31.12.08

Homessa, promessas!


Promessas para o ano novo:
Jamais usar a expressão "doses industriais" de qualquer coisa.
Nunca mais usar o termo revisitando"(ou revisitado- nem revisitar), seja no caso da obra de alguém, pessoa, ou local. Exemplo :"Revisitando Mozart".
Tentar cair fora do gerundismo: isso está ficando cada dia mais difícil, mas vamos ficar tentando....
Evitar a qualquer preço usar a palavra " repercutir, "repercutiu" , "repercutindo"
Procurar saber mais sobre pontuação.?!...::
Comprar uma gramática e contratar um revisor.
Fugir de notícias de escândalos de sub celebridades e encontrar uma função para o hífen.
Procurar esquecer as promessas que fiz no passado.
Pesquisar uma forma de não falar mais de crise e achar um sentido para a crase que não seja humilhar o pobre aprendiz de escriba (esta vai ser difícil).
Não fazer listas.
Por enquanto, paro por aqui. Talvez amanhã apareça mais uma promessinha. Who knows...(por exemplo: aprender inglês)

30.12.08

Da Série "Os Cavalígrafos"


Desenhos dos cavalos de Takaoka, fotos de Ana Alvarenga e Haikais de Matzuó Bashô - tradução de Guilherme Mansur.

Mais um brinde - Um cartum de João Zero - 2009

29.12.08

As duas faces da crise


(Este artigo do Professor Marco Aurélio Nogueira foi publicado originalmente no jornal
O Estado de S. Paulo no dia 27 de dezembro.)

O ano que ora se encerra parece destinado a ser avaliado a partir do espectro da crise.

A tendência analítica prevalecente destaca a crise financeira que assola o mundo como dotada de gravidade e profundidade suficientes para ameaçar o pouco que havia de otimismo e sugerir que ingressamos em uma fase na qual o capitalismo está novamente desafiado a reiterar sua autoproclamada racionalidade. Reconhece-se, aqui, a natureza eminentemente incerta e "imprevisível" do sistema capitalista, que a cada ciclo parece maximizar os elementos de risco e anarquia inerentes à sua estrutura de produção.

Este viés dominante embute um outro. É que, sendo a crise de "proporções históricas", ela não só criaria dificuldades para a reprodução organizada da vida como também abriria oportunidades para a inovação, a revisão de convicções e a reprogramação do futuro. Afinal, todo processo carrega consigo problemas e soluções, falências e novas oportunidades. Não só de dor e sofrimento é feita a história.

Mas crises são crises, e nem sempre a criatividade que as acompanha mostra-se de imediato, de modo automático. Crises só são espaços de invenção quando encontram circunstâncias particularmente favoráveis, que agregam pessoas e despertam vontades desativadas, pondo-as em movimento. Requerem também atores qualificados para traduzir e potencializar tais circunstâncias, de modo a extrair o máximo delas.

Neste ponto, ingressamos num território confuso e controvertido, pois é consensual que vivemos num tempo refratário a mobilizações coletivas e à emergência de lideranças políticas maiúsculas. Além do mais, a própria explicação da crise divide as pessoas em múltiplos campos, que não se reduzem à dicotomia otimismo vs. pessimismo, embora estejam atravessados por ela.

Enfatizar o lado mais sombrio da crise tanto pode expressar um prudente brado de alerta contra os que banalizam e minimizam seus desdobramentos, quanto ter um efeito paralisante, que bloqueia o encontro de saídas e adaptações. Efeitos paralisantes deste tipo não conhecem ideologias; podem ser de esquerda ou de direita, quer dizer, podem explorar de modo invertido um arcabouço ideológico inspirado na idéia de que somente seria possível conceber um mundo "sem crises" se se vivesse em um outro mundo, inteiramente diferente do atual - um novo mundo, que viria na esteira ou de uma "revolução em nome da ordem", pela direita, ou da completa subversão da ordem existente, pela esquerda.

A ênfase no lado sombrio da crise também pode ocultar estratégias de intimidação, com as quais se proporiam soluções autoritárias ou providenciais, na linha de que situações difíceis exigem soluções amargas e "chefes" especialmente dotados.

Já os que se dizem tranqüilos e "confiantes" diante da crise não são necessariamente sinceros. Alguns talvez desejem contrariar a rational choice e incentivar as pessoas a não cederem diante das dificuldades para não aumentá-las ainda mais. Outros podem manifestar confiança na capacidade que teria o sistema de se auto-regular ou simplesmente revelar algum tipo de cegueira diante da realidade, um tipo de antolho ideológico ou alienação. Tanto podem mobilizar energias coletivas adormecidas quanto impulsionar taras conservadoras. Podem servir para que se cristalizem fés fanáticas no sistema ou para que se recuperem velhas utopias, como a do mercado auto-regulável ou do Estado todo-poderoso.

Entre uns e outros, inserem-se os realistas autênticos, que trabalham para que as circunstâncias existentes se traduzam em uma teoria da ação que faça história e produza transformações em cadeia, isto é, dispostas progressivamente em um círculo espaço-temporal concatenado, no qual cada alteração, cada reforma, cada medida positiva, seja a plataforma para novas medidas ainda mais profundas e contundentes.

Momentos como o atual preparam o palco para que políticos e intelectuais realistas exibam seu estoque de recursos, mostrem-se à altura, equacionem os problemas na medida mesma da gravidade deles. É em momentos assim que surgem os estadistas, os grandes políticos, aqueles que dialogam com as massas mas não se negam a contestá-las, que não são paternalistas, mas generosos e ousados. É neles que os intelectuais deixam-se agitar pela urgência cívica, põem-se uma agenda teórica aberta e elaboram novos paradigmas.

À primeira vista, os dias atuais não parecem reunir condições para que se generalizem tais posturas realistas. A reorganização hipercapitalista a que o mundo está sendo submetido carrega no ventre um cenário embaçado e preocupante, simbolizado pela corrosão dos talentos políticos e intelectuais, pela desmontagem dos arranjos coletivos com que se protegiam as sociedades, pelo esvaziamento das instituições e pela subversão dos circuitos espaço-temporais que forneciam parâmetros para a vida.

Devemos, porém, pensar o tema com os olhos para frente. Se é verdade que o capitalismo turbinado das últimas décadas tem sido devorador da sociedade - estilhaçando a vida coletiva e roubando protagonismo dos grupos em benefício dos mercados - também é verdade que ele manteve ativa a dimensão estrutural e subjetiva do conflito, da contradição, da luta pela vida. A sociedade não morreu, somente foi redefinida. A política não desapareceu, somente foi desorganizada e posta em um plano mais técnico que ético, que não emociona nem inspira confiança.

Por sua gravidade e contundência, a crise pode forçar a que certas coisas voltem ao devido lugar. Há indícios de que algo novo começa a surgir nesta direção. E não deixa de ser uma excelente promessa de fim de ano nos comprometermos todos, cada um a seu modo, a brigar para que 2009 escape da mesmice, das fórmulas conhecidas, das frases feitas, do fanatismo ideológico e das posturas servis de conveniência.

28.12.08

Um brinde: Mais uma Charge de João Zero

Da Série "Os Cavalígrafos"


Desenhos dos cavalos de Takaoka, fotos de Ana Alvarenga e Haikais de Matzuó Bashô - tradução de Guilherme Mansur.

Pintura - uma obra em progresso


Esta é uma pintura que fiz - e a foto é o retrato de um estágio dela, como se fosse uma obra em progresso (isso vai virar moda). Foi um presente que pintei para minha sogra por acasião do Natal. Ela me deu em troca um obra em crochet sensacional para cobrir o meu sofá. O tamanho da tela é 97 cm de largura por 70 de altura. A foto foi feita com uma máquina manual, na verdade de segunda mão com luz vazando por tudo quanto é lado.

27.12.08

Da Série "Os Cavalígrafos"


Desenhos dos cavalos de Takaoka, fotos de Ana Alvarenga e Haikais de Matzuó Bashô - tradução de Guilherme Mansur.

