, a vida é presente divino, que não cabe em muito pouco, adverte o psicólogo.
Nascido em Juiz de Fora e radicado em São Paulo, há mais de cinco décadas, Jacob Pinheiro Goldberg é doutor em psicologia e vem colaborando regularmente com a Revista OAB-MG 4ª Subseção, onde tem instigado o debate de idéias e a reflexão. Seu novo livro, “Psicologia em Curta-metragem” (Editora Novo Conceito), que será lançado em Juiz de Fora na sede 4ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil – MG (Avenida dos Andradas 696), no dia 24 de abril, às 19 horas, é uma investida densa no universo do cinema. Segundo Sandra Magalhães, no prefácio da publicação, o autor, que é um cinéfilo por circunstâncias existenciais, exige do leitor que reescreva, na conformidade de seu tamanho, uma concepção de ser a partir do personagem. O livro tem lançamento marcado também em São Paulo, no dia 14 de maio, às 19 horas, na Livraria Cultura - Teatro Eva Herz - Conjunto Nacional- Avenida Paulista.
Depois de quase duas décadas sem voltar a Juiz de Fora, Goldberg aceitou o desafio do retorno à cidade natal para participar de uma conferência e um debate, com o lançamento da nova obra, ao lado da procuradora do Estado de São Paulo, Ana Sofia Schmidt de Oliveira, no Ciclo de Debates promovido pela 4ª Subseção da OAB-MG e pela Escola Superior de Advocacia (ESA), no dia 24 de abril. O tema da conferência é “Macro e Micro Violência no Brasil”, onde serão abordadas questões polêmicas como a proposta de redução da idade penal e o endurecimento das penas no país. Tanto Ana Sofia quanto Goldberg defendem que o que importa é o desenvolvimento de uma visão crítica diante de uma realidade complexa, e é fundamental rechaçar soluções simplistas como o aumento do rigor das punições, a redução da maioridade penal, a criminalização de novas condutas. Assim, o essencial é colocar-se, especialmente aquele que se ocupa do sistema como policial, advogado, juiz ou promotor, numa posição de maior humildade, incorporando a crença de que, se o sistema deixar de causar um mal maior do que aquele que pretende combater, já terá feito grande coisa.
O ser humano ainda não encontrou uma fórmula para driblar sua tendência à perversidade, enfatiza Goldberg. “É aquela espécie que tortura, mutila e mata, por prazer. O exercício diabólico do sado-masoquismo. A resposta está na alteridade, sublimação da finitude, única saída para o desespero do acaso, raiz da violência”. E esse dialógico se trava e destrava na palavra que raspa os idiomas, garante o psicanalista.
Na opinião de Sandra Magalhães, “em sua amplitude, Jacob Pinheiro Goldberg vem construindo uma teoria brasileira da psicologia, na melhor tradição da originalidade que captura no humano, a liberdade”. E complementa: “Aproprio-me das palavras de Gilberto Felisberto Vasconcellos que, em crítica publicada na Folha de S. Paulo, sobre o livro “Cultura da Agressividade”, a edição da tese de doutoramento em psicologia de Jacob Pinheiro Goldberg, o enquadra ‘à maneira dos novos filósofos franceses, que são os representantes do pós-modernismo’”.
“Psicologia em Curta-metragem” é apontado por Sandra Magalhães como um outro turn over na difícil e impressionante obra de Goldberg, visto como o psicólogo da poética. Difícil enquanto escrita e falada, dispersa e exilada, em conferências, artigos, no Brasil e no exterior, em um processo de turbilhão de um peregrino que, em torno de si mesmo, visita o Outro e o mundo com profunda militância social que já se incorporou à própria história de nossa cultura. Impressionante, porque levanta polêmica, contesta, raciocina e faz a apologia da desrazão, provocando a ira dos covardes de espírito, suscitando emoção no humano.
