10.2.08

Minha vizinha Chavista mete o pau na escatologia da Portelinha


Na volta do bloco ecológico "Não aquece o mundo que vai dar m...", encontrei a minha vizinha chavista , para variar no hall dos elevadores.
Ela estava fantasiada de "Triunfo Bolivariano" com aquele chapéu de dois bicos do Libertador das Américas, e um vestido balonê vermelho-caribe. Trazia nas mãos uma bandeira igual a essas das Escolas de Samba onde estava escrito "Hay que endurecer sin Viagra- Abajo los laboratórios multinacionales" . Junto com ela estavam seus companheiros da Pracinha, os aposentados brizolistas que faziam o papel de mestres-sala e ela claro, ia de Porta-Bandeira. Todos estavam muito contentes com as últimas vitórias do inconteste líder da esquerda latino-americana.
Mas desta vez, eu fui o culpado do que vem aí embaixo, no texto propriamente dito, pois puxei um papo que deu vazão à sua ira contra a atual novela das 8 (ou das 9? Não sei mais de nada nessa história de novela no horário de verão) Eu perguntei:
-Sabe quem eu vi outro dia no prédio de uns amigos, aqui perto?
-Nem tenho idéia, ela me respondeu,- Quem?
-Pois é , encontrei o Pereio num elevador que não estava funcionando muito bem. E ele estava fulo da vida com a falta de manutenção do condomínio. Eu, como conheço o prédio , disse a ele que era assim mesmo, mas que eu sabia como sair do elevador, caso acontecesse dele parar. Ele disse que não estava preocupado. (Como eu leio os jornais populares, sabia que ele tinha uma missão muito mais arriscada lá na Globo numa novela-favela-bairro). Depois conversamos generalidades sobre o funcionamento destas máquinas de elevar pessoas e móveis e ele foi lépido e fagueiro , acredito eu, rumo ao Projac, pois ainda não tinha invadido a Portelinha no papel de Lobato.
-Não deu tempo de me arrepender de ter iniciado esse lero com ela, e lá veio um discurso desconexo e delirante que tentei reter na memória para poder contar aqui.
-Aquela invasão da Portelinha foi uma das coisas mais mal encenadas da história do audiovisual mundial. (Ela disse isso como se fosse júri do festival de Havana)
- O Meireles (ela sempre fala dessas celebridades como se fossem íntimos ) criou o paradigma de filmagem de tiroteio em favela com "Cidade de Deus". O Meireles deu a chave , o mapa da mina e os caras não aprenderam. Aquilo da Portelinha, com Juvenal Antena de bazuca da segunda guerra mundial em punho , e funcionando ainda por cima, é coisa de chanchada da Atlântida, Oscarito não faria melhor.
Vamos e venhamos, isso não é esculachar, isso é tripudiar sobre os cadáveres dos tele-espectadores. Faltou tudo naquelas cenas. Falando nisso, onde anda o Agnaldo Silva? Tá em Lisboa ainda comendo aquela bacalhoada ao Zé do Pipo e lendo Eça de Queiroz? Ele precisa voltar rápido e tirar a novelinha do terreno baldio em que se meteu. Tá certo que Santo Agostinho disse “Inter faeces et urinam nascimur”, isto é, que nascemos entre fezes e urina, dada à geografia do corpo da "mamãe eu quero", na hora do nascimento do bebê, ainda mais se for de parto natural, mas essa novela tá exagerando na escatologia!
Outro dia foi o peixeiro, aquele malcheiroso rival do Antena que o Wolf Maia interpreta na uti possidetis da "gostosona" da Alzira, que no meio da vigília para ver se o Juvenal "antenava" a pobre senhora, teve uma súbita vontade de se aliviar e saiu daquele traste de Kombi que lhe serve de transporte e foi para o meio do mato com um rolo de papel higiênico na mão e voltou exibindo-o em primeiro plano, satisfeito da vida . Numa outra cena , uma ambulante que vende sucos e salgados numa bicicleta-quiosque também foi para o mato fazer o número 1 e nisso acaba descobrindo uma moça que foi atacada pelo "sufocador de piranhas". A tal, ex- programadora numa boate local estava desmaiada e toda rasgada entre sapos e dejetos num local chamado bucolicamente de "Brejolândia". E a coisa continuou noutro dia quando o personagem que Nuno Leal Maia interpreta (o Bebê) teve um ataque de prisão de ventre e fomos expostos aos seus ruídos intestinos e ventosidades abundantes. Pior que isso, ver como os seus companheiros da cena sentiram os odores fétidos dos vapores que emanaram daquelas convulsas entranhas.