Retrato de Bach

26.12.08

Sua Excelência , O Canalha no Largo do Machado


Pessoal, o livro fabuloso de Rozane Monteiro Sua Excelência, o Canalha, tá à venda na OFICINA DA LEITURA, que fica na galeria da Sendas, aqui, do Largo do Machado. Fica na entrada da galeria pela Rua do Catete. Telefone de lá: 2225 7344
E também on line em http://www.litteris.com.br/loja/produtos.asp?produto=383

Revista Crisis: a imortalidade vence o esquecimento


(Este artigo escrito por Omar L. de Barros Filho(nosso querido amigo e editor preferido) foi publicado originalmente no bravo site Via Política que é editado por ele junto com Sylvia Bojunga)

Nos primeiros dias da semana passada, o site do vivíssimo poeta Juan Gelman, há poucos meses distinguido com o Prêmio Príncipe de las Asturias, divulgou uma nota redigida por Marcelo Gelman, que reportava o lançamento de uma antologia de Crisis, uma das mais importantes publicações editadas nos anos 70, na Argentina. O próprio Juan Gelman fez parte da redação da revista enquanto a situação política permitiu.

A coletânea, organizada pela pesquisadora María Sondereguer, graduada em Letras e pós-graduada na Sorbonne, intitula-se Revista Crisis (1973-1976) Del intelectual comprometido al intelectual revolucionario, e foi editada pela Universidad Nacional de Quilmes. A obra resulta de 20 anos de dedicação e estudos voltados à causa da recuperação da memória jornalística, política e estética de um grupo de intelectuais militantes que marcaram o panorama editorial argentino e da América Latina, aqui e nos exílios.

Para quem não teve a chance de ler Crisis, explico que se tratava de uma revista com periodicidade mensal, editada em Buenos Aires durante três anos, um curto tempo de vida, portanto. Em suas 40 edições, reuniu e divulgou parte significativa do pensamento nacionalista, anti-imperialista e socializante (nos marcos do peronismo), sem esquecer, em sua proposta cultural, a vertente existencialista, a revisão da história, o humor ácido, os testemunhos de intelectuais e as vozes dos deserdados anônimos em seus ofícios invisíveis. Também sublinhava, sutilmente, a necessária unidade continental em resposta à preponderância dos Estados Unidos, o que anulava as possibilidades do pleno desenvolvimento do Terceiro Mundo, como éramos assim batizados.

O período em questão era mesmo de tempestade política em toda a América Latina, atormentada por regimes discricionários encorpados ou em gestação. A existência de Crisis, apoiada pelo capital de um empresário, Federico Vogelius, coincidiu com a volta do peronismo ao poder na Argentina, após um interregno de 20 anos entre duas ditaduras militares. Na inesquecível redação de Crisis conviveram, primeiro com a direção editorial do romancista Ernesto Sábato, e pouco depois sob a coordenação jornalística do uruguaio Eduardo Galeano, nomes como Haroldo Conti (desaparecido desde 1976), Rogelio Garcia Lupo, Santiago Kovadloff, Aníbal Ford, Jorge B. Rivera, o ilustrador e caricaturista Hermenegildo Sábat, o diagramador Eduardo Ruccio Sarlanga, Maria Ester Gílio, Osvaldo Bayer, Vicente Zito Lima, e outros tantos colaboradores, inclusive brasileiros.

Com uma média de 22 mil leitores, com picos de até 45 mil, Crisis foi um estuário com origem nos anos 60 – as lutas de independência nacional, o socialismo à cubana, o “maio francês”, a afirmação das mulheres – para onde confluiu um movimento que representou, segundo analisa Sondoreguer, em entrevista à jornalista Lisy Smiles, do site La Capital, de Rosário, a emergência das classes médias com uma nova demanda cultural, a que se soma uma chave mais política nos anos 70. Explica a pesquisadora: “A condição de intelectual nos 60 estava legitimada pelo compromisso político de um modo sartreano na escrita, e nos 70 passa a ser dominada pela opção no campo político, esta dada pela condição de militante político. Um exemplo claro é uma entrevista com Julio Cortázar, no primeiro número [na realidade, foi no segundo], na qual o escritor diz: ‘Minha metralhadora é a literatura’.”

Mas, ao mesmo tempo, de acordo com Sondereguer, essa perspectiva de radicalidade era aberta, abrangia outros campos das idéias, como demonstra a divulgação em Crisis de uma conversa com Borges, expoente da literatura argentina, nada inclinado às posições da esquerda, citada pela organizadora da antologia: “Ao mesmo tempo, a revista traz outras entrevistas, como uma com Jorge Luis Borges, pela qual propõe uma perspectiva ampla do espaço cultural. Há um diálogo forte entre esta questão do intelectual comprometido ao intelectual revolucionário, mas, ao mesmo tempo, a revista publica em suas páginas outras produções culturais.”

Uma afirmação editorial da qualidade de Crisis não passaria despercebida e, obrigatoriamente, estenderia sua influência a distintos quadrantes. Foi o que ocorreu no Brasil com o jornal Versus, lançado pelo jornalista gaúcho Marcos Faerman, em São Paulo, no final de 1975, ano em que Crisis ainda era presente. A redação de Versus, onde fui um dos editores, e sobre o qual também organizei uma recente compilação que chamei de Versus – Páginas da Utopia*, tinha Crisis como Norte na bússola. A influência de Galeano e equipe em nosso fazer jornalístico e político foi além do programa inicial, que enunciávamos como “cultura como forma de ação”, e que mais tarde desbordou na luta aberta pela formação de um novo partido dos trabalhadores, de caráter socialista.

A presença distante de Crisis estendeu-se ao tratamento editorial que dispensávamos à literatura, à história, ao regionalismo e ao internacionalismo, forçando o contraste entre o discurso acadêmico e a escrita popular, de negros, sertanejos, índios, mulheres, acirrando contradições e antecipando o choque com o obscurantismo antidemocrático. As diferenças formais entre uma publicação e outra, entretanto, eram largas. A revista de Buenos Aires seria mais conservadora em seu conteúdo e linguagem gráfica, mais presa a um esquema editorial pré-determinado; a de São Paulo era praticamente reinventada a cada edição.

Mas, tal como a redação de Crisis praticava sob as ameaças de censura, Versus também abordava os assuntos mais detestados pela censura por meio de elipses e temas transversais, apelando à inteligência e sensibilidade dos leitores. A entrelinha e o subtexto eram truques de sobrevivência comuns sob a mano dura dos generais, como descreve Sondereguer em resposta a uma pergunta da repórter Lysi Smiles sobre a atitude de Crisis: “Há algumas estratégias. A revista incluía edições de facsímiles de documentos históricos. Em março de 76 publica um documento que remete a um conflito político de 100 anos antes, que a pessoa poderia ler em código.” (...) “não há uma declaração aberta contra a ditadura. Em um encontro com Galeano, há mais de 15 anos, ele assinalou que a revista editava seus artigos com muita antecipação, porém, deviam ser aprovados pela Secretaria de Imprensa de Videla. Então, não havia muitas possibilidades de que [Crisis] tivesse uma posição pública aberta contra a ditadura, por isso podiam ser lidas coisas mais codificadas.”

Em Versus, a intensa colaboração e sentimento de irmandade com Crisis fortaleceu-se ainda após seu fechamento, com a repressão violenta na Argentina, a saída de Juan Gelman e o exílio de vários colaboradores da redação. Galeano, que manifestou preferir interromper a edição de Crisis antes que fosse empastelada à força, passou a escrever de Barcelona para Versus, atividade que manteve por um bom período. No Brasil, tratávamos de fazer nossa parte, denunciando a situação opressiva na Argentina. Em várias oportunidades intercedemos, com parcos meios, é verdade, para tentar auxiliar companheiros argentinos (e uruguaios), que se refugiavam no Brasil para salvar a pele, em busca de abrigo ou de uma saída para um país mais seguro.

Como uma espécie de saldo daqueles tempos, colecionei cada número impresso de Crisis, desde sua primeira edição, hoje encadernados em minha biblioteca, volumes que ainda hoje consulto com freqüência. Perdi apenas alguns poucos, assim como toda a coleção dos Cuadernos de Crisis que possuía, publicações modelares que guardavam o pensamento e a trajetória de personagens da historiografia latino-americana, outro legado brilhante daquele grupo iluminado de jornalistas e intelectuais. Páginas que, talvez, não voltem à vida.

