24.12.12

Recebi um presentão neste Natal: A revista CONTINENTE

Quero registrar aqui, que recebi um presentão agora pouquinho. Na minha caixa de correio tinha um envolope contendo três exemplares de Continente (sendo que um deles é uma edição especial em homenagem a Álvaro Lins), uma excelente revista cultural brasileira, produzida por um pessoal de alta qualidade de Pernambuco. É uma publicação da Cepe Editora (Companhia Editora de Pernambuco). E não foi só isso não, de brinde recebi dois CDs: um do Quinteto Violado cantando Gonzagão, o que é o máximo! E também um outro de Geraldo Maia, intitulado Estrada. Além da alta qualidade editorial e gráfica, a revista é antenadíssima - show de bola! Tudo isto pode ser conferido no site da revista, clicando no seguinte link: www.revistacontinente.com.br Obs: Tem mais, o meu presente se completa futuramente, pois terei a honra de ilustrar uma matéria da revista Continente, projetada para sair em janeiro. Quero agradecer aqui a Luiz Arrais pela gentileza. Valeu, meu irmão, parabéns!!!

22.12.12

Saudação de fim de ano de Gerdal

(Gerdal, nosso amigo que nos honra com suas dicas e textos sensacionais, escreve aqui umas linhas de saudação do fim e do começo de um novo ano, que sem dúvida, vai ser cheio de alegrias e muita música. Aumenta o som!!!)
Prezados amigos,          Por mais um ano, pude levar adiante o propósito de, como mero aficionado, prestigiar regularmente a nossa boa música popular, do "passado" e do presente, tão fértil em talentos, por meio de dicas e homenagens. Um procedimento ditado pelo coração e voltado, em particular, para o incentivo aos novatos (afinal, quem hoje é famoso já precisou de apoio no início da carreira) e para aqueles artistas que - a meu juízo e observação -, falecidos ou não, tendem a ficar injustamente esquecidos com o tempo, sem reconhecimento na nossa "grande mídia". Portanto, só tenho a agradecer a vocês a generosa atenção aos recados musicais, desejando a todos um feliz Natal e um 2013 muito bem-sucedido, em sentido amplo.        Faço o meu reencontro com a MPB, por esta via, na segunda semana de janeiro próximo. Saúde, paz e boa sorte!          Um abraço musical,          Gerdal   Pós-escrito: a) endereço, especialmente, votos de boas festas e um feliz 2013 ao amigo Bruno Liberati, por postagens de dicas em seu blogue, e ao jornalista Oswaldo Faustino, por sua sensibilidade e excelente matéria feita com o ex-arregimentador da Copacabana Discos e ritmista Geraldo Barbosa (em foto abaixo, clicada por Eraldo Platz), hoje com 91 anos, para a edição atual, recém-saída nas bancas, da revista "Raça Brasil" (aos interessados, edição de número 173, com o alagoano Djavan na capa);                    b) para a ilustração musical de praxe, selecionei os cinco registros seguintes, com canções pouco conhecidas ou lembradas: 1) "Antigamente", de Vadico e Jarbas Mello, com a cantora recifense Maria Helena Raposo em gravação de 1958; 2)  "Saxofone, Por Que Choras?", do paraibano Severino Rangel e com o sopro do próprio autor, mais conhecido como Ratinho (da eterna dupla humorístico-musical com Jararaca), em gravação original de 1930. Ele faleceu em Duque de Caxias (RJ) em 8 de setembro de 1972, aos 76 anos; 3) "Canção em Tom Maior", de Ary Barroso, em gravação de 1960 feita por Ted Moreno. Um ótimo cantor e compositor surgido nos anos 50 e que, pupilo de Radamés Gnattali, se tornaria maestro da TV Globo, na década seguinte, e, mais adiante, de orquestra em Brasília, onde passaria a residir; 4) de um elepê gravado por ambos, em 1959, para pares enamorados, Tito Madi e Nelly Martins (também atriz e ex-esposa de Radamés Gnatalli) cantam "Encontro no Sábado", de Tito Madi e Georges Henry; 5) "last but not least", lembrando os 75 anos que Baden Powell teria completado em 6 de agosto passado, vê-se, em trecho do programa "Ensaio", o genial varre-saiense em "O Astronauta", da sua parceria com Vinicius de Moraes. Baden "lambe a cria" tocando e... cantando.               http://www.youtube.com/watch?v=d-o-uTqCPSw ("Antigamente")           http://www.youtube.com/watch?v=gvYwPGXUqWg ("Saxofone, Por Que Choras?")          http://www.youtube.com/watch?v=oqvhWstQ2AI ("Canção em Tom Maior")         http://www.youtube.com/watch?v=de3-YcPwH7E ("Encontro no Sábado")          http://www.youtube.com/watch?v=Dyk_7owKi1w ("O Astronauta")

