6.1.08

Fragmento do dia

Comigo me desavim

Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor da gente fugia,
Antes que esta assi crecesse:
Agora já fugiria
De mim , se de mim pudesse.
Que meo espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?

(Cometimento poético de Sá de Miranda)
Nota da Redação: Francisco de Sá de Miranda é um dos grandes poetas portugueses do século XVI. Foi inimigo de Gil Vicente, segundo intrigas da corte, Gil Vicente o ofendeu várias vezes em público ou omitiu o nome de sua família em autos de sua autoria.Sá de Miranda nasceu em Coimbra, a 28 de agosto de 1481 faleceu em Amares, em 1558.

3 comentários:

TS disse...

Só é desbancado pelo Camões.

Para complementar:

SONETO

O sol é grande, caem co'a calma as aves,
Do tempo em tal sazão que sói ser fria:
Esta água, que d'alto cai, acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.

Ó coisas todas vãs, todas mudaves,
Qual é o coração que em vós confia?
Passando um dia vai, passa outro dia,
Incertos todos mais que ao vento as naves!

Eu vi já por aqui sombras e flores,
Vi águas, e vi fontes, vi verdura;
As aves vi cantar todas d'amores.


Mudo e seco é já tudo; e de mistura,
Também fazendo-me eu fui doutras cores;
E tudo o mais renova, isto é sem cura.

***

Lembra o Quintana quando se refere "às coisas vãs" como sendo "mudaves". Não é lindo?!

LIBERATI disse...

Pois é superar Camões é impossível, mas o cara era grande. Quintana é quintessência.

Anônimo disse...

Tinê só agora estou lendo. Confundi com Sá Carneiro. Não sabia desta história da briga com Gil Vicente. Os autos deviam ser tradicionais. Povo. Folk-lore. Sem donos. zé