8.3.08

Crônica da Tinê - Hodierno


Existem palavras que a gente ouve e repete, sem saber ao certo o significado ou apenas parte dele. Preguiça de ir ao "pai dos burros". Ao gostar da sonoridade da palavra, ou do seu efeito nas pessoas, lhe damos um outro sentido, de acordo com a situação. Alguém repete, acrescenta mais um tanto conforme o seu entendimento e passa adiante, de boca em boca, feito cédula de mão em mão, com acréscimos de desenhos safados, ditados, preces, rasgos com durex. Também acontece da palavra se repetir em cantochão para fins comerciais, seja por músico do pop, do forró, na tevê, e mesmo que você não curta pop, forrozão e despreze comercial, entra pelo ouvido, se entranha no subconsciente, se agrega ao repertório do ouvinte e um dia a palavra escapole da boca e volta à circulação verbal de todos.

Já tinha notado que "bacana" dos anos 50 retornou às bocas. Eu continuo a achar tudo "legal", e no interior ainda há quem ache tudo "joinha", só falta o "é uma brasa, mora?". Ary Barroso dizia que bochecha é uma palavra engraçada. À parte algumas bochechas com covinhas, não vejo graça na palavra em si. Caía na risada, sim, quando ouvia minha vó se referir à "espinhela caída". Já o "periclitante" eu achava que era alguma espécie de periquito cantante. Hoje, “bombar” não é “levar bomba” na escola. Usei muito “na rebimboca da parafuseta", mandei gente para a "tonga da mironga", embora naquela época não fizesse menor idéia do que era mas - como todos - "caía de bossa", só por causa da música. O que chamo no Rio de "papagaiado", em Minas digo "macaqueiro". Os significados ultrapassam rincões: desdobram-se ao longo de nossa existência enquanto usuários da língua. Por isso acho que bi-anualmente os dicionários deviam ser revisados através de fascículos avulsos para que pudéssemos atualizar nossa coleção de palavras. Seriam enviados "de grátis" pela Receita Federal...

Fazia estas explanações, sentada à mesa da "Engenhoca do Chuveiro". Se fosse casa de material elétrico, vá lá. Mas lanchonete?! A resposta é simples: quando montava o negócio, o dono levou um choque no chuveiro, ficou de cama, teve de adiar a inauguração. Além disso, o dono não queria estrangeirices, nada de "X-burg's", serviria o brasileiro "Buraco Quente". É. Ele estava certo, muito certo, certíssimo em seu argumento novelesco.

Então deixo de lado as literatices para ler algumas pérolas no provão do ENEM (avalia o estudante graduado superior) em terras capixabas; pincei três exemplos:

"As autoridades estão preocupadas com a ploleferação da pornofonografia na Internet."

"Não cei se o presidente está melhorando as insdiferenças sociais ou promovendo o sarneamento dos pobres. Me pré-ocupa o avanço regressivo da violência urbana."

"O nervo ótico transmite idéias luminosas para o cérebro."

Quem gosta de destrinchar palavra é acadêmico. Complicar para quê? Axo que vou ouvir um CD dos "Raimundos". Quanto ao mundo das idéias... é preciso muito quengo.

(Tinê Soares – 05/03/2008 - 17:20:28)

6 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Ficou maneiríssima a ilustra, fez bem em acrescentar a mulher, hoje é o dia delas: deixem-na falar!!!!

Grata, bom fds, continue com suas aulas de história: é bom refrescar os fatos.
Abração da T.

LIBERATI disse...

Querida Tinê, gostei muito de ilustrar tua crônica maneiríssima.
Feliz dia Internacional da Mulher.Nossa civilização aconteceu por causa delas, senão estaríamos ainda disputando campeonato de cuspe a distância. (não sei ainda se esse a leva crase ou não).
Beijo grandão

Anônimo disse...

Olá! Tdo bem?
Vivas e falas às mulheres!
Mas aos meninos tb... rs

Tinê, gosto de "cosquinha" e acho fronha uma palavrinha bem feinha... rs

Nossa, tudo no diminutivo! Q coisa mais mulherzinha... rs

bj
sara simões

TS disse...

Sarinha, tinha me esquecido da cosquinha! Já fronha e suflê, parecem palavras de sofrimento. Rsss

A luminosidade das ideias no nervo ótico foi verdade, viu? Bjs da T.

ze disse...

O Didi na TV outro dia falou pasando a máquina de retrato para um próximo, na mania dele de mudar as palavras: 'tire a pornografia' - tire a fotografia. Eu ri. Também aqui; serve de fonte para os humoristas. Bj.