28.2.12

Jacy Inspiração: a lira do povo no samba do Acesso por um compositor especial


  Não só pela constância da atuação, mas também pela qualidade da produção, simples e expressiva, um nome de compositor sempre me chamou a atenção nos meus muitos anos de acompanhamento, como espectador, de desfiles das escolas das divisões inferiores do samba carioca: Jacy Inspiração. Um expoente da lira popular emanada dos enredos cantados nos atuais grupos de acesso (do B para baixo, sobretudo, grupos ainda não contaminados, a meu juízo, pelo excesso de ornato teatral, passo marcado e alpinismo socioartístico da "sambroadway" do Especial), o qual vi, algumas vezes, de microfone em punho, ao lado do carro de som da Arrastão, defendendo algum hino de sua autoria para o desfile. Junto com seus parceiros (Amaury, Netinho e Bebeto), o bravo Jacy - Inspiração por sempre ter o verso na cabeça - ganhou, em 1989, o Estandarte de Ouro de melhor samba, feito para essa escola quando esta homenageou Zezé Motta em "Um Canto de Amor à Raça" (no primeiro "link" abaixo, ouvido em trecho do desfile da Arrastão na Sapucaí). Debutando na folia pelo bloco Vai Quem Quer e, em seguida, indo para o Bafo da Onça, ele fixou-se por muitos anos na verde e branco de Cascadura (afilhada do Império Serrano), na qual, além do tributo à atriz de Chica da Silva no cinema, venceu outros oito concursos internos com vistas ao fazer bonito na passarela, destacando-se os enredos "Mambembes e Mamulengos", de 1980, e "As Icamiabas", de 1996.
        Com música sua gravada, entre outros artistas, por Altamiro Carrilho e sua "furiosa" em 1972  - o baião "Chiquinha Fofoca" -, Jacy Inspiração é visto, em foto acima, na capa de um elepê próprio realizado dois anos depois, pela Copacabana, com arranjos e direção musical do finado Waldemiro Lemke, e hoje uma raridade altamente cotada no mercado livre da internet. Também conhecido como Jacy da Coroa por ser morador do Morro da Coroa, em Santa Teresa, ele, em 2009, motivou um documentário de longa metragem sobre as triviais dificuldades de um sambista para se afirmar com a sua obra, intitulado "Jacy Inspiração, A Cara do Brasil", dirigido pelo francês Clément Claustre.     
        No segundo e terceiro "links", seguintes, ouvem-se, respectivamente, o samba-enredo deste ano da Império da Tijuca (terceira colocada no Grupo de Acesso A), feito por Jacy com os parceiros Fernandão, Henrique Badá e Cabral Gadioli, e "Vai, Brasil!", uma marcha-exortação voltada para a última Copa do Mundo, em 2010, que Jacy (na imagem, cantando-a) compôs com Roulien Vieira e Marcela Nunes. 
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.

        Um abraço,

        Gerdal              .       


         http://www.youtube.com/watch?v=29R4kp7m0Hc
("Zezé Motta, Um Canto de Amor à Raça" - Arrastão de Cascadura, 1989)

         http://www.youtube.com/watch?v=gGagBT8jGz4
("Utopias - Viagem aos Confins da Imaginação" - Império da Tijuca, 2012)

        http://www.youtube.com/watch?v=26su6wOjLaE
("Vai, Brasil!", apenas com a voz de Jacy Inspiração)

        http://www.youtube.com/watch?v=HtBF6vtBfz8&feature=related ("Vai, Brasil!", em clipe com voz de Jacy e instrumentação)

Caricatura de Martin Scorsese, o grande injustiçado do Oscar


Na verdade é um estudo, são esboços para se chegar a uma caricatura de Martin Scorsese.
Acredito que ele (o Scorsese) foi o grande injustiçado da premiação da última edição do Oscar. Seu filme, "A invenção de Hugo Cabret" é uma homenagem ao cinema naquilo que ele tem de relação com a magia -, passagem que a arte de Meliès (é assim que se escreve?)realizou de forma magnífica e que se perdeu diante da realidade dura da vida. Magia que no filme é reencontrada em dose dupla, na narrativa e pela narrativa "mágica, em 3D por Scorsese. "O Artista" é um bom filme, tem seus méritos, é ousado, por ser em P&B e mudo numa época de uso de excessivos recursos,(inclusive o 3D) mas seu "encanto" acaba aí. De resto é um melodrama quase banal e que perde na comparação com a poética de "Hugo Cabret". Essa obra de Scorsese, mesmo que seja comandada pela tradicional "jornada do herói" clássica, é muito bem realizada. Talvez por ser uma homenagem ao começo do cinema, que é totalmente francês, tenha pesado na hora do julgamento dos corações, mentes e mãos americanas. Pois esse cinema ingênuo de Meliés criou as bases (apesar da ruína desse autor, ocasionada pela Primeira grande guerra, que já não admitia mais aquele tipo de narrativa ingênua e mágica)que possibilitaram a construção de uma grande empreendimento, na qual se inclui a Pathé , empresa esta que dominou o mercado mundial do entretenimento de massa e inclusive americano, por um bom tempo no começo do Século XX, e que foi duramente combatida, numa guerra "nacional" pelos produtores tardios americanos que viram no cinema um negócio lucrativo. Quem quiser saber melhor dessa história, leia o artigo de Richard Abel, "Os perigos da Pathé ou a americanização dos primórdios do cinema americano" em "O Cinema e a invenção da vida moderna" ( coletânea de textos organizada por Leo Charney e Vanessa R. Schwartz , publicada pela Cosac Naify).
O aspecto curioso dessa premiação, é que a Academia preferiu um filme francês que falasse da aventura e desventuras pessoais (individuais) dos artistas com o advento do som no cinema americano, do que um filme americano (com cara de cinema francês) que faz uma rasgada homenagem ao início do cinema como narrativa de ficção, saindo da simples esfera dos espetáculos de atrações que mexiam com a percepção, abrindo assim para cinema mundial as portas para o mar de histórias que poderiam ser contadas através das imagens. Falar mais, seria entrar no anedotário da teoria da conspiração.

