26.1.08

Evoé - O negócio é sair no "Gigantes da Lira"


Confesso que rasguei minha fantasia. Era de sheik das arábias, com aqueles óculos escuros típicos que eles gostam de usar lá no Oriente Médio junto com as camisas sociais que fazem parte do traje , aquele turbante na cabeça comprado na Casas Turuna e ninguém é de ferro uma bermuda e tênis folgado.
Já fui atrás de quase todos os blocos do Rio. Saí também numa escola - a "Vizinha Faladeira" que tem um símbolo sensacional, uma mulher batendo prego na sua própria língua em cima de uma mesinha. O enredo era em homenagem ao mestre Lan e sambei na ala dos desenhistas. Já curti a Mangueira vencer com toda a glória, com mestre Jamela cantando alto e bom som , enfim, fui à Roma e vi o Papa.
Agora Carnaval é só na TV e olhe lá! Vejo minhas Escolas preferidas, digo a Mangueira e a Mocidade Independente de Padre Miguel , esta última pela "paradinha" da bateria, inventada por Mestre André e por causa da minha mulher que chora ao ver aquela camisa verde desfilar na avenida.
Mas agora pouco, saí para pegar um vídeo, comprar um pacote de leite e eis que bato de frente com um blogo, o "Xupa mais não baba" que está alegrando e atravancando o trânsito todo aqui na rua das Laranjeiras. Admirei a massa em plena alegria , e olhe que uma garoa fininha brindava a todos com uma dose de desânimo, mas que nada, o pessoal quer mesmo é ver o circo pegar fogo e não vai ser uma chuvinha de paulista que vai botar água na fervura. Peguei os filmes na locadora e quando passei pela Gal. Glicério vi uma agitação arlequinal. Era o bloco "Gigantes da Lira", nada demais se não fosse um bloco especificamente de crianças. Claro que os adultos pegam uma tremenda carona e os papais, mamães, vovôs e vovós arranjam um tremendo pretexto pra virar criança também.
Juro que fiquei contente. Faz tempo que tento entender o carnaval(sendo um estrangeiro aqui no balneário há 30 anos) e me lembro que eu tinha uma fantasia quando era menino - um tremendo mau gosto dos meus pais: a fantasia era de presidiário. Lança perfume era de rodo-metálico e eu ingênuamente jogava no olho das mocinhas. Uma vez no Estádio do Ibirapuera tentei acompanhar um concurso de quem aguentava dançar mais num carnaval ainda quando era menino. No dia seguinte não conseguia nem andar, fiquei até com febre, cheio de ínguas. Adolescente já, fazia "sangue de diabo" com umas flores vermelhas e espirrava com aquelas bisnagas de plástico que substituiram a lança-perfume.
Agora, o festival do óbvio ululante:acredito que dentro de cada ser humano existe um folião, é uma tese nitetzscheana de boteco de quinta categoria (é assim que se escreve?). Mesmo naqueles que não gostam de carnaval, nos que preferem um cinema sueco , que gostam de levar um papo cabeça num espaço café, ou façam curso de verão na universidade "Pessoa de Morais" da novela das oito do Agnaldo Silva, acredito que existe um sacana que quer mesmo é sair de índio no Cacique de Ramos e fazer aquele estranho riutual que eles fazem com aquela "fogueirinha" que já queimou muito marmanjo e se esbaldar na Rio Branco cantando "Mamãe eu quero". O povo quer dançar, cantar, fazer barulho, soltar aquele grito reprimido...(calma, cuidado com o andor que o santo é de barro).
O homem primitivo dançava, o dionisíaco não existe de graça, e olhe que estamos já num degrau mais alto, na civilização grega. E esse folião se prepetua numa pedagogia bacana como no "Gigantes da Lira", no qual os pequeninos e pequeninas fantasiados jogam confetes e aquele maldito spray de bolhas no ar. É uma alegria sem sentido, eu sei, mas já é uma alegria e ao alcance de todos, de qualquer classe social. Deixem as águas rolar....Voltei pra casa e percebi que tinha batido a porta e deixado a chave dentro...Minha mulher está com minha sogra num cinema assistindo um filme romântico...segura o bloco que lá vou eu!

4 comentários:

ze disse...

Evoé! em Roma com o Papa! será que realmente houve uma disputa entre o dionisíaco e o apolíneo como diz Nietszche? será que o vinho e seu entusiasmo não combinam com a flecha dourada e sua música? há talvez mas complementariedade e suplementariedade do que oposição e contrariedade entre os deuses antigos.

TS disse...

'té quinfim! achei q tinha parado de escrever!

eu vou sair no blogo (= mistura de bloco com blogue) da CATALUNHA, rs.

"Eu fui à parada de Madri, tchim bum, pa-ra-ra-tchim-bum-bum-bum... prá ver CECI-I-I, prá ver PERI!!!"

LIBERATI disse...

Vamos e venhamos Zé, aquilo entre os deuses antigos era uma farra dos diabos!
Abraços

LIBERATI disse...

Pois é Tinê, bateu um folião aqui no seu desenhista alquebrado e não consegui resistir à beleza e alegria dos pequeninos no "Gigantes da Lira" - é um bloco tradicional de Laranjeiras, super família - alto astral. Que bom você cair na folia aí das Catalunhas. E detalhe, o problema da chave aconteceu mesmo.
bjs