O livro traz uma análise comportamental de diversos filmes, diretores e atores de cinema, onde Goldberg analisa “Matrix”, “Os Pássaros”, “Disque M para Matar”, “Dois Filhos de Francisco”, “Cidade de Deus”, “O Segredo de Brokeback Mountain”, “Meu Nome Não é Johnny” e até “Tropa de Elite”. Sobre este último, o psicólogo afirma que o diretor fez no cinema o que Nelson Rodrigues fez na literatura. “Ele escreveu um ‘brasileiro’ sobre o Brasil, que ninguém escreve, ninguém filma, porque somos filhos de uma cultura que escamoteia para evadir-se. Uma sociedade que não se enxerga com medo da visão horrorosa que a ameaça. Brutalidade, violência, hipocrisia, tudo é tratado pelo viés do tabu, da falsa cordialidade. O indivíiduo diz não com um sorriso de sim”.
No dia 22 de abril, às 18h30, no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), da Universidade Federal de Juiz de Fora (rua Benjamin Constant, 790), Jacob Pinheiro Goldberg participa do projeto Diálogos Abertos, onde grava um depoimento e será entrevistado sobre sua trajetória entre Juiz de Fora e São Paulo.
Juiz de Fora é uma cidade que tem como marca a industrialização, na virada do século XIX para o XX e no início do XX, e ao longo do tempo acolheu muitos imigrantes. Assim, os pais de Jacob Pinheiro Goldberg escolheram as terras banhadas pelo Paraibuna para se fixarem no Brasil. A memória de Juiz de Fora, e da rua Halfeld, no coração da cidade, permeia diversos poemas escritos por Goldberg, que revela: “Na infância, viajei dezenas de vezes nos trens da Central do Brasil, entre minha cidade natal e São Paulo, a fim de visitar meus avós maternos...voltava saudoso da garoa, talvez ensaio para o fog”. O apito do trem foi o musical que acompanhou a saga do menino apelidado, Esquina, no percurso entre Minas e São Paulo. Estes poemas são fruto de um mergulho na infância e na adolescência vividas na pioneira e industrial Juiz de Fora, além de um resgate das lembranças familiares vislumbradas no mapa da Polônia.
Jacob Pinheiro Goldberg, Affonso Romano de Sant’Anna, Fernando Gabeira e Itamar Franco, entre tantos outros juizforanos, de nascimento ou adotados, estudaram no tradicional colégio metodista Granbery, uma referência educacional juizforana e mineira. O ar de mistério que certas cidades capturam, como Juiz de Fora, segundo Goldberg, remete ao absurdo que habita as almas e, sem lógica, exaspera e exige. Assim, o berço de Pedro Nava, Murilo Mendes e de Rubem Fonseca abriu caminho e/ou acolheu uma geração de novos e consagrados escritores e poetas – entre os quais, Luiz Ruffato, Iacyr Anderson Freitas, Edimilson de Almeida Pereira, Fernando Fiorese, Prisca Agustoni, Júlio Polidoro, José Santos, Eustáquio Gorgone, Sérgio Klein, Walter Sebastião, Fabrício Marques, Ronald Polito, Júlio Castañon Guimarães, Knorr, Ricardo Rizzo e o saudoso José Henrique da Cruz –, que vêm inserindo seus nomes e suas obras na constelação literária mineira e brasileira.
“Regina Przybycien, professora da Universidade do Paraná, ao analisar Magya Wygnania, (tradução polonesa de Henryk Siwierski, professor das Universidades de Cracóvia e Brasília, da antologia Mágica do Exílio, de Jacob Pinheiro Goldberg), adianta que se trata de um outsider, comparando-o a Tadeusz Rozewicz e a Carlos Drummond de Andrade”, declara Sandra Magalhães.
Somos todos e cada um, à sua maneira, prisioneiros do passado, assegura Goldberg. “No exercício diário da psicanálise, constato o atemporal e o inespacial do inconsciente. O que me aconteceu na infância está mais presente, nostálgico, dilacerante, do que o café da manhã”.
Na verdade, a escrita, para Jacob Pinheiro Goldberg, é o exercício balanceado entre a onipotência do criador e a impotência da fragilidade do ser. E, assim, a simbiose entre o irreal, a ficção e o acontecido é a maternidade no devir. “Psicologia em Curta-metragem” é mais um passo na trajetória de um autor que não teme o desafio de revirar o passado e de discutir o presente.
Jorge Sanglard é jornalista, pesquisador e organizador da antologia “Poesia em Movimento