Mas, repisar os passados caminhos da resistência de Crisis faz evocar outras circunstâncias dos dias de hoje, quando a imprensa mundana está cheia de homens e mulheres que sonham com a imortalidade e imaginam que esta pressupõe uma vitória fugaz contra o esquecimento. Assim, tratam de acumular fortuna, propriedades, carros de luxo, usando as veleidades da mídia para cavar um espaço entre a massa dos mortais e, daí, destacar-se na órbita da fama. Enganam-se os que assim pensam e agem. Nestes dias de lobos com os caninos à mostra, é preciso mais do que simplesmente roer para quebrar a casca do frio anonimato. “Essa imortalidade se alcança pelas obras, pela memória que se deixa nos outros. Essa memória pode ser ínfima, pode ser uma frase qualquer.” (Jorge Luis Borges). Ou mesmo uma palavra. Crisis?

6/7/2008

* Para ler sobre a antologia Versus – Páginas da Utopia, visite o site www.versus.jor.br.

A obra pode ser adquirida através do site da Azougue Editorial

E-mail: vendas@azougue.com.br

Mais sobre Omar L. de Barros Filho
omar@viapolitica.com.br

Da Série "Os Cavalígrafos"


Desenhos dos cavalos de Takaoka, fotos de Ana Alvarenga e Haikais de Matzuó Bashô na brava tradução de Guilherme Mansur.

Caricaturas que eu fiz: Guimarães Rosa

25.12.08

Da Série "Os Cavalígrafos"


Um presentão de Natal desceu pela chaminé do blogue: a Série "Os Cavalígrafos". Desta vez a invenção junta os desenhos dos cavalos de Takaoka, as fotos de Ana Alvarenga e os Haikais de Matzuó Bashô na brava tradução de Guilherme Mansur.

O efeito Veuve Clicquot, o problema do distanciamento do real e o hiper-realismo


Tenho notado uma pequena tendência, mas sabe como é o ser humano...sempre exagerando as coisas...Por exemplo: na bolsa de valores, um boato pode virar um crash do dia para a noite( ou o contrário- depende do fuso horário). Dessa forma, uma tendenciazinha pode se transformar numa tsunami e assim por diante. O epicentro será sempre essa alma torturada do homem. A modernidade só acelerou o desgaste do real. O que é a bolsa? Um lugar onde as pessoas gritam desesperadamente para comprar ou vender um monte de papel que pode perder o valor num piscar de olhos!
Mas agora, falando sério, percebo que uma marolinha sem vergonha que mostra uma mudança no comportamento humano no sentido da coisa em si que o pobre e casto Kant nem imaginava. Pessoas andam a preferir animais para se relacionar socialmente - cães, gatos, e os mais radicais, jacarés e tigres. No entanto existe uma turma que está substituindo bichos e gentes por bonecos e bonecas. Num anúncio de TV vi estarrecido uma bonequinha que faz um simpático cocô numa privadinha de plástico. A menina que seria a suposta mãe da bonequinha dá a descarga - depois o pequeno ser de de poliestireno diz: -Quero ir de novo, mamãe! (ou algo parecido). Antigamente as bonequinhas eram menos despudoradas. As crianças aprendem cedo a se relacionar com objetos inanimados, a animação vem mesmo na adolescência. Na juventude a perdição. O reencontro se dá num bingo, num escritório de contabilidade ou na fila do SUS. Será que a teoria do fetichismo da mercadoria, de que tanto fala Marx- explica esse relacionamento com a Barbie e o Falcon? Talvez ele não explique toda a situação...o buraco é mais embaixo. Li na internet que vão relançar a Barbie, nem quero imaginar o que esta nova boneca deve fazer...
No Japão, um senhor de meia idade só se relaciona de forma afetiva - inclusive sexualmente - com bonecas infláveis (vi numa reportagem de TV e na internet) . Ele, de certa forma, as mata de tanto que as ama, ou melhor, usa para "foro íntimo". Elas acabam estragando ( se esvaziam) e ele as substitui prontamente. (Nada de hospital ou remendo).
E não é que o homem parece feliz com sua coleção! Ele dá o seu depoimento sempre entre sorrisos. Disse que rola até ciúmes na parada. És una aberración por supuesto. Mas ele trabalha normalmente, paga seus impostos e desfruta da liberdade de escolher com quem o que quer se relacionar.
Em Londres, numa exposição de arte chinesa, um escultor hiper-realista apresenta homens famosos bastante envelhecidos em cadeiras de rodas, se deslocando num espaço branco. As cadeiras não chegavam a se chocar, pois dispõe de um dispositivo que evitava o contato. É impressionante, vi um vídeo dessa exposição e me deu medo. Mas, o que me deixou de queixo caído mesmo, foi o que vi numa vitrine de uma loja no largo de Machado. Lá, dois bichinhos de pelúcia imitando um gato e um cachorrinho dormiam tranquilamente numa cesta. Colada no vidro uma placa anunciava :" Eles respiram igual aos de verdade."
Meu Deus! Philip K. Dick está vivo, saiu do cemitério de Santa Ana, na Califórnia e baixou no Largo do Machado! Isso é quase o mundo de "AI"( inteligência artificial). Estamos chegando depressa demais ao futuro. E ele me parece sombrio, cheio de bonecos que respiram igual aos de verdade. Em Blade Runner tinha um engenheiro genético que fazia amigos com facilidade( fazia amigos de verdade, no sentido de que os construia no seu laboratório).
Existe um teórico que afirma que no universo tudo está conectado. Espero que essas previsões catastróficas da ficção científica não contaminem o presente.
Muita gente já botou seu "Tamagoshi" para dormir.Outros criaram um avatar na sua "second life" e não aconteceu nada muito grave na humanidade. Umberto Eco notou que os americanos gostam muito de cópias, museus de cera com celebridades, réplicas de bibliotecas de Presidentes que nunca abriram um livro. O pai da Amy Winehouse disse que preferia ter uma boneca de cera em casa do que a própria em pessoa. Cabe observar que ele é inglês. Deve ter dito isso num dia estressante. Vamos confiar na humanidade, afinal vem aí "O dia em que a terra parou"(The Day the Earth Stood Still) e aquela mensagem enigmática "Klaatu-barada-nikto". Afinal, o que significa essa frase da primeira versão em branco e preto (de 1951- direção Robert Wise baseado na história de Harry Bates- o papel de Klaatu ficou com Michael Rennie)? Keanu Reeves que faz o papel do extra-terrestre- veio nessa segunda versão(de 2008) para nos salvar de nós mesmos. O filme é ecológico. Keanu já foi Buda, em outra encarnação, e até se deu bem, ao fazer um Sidarta convincente, embora o filme de Bertolucci seja ruim pra dedéu.(falo do Pequeno Buda). Não sei não, mas acho que me perdi nesse papo. Queria fazer uma crônica leve de fim de ano e acabei fazendo uma do fim dos tempos... Deve ser efeito da Champagne - a chamada síndrome de Veuve Clicquot. Por falar nisso, onde fica o largo do Machado mesmo? Acho que vou procurar no Google Earth...ou seria melhor usar o GPS?