Não contente, na sexta- feira passada (ou foi no sábado) o roteirista botou aquele sambista, Zé da Feira, se contorcendo todo no sofá com dores de barriga, e em seguida a correr para o banheiro donde ouvimos o grito de alívio, sugerindo que ele botou para fora suas apreensões num jato só. Para quem não se lembra, isso aconteceu no dia que ele tinha marcado para gravar aquele pagodinho chato que ele finge cantar. Pega leve!
Tentei falar que escatologia sempre foi um recurso do humor. Que é um caminho válido, etc e tal...
-Humor barato, de fim de feira. Ela me cortou, (aliás como sempre faz)
- Bota lá no seu grogue (ela nunca acerta falar blogue) que esse recurso é de quinta como dizem 9 entre 10 especialistas em etiqueta desse país sem modos.
O sonoro palavrão dito por um ator ou atriz do antigo teatro de revista, por si só fazia o público cair na gargalhada. Para ver que a coisa é antiga. Nem vamos entrar no terreno das mitologias , mesmo porque , ignorante sou dessa matéria, mas do pouco que sabemos , do fígado de Prometeu a um herói que nasce da barriga da perna de um Deus , vemos que a escatologia está na base do inconsciente coletivo e vai por aí...
-Essa novela está esculachando a Comunidade e ao mesmo tempo favelizando a nossa cultura audio-visual. Onde se viu , se aliviar no mato. Favela hoje tem banheiro com Jacuzzi e tudo!
Os aposentados brizolistas que jogam dominó na pracinha concordaram.
- Isso não acontece nem na coxilha! Adiantou um deles. O piá quando esta precisado usa a casinha.
Foi aí que o elevador chegou... e como não cabíamos todos lá, eu disse que iria em outro. Eles entraram com cuidado , protegendo a bandeira e a porta, digo a porta-bandeira e subiram. Não sei não, mas parece que ouvi as últimas palavras dela ecoando pelo poço do elevador e atingindo todo o prédio...Era uma coisa assim: "...ir ao Projac e mudar essa m... de novela". Mas poderia ser outra coisa, talvez eu ainda estivesse impressionado com esse papo escatológico e as imagens do bloco onde vi muita gente se aliviar nos muros e postes do caminho, mulheres inclusive se agachando sem a menor cerimônia no passeio, e sem pedir para o pessoal fazer com os corpos aquela barreira chamada "cortininha".
Pensei nos famosos banheiros-físico-químicos-quânticos. E na dificuldade de instalá-los em em toda cidade, pois agora tem bloco até em rua sem saída.Se essa seria a solução para evitar esse problema incivilizatório no próximo carnaval e pelo visto , na Portelinha também. Mas , como a cidade, parece que deixou de ser um território público para virar coisa "privada", creio que isso não é da competência do Prefeito e sim do Juvenal Antena da vez.

5 comentários:

TS disse...

Nooossa!
A vizinha reapareceu bufante entre o piriri e os puns? Umberto Eco não teria feito melhor ao falar da estética da feiúra (no caso, televisivo)

Qto à "cortininha", tive uma experiência infeliz (eu, não!, pra quem fiz a "cortina"); aconteceu em Botafogo, um dia eu conto.

Abração!

LIBERATI disse...

Beijão Tinê, a minha vizinha faladeira tá que tá!
Boa semana!

ze disse...

Meru, o centro do mundo Hindu, Monte Meru : daí veio a coxa (méros) de Zeus; R. Guenón fala como se fosse um trocadilho mitológico.

LIBERATI disse...

Valeu pela aula, meu caro Zé.
Um abraço

ze disse...

Grécia e Índia então, portanto, em suas culturas aproximam-se, o quê confirma a idéia que Globalização existe desde sempre, Oriente e Ocidente juntos.