Marketing Pessoal e o Pecado Original

20.4.08

Gonzaguinha pai e filho e o espírito santo do Gonzagão


Justiça seja feita! Bela idéia essa do Daniel Gonzaga de homenagear seu pai no CD "Comportamento Geral". Daniel segue aquela máxima "filho de peixe, peixinho é" e vai além, reescreveu o trabalho do Gonzaguinha. Daniel encarou algo que acredito ser muito difícil para um filho: a figura do pai. Não vamos entrar em considerações psicanalíticas. Vamos ficar na área da arte e da mídia. É claro que as comparações são inevitáveis. A crítica vai sempre na canela. Mas esse trabalho que ele fez supera qualquer crítica. É um encontro amoroso . Tem a voz e a interpretação de Daniel (afiadas, pois certas músicas exigem um tom cortante) com arranjos que nos surpreendem fazendo novas as músicas que nossos ouvidos estavam acostumados . A sonoridade é bela e olhe que o disco foi gravado ao vivo!
Gonzaguinha tinha aquela poesia que mete o dedo na ferida com ironia . Ele não deixa barato a sacanagem "social" que se faz com o povo nessa terra que deveria pertencer a ele e não refresca em relação ao "comportamento" de cordeiro que o incomoda nesse mesmo povo. Ao mesmo tempo tem uma lírica que realmente explode, não derrama!
A escolha do repertório foi muito feliz : 1- Comportamento Geral, 2- Dias de Santos e Silvas, 3- Com a perna no Mundo, 4- João do Amor Divino, 5- Não dá mais pra segurar (Explode Coração), 6- Gás Neon, 7- Namorar, 8- Feliz, 9- Recado,
10- Sangrando, 11- Diga lá, coração, 12- Festa, 13- Chão, pó, poeira, 14- Da vida,
15- O que é? O que é?
Daniel, parabéns. Seu pai iria ficar orgulhoso.
Que venha o próximo CD!

O sublime Chega de Saudade


Devo, por uma questão antes de tudo patriótica falar do filme Chega de Saudade de Laís Bodansky. Vou tentar ser econômico nos elogios, mas vai ser difícil.
Essa moça , Laís fez um trabalho sensível , emocionante e com toques de ironia fina sobre um tema difícil de tratar. Falo da competência que se revelou em todos os níveis de trabalho artístico do fazer cinematográfico (gostaram?) Isso, está para começo de conversa, está escrito num roteiro fora do esquema da recente cinematografia brasileira voltada para a "realidade social". Essa competência aparece também no árduo movimento de câmera que tenta captar fragmentos dentro da atividade frenética e dos ritmos das músicas dentro de um salão de baile. Depois tem a feliz escolha de um elenco maravilhoso onde brilham as estrelas como a dama Tônia Carrero, as espetaculares atuações de Betty Faria e Cássia Kiss, o talento gracioso de Maria Flor, o impecável trabalho de Paulo Vilhena. Sem falar no grande Leonardo Villar que dispensa comentários. Mas indiscutivelmente o exuberante trabalho de Stepan Nercessian. E tem mais as participações especiais de Elza Soares e Jorge Loredo. Temos que falar dos coadjuvantes que enfeitam a vista com suas aulas de dança. Tem a voz do crooner que faz dupla com Elza (quem é?) a orquestra...o fino!. Quem não viu, dançou!
Tenho dito!

Crônica da Tinê - Que bicho é esse?