24.12.08

Dica do Gerdal : Luiz Bandeira


Nascido num dia de Natal, em 1923, e falecido num domingo de carnaval, em 1998, o pernambucano Luiz Bandeira é desses nomes da MPB de projeção discreta e reconhecimento abaixo do valor auferido. Ainda na Recife natal, esse cantor, compositor e violonista revelou-se na Rádio Clube de Pernambuco e, pouco depois, como "crooner" da Orquestra de Nélson Ferreira, apresentava-se no carnaval da cidade e em festas sociais. Nos anos 50, já no Rio, a convite de Caribé da Rocha, cantou na boate Meia-Noite, do Copacabana Palace, também na boate Drink, do pianista Djalma Ferreira - seu parceiro no samba "Volta", gravado por Miltinho -, e, mais tarde, em 1960, como integrante do sexteto de Radamés Gnatalli, viajou com a Terceira Caravana Oficial da Música Brasileira, prevista em lei aprovada do então deputado Humberto Teixeira - outro parceiro, em "Baião Sacudido" -, divulgando maravilhas do nosso repertório em universidades européias, como a Sorbonne, em Paris.
Luiz Bandeira é autor de sambas, frevos e baiões bastante executados, como "Torei o Pau", por Manezinho Araújo, "Cafundó", por Edu da Gaita, "O Apito no Samba" (com letra de Luiz Antônio"), por Marlene, "Na Cadência do Samba" ("Que Bonito É!"), por Waldir Calmon - o famoso tema do futebol do cinejornal "Canal 100" - e "É de Fazer Chorar" ("Quarta-Feira Ingrata") e "Voltei, Recife!", regravados há pouco tempo por Alcymar Monteiro e Alceu Valença, respectivamente. Para Clara Nunes, forneceu o sucesso de "Viola de Penedo" e, na parceria com Renato Araújo, Bandeira seria cantado no carnaval de 1958, por causa do samba "Madeira de Lei", de belo registro na voz de Heleninha Costa.
Ao lado de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira e Severino Araújo em expressiva foto tirada num bar para a contracapa de um elepê que produziu para o Lua, Luiz Bandeira voltou em definitivo, em 1984, para Recife, "como sempre foi", ou seja, "um defensor sem limites" da nossa cultura popular, tão bem retratada na sua obra. Por isso mesmo, passados dez anos da sua morte, é de lamentar que nada ou quase nada tenha sido feito para homenageá-lo. Em recente show na Sala Cecília Meireles, Barrosinho anunciou à platéia a intenção de fazê-lo, no próximo CD, por meio da regravação do samba "Vaivém", dos anos 60, trazendo para o seu trompete jazzístico o sambalanço gafieirado de que Bandeira também era catedrático. Mistura fina.

Meu Cartum de Natal

Mais um brinde - Um cartum e um recado de João Zero

23.12.08

Poema-Objeto "Sopa Arcaica"


Direto da cozinha imaginária de Guilherme Mansur, uma enigmática sopa, quem descobrir o significado ganha uma viagem na máquina do tempo.

21.12.08

Revista Poiesis convoca


A Revista Poiesis é uma publicação do Programa de Pós-Graduaçãoem Ciência da Arte da Universidade Federal Fluminense e conta com a colaboração de pesquisadores do Brasil e do exterior. Estamos interessados especialmente em artigos que tenham como objeto de reflexão as artes (visuais, dança, teatro, música, performance, arquitetura, urbanismo, cinema, vídeo, web-arte) e suas interlocuções com o campo dos estudos culturais, das mídias, da sociologia, da antropologia, da filosofia, da história, da literatura e outros.

O 13º número tem previsão de lançamento para julho de 2009 e gostaríamos de convidá-los a enviar seus artigos. As normas para publicação são as que seguem abaixo. O prazo final para entrega das propostas é 30 de março de 2009, quando serão enviadas ao conselho editorial, que decidirá sobre sua inclusão.
Revista Poiesis 2009 - CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO
Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2008.
Prezados pesquisadores,

A Revista Poiesis é uma publicação do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Arte da Universidade Federal Fluminense e conta com a colaboração de pesquisadores do Brasil e do exterior. Nosso foco de interesse são artigos que tenham como objeto de reflexão as artes (visuais, dança, teatro, música, performance, arquitetura, urbanismo, cinema, vídeo, web-arte) e suas interlocuções com o campo dos estudos culturais, das mídias, da sociologia, da antropologia, da filosofia, da história, da literatura e outros.

Estamos preparando o 13º número com previsão de lançamento para julho de 2009 e gostaríamos de convidá-los a enviar seus artigos. O prazo final para entrega das propostas é 30 de março de 2009, impreterivelmente. Os artigos serão submetidos ao conselho editorial, a quem cabe a decisão final sobre sua inclusão.

O material para submissão deve ser encaminhado por correio com carimbo até a data de 30 de março 2009 para:

Revista Poiesis
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Arte
Rua Tiradentes, 148, Ingá
24210-510, Niterói, RJ Brasil
Tel: (21) 2629-9672
OBS: o endereço, e-mail e telefone do proponente devem ser encaminhados junto com a proposta.
Normas para apresentação das propostas:
Os arquivos devem ser entregues em mídia digital (CD) acompanhados de cópia impressa (Word, Times New Roman, corpo 12, espaço 1,5) contendo os itens abaixo:


• Texto em até 12 (douze) laudas, incluindo notas e referências bibliográficas. Os parágrafos não devem estar tabulados, mas separados em blocos por interlinha dupla;

• os subtítulos não devem ser enumerados;

• citações de até duas linhas, no corpo do texto em itálico; com mais de duas linhas, recuadas à esquerda (2cm de recuo), formando um bloco destacado, com interlinha simples, justificado e sem aspas;

• títulos de livros, de periódicos, de poemas, de músicas, de obras de arte, de filmes e de vídeos incluidos no texto aparecem em itálico, sem aspas;

• palavras em idioma estrangeiro incluidas no texto aparecem em itálico (sem aspas, a menos que sejam citação);

• os séculos devem ser mencionados em algarismos arábicos;

• Um resumo do artigo com no máximo 5 linhas e com sua versão em inglês (item indispensável);

• 4 (quatro) palavras-chaves;

• dados do autor, no máximo 3 linhas, devem ser incluidos no final do texto;

• notas no final do texto, após os dados do autor, numeradas em algarismos arábicos; as notas, quando conterem citações, devem incluir as referências bibliográficas usando apenas sobrenome do autor (só a inicial maiúscula), ano da obra e página entre parentese;

Ex: “Se o jardim se separa da cidade, separa-se também de uma natureza furiosa, tempestuosa ou desértica.” (Cauquelin, 2005, p. 57)

• citações em lingua estrangeira inseridas no corpo do texto devem ser traduzidas para o português e remetidas em nota na lingua original. Quando aparecerem somente nas notas, devem ser traduzidas para o português seguidas do texto original entre parênteses;

• referências bibliográficas, no final do texto, depois das notas: sobrenome do autor (apenas a primeira letras maiúsculas), nome abreviado, ano de publicação entre parênteses. Título da obra em itálico. Cidade em que foi publicado, dois pontos (:) Editora.

Ex:
Cauquelin, A. (2005). Teorias da arte. São Paulo : Martins Fontes.


• Sugerimos o envio de um mínimo de três imagens e um máximo de cinco para ilustrar o artigo. Todas as imagens devem estar em extensão TIF ou JPG, com resolução de 300 dpi, e incluídas no CD juntamente com o artigo para submissão.

• Cada imagem deve conter legenda especificando o autor da obra, título, ano de criação, materiais empregados ou tipo de mídia (fotografia, vídeo, video-instalação etc.) e a fonte na qual foram obtidas (livro, site etc.). Essas informações devem ser incluídas no final do artigo seguindo o padrão indicado no exemplo abaixo:

Lygia Pape
Caixa Brasil, 1968, madeira, papelão, cabelo e letra metalizada, feltro. 5x30x25 cm.
Fonte: Duarte, P. S. (1998). Anos 60: transformações da arte no Brasil. Rio de Janeiro: Campos Gerais.



• o material enviado não será devolvido.



Os editores agradecem sua colaboração.