17.2.12

16.2.12

Risadinha: na batida do samba, um cantor de destaque na história do Carnaval



Uma pena que, no rádio ou na tevê, não mais haja, em período antecedente à folia, aquela divulgação regular de músicas feitas para a animação de ruas e salões, especialmente sambas e marchas. Ainda pude alcançar, na minha infância, o final dessa praxe midiática, vendo, em programas da telinha, no preto e branco da imagem, diversos cantores, com seus cavalos de batalha, na disputa para "ganhar o carnaval", como se dizia, uma expressão terminante quanto à ampla aceitação popular de uma canção motivada pelo brilho da festa. Era, por exemplo, Dircinha Batista, em 1964, cantando a marchinha "A Índia Vai Ter Neném", de Haroldo Lobo e Mílton de Oliveira; e Aracy Costa, um ano antes, dizendo que "o maiô de duas alcinhas só não é pra vovó", em outra marchinha, "Maiô SS", da mesma dupla. Era, também, gente que só aparecia para cantar nessa época, como a vedete Angelita Martinez, defendendo a "Marcha da Traviata", de Carlos Moraes, e o "sui generis" Noel Carlos, um funcionário público que fora ritmista da orquestra de ritmos latino-americanos de Ruy Rey, com a "Maria-Furmaça", de Santos Garcia e Serafim Adriano. Entre tantos mais ou menos votados que apareciam (até mesmo quem não sabia cantar, mas se revelava bom "jóquei" de marcha, como o saudoso Clóvis Bornay, em 1969, com a sua "Dondoca", composta por Antonio Almeida), havia um que, em particular, eu gostava muito de ouvir: Risadinha (foto acima).
        Francisco Ferraz Neto era o nome por extenso desse paulistano que, no ano passado, teria completado 90 anos, um chofer de praça que, vindo para o Rio na década de 40, aqui se firmaria como um bom cantor (atuou como "crooner" da orquestra de Osvaldo Borba) e compositor de sambas - fazendo-os, assinava Francisco Neto. Em 1960, juntamente com Os Cariocas, Maysa, Jamelão, Luely Figueiró e Ted Moreno, entre outros, teve importante participação na regravação da "Sinfonia do Rio de Janeiro", de Tom Jobim e Billy Blanco, no elepê "Rio - Cidade Maravilhosa", ainda com a orquestra de Radamés Gnattali. No entanto, tinha no repertório do carnaval a identidade maior da sua voz, sendo o intérprete que mais gravou um dupla de compositores afiada e bastante presente nessa seara, Otolindo Lopes e Arnô Provenzano. Com músicas de lavra própria, o sucesso se aproximaria dele, por exemplo, na parceria com José Roy, por meio da marcha "Cacareco É o Maior" (de 1960, motivada por votos de protesto político canalizados para um rinoceronte hospedado no zoo de Sampa) e, mais ainda, por meio do samba de bela cadência "Se Eu Errei", feito com Humberto de Carvalho e Edu Rocha e ouvido, no "link" abaixo, com a querida Ana Costa.
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.

        Um abraço,

        Gerdal        


          http://www.youtube.com/watch?v=DAN2xkVIVuY
("Se Eu Errei")

11.2.12

CEJ- Companhia Estadual de Jazz volta ao Vizta hoje


Neste sábado, 11 de fevereiro, a CEJ- Companhia Estadual de Jazz volta ao Vizta (HOTEL MARINA PALACE- RIO) com o melhor do hard-bop-samba-jazz...Um repertório super eclético, que inclui Charles Mingus, Tom Jobim, Lee Morgan, Pingarilho, João Donato, Geraldo Vandré, Kenny Dorham...