Cinco minutos imóvel. Depois de oscilar o corpo como se estivesse apertada para ir ao banheiro, sondar em volta à procura de conhecidos, trocar os óculos de longe para perto, recontar o número de pessoas, vistoriar os que não dão um passinho à frente, dona Lalá não se contém e suspira tão alto que todos a olham. Ela dá de ombros. No salão-aquário os peixes se movem com lentidão até baterem a boca no vidro do guichê. Se fosse um golfinho, ela dormiria ali com um lado do cérebro enquanto o outro lado ficaria atento ao "Próximo!". A fila se enrosca entre as colunas. Um par de pernas em cada segmento desse corpo esquisito que parece mas não é, pois se fosse não estaria ali. Lacraia d'água? Sem se dirigir a alguém específico, depois do muxoxo inicial dona Loló comenta que o atendimento demora, os eletrônicos estão desativados, e daí pulou para a diferença entre burrice e ignorância, a mania que as pessoas têm de qualificar os outros com nome de animais conforme seus predicados, ou na falta deles. Ô lesma! Nesse ponto, o ser invisível com quem dona Lelé falava se transforma em três ou quatro desconhecidos em bate-papo. Quase um coral. Com olho de gavião ela rastreia o leão no bolso, o bode na sala, a mosca na sopa, o pinto no lixo, o boi na linha e a lagartixa atrás da porta - esta, creio, uma expressão inventada por ela para aquele que fica sempre à espreita sem se mostrar, como aquele guarda atrás do vaso de palmeira a enfeitar a porta do gerente. Para destoar do conjunto, há um leitor discreto, alheio à impaciência geral, além dos autofalantes indiscretos ao celular e, claro, bebês chorões para espantar o marasmo coletivo. O burburinho ecoa de parede a parede, gente borbulhante querendo vir à tona. Faz calor. Se a cobra não fuma, a onça vai beber água. As comparações zoológicas permitem puxar temas variados e formar novos grupos de conversa. Depende da hora. Dona Lulu sabe pelos rostos se o povo ali veio antes ou depois do almoço, se o gato quer mingau ou quer dormir. Isso determina o interesse por este ou aquele assunto. Ou o silêncio total. Tem gente que não fala com estranho de jeito nenhum. Por mais bonito que seja o pé do pavão. Se o papo pega e lhe pedem opinião, ela responde evasiva - uma dama nunca fala o que realmente pensa... É como jogar isca no meio do rio: a única certeza é a de que um baiacu não será fisgado apesar de, se estiver perto da desembocadura, haver tubarões que invadem a água doce, os furões de fila. Quando atrás dela um grupo se animou com querelas orientais, e outro da frente encetou um papo cri-cri, ela se distanciou das conversas paralelas, reparou que o saguão seria perfeito para dançar quadrilha, pares não faltariam e todos cantariam "para dentro e para fora, mais um, mais um...", ou dança das cadeiras perfiladas no centro até que a campainha soasse para atender quem ficou de pé. Blinnng, blinnng. Então o caixa com boca de tracajá a atendeu, dona Lili agitou os carnês como se estes fossem asas de seriema, conferiu o troco e saiu lépida pela porta giratória, nem ouviu perguntarem "Qual era mesmo o nome dela?"
Tinê Soares – [16/4/2008 -18:52:42]

19.4.08

Enquanto meu Site não sai...Caricatura de Nietzsche

Meus cartuns pré-histéricos

Hobsbawn, Globalização, Democracia e Terrorismo


(Esta resenha foi publicada por Jorge Sanglard (*) no jornal O Primeiro de Janeiro "das Artes das Letras" do Porto, Portugal)
Através do olhar de Eric Hobsbawm
Ensaios para Compreensão de um novo Século


Um dos historiadores mais respeitados e mais incisivos do século XX e deste início de XXI, Eric Hobsbawm lançou em Portugal e no Brasil o livro de ensaios "Globalização, Democracia e Terrorismo" (Presença e Companhia das Letras), onde lança um feixe de luz para compreensão da conjuntura internacional e explica porque estes primeiros anos do novo século já oferecem um quadro sombrio, ou mesmo sinistro, para grande parte dos que vivem de salários provenientes dos seus empregos nos velhos "países desenvolvidos", situação que não antecipa a perspectiva de uma era de estabilidade política e social. A perspectiva de um século de paz é remota, declara o ensaísta. Enfático, o escritor também afirma: "A era dos impérios está morta. Teremos de encontrar outras maneiras de organizar o mundo globalizado do século XXI".