Contatos:
Prof. Luciano Vinhosa: vinhosa@hotmail.com
Prof.ª Ligia Dabul: ldabul@uol.com.br

Ilustração - Tabagismo e Gênero Policial (por falta de outro título)

20.12.08

Dica do Gerdal: Tavynho Bonfá e Tibério Gaspar


Fazendo blague consigo, certa vez, numa entrevista, o simpático Tavynho Bonfá disse ser o artista, na história da música, que mais trocou de nome ao longo da carreira. Sobrinho do internacionalmente famoso Luiz Bonfá, de quem, desde menino, recebeu incentivo para o apreciável domínio que tem do violão, Luiz Octavio Bonfá Burnier começou na Som Livre, em 1969, como Otavinho Bonfá, depois com o também cartunista e artista plástico Cláudio Cartier participou da dupla Burnier e Cartier - que defendeu, de ambos, a interessante "Ficaram Nus", em 1974, classificada no festival Abertura, da TV Globo -, em seguida Octavio Burnier e Távio Burnier - este adotado durante um período vivido nos EUA - até relançar-se como Tavynho Bonfá - antes com "i", que foi trocado pelo "y" a conselho de um numerólogo. Isso, naturalmente, é só curiosidade, pois, acima dessa instabilidade onomástica, situa-se o que nele é permanente em termos artísticos: a sua boa composição, para a qual ainda conta, entre outros, com parceiros do porte do constante Ivan Wrigg, Sérgio Natureza, Geraldinho Carneiro e Maurício Gueiros, seja em hits dançantes, como "Clarear" (com Mariozinho Rocha), seja em bem sacados temas instrumentais, como "Mineral com Jazz". Da sua discografia, destaco um ótimo CD, "Bango", na dobradinha com Roberto Nascimento - em cujo apê, em Botafogo, tive acesso ao disco, infelizmente sem distribuição comercial -, feito à base de duas vozes bem harmonizadas e dois bem "gaguejados" violões, mesclando o tango com a bossa nova.
Por seu turno, já dando a volta por cima de recente revés eleitoral, quando não conseguiu eleger-se vereador pelo Rio (uma pena, pois, durante a campanha, sem mídia, encarnou expressivo anseio de seus colegas por melhor sorte na relação com o disco, com os palcos e com os bares, por exemplo), o amigo Tibério Gaspar retorna às luzes da ribalta para mostrar novas músicas e lembrar os seus sucessos, estes, especialmente, lavrados na sua consagrada parceria com Antonio Adolfo, como "Sá Marina", "BR 3", "Teletema" e "Juliana". Com Tavynho Bonfá, também parceiro, fará certamente, hoje, às 20h, no Espaço Rio Carioca, em Laranjeiras ("flyer" acima), um show recomendável e de muita sensibilidade, já que é um dos mais inspirados e inteligentes letristas brasileiros, quer falando de amor, quer manifestando o seu protesto.
Um bom fim de semana a todos. Muito grato pela atenção à dica.

Retrato de Clarice Lispector

Mais um brinde - Um cartum de João Zero -Coletes

Alfabeto Al Capone


Fumegando ainda, direto da fundição e destilaria clandestina imaginária de Guilherme Mansur, o alfabeto Al Capone. A fonte é Chicago.

19.12.08

Mais um brinde - Um cartum de João Zero

Dica do Gerdal : Orquestra Leviana


Identificada com a "sonorosidade" das antigas noites de gafieira, cuja aura e encantamento busca retomar, com variedade rítmica nacional e arranjos próprios, a Orquestra Leviana, criada há um ano e meio, fecha a tampa das concorridas apresentações deste ano, hoje, no Sacrilégio, a partir das 22h30 ("flyer"acima). A cantora Muiza Adnet, que já homenageou o saudoso maestro e compositor Moacir Santos em belo CD próprio, o competente sete-cordas Lucas Porto, ex-aluno de Luiz Otávio Braga e ex-Galo Preto, e o guitarrista Ítalo Simão, por exemplo, estão entre os músicos bem pautados dessa formação que, em tempos de tantas sustentabilidades, sabe garantir, "para a alegria dos casais", dos acordes iniciais aos acordes finais, a animação de um baile. Uma ótima dica, portanto, pra dançar, no bom sentido.
Uma boa "sexta básica" a todos. Muito grato pela atenção.

Crônica da Tinê - De Alma Lavada



Em memória de J.A.K.

Alto, branquelo, olhos negros, barbado, pouca fala e sorriso franco, de uns trinta anos.
Franzino, mestiço, olhos vivos, tagarela em dialeto de rua, um pouco menos de doze anos.
Informal, o rapaz gostava de jeans e camiseta mas ia trabalhar engravatado no centro financeiro do Rio, onde estacionava o carro próximo à avenida Antônio Carlos.
Esperto, o menino vinha de algum lugar, não se sabe se de Niterói ou dos lados da Gamboa, de camisa e sapatos furados, uns trapos e escova num balde de lata que ele guardava no buraco de um muro de seu “ponto”.
O rapaz e o menino se cumprimentavam todas as manhãs, de segunda à sexta. Uma relação gentil entre cliente e prestador de serviço. Um deixava o carro, apressado. O outro cuidava do carro, dedicado. Quando aquele viajava a negócios, ao retornar recebia deste um sorriso ansioso pela espera, infantil. A conversa entre ambos se limitava ao carro e às gorjetas. Foram quase oito meses nessa camaradagem, e faltavam uns dez dias para o Natal.
Era época de HANUKÁ, a Festa das Luzes judaica que costuma coincidir com a festa dos cristãos - em ambas há ceia especial e as crianças ganham presentes. Um atendia pelo diminutivo Aby. Ele era judeu, não tinha filhos nem sobrinhos, então o frenesi consumista de fim de ano não afetou sua rotina. Do outro soube apenas o apelido: Dicó. Era um filho ao Deus-dará que conhecia as promessas celestiais pelos televisores ligados o dia inteiro nas vitrines.

Num fim de dia Aby viu Dicó sentado no chão, encostado no carro, cabeça baixa. Ao se aproximar preocupado, o outro rápido se levantou, sacudiu o pó das calças e estendeu as mãos em concha: --- É pro senhor. Feliz Natal!
Atônito, Aby emudeceu. Ficou parado, olhava as mãos um pouco sujas. Sorridente, o menino insistiu – abre, abre! Aby pegou o embrulhinho feito com papel já usado, enfeitado, amarrado em laço com barbante bicolor de padaria, abriu-o devagar e... --- Um sabonete GESSY!
Encabulado, Aby agradeceu e partiu. Ele foi correndo contar à amiga que contou para a família que contou aos amigos que contaram para todo mundo, enquanto se aconselhava sobre como retribuir ao seu dadivoso flanelinha. “Um brinquedo”, “Tênis novos”, “Mantimentos”, “Dinheiro”, “De tudo, um pouco”. Não sei qual foi o presente de Natal que o menino recebeu. Sei que Aby morreu em acidente de carro quase três anos após aquele encontro. Dicó hoje beira os trinta anos e é servente numa repartição pública em Andaraí.
Tinê Soares – 08/12/2008

Caricaturas que eu fiz: Ivan Lessa

Poema-Objeto "Kiss"


Do canteiro de obras e tabacaria imaginária de Guilherme Mansur aqui está a foto do poema-objeto kiss - composto por um socador de chão (piso) com carimbo de borracha na base.

18.12.08

Mais um brinde - Um cartum de João Zero- Powerpoint

Bicho da Série "Tipográfrica" de Guilherme Mansur

Dica do Gerdal: Augusto Martins e Paulo Malguti no BNDES


Médico de formação, Augusto Martins é, aqui no Rio, como Renato Braz, em São Paulo, uma das poucas vozes masculinas de intérprete, da década passada para cá, que se firmam na lembrança do nosso canto popular em meio a um cenário bastante ocupado por mulheres. Embora também componha, como o seu colega da capital paulista, é sobretudo exercitando o seu dom de não iludir com a verdade da sua voz, antes encantar, que Augusto vem plasmando uma carreira consistente, com três elogiados CDs já lançados. Num deles, à guisa de um tributo, soube "djavanear" com personalidade por "Lambada de Serpente", "Outono" e "Pedro Brasil", por exemplo, alheio ainda a escolhas óbvias, de tantos "happy hours" em barzinhos, do repertório do ilustre compositor maceioense. Um disco que teve como diretor musical Paulo Malaguti, o "Pauleira", que, logo mais, às 19h, nesta quinta, com entrada franca, no auditório do BNDES, no Centro, participa com Augusto de um show dedicado à obra de Jobim ("flyer" abaixo).
Tecladista, compositor, arranjador e regente de corais, Paulo Malaguti, cujo nome se associa a muitos discos e shows de gente bem conhecida da MPB, teve atuação ressaltada, nos anos 80, no Céu da Boca - conjunto originado de coral da Pró Arte em que, entre outros, ainda se destacaram Verônica Sabino, Dalmo Medeiros (hoje no MPB4 e sobrinho de Cauby Peixoto), Paula Morelembaum e os irmãos Chico e Maúcha Adnet - e, mais recentemente, no excelente Arranco de Varsóvia, onde se encontra desde a sua criação, em 1996. Juntamente com Soraya Ravenle e Eveline Hecker, da primeira formação, Paulo Malaguti, por ostentar ainda no RG o Weglinski da ascendência polonesa, ajudou, como elas, pelo mesmo porquê, no estalo que ensejou o nome do grupo, de que participam, na formação atual, também com brilho, Cacala Carvalho, Andrea Dutra e Elisa Queirós, além do talentoso cantor, violonista e compositor Muri Costa, outro da "arrancada" inicial, ex-Barca do Sol, que gosto de ouvir, em especial, no doce balanço da bela "Yayá", feita com Lenine e gravada há tempos em CD próprio.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.

