7.1.08

Fragmento do dia - Com o que um andróide sonha?

"Esta experiência de viver com medo deve ser pior do que ser escravo.
Eu tenho visto coisas que os seres humanos não acreditariam.
Naves de ataque em chamas nos ombros de Orion.
Eu vi raios C a brilhar nas trevas de Tanhauser...
Todos aqueles momentos vão se perder no tempo como lágrimas na chuva
Tempo de morrer..."
(Úlitma frase do replicante Roy Batty em Blade Runner- O Caçador de Andróídes"- filme de Ridley Scott baseado no livro de Philip K. Dick "Do Android dream of eletric sheep?")
Nota da Redação:Faz tempo que estou para botar no ar este fragmento. É uma das mais belas cenas do cinema de "ficção científica" (se é que podemos chamá-lo assim). O monólogo é cheio de poesia - é também a visão do surgimento de uma nova antropologia que ainda vai se concretizar e quem sabe uma nova psicologia. O andróide replicante vivido pelo ator Rutger Hauer ao dizer esta frase está morrendo,(foi ferido pelo seu algoz depois de uma luta tremenda) e solta um pombo que trazia nas mãos. Ele está ao lado do "Caçador de Andróides", o implacável Rick Deckard (vivido por Harrison Ford). O problema do replicante foi tentar achar o seu criador (o manipulador genético que o fez para ser um escravo combatente e explorador de lugares ermos do universo). Ele queria mais tempo de vida, seu prazo de validade já estava por vencer e com isso salvar os outros seres sintéticos produzidos por uma empresa que explora o mundo.É ao mesmo tempo uma espécie de procura do pai. A terra parece ter sido abandonada pelos humanos, o que restou dela é um lixo sob chuva ácida constante. O filme foi feito de tal forma que sugere múltiplas interpretações. É uma obra de arte complexa e magnífica criada pelo cineasta que se desviou do padrão criado por K.Dick para definir o perfil dos andróides.
A tempo, acaba de ser lançado uma nova edição do livro "Caçador de Andróides" de Philip K. Dick pela Rocco em tradução de Ryta Vinagre.
Rodrigo Fonseca fez uma bela resenha para o Caderno Prosa&Verso de O Globo neste final de semana. Vale a pena ler.

2 comentários:

TS disse...

Qdo o filme foi lançado (Br) me apaixonei, achei intrigante, assisti vzs seguidas.
Tacharam-me de gostar de "porcaria" e de ser pessimista (era época do surf nas "ondas de Toffler"); achei os personagens interpretados pelo holandês Rutger e por aquele mexicano q fazia cavalinhos de origami mais interessantes q o caçador (Ford)pois este ficou "mal resolvido" no enredo: ele tbm era um replicante! Eu diria: implicante, de tanta falação em off. (versão original)

Dando um salto, morri de rir qdo saiu o "Quinto Elemento" do francesão: ele satiriza o Blade Runner, como o replicante da pomba, surdo, surdo, de tão velhinho.

LIBERATI disse...

Cara Tinê,o francês do "Quinto Elemento" é um sacana de um gozador.
Blade Runner é uma obra prima. O livro , dizem traz uma visão dos andróidos como maus, vilões. O cineasta humanizou os replicantes, criou uma atmosfera ácida de fim da picada, e levou o filme para uma esfera poético-filosófica. Sublime.Um filme do século XXI.