"Globalização, Democracia e Terrorismo" traz 10 textos, escritos entre 2000 e 2006, a partir de conferências e palestras, que sintetizam as idéias do pensador inglês, nascido em Alexandria em 1917 e com formação na Áustria, na Alemanha e na Inglaterra, com ênfase na análise das questões que interferem na democracia, como as guerras, a violência urbana, o imperialismo e a ação das organizações transnacionais, além das consequências trágicas do terrorismo. O livro é um soco no estômago da acomodação e é um convite à reflexão sobre que século estamos construindo.
Já na apresentação do livro, Hobsbawm adverte: "O século XX foi a era mais extraordinária da história da humanidade, combinando catástrofes humanas de dimensões inéditas, conquistas materiais substanciais e um aumento sem precedentes da nossa capacidade de transformar e talvez destruir o planeta - e até de penetrar no espaço exterior". O próprio historiador questiona: "Qual é a melhor maneira de refletir sobre essa 'era dos extremos' e imaginar as perspectivas da nova era que surge a partir da antiga?". Para, em seguida, afirmar que estes curtos ensaios suplementam e atualizam o que escreveu, principalmente, em "Era dos extremos", na entrevista sobre "O novo século" com o jornalista italiano Antonio Polito e em "Nações e nacionalismo desde 1780".
Assim, os estudos de Hobsbawm focalizam cinco conjuntos de temas que requerem "um pensamento claro e bem informado": a questão genérica da guerra e da paz no século XXI, o passado e o futuro dos impérios globais, a natureza e o contexto cambiante do nacionalismo, o futuro da democracia liberal e a questão da violência política e do terror. Tudo isso "num cenário mundial dominado por dois desenvolvimentos correlatos: a aceleração enorme e contínua da capacidade da espécie humana de modificar o planeta por meio da tecnologia e da atividade econômica e a globalização".
Mas, infelizmente, assegura o historiador, o primeiro deles não produziu até aqui um impacto significativo sobre os que tomam as decisões políticas. "A maximização do crescimento econômico continua a ser o objetivo dos governos, e não existe ainda uma perspectiva realista para que se dêem passos efetivos que nos permitam enfrentar a crise do aquecimento global". E Hobsbawm enfatiza: "O avanço acelerado da globalização - ou seja, o mundo visto como um conjunto único de atividades interconectadas que não são estorvadas pelas fronteiras locais - provocou um profundo impacto político e cultural, sobretudo na sua forma atualmente dominante de um mercado global livre e sem controles".
Esta globalização acompanhada de mercados livres, na opinião do escritor, trouxe consigo uma dramática acentuação das desigualdades econômicas e sociais no interior das nações e entre elas. Para Hobsbawm, não há indícios de que essa polarização não esteja prosseguindo dentro dos países, apesar de uma diminuição geral da pobreza extrema: "Este surto de desigualdade, especialmente em condições de extrema instabilidade econômica como as que se criaram com os mercados livres globais na década de 1990, está na base das importantes tensões sociais e políticas do novo século".
Outro ponto abordado pelo historiador é o impacto dessa globalização para os que menos se beneficiam dela: "Daí provêm a crescente polarização de pontos de vista a seu respeito, entre os que estão potencialmente protegidos contra seus efeitos negativos - os empresários, que podem reduzir seus custos utilizando mão-de-obra barata de outros países, os profissionais da alta tecnologia e os formandos em cursos de educação superior, que podem conseguir trabalho em qualquer economia de mercado de alta renda - e os que não estão".
Assim, Hobsbawm explica porque este início de século XXI oferece um quadro sombrio, para não dizer sinistro, para a maior parte dos que vivem de salários provenientes dos seus empregos nos velhos "países desenvolvidos". Afinal, o mercado livre global, segundo o historiador, afetou a capacidade de seus países e sistemas de bem-estar social para proteger seu estilo de vida. E o pensador enfatiza: "Em uma economia global, eles competem com homens e mulheres de outros países que têm as mesmas qualificações, mas recebem apenas uma fração dos salários vigentes no Ocidente e sofrem nos seus próprios países as pressões trazidas pela globalização do que Marx chamava 'o exército de reserva dos trabalhadores', representado pelos imigrantes que chegam das aldeias das grandes zonas globais de pobreza". Situações como estas, do ponto de vista do historiador, não antecipam uma era de estabilidade política e social.
Hobsbawm ainda argumenta que "embora a escala real da globalização permaneça modesta, talvez com a exceção de alguns países em geral pequenos e sobretudo na Europa, seu impacto político e cultural é desproporcionalmente grande". Nessa medida, a questão da imigração permanece um problema político substancial para a maior parte das economias desenvolvidas do Ocidente.