Des-conto de Natal


(Não aprecio o Natal, acho uma data cruel. Uns com seus presentes, suas árvores enfeitadas, outros sem nada, ou, com uma besteirinha.
Sempre falta alguém na mesa. No fundo é uma data triste. Tudo é postiço, um velho de barbas brancas vestido de vermelho num calor de 40 graus defende o seu, e tem ainda que fazer Ho Ho Ho...Por outro lado, comemora-se o dia em que um menino nasceu, já inscrito numa história que, passados 33 anos, terminará com sua morte na cruz, depois de um longo suplício. E por que isso? Para nos salvar, dizem.
Não discuto religião, quem quiser que acredite no que bem entender. Por essas e outras sempre procuro escrever um conto de natal. Um conto sujo...O tema deste que publico hoje, veio de um causo que ouvi, faz muito tempo, de uma época em que se amarrava cachorro com linguiça
).

Mudar até que passava, entre nuvens pesadas que fizeram morada sobre sua cabeça durante aquela semana. Uma certeza: o mundo não tinha jeito, e ele sem futuro nele . Nem queria pensar. Sem mais nem menos um vento forte varria tudo e só deixava uma coisa que nem sabia ser desespero.
Não viera de nenhum oco do mundo, cheio de esperança de ganhar algum na cidade. Era dali mesmo. Não carregava passado de seca e aquela coisa toda de retirante. Só uma montoeira de imagens, uma chuva de relâmpagos, um raio torrando tudo, os trecos do barraco queimando, o valão levando o pouco que tinham, irmãos indo embora, a mãe chorando- pai que nunca viu- a mãe morrendo... Agora tudo cinza- queria é esquecer.
Ler até que lia, aprendera as primeiras letras numa escolinha antes do desastre e a fuga. Depois ganhou mais esperteza nas contas com uma enfermeira do abrigo. O pulmão fraquejou- tossiu a alma- antibiótico fez a coisa cicatrizar. Desse tempo tem uma lembrança- um livro de um russo que o médico deu a ele . No entanto não gostava nem de pegar nesse traste que falava de u'a mãe cheia de coragem por lembrar a sua que não mais existia nesse mundo. Ensebado, folhas caindo, não imaginava porque ainda conservava o livro entre suas poucas coisas dentro de uma caixa de sapato. O que importava é que não se sentia estrangeiro em um país árabe como Elésia - sua companheira de calçada e que abrigava seu fogo morto de macho. Elésia, calada tinha mundo próprio- uma ilha- onde passava o dia com olhar perdido no asfalto , seu mar insondável.
Fome não passava, pegara confiança de um italiano que o botara para retirar cascalhos da obra da loja de sucos. Se achava servente de pedreiro. Mas nada de prato-feito, era sobra da cozinha que ele recolhia num saco plástico. Elésia passava e levava o dela para mais adiante comer com a mão mesmo. Salgadinhos de vez em quando engorduravam a noite: risole, quibe, coxinha- tudo frio.

Frio dividiam os dois, alí perto, na calçada da faculdade de direito, onde tinham lugar cativo entre os outros moradores de rua. Falavam pouco, uns diziam coisas sozinhos embalados na fumaça do crack. O sono era ativo, um olho dormindo, o outro caçando vagabundo - tinha uma faca na mão direita sempre pronta.

Banho tomava na obra, Elésia se lavava no chafariz da Praça com sabonete e" xampu "- um luxo que ele sustentava, na boa.

Dinheiro - merreca guardava no fundo do tênis forrado de jornal. Na hora de dormir enfiava numa faixa amarrada na cintura.

Antes de se recolher ficava zanzando pela cidade vendo ratos espantar travestis e as meninas quase nuas que faziam viração na Praça. Era sua diversão, melhor que os programas mudos de TV da grande loja que Elésia via até fechar.

Nem pensava em mudar aquilo que era sua vida. Na verdade não podia. Quem sabe para o ano o italiano empregasse ele para o "anexo" que estava em obras. Podia pegar serviço de restaurante, servir mesa- gorjeta- mais comida. Emprego aí devia ter, não é não?! Mas não pensava isso no todo, a idéia só rabiscava na confusão da rua e no peso do carrinho de entulho, na subida da alameda até o latão da municipalidade. Só o desespero ficava inquilino.

Muitas vezes, pensava que era um nada, media o tamanho dos prédios, por trás dos muros as casas bonitas. Se comparava.

Uma perturbação confundia sua cabeça: Nada era o parar de tudo, não é isso? Mas, mesmo tudo parando, ainda restava alguma coisa. Era preciso não sentir. Aí sim seria nada! Mas ele ainda era um corpo dolorido , o coração arrebentando no batidão da subida da rampa- he he ! - Então era ainda alguma coisa, amigão! Um nada... idéía mais besta!

A prefeitura naquele ano resolveu enfeitar a Praça , para o natal. Botou no laguinho um casal de cisnes e seus filhotes, que viraram atração com seus passeios em fila indiana, serpenteando. De dia era uma alegria, uma outra vida vivia aquele lugar. Crianças paravam no caminho para a escola. De noite tudo mudava, apesar das luzinhas pisca-pisca, morcegos adejavam e as baratas saiam a procura de restos humanos. A guarda passava de hora em hora para botar moral na saliência- carrão do ano parando, gente fina querendo programa - homem se aliviando em homem- mulher da vida no vaievém, zoação madrugada adentro.

Não se deu conta, e uma festa foi sitiando a cidade - a grande loja botou um boneco de papai noel e enfeites na fachada. Nas TVs era um festival de sinos, fitas coloridas, estrelinhas, crianças sorrindo, artistas de branco cantando. Aparecia comida também nas telinhas, e os preços brilhavam - perus assados, salame, presunto, uvas...O mundo ficava bonito, derrepente.

Um dia ele disse a Elésia, que sabia preparar galinha com o cozinheiro da loja de sucos. Ali perto tinha uma feira , a xepa era boa, e sem reparar, a mulher passou a pegar alhos, cebolas, coentro, salsinha, limão, até um punhado de pimenta. Socava ervas num vidro de maionese, botava sal e azeite que ele trazia encolha, quando voltava do trabalho.
A idéia tinha suas complicações.Juntando todo dinheiro que tinham, dava para comprar um frangão duro do "frizi" no supermercado. O problema era o que fazer com ele? Um jeito dariam naquilo,
O que não se deram conta é que segredo é de todo mundo quando se mora na rua, a intimidade galinácea deles acabou se espalhando. A imaginação que era muito prática ali, tomou conta do dormitório a céu aberto da faculdade de direito: - Iriam fazer uma ceia de natal como os grandes. E não teve jeito de mudar o desenho da coisa, a arraia miúda fez crescer a despensa, a animação corria solta, doideira anunciada. O plano era simples. Nada de gula, tudo sendo guardado para o grande dia. A coleta corria solta, batatas , aipim, cenoura, inhame, bananas de montão e mais farinhas, a mistura ia ser boa...só faltava pegar o prato principal e arranjar um mocó para malocar as coisas e fazer o rango. Um olho cego disse saber de uma mulher que no meio de um viaduto tinha montado cozinha com fogão de botijão e tudo.
Foram falar com ela que concordou - e não tinha como não - era muita gente e o medo deu o bom conselho.
Indagou: - Mas ceia de natal só com um frangão com apito será que dava para todos? Em todo caso, lá foi ele, duro de gelo, ficou vertendo água - tinha muito pirão e pouco peixe naquela parada.

