27.1.08

Fragmento do dia - Com vocês, Antônio Maria

"Amanhece em Copacabana, e estamos todos cansados. Todos no mesmo banco da praia. Todos, que somos eu, meus olhos, meus braços e minhas pernas, meu pensamento e minha vontade. O coração, se não está vazio, sobra lugar que não acaba mais. Ah! que coisa insuportável, a lucidez das pessoas fatigadas!"
(Trecho da crônica "Amanhecer em Copacabana" de Antônio Maria na coletânea "Com vocês, Antonio Maria" - Seleção de crônicas de Alexandra Bertola- Editora PAZ E TERRA)
Nota da Redação: Antônio Maria Araújo de Morais dispensa apresentações, foi um dos maiores cronistas brasileiros modernos. Seu texto era quase uma conversa recheada de sacadas poéticas- era um pensador e um coração apaixonado,o mesmo coração que explodiu num fim de noite de boêmia em 15 de outubro de 1964 , numa rua de Copacabana que ele tanto cantou.

5 comentários:

TS disse...

Não é do meu tempo. Mas é um belo fragmento.
Nos anos 80 fiz um desenho legendado "parecido" c/ este sentimento, o título era "Copacabana me enganou", perdeu-se pelas mudanças.

LIBERATI disse...

Cara Tinê, Copacabana já não engana mais ninguém. Lá tem de tudo para todos os gostos.Aquilo é que é um verdadeiro exemplo do surrealismo tropical. Tem até roda gigante no Forte.
bjs

ze disse...

Lembram do "Brasileiro, profissão esperança" ? Paulo Grancindo recitando Antônio Maria com Clara Nunes cantando? em vinil. Divino disco. deve estar por aí.

LIBERATI disse...

Pois é, caro Zé, bela lembrança. Antônio Maria era demais, depois de levar porrada duns caras que queriam quebrar suas mãos ele disse uma coisa mais ou menos assim: -Coitados! Eles acham que eu penso com as mãos!
Ou foi:- Coitados, eles acham que eu escrevo com as mãos.
Fica mais sutil, eu tinha um cartaz com uma foto dele na máquina de escrever com esta frase. Ele era um baita cronista!
Abraços

ze disse...

Nooossa! Cronista é? eu sou ignorante, 'nada sei'. o diálogo constrói desde sempre. Antônio o general cortou as mãos e a cabeça de Cícero o orador : Liberati, as mãos 'pensam' por si. Como as pernas nos campos de futebol. 'O corpo tem suas razões' diria Thérese de Bertherat. Madame Satã matando Geraldo Pereira grande sambista que fez 'O tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada / Estão dizendo que o molho da baiana...' lembra? Na música este carioca (será que errei de nome?) revolucionou. E fazem filme louvando o assassino. O morto assim vira profeta.