O historiador esclarece que o período abordado nos ensaios tem sido dominado pela decisão tomada pelo governo dos Estados Unidos, em 2001, de afirmar uma hegemonia unilateral sobre o mundo, condenando convenções internacionais até então aceitas, reservando-se o direito de fazer guerras de agressão ou outras operações militares sempre que o desejasse e levando-as à prática. E Hobsbawm faz questão de deixar bem claro que estes ensaios foram escritos por um autor que tem críticas profundas a esse projeto: "Isso se deve em parte à força e à indestrutibilidade das minhas convicções políticas, que incluem a hostilidade ao imperialismo, seja o das grandes potências que afirmam estar fazendo um favor às suas vítimas ao conquistá-las, seja o do homem branco que pressupõe, para si próprio e para os arranjos que faz, uma superioridade automática sobre as pessoas cuja pele tem outra cor. Deve-se também a uma suspeita racionalmente justificável contra a megalomania, que é a doença ocupacional dos países e dos governantes que crêem que seu poder e seu êxito não têm limites".
O primeiro ensaio do livro, intitulado "Guerra e paz no século XX" tem já na primeira frase uma síntese dramática do que foi o século passado: "O século XX foi o mais mortífero de toda a história documentada". E Hobsbawm esclarece: "Seria mais fácil escrever sobre o assunto da guerra e da paz no século XX se a diferença entre ambas tivesse permanecido tão clara quanto se esperava ao começar aquele século, nos dias em que as Convenções de Haia de 1899 e 1907 codificaram as regras da guerra". Existe agora, como durante todo o transcurso do século XX, na avaliação do historiador, uma ausência total de qualquer autoridade global efetiva que seja capaz de controlar ou resolver disputas armadas. Assim, a globalização teria avançado em quase todos os aspectos - econômico, tecnológico, cultural, até linguístico -, menos um: "do ponto de vista político e militar, os Estados territoriais continuam a ser as únicas autoridades efetivas".
E o autor finaliza o ensaio com um prognóstico: "no século XXI, as guerras provavelmente não serão tão mortíferas quanto foram no século XX. Mas a violência armada, gerando sofrimentos e perdas desproporcionais, persistirá, onipresente e endêmica - ocasionalmente epidêmica -, em grande parte do mundo". E sentencia: "A perspectiva de um século de paz é remota".
No segundo artigo, o ensaísta aborda a questão da guerra, da paz e da hegemonia no início do século XXI e é enfático: "Não podemos falar sobre o futuro político do mundo, a menos que tenhamos em mente que estamos vivendo um período em que a história, ou seja, o processo de mudanças na vida e na sociedade humana e o impacto que os homens impõem ao meio ambiente global, está se acelerando a um ritmo estonteante". E não deixa por menos: "Neste momento, ela está evoluindo a uma velocidade que põe em risco o futuro da raça humana e do meio ambiente natural".
O terceiro ensaio é sobre as diferenças entre a hegemonia dos Estados Unidos e do Império Britânico, e o quarto artigo aborda o fim dos impérios. Aqui, Hobsbawm declara com toda ênfase: "A era dos impérios está morta. Teremos de encontrar outras maneiras de organizar o mundo globalizado do século XXI". O quinto texto é um painel sobre as nações e o nacionalismo no novo século, onde o historiador avalia o surgimento de uma era de instabilidade internacional com início em 1989, cujo fim ainda não pode ser previsto.
No sexto ensaio, o autor traça as perspectivas da democracia e, no sétimo, a questão é a disseminação da democracia. O terror é o tema do oitavo artigo e o nono ensaio discute a ordem pública em uma era de violência. Hobsbawm finaliza o livro com um texto sobre como o império se expande cada vez mais e afirma: "a política da nossa época é de natureza complexa". Contundente, declara: "É impossível prever a duração da atual superioridade americana. A única coisa que temos certeza absoluta é que se trata de um fenômeno historicamente temporário, como ocorreu com todos os impérios. No período de nossa vida vimos o fim de todos os impérios coloniais, o fim do chamado império dos mil anos dos alemães - que durou apenas doze - e o fim do sonho da União Soviética de liderar uma revolução mundial".
Como se vê no conjunto do livro, o autor ressalta que a história tem muito poucos atalhos, lição que o próprio autor aprendeu por ter vivido durante grande parte do último século e pensado a respeito. Afinal, são 90 anos vividos para a reflexão e a defesa de suas convicções.
(*)Jorge Sanglard - Jornalista brasileiro, pesquisador e organizador da antologia "Poesia em Movimento"