21.12.12

O dia (muito antigo) em que o mundo quase acabou comigo

Esta é uma anacrônica (ou croniqueta) muito antiga, nem me lembro onde publiquei e nem sei se as vírgulas estão nos devidos lugares. - Lá vai ela, republico aqui e agora)
No final dos anos 50 os únicos cometas que sacudiam a terra eram os de Bill Halley com um roquenrol de salão, que na época provocava furor, era coisa de “jovens transviados” que quebravam cadeiras de cinema e entravam na rua Augusta a 120 por hora, se não me engano. Mas, no meu bairro, muito longe das boutiques da moda, correu um boato de que o mundo iria acabar naquele dia, justamente ao cair da tarde.Não me perguntem que dia era esse, que não vou lembrar. Acho que alguém se equivocou ao ouvir uma notícia no rádio de que algum asteróide iria provavelmente passar perto da terra e como quem conta um conto aumenta um ponto , tratou de espalhar o pânico: o mundo definitivamente iria acabar. Passei o dia preocupado com a nossa extinção: então nunca mais bola de gude, pipa no ar, estilingue, filme de caubói, nunca mais raspadinha gelada, quebra-queixo.??? Lembro que naquele dia que prometia ser fatítico não teve aula, depois de um almoço em que quase não comi nada, fiquei vagando pelas matas do bairro a procura de passarinhos e munição que brotava em grandes cachos de mamona. A tarde avançava e como sempre fazia nos dias de folga, rumei para o nosso campinho onde praticávamos um futebol que prometia ser campeão do mundo, um mundo que naquele dia iria acabar. Lá estavam as feras: Quinho, Durva, Portuguesinho, Tonho, Dirso, Nardo, Bacalhau, Macarrão e outros que , me perdoem, esqueci na poeira do tempo. O campo, na verdade era um descampado, sem grama, numa espécie de vale de um bairro em contrução. O gol não tinha travessão, só dois tocos plantados de cada lado. A bola era de “capotão. Usava-se, nessa época heróica sebo para ajudar a conservar as costuras e esticar o seu couro: era uma pedra inflada. Jogava-se democraticamente, todos descalços.Os times eram escolhidos no par ou ímpar disputado por dois craques que eram líderes naturais, tinham adquirido uma autoridade no pé, driblando e fazendo muitos gols. Tratavam de escolher primeiro os mais hábeis, os “grossos” (que eram ruins de bola) e os menores ficavam para o final. Aí distribuiam aqueles que sobravam de forma a nenhum dos times ficar mais forte. Eu estava entre os menores,era magrinho mas enjoado, capaz de grandes jogadas e imensos vacilos. O jogo começou ou melhor dizendo uma renhida batalha do tipo “arraca toco” X quebra dedão” teve início. Foi nesse dia , que numa dividida Tonho quase quebrou meu pé, foi desleal, ele era pelo menos uns 10 anos mais velho do que eu. Mas , pulando feito um Saci fiquei até o final da partida, que aconteceu na hora do crepúsculo, quando tudo fica meio que violeta e já não se divisa mais os limites das coisas- uma quase noite quando não foi mais possível ver a bola. Nesse momento me toquei que o mundo àquela hora já devia ter acabado. Uma felicidade oceânica daquelas que só sente na infãncia tomou conta de mim que fiquei rindo à-toa apesar da dor que tomava conta do tornozelo, já que o sangue começava a esfriar. Mais tarde percebi que o mundo na verdade chega ao seu fim todo dia, é o tal de movimento que fundiu a cuca dos gregos desde o começo da nossa vã filosofia. Da mesma forma um outro mundo nasce a todo tempo e cada segundo deve ser encarado como um milagre nessa bola azul que Gagárin teve o privilégio de ver pela primeira vez lá de cima. Lágrimas , por favor!

14.12.12

niemeyer em tipogrampo

Aqui rola uma colaboração composta em tipogrampo  ( tipografia inventada na oficina poética de Guilherme Mansur, com um grampeador  na mão e um pente de grampos dentro dele ) A obra pode ser descrita como "niemeyer – grampo sobre latão"

