10.12.07

Fragmento do dia

"Pedir a um homem que conta histórias para ter em mente a verossimilhança me parece tão ridículo como pedir a um pintor figurativo para representar as coisas com exatidão. Qual é o cúmulo da pintura figurativa? É a fotografia em cores, não é? Concorda?
Há uma grande diferença entre a criação de um filme e a de um documentário. Num documentário o diretor é Deus, foi ele quem criou o material de base. Num filme de ficção , o diretor é que é um deus, ele é quem deve criar a vida. Para fazer um filme é preciso justapor massas de impressões, massas de expressões, massas de enfoques e, contanto que nada seja monótono, deveríamos dispor de liberdade total. Um crítico que me fala de verossímil é um sujeito sem imaginação"
(Esta resposta polêmica está no estupendo livro onde François Truffaut entrevista o grande Hitchcock: "Hitchcock Truffaut" publicado pela Companhia das Letras- Tradução de Rosa Freire D'Aguiar)
Nota da Redação : A conversa neste ponto girava em torno da questão da verossimilhança na obra de arte, que para o velho Hitch não interessava, ele dizia que nenhum roteiro de ficção ficaria de pé se o critério fosse plausibilidade e verossimilhança. Se esses fossem os critérios de construção de uma obra, segundo ele, só se poderiam fazer documentários. Claro que essa conversa foi longa, e nela ele se explica melhor. Como estamos brincando com uma coleção de fragmentos, apenas acendemos um fósforo sabendo que a escuridão é muito maior. Quem quiser saber mais, que leia o livro. Peça de presente no Natal. Não vai se arrepender.

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