16.4.08

Semana de Choro em Uberaba


Recebi o convite da Segunda Semana Nacional do Choro de Uberaba. O pessoal me honrou usando um desenho meu no cartaz, no folheto e na camiseta. Reproduzo aí embaixo o texto-convite.
II Semana Nacional do Choro em Uberaba-MG
(de 17 a 26 de abril de 2008)
Idealizada pelo Professor Fausto Reis Rocha Oliveira em 2007, a I Semana Nacional do Choro em Uberaba-MG configurou caráter oficial às comemorações do dia 23 de abril – aniversário do saudoso Pixinguinha e Dia Nacional do Choro (Lei nº 10.000 de 4 de setembro de 2000). O evento contou com valorosas participações e colocou Uberaba-MG em igualdade com grandes centros culturais do país.

Entre 17 a 26 de abril de 2008 acontecerá a II Semana Nacional do Choro na cidade. O projeto visa estimular o gosto pela música brasileira, a preservação de sua memória, a formação de novos instrumentistas e platéias para o gênero.

Em clima de comemoração, a programação contará com eventos nos três períodos do dia. Durante uma semana o choro percorrerá diversos pontos da cidade, onde acontecerão exibições de filmes, exposições de livros e materiais sobre o gênero, palestras, recitais e visitas musicais a escolas, hotéis, empresas, universidades, hospitais, asilos e instituições de caridade A cidade terá o prazer de apreciar grandes executantes do Choro local e nacional.

Coordenada pelos Professores Fausto Reis Rocha Oliveira e Marvile Palis Costa, a II Semana Nacional do Choro acontece com o apoio da Fundação Cultural de Uberaba em parceria com o Conservatório Estadual de Música Renato Frateschi, Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, Universidade de Uberaba e a Banda de Música do 4° BPM.

Enquanto meu Site não sai...Caricatura de Mozart

Da Série Celebridades Célebres

15.4.08

Rolling Stones no Rio dia 16 de Abril - Não é mentira!


Os Rolling Stones "baixam" no Rio exatamente às 19.30 horas na Livraria do Unibanco Artplex na Praia de Botafogo nº 316. Trata-se do livro de José Emilio Rondeau e Nelio Rodrigues.
SEXO, DROGAS E ROLLING STONES.
Clique na imagem que ela se amplia e você fica sabendo mais detalhes.
O último a chegar é mulher do padre!

Enquanto meu Site não sai...Rolling Stones e Bob Dylan

Da Série Celebridades Célebres - Guilherme Tell

12.4.08

Crônica da Tinê - Copos Marcados


Presenciei a discussão de um casal em torno da divisão de copos.
Não é folclore, também pode acontecer entre irmãos e primos. Mas um ex-casal em fase de ‘toma lá, dá cá’ oferece cenas patéticas: os copos são qualificados de acordo com a desqualificação do reclamado na proporção direta da ira do reclamante. Nem os trinta copos de requeijão com reprodução de pinturas brasileiras escaparam. Se ainda fossem Nas obras originais... com certeza a disputa teria sido mais acirrada e divertida.

Devia eu sentir pena de dois entes cujo amor original se resumiu a objetos a serem divididos à tapa? Quanto mais tempo juntos sob um teto comum, maior o arsenal para o bate-boca. É irresistível. Parece que os objetos criaram vida e se casaram à revelia dos donos, relutam em separar-se na cristaleira do litígio. Bom, antes quebrar pratos do que pôr os filhos, o cachorro, o gato e o curió na linha de fogo. Na Grécia, quebra-prato é voto de felicidade. Não importa a nacionalidade dos ex-pombinhos: quando capitulam parece que um passa a falar em grego com o outro. Ou birmanês, se forem gregos.

Objetos adquiridos ao longo da vida a dois revelam seu real valor na hora da separação e constituem longos capítulos em ordem alfabética. Alguns itens são fáceis.
--- Pode ficar com os copos azuis-dourados para uísque, eu não bebo e nem trago horda de amigos no fim de semana para encher a cara. Já os quadrados com design finlandês servem para o chá gelado, eu quero.
--- Sem essa, você também bebia e curtia os amigos! Fica com os finlandeses mas as canequinhas baianas para aguardente com a garrafa-alambique ficam comigo.
--- Nem pensar! Eram do meu bisavô. Aliás, devolva a garrafa de vidro em forma de mulher que você carregou...
--- Negativo! Sua tia me deu o jogo completo antes de nos casarmos, ela queria aquilo longe de casa. E a garrafa-mulher já havia sumido nas mãos de seu avô. Também quero as taças flutes de Amsterdã. Você tem as taças biseladas de sua mãe...
--- Não me leve na flauta! Sabe muito bem que as taças de champanhe estão desfalcadas por cinquenta anos de uso e empregadas mãos-de-fada. Só restou um terço...
--- Então fica também com aquelas redondas que foram de minha mãe, assim formam um jogo pós-moderno, ninguém vai notar a diferença nos desenhos e vão continuar a arrancar suspiros de suas amigas fúteis...
--- Francamente! Gosto muito de sua mãe, mas as dela não são autênticas, vieram de um brechó de rua... e minhas amigas são decoradoras de bom-gosto, algumas doutoradas em história da arte!