O canibalismo amoroso visto por Affonso Romano de Sant’Anna

(Segue aqui um texto, sempre saboroso de Jorge Sanglard sobre o sempre poeta, Affonso Romano de Sant'Anna)
Aos 75 anos, o ensaísta, cronista, poeta e jornalista brasileiro, Affonso Romano de Sant’Anna, lança o livro “O canibalismo amoroso” (Rocco), um mergulho fundo na história do desejo masculino e da representação do feminino, tendo a poesia brasileira como guia. Um dos intelectuais mais influentes no Brasil contemporâneo e sempre antenado com as lutas de seu tempo, o escritor denunciou a ditadura militar, entre meados das décadas de 1960 e 1980, se colocando como uma voz indignada contra a opressão e a favor da liberdade. Sua geração viveu a utopia e o seu avesso, e Affonso Romano tem declarado enfaticamente que é necessário rever o século XX, com todos os sonhos e equívocos, caso contrário o país não entrará no século XXI. A função do intelectual, para ele, é interferir na história e no cotidiano. O mundo tornou-se mais complexo e a cultura da pós-modernidade, na sua visão, é o culto do superficial, da cópia, do marketing, da fragmentação e dos falsos valores. Incisivo, afirma: literatura é vida. E, assim, a literatura tem sido seu compromisso de vida.    Fruto de ampla e rigorosa pesquisa iniciada em 1974 e que durou uma década de estudos, este novo livro de Affonso Romano é um convite à reflexão sobre as fantasias eróticas do homem comum. Afinal, argumenta o autor, se a história do homem é a história de sua repressão, estudar o desejo e a interdição é uma maneira de penetrar melhor nessa mesma história e de revelá-la. Os títulos de cada capítulo do livro sintetizam bem a empreitada assumida pelo autor: “A mulher de cor e o canibalismo erótico na sociedade escravocrata”; “Da mulher-esfinge como estátua devoradora ao striptease na alcova”; “Do canibalismo melancólico sobre o corpo da amada morta à eroticidade de Lúcifer”; “Manuel Bandeira: do amor místico e perverso pela santa e a prostituta à família mítica permissiva e incestuosa”; “Vinicius de Moraes: a fragmentação dionisíaca e órfica da carne entre o amor da mulher única e o amor por todas as mulheres”.    O escritor declara que este é um livro de história, em que o personagem principal é o Poeta-Édipo diante da Mulher-Esfinge. E dá uma pista: “adianto que este não é um estudo psicanalítico de autores, mas de obras e textos”. Na verdade, Romano de Sant’Anna revela que está preocupado em localizar, nestes textos, os sintomas que revelam o inconsciente da escrita. Assim, ele está interessado no inconsciente dos textos em questão. E esclarece que esse inconsciente surge como sinônimo de ideologia. Portanto, entender o inconsciente dos poemas estudados no livro é entender o inconsciente de uma comunidade e sua ideologia amorosa.    Para Affonso Romano, o poeta é o xamã que, ao invocar suas alucinações, faz com que, através delas, toda a coletividade reviva seus fantasmas. Com isso, o livro é também “a história da representação do corpo nos (des)encontros amorosos. O corpo feminino ocupa grande parte do discurso no livro, enquanto o corpo masculino é silenciado. E, segundo o autor, “reveladoramente, embora o corpo masculino esteja ausente, a voz que fala pela mulher é a voz masculina”. Essa constatação aparentemente simples, na opinião do escritor, provoca “conseqüências graves”.    Affonso Romano enfatiza: “os poetas não inventaram nada. A análise desses textos, sob a ótica psicanalítica, revela um desajustamento entre o real e o imaginário, que confirma a afirmativa de Platão de que desejo é indigência”. A rigor, o autor esclarece, a literatura, como produto cultural, foi sempre o lugar das grandes confissões, porque nela o desejo sempre expôs sua ânsia de realização. Escrever é desejar”, sentencia.    Ainda segundo o escritor, “é espantoso ver (com a ajuda da antropologia, da sociologia e da história) como o medo das mulheres (a misoginia) é uma praga, das tribos mais primitivas às sociedades mais industrializadas. É aterrador como o mito da mulher castradora, o mito da vagina dentada, da mulher-aranha e da serpente venenosa vêm da Antiguidade aos textos mais modernos”. Romano de Sant’Anna afirma que “a história da metáfora amorosa é, em grande parte, a história do medo de amar e da incapacidade de vencer fantasmas arcaicos e modernos. É claro que essa história é a história contada por homens. E, posto que o homem se elegeu como redator da história, escolheu para a mulher o papel do outro, colocando nela a imagem do mal e da desagregação”.    