No dia de natal tudo aconteceu combinado- mal anoiteceu - Olho cego, que estava na vigia na Praça deu o sinal, a guarda tinha ido pra casa festejar. Não passava nem táxi na avenida, os habitantes noturnos da Praça - menos os ratos, os morcegos e as baratas - também tinham família para se juntar. Então, meia dúzia de sombras decididas entrou no laguinho - ele na frente - comandando. Foi aí que olhou no olho do cisne-pai assustado e os filhotes escondidos atrás da mãe - ele - faísca- mandou tudo parar, e teve nego que reclamou mas tomou catiripapo. Ele era só dentes cerrados, uma fera. Não iriam matar os bichos. Não iriam pegar os patos, os patinhos, torcer a goela e meter num saco. E não teve conversa- ele era forte de subir ladeira com entulho e os outros, mendigos de esmola - fracotes, não arriscaram enfrentar porrada e tinha aquela faca na mão dele que indicava o caminho.
Sem mais mais, deu-se a debandada, iam de cabeça baixa. Chegaram ao mocó sem festa, parecia dia de enterro. O riso das mulheres se desmanchou. Um caldeirão fervia- na espera de depenar e mergulhar no tempero. Ele tomou a palavra e falou que não teve coragem. Contou que viu uma lágrima no olho do bicho - os filhotes se escondendo... engasgou e não disse mais nada.
Elésia vendo a tristeza em todas aquelas caras, saiu de sua ilha, atravessou seu oceano de solidão e gritou: - A gente divide- carne é pouca - todo mundo vai comer. E foi assim que o frangão degelado seguiu as preparações dos que foram poupados. Meia - noite tudo estava pronto. Comeram aquele único bicho, que deve ter chorado também na hora do abate. Foi traçado em iscas,com arroz e as guarnições todas abundantes. Tinha até Sidra e copos plásticos - quase uma ceia de Natal nos conformes . Elésia nessa noite nem vomitou. Só faltou nevar.

17.12.08

Mais um brinde - Um cartum de João Zero : Sede

Estrellas Fijas


Diretamente da oficina imaginária de Guilherme Mansur a tradução visual do fragmento do poema Estrellas Fijas de José Asunción Silva.

16.12.08

Vicky Cristina Barcelona e o caráter "espanhol"


Ir ao cinema, em geral, é uma coisa prazerosa. Claro que depende do filme ser bom ou cacete. Mas, essa viagem no escurinho pode se transformar num verdadeiro trem fantasma e ser muito aborrecida, dependendo de quem senta ao seu lado. No caso de você se encontrar no meio de duas criaturas sem semancol, que insistem em fazer comentários sobre as coisas que conheceram, ou não, do local onde se passa o filme - isso se torna um martírio. Foi o que aconteceu comigo e minha mulher no filme Vicky Cristina Barcelona. Coincidências existem, não é ficção: E não é que do meu lado sentou-se uma menina chatinha- tagarela - deslumbrada e do lado de minha mulher uma senhora idêntica, só que com uma diferença de uns 40 anos a mais!
Mas não foi este turismo acidental que comprometeu minha visão deste filme de Woody Allen. Ele vai ser um sucesso, e não adianta a opinião periférica. Quem não viu, verá e esá acabado. O "noivo neurótico" é sempre bom, mesmo quando é ruim, e esta sua fita só queimou um pouquinho. É uma obra meia boca- filmeco turístico, onde o autor brinca com sua eterna problemática e complexa combinação Amor&Sexo e Cia bella. So que desta vez escolheu o cenário lindo da cidade do Barça, onde esbarrou em clichês da "espanholidade" e obras de Gaudi.Clichês neste roteiro de turismo sexual não faltam. As duas americanas deslocadas se encontram com eles toda hora, dá até para fazer uma lista:
1- O irresitível sedutor espanhol- latin lover e seu furor sexual que não conhece barreiras
2- A espanhola à beira de um ataque de niervos (cópia ou citação descarada de Almodóvar?)
3- Os espanhóis nunca racionais, quase sempre isto passionais e irreverentes
4- Confundir Barcelona com a Espanha - uma coisa não tem nada a ver com a outra- ainda mais para uma moça que tenta fazer uma tese sobre a "identidade catalã" - como se isto existisse. (essa foi uma dica de minha filha que morou lá quase um ano)
5- Esta confusão da Catalunha com o que se pode chamar de "caráter espanhol" implica em botar uma guitarra espanhola no meio do filme como o grande barato e otras cositas más.
5- Mostrar o marido americano como um babaca, tipo corno desligado.
6- O outro marido americano gorducho e bem de vida, também como um babaca materialista
7- A imagem romântica do pintor como um ser de outro planeta que atinge uma compreensão do incompreensível pelos mortais comuns
8- A arte da catalunha como um repetir do gesto abstrato espontâneo para além de Miró. E vai por aí.
Dizer que Penélope Cruz ganha o filme e bota Scarlett Johansson e Rebecca Hall no bolso é chover no molhado. Dizer que Javier Bardem é um baita ator e que não precisou se esforçar muito nesse filme és lo mismo.
Engraçado mesmo é o lance de Bardem pedindo para que Penélope fale inglês dentro de sua casa para que a gringa entenda. Dá para ver que eles estão se divertindo com isso.
No fim das contas, essas besteirinhas que Allen comete não tiram a graça do filme. Dá para o gasto, um bom passatempo.
Parece que a próxima produção de Woody Allen vai ser no Brasil - acho que no Rio. Preparem os clichês. Estes nós também temos em abundâcia! E bote bundância nisso!

Sua Excelência , O Canalha ataca no Leblon


Nossa querida amiga Rozane Monteiro , brava blogueira (está na lista dos meus preferidos aqui no nosso blogue) , lança dia 17 - quarta-feira, a partir das 19 horas seu livro Sua Excelência, O Canalha.(por coincidência o nome do seu blogue)
O evento vai rolar junto com um coquetel na Livraria Da Conde, na Rua Conde de Bernardotte, nº 26 - Loja 125 - no Leblon - 2274-0359
Todos lá!

Guia de Economia Solidária - lançamento em Campo Grande (MS)


O Livro Guia De Economia Solidária ou porque não organizar cooperativas para populações carentes (EdUFF) de Bárbara Heliodora França, Érica Barbosa, Rafaelle Castro, Rodrigo Santos é uma publicação muito importante para auxiliar o povo nas suas bases e por esse motivo seu lançamento vai acontecer em vários pontos do País e sempre que isso ocorrer será noticiado nesse blogue. Nessa quarta- feira- dia 17 às 17.30 h. vai ser a vez de Campo Grande - Mato Grosso.
O evento vai acontecer na Central de Comercialização de Economia Solidaria
Rua Marechal Cândido Mariano Rondom, 1.500- Centro/ fone: 3382 40 21 / e-mail: fees-ms@yahoo.com.br
Para maiores informações liguem para (21) 91872657 e (67) 33 84 28 82
Para contato com os autores escreva para o seguinte endereço eletrônico: guiadeeconomiasolidaria@gmail.com

Poema de Guilherme Mansur - Telhados

Mais um brinde - Um Cartum (ou Charge) de João Zero -"Gastar"

Caminhos do Elevado na XV de Novembro


Hoje vai ser Lançado o livro "Caminhos do Elevado - Memórias e Projetos" organizado por Rosa Artigas, Joana Mello e Ana Claudia Castro , a partir das 18 horas na Livraria XV de Novembro - na Rua XV de Novembro, 318 - Centro de São Paulo.
Todos lá!

15.12.08

Revista da OAB de Dezembro saiu do forno agora


Acaba de chegar diretamente da gráfica , com aquele cheiro gostoso de tinta fresca, a Revista OAB - 4ª Subseção - MG - Nº 6 - de Dezembro de 2008.
A pauta é da pesada: Leonardo Boff escreveu um ensaio chamado "Crise de Humanidade", Eduardo C.B. Bittar um longo e esclarecedor artigo sobre o Movimento de 68, a Constituição de 88 e o 60º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos . Pedro A. Ribeiro de Oliveira escreveu "Mercado e debate ideológico" onde analisa a crise alimentar.
A capa é do bravo ilustrador Jorge Arbach.

Viva Sapato!


Pensei que já tinha visto tudo. Imaginei que Krushev tinha arrebentado a boca do balão ao martelar com seu sapato o palanquinho em que discursava, na ONU, em protesto, acho que durante a crise dos mísseis , em meados da década de 60 . Mas como sempre me enganei. A imagem recentíssima de um jornalista iraquiano jogando os sapatos em George Bush é um marco- não sei do que, mas é um marco. Esta cena de pastelão, encerraria o ano muito bem, obrigado. Por favor não inventem mais...