Ainda não tinha chegado a vez das licoreiras em bico-de-jaca quando um livro escondido entre os cristais caiu da prateleira. Ambos mudaram de expressão diante de “O Encontro Marcado” a esparramar pétalas de uma flor murcha, com as páginas ainda manchadas de lama por ter caído do colo da moça ao sair do carro do rapaz no dia chuvoso do “primeiro de nossas vidas”.

De repente, cansados de se acusarem através dos copos, ele fez o convite e ela aceitou.
Os dois nem pareciam que tinham discutido horas a fio, foram para o Bar Astoria. Ele pediu conhaque, ela, um simples suco de laranja... com vodka. Transparentes, riram à toa. Na saída, combinaram outro dia para separarem os discos, beijaram-se de boca fechada feito irmãos, e cada um tomou seu rumo para um novo encontro marcado.

Tinê Soares – [10/4/2008 - 11:14:35]
N.R- A ilustração também é da Tinê

Enquanto meu Site não sai...Caricatura de Proust

Flagrantes Literários

11.4.08

Enquanto meu Site não sai...Caricatura de Sartre

Meus cartuns histéricos

Mantra


(Das croniquetas que cometi em minha vida, esta é uma das que mais gosto)
Jogos, filmes, programas, CD-Rom, DVD, Photoshop, Corel, Autocad, jogos, filmes, programas, CD-Rom, DVD, Photoshop, Corel, Autocad…
Ele, todos os dias, cantava essa ladainha. E, como pronunciava a seqüência de uma forma muito especial, ela foi se imantando de energia. Pode-se dizer que superou em muitos quilowatts aquela que é extraída na Av. Rio Branco e adjacências pelos gatos de camelôs mais sofisticados, que, comparados a ele, seriam operadores de sistemas mais complexos de sonegação, com seus elegantes home-theaters instalados nas calçadas da principal artéria da cidade.

Ele, coitado, era um pobre ambulante que não estava roubando, matando, nem estuprando, mas sim defendendo o dele - apesar de se abrigar sob a encaveirada bandeira, a velha Jolly-Roger esfarrapada de pirata da Carioca…

Mas um dia causou espécie e chegou ao topo da camelotagem. Tudo por causa da repetição de seu bordão de venda:
"Jogos, filmes, programas, CD- Rom, DVD, Photoshop, Corel, Autocad...", que se transformou num poderoso mantra e produziu tamanho campo de força que ele começou a levitar. No começo o pessoal achou que era mais um truque de um artista popular como os milhares que passaram por aquele local, mas, aos poucos, alguns transeuntes perceberam que se tratava de um verdadeiro prodígio. E assim fez-se a sua fama sobrenatural no boca-a-boca das ruas do Centro.

O resultado desse "marketing do além" logo apareceu em dinheiro vivo, lavável em qualquer boa lavandeira do país. Vendeu à beça: joguinhos de computador se esgotaram num piscar de olhos. Filmes de todos os tipos, desde os que estavam ainda passando nos cinemas até os clássicos de Holywood, escorriam de suas mãos. E ele, flutuando na praça, enquanto distribuía CD-Roms a mancheias. DVDs de shows, nem se fala, inundavam o povão que o cercava lá embaixo. E mais: botou para rodar milhares de CDs que tocavam na rádio. Entre eles, a trilha da novela das oito, o pagode nota 10, o funk da Quebra-barraco. Enfim, uma festa retocada a Photoshop, com
patrocínio não contabilizado da Microsoft e regado a Corel. Vendia até o sistema operacional da Linux, que é de grátis mas demora pra baixar.

O negócio ia às mil maravilhas. Chovesse ou fizesse sol, lá estava ele, levitando, cantando e enchendo o sacolão. A mídia logo se interessou: foi filmado, fotografado, entrevistado. Os policiais o cumprimentavam
abertamente e o saxofonista do metrô até criou um tema para seus vôos. Cientistas de todo o mundo vieram estudar o fenômeno. Alguém teve a idéia de criar uma ONG para ajudar meninos de rua otimizando seu mantra numa
gravação que seria decorada e repetida como numa madrassa. Mas os garotos estavam sempre chapados de cola de sapateiro e não conseguiam sair muito do chão. Logo ficavam à deriva, dando rasantes pela avenida e
atrapalhando o trânsito.

Porém, como diria Plínio Marcos, "sempre há um porém", num dia de caldo de feijão ralo, ele despencou lá de cima e se arrebentou todo. Nunca mais se falou na sua pessoa…Dizem as más línguas que seu milagre não passava de um artigo falsificado, um mantra do Paraguai.