Declarando-se fascinado ao descobrir, nesse período de estudo e articulação do livro, como cada época organiza literariamente seu imaginário erótico, Affonso Romano assegura que preferiu trabalhar apenas com a poesia, por questão de método, mas se poderia desenvolver igual estudo sobre a ficção. E ressalta: “este estudo é interdisciplinar por natureza. A psicanálise é o fio condutor em torno do qual se armam os conhecimentos antropológicos, sociológicos, históricos e literários”. O escritor utilizou tanto de Freud e Jung quanto de Melanie Klein ou Lacan quando julgou necessário e na busca de um discurso de coerência que atravessasse o discurso deles e de outros ligados a essas escolas.    O canibalismo, adverte Affonso Romano, é um traço em nossa cultura muito mais significativo do que se pensa, tendo gerado até movimentos estéticos vanguardistas na Europa e no Brasil no princípio do século XX. Não é à toa, afirma o escritor, que o cristianismo é tido como o representante, no Ocidente, da ordem canibal ancestral. “A ideia do ágape cristão (ceia do amor) e o ritual da hóstia (palavra que significa ‘vítima sacrificial’) são uma atualização de um rito intemporal, no qual deuses comem homens, homens comem deuses ou, então, são dramatizados no sangue dos animais mediadores”.       Uma vida dedicada ao livro e à leitura      Durante os seis anos em que presidiu a Fundação Biblioteca Nacional, entre 1990 e 1996, tendo como atribuição a política do livro e a leitura, Affonso Romano de Sant’Anna assegura ter feito tudo o que se podia para unir o Brasil a Portugal e aos demais países de língua portuguesa. Na Biblioteca Nacional, iniciou a informatização do acervo, criou o Sistema Nacional de Bibliotecas e o Programa de Promoção da Leitura (Proler), espalhando mais de 30 mil voluntários em cerca de 300 cidades brasileiras, e passou a editar a revista “Poesia Sempre”. De 1993 a 1995, presidiu o Conselho do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc), e assumiu a secretaria geral da Associação das Bibliotecas Nacionais  Ibero-Americanas, entre 1995/1996.     Nascido em Belo Horizonte, em 1937, e criado em Juiz de Fora, a partir dos três anos de idade, teve uma infância de menino pobre, trabalhando desde cedo como carregador de marmitas e de trouxas de roupas para lavadeiras, além de vender balas no colégio e no cinema para pagar seus estudos. No Grupo Escolar Fernando Lobo e no Granbery, iniciou a paixão pelos livros, que encontrava nas bibliotecas do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do restaurante popular do Saps, em Juiz de Fora.      Como filho de pais protestantes, foi criado para ser pastor e, aos 17 anos, já pregava  o evangelho em várias cidades do interior de Minas Gerais. Mas o jornalismo e a literatura falaram mais alto. No entanto, essa experiência foi decisiva para impregnar de forte conteúdo social sua prosa e sua poesia e, já em seu primeiro livro, “O Desemprego da Poesia”, um ensaio lançado em 1962, apontava o rumo da indignação. Seu primeiro livro de poesias, “Canto e Palavra”, foi editado em 1965. Durante dois anos, lecionou Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e em 1968 voltaria aos Estados Unidos como bolsista do International Writing Program, em Iowa, onde permaneceria por dois anos e vivenciaria as transformações de comportamento que marcaram o século XX. Ao retornar ao Brasil, em 1969, defendeu a tese de doutorado “Carlos Drummond de Andrade, o Poeta ‘Gauche’, no Tempo e Espaço”, na Universidade Federal de Minas Gerais. Editada em 1972, esta tese deu projeção ao escritor, que conquistou importantes prêmios literários brasileiros.      Intensificou na década de 1970 sua atuação como professor na Pontifícia Universidade Católica (PUC) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, em 1976, articulou a vinda ao Brasil de renomados conferencistas internacionais, em plena ditadura militar, com destaque para o sociólogo francês Michel Foucault. Ainda nesse ano, voltaria novamente aos Estados Unidos e lecionaria Literatura Brasileira na Universidade do Texas. Dois anos mais tarde, já na Alemanha, lecionou Literatura na Universidade de Colônia, e lançou o livro “A grande fala do índio guarani”. Em 1980, lançou o livro de poesias “Que país é este?”, que ganhou repercussão após o “Jornal do Brasil” publicar o poema homônimo. Na França, como professor visitante, lecionou durante dois anos, na Universidade Aix-en-Provence. E, a partir de 1984, passaria a escrever no “Jornal do Brasil” a coluna anteriormente assinada por Carlos Drummond de Andrade. Em 1986, saiu publicado seu primeiro livro de crônicas, “A Mulher Madura”.      Desde o final dos anos 1990, o escritor vem doando parte de seu acervo de livros para a Biblioteca Municipal Murilo Mendes, em Juiz de Fora, Minas Gerais, e atualmente negocia com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) a transferência do conjunto de sua biblioteca para a cidade mineira. Affonso Romano escreve uma coluna de crônicas, aos domingos, no caderno “Em Cultura” do jornal Estado de Minas. (Jorge Sanglard é jornalista e pesquisador)