Minha Vizinha Chavista não capitula diante de Capitu


Minha vizinha chavista me acordou logo cedo.Estava eu embaixo de meu cobertor, curtindo o frio do quase verão carioca sob chuva e Madonna. Minha mulher que me avisou - interrompendo suas orações matinais para o bem do universo : - "Ela" está sala e diz que precisa falar urgentemente com você.
Espreguicei, e tentei me conectar com mundo : uma pintura inacabada me mirava no meu quarto ateliê e caverna.

Fui para a sala, já com meu moleton de corrida e tênis. Fui recebido com um olhar feroz pela triatleta da crítica televisiva - convidei-a para dar uma corrida até a padaria para pegar um pão quentinho. Ela concordou e começou a falar num jato contínuo:
- "Você viu Capitu?"

Nem consegui responder e ela emendou de primeira:
- "Que coisa mais pretensiosa!!!! Vanguardismo de quinta da boa vista!!!
Assassinaram Machado! O bruxo do Cosme Velho virou paçoca reciclada a la Malamed! O tal de Luiz Fernando Carvalho não acerta na mão mesmo! Quer dar uma de moderninho. Depois de enterrar o Suassuna vivo sob a Pedra do Reino Desencantado, agora pega Dom Casmurro e transforma nesse pastel que matou o guarda. Cheio de noves fora, efeitinhos visuais, I pod com valsa vienense , linguagem de videoclip, e aquela musiquinha "Elephant Gun", ( do grupo Beirut)... e mais, comete a "liberdade" de interpretar o final da história que é todo dúvidas e sutilezas, dando uma leitura direta, tosca, literal, grosseira da "possível infidelidade de Capitu", que não é o mais importante saber, e sim o revelar o imenso delírio interior , o brutal ciúme, a genial paranóia que é todo o texto de Bentinho, na verdade a única voz que comanda esse espetáculo. A pobre Capitulina nunca é ouvida. Maria da Penha nela!!!
E os olhares, das atrizes- Capitus - a insistência naqueles olhos semicerrados. Só por causa do olhar de ressaca textual?. A trilha sonora é realmente a melhor coisa, de acordo mesmo com essa desadaptação: um elefante numa loja de fina louça! Um tiro de "Elephant Gun" no meio da testa do incauto que ligou a TV naquele instante! Nessa minissérie , tudo é caricatura- Quer fazer teatro? Vai aprender com o Antunes que montou Pedra do Reino com o mínimo e é uma beleza!"

Foi aí que caí na asneira de atacar o bunker crítico dela - eu disse:
- Nunca imaginei que pegaria a senhora numa posição reacionária? A Senhora é contra a ousadia?
Ela mandou nos peitos:- "Peraí, meu filho, agora você fala em me pegar, insinua posição? Tasca um reacionarismo na minha indignação? Na sua linguagem mal articulada, quer misturar insinuações kamasutricas com minha visão ideológica. Tá de sacanagem!"

- Calma!!! Eu me expressei de maneira incorreta - quis dizer que a senhora se mostrou racionária ao atacar uma estética que contraria o discurso linear - que tenta adaptar de forma moderna um clássico. Foi só isso que....
Nem deu tempo de concluir meu raciocínio sem café da manhã - ela interrompeu:

-" Meu filho! Você chama aquilo de adaptação? Aquela coisa chata, cheia de maneirismos deja vu da retroguarda travestida de pastelaria feliniana. Escobar se afogando em cetins!!!! Tenha dó! Não foi adaptação coisa nenhuma, foi colagem, justaposição de coisas, e eu chamo isso de violação!!! Picharam o busto do escritor. Ainda bem que Machado não deixou herdeiros, ou o legado de sua miséria, como ele botou num romance.(brincando com o texto intercalando sacadas biográficas). Os bacuris, os Machadinhos, teriam direito a uma indenização por danos ao patrimônio público. Porque Machado é um bem tombado, entendeu?
E me responda uma coisa: Quem assistiu a tal da "Capitu"? O pobre iletrado que pega no batente logo cedo, não foi! O cara que nunca leu Machado, não foi! Foi só uma meia dúzia de intelectuais da elite que já estão carecas de fazer a exegese de Dom Casmurro. Que estão de saco cheio dessa meleca da infidelidade da moça. Que estão lendo Pennac e achando o maior barato! Um Ateneu do Bois de Boulogne...
Bote lá no seu grogue (ela nunca consegue falar a palavra blogue): Que gastaram uma baba para atingir traço no Ibope - pegar uma meia dúzia de insones da elite, no meio tempo em que se preparavam para adentrar a badalada "night". O pessoal "espaço-café" passou batido. Esse pessoal cospe na TV...

Tentei reagir: Peraí, Dona...(eu nunca consigo lembrar o nome dela-empatamos!), a senhora desta maneira inibe qualquer tentativa de renovação da teledramaturgia! Veja bem, essa montagem segue uma linha do "Azyllo Muito Louco" que foi uma adaptação foi bem sucedida feita por Nelson Pereira dos Santos para o conto O Alienista.

Ela me cortou com navalha afiada:
-"E quem viu esse filme? Quem lembra dele? O Nelson ( ela sempre fala de celebridades com a maior intimidade citando só o primeiro nome- só fala o nome inteiro quando quer ofender)
O Nelson está lá tomando chá na Academia. O Saraceni também fez em 1968 um filme baseado no Dom Casmurro com o mesmo título de Capitu. O grande Roberto Santos tentou adaptar Machado e não deu certo ( foi Quincas Borba em 1987). "A Hora e a Vez de Augusto Matraga" foi um tremendo filme, baseado num conto de Guimarães Rosa, mas Machado é mais difícil de adaptar. Ele é todo interior, cuca, pura cuca, é romance psicológico, meu filho! Bota isso na cabeça, meu filho! Precisa estudar muito, precisa sacar muito, para interpretar Machado... Muita gente quebrou a cara tentanto adaptar Machado, se quiser cito uma fila"

Falando nisso, foi aí que o rapaz que atende o balcão da padaria meteu o bedelho: - Olhaí pessoal, não sei nada desse papo de Machado, mas a fila anda, vão querer quantos pãezinhos?
Olhamos para trás e uma fila imensa se formava enquanto discutíamos a minissérie da Globo...
Ela disse :- Quero quatro "moreninhos!..."
Eu pensei: - Ao vencedor os pãezinhos!
(E toca o bonde que esse assunto ainda não terminou)

Caricaturas que eu fiz: Dashiell Hammett

14.12.08

Mais um brinde - Um cartum de João Zero : Tombou

Alfabeto da Série Tipocines: O EXTERMINADOR DA FUTURA


Diretamente da oficina tipográfica imaginária de Guilherme Mansur, um corte schwarzeneggeriano numa arte sobre a fonte futura. Saibam que o grande ator e atual governador da Califórnia, além de ser austríaco é também filósofo.(Se bem que não sei qual a relação entre essas duas coisas) Basta lembrar sua fabulosa contribuição à metafísica com sua frase lapidar:- "Hasta la vista, baby".

13.12.08

Ilustração - Caricatura de Antonio Conselheiro


Ilustração feita na técnica de guache lavado sobre nanquim aplicado sobre papel Schoeler Hammer (não funciona com outro papel). É também chamada de "xilogravura de paulista"( por sua rapidez) , ou de "malandro" (era malandro mesmo?)segundo um professor da nossa cronista Tinê. A técnica consiste em fazer o desenho a lápis, cobrir as áreas que vão ficar em branco com guache (branco é claro) e depois aplicar nanquim com pincel grosso em toda a superfície da arte. Deixar secar e em seguida aplicar um jato contínuo de água sobre o papel, o guache vai sair e o efeito imitativo da xilogravura vai aparecer.
Teve uma época da minha vida que eu era vidrado em Os Sertões, vivia desenhando as figuras de Canudos- tenho uma série em "sanguíneo" ainda no meio das minhas tralhas.Cheguei a alimentar um projeto de ilustrar o livro de Euclides da Cunha - quem sabe um dia...desenhar é preciso!