21.4.08

Jacob Pinheiro Goldberg debate violência e lança livro sobre cinema



(Este artigo foi escrito por Jorge Sanglard e fala de dois eventos . Num Jacob Pinheiro Goldberg debate a violência urbana dia 24 de Abril às 19 horas no Auditório da OAB de Juiz de Fora na Avenida dos Andradas, 696 no Morro da Glória e no outro ele lança um livro - "Psicologia em Curta Metragem no mesmo dia e na mesma hora e no mesmo local- tudo isto está no referido artigo, mas não custa reforçar. A arte do cartaz do debate sobre violência é do meu amigo Jorge Arbach)

Jacob Pinheiro Goldberg
debate a violência urbana
e lança livro sobre o cinema

A fronteira é a pátria de Jacob Pinheiro Goldberg, a esquina, sua peregrinação. Ao transitar pela psicologia, literatura, cinema e direito, Goldberg amplia sua visão de mundo e lança um feixe de luz para a compreensão dos conflitos que marcam estes primeiros anos do Século XXI. Para o escritor e psicanalista, todo mundo constrói seu filme e ninguém consegue escapar do script, mesmo as pessoas sem nenhum tipo de contato com o cinema acabam criando e incorporando um personagem em seu dia-a-dia e produzem um roteiro, até sem querer. Afinal, a vida é presente divino, que não cabe em muito pouco, adverte o psicólogo.
Nascido em Juiz de Fora e radicado em São Paulo, há mais de cinco décadas, Jacob Pinheiro Goldberg é doutor em psicologia e vem colaborando regularmente com a Revista OAB-MG 4ª Subseção, onde tem instigado o debate de idéias e a reflexão. Seu novo livro, “Psicologia em Curta-metragem” (Editora Novo Conceito), que será lançado em Juiz de Fora na sede 4ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil – MG (Avenida dos Andradas 696), no dia 24 de abril, às 19 horas, é uma investida densa no universo do cinema. Segundo Sandra Magalhães, no prefácio da publicação, o autor, que é um cinéfilo por circunstâncias existenciais, exige do leitor que reescreva, na conformidade de seu tamanho, uma concepção de ser a partir do personagem. O livro tem lançamento marcado também em São Paulo, no dia 14 de maio, às 19 horas, na Livraria Cultura - Teatro Eva Herz - Conjunto Nacional- Avenida Paulista.
Depois de quase duas décadas sem voltar a Juiz de Fora, Goldberg aceitou o desafio do retorno à cidade natal para participar de uma conferência e um debate, com o lançamento da nova obra, ao lado da procuradora do Estado de São Paulo, Ana Sofia Schmidt de Oliveira, no Ciclo de Debates promovido pela 4ª Subseção da OAB-MG e pela Escola Superior de Advocacia (ESA), no dia 24 de abril. O tema da conferência é “Macro e Micro Violência no Brasil”, onde serão abordadas questões polêmicas como a proposta de redução da idade penal e o endurecimento das penas no país. Tanto Ana Sofia quanto Goldberg defendem que o que importa é o desenvolvimento de uma visão crítica diante de uma realidade complexa, e é fundamental rechaçar soluções simplistas como o aumento do rigor das punições, a redução da maioridade penal, a criminalização de novas condutas. Assim, o essencial é colocar-se, especialmente aquele que se ocupa do sistema como policial, advogado, juiz ou promotor, numa posição de maior humildade, incorporando a crença de que, se o sistema deixar de causar um mal maior do que aquele que pretende combater, já terá feito grande coisa.
O ser humano ainda não encontrou uma fórmula para driblar sua tendência à perversidade, enfatiza Goldberg. “É aquela espécie que tortura, mutila e mata, por prazer. O exercício diabólico do sado-masoquismo. A resposta está na alteridade, sublimação da finitude, única saída para o desespero do acaso, raiz da violência”. E esse dialógico se trava e destrava na palavra que raspa os idiomas, garante o psicanalista.
Na opinião de Sandra Magalhães, “em sua amplitude, Jacob Pinheiro Goldberg vem construindo uma teoria brasileira da psicologia, na melhor tradição da originalidade que captura no humano, a liberdade”. E complementa: “Aproprio-me das palavras de Gilberto Felisberto Vasconcellos que, em crítica publicada na Folha de S. Paulo, sobre o livro “Cultura da Agressividade”, a edição da tese de doutoramento em psicologia de Jacob Pinheiro Goldberg, o enquadra ‘à maneira dos novos filósofos franceses, que são os representantes do pós-modernismo’”.
“Psicologia em Curta-metragem” é apontado por Sandra Magalhães como um outro turn over na difícil e impressionante obra de Goldberg, visto como o psicólogo da poética. Difícil enquanto escrita e falada, dispersa e exilada, em conferências, artigos, no Brasil e no exterior, em um processo de turbilhão de um peregrino que, em torno de si mesmo, visita o Outro e o mundo com profunda militância social que já se incorporou à própria história de nossa cultura. Impressionante, porque levanta polêmica, contesta, raciocina e faz a apologia da desrazão, provocando a ira dos covardes de espírito, suscitando emoção no humano.
O livro traz uma análise comportamental de diversos filmes, diretores e atores de cinema, onde Goldberg analisa “Matrix”, “Os Pássaros”, “Disque M para Matar”, “Dois Filhos de Francisco”, “Cidade de Deus”, “O Segredo de Brokeback Mountain”, “Meu Nome Não é Johnny” e até “Tropa de Elite”. Sobre este último, o psicólogo afirma que o diretor fez no cinema o que Nelson Rodrigues fez na literatura. “Ele escreveu um ‘brasileiro’ sobre o Brasil, que ninguém escreve, ninguém filma, porque somos filhos de uma cultura que escamoteia para evadir-se. Uma sociedade que não se enxerga com medo da visão horrorosa que a ameaça. Brutalidade, violência, hipocrisia, tudo é tratado pelo viés do tabu, da falsa cordialidade. O indivíiduo diz não com um sorriso de sim”.
No dia 22 de abril, às 18h30, no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), da Universidade Federal de Juiz de Fora (rua Benjamin Constant, 790), Jacob Pinheiro Goldberg participa do projeto Diálogos Abertos, onde grava um depoimento e será entrevistado sobre sua trajetória entre Juiz de Fora e São Paulo.
Juiz de Fora é uma cidade que tem como marca a industrialização, na virada do século XIX para o XX e no início do XX, e ao longo do tempo acolheu muitos imigrantes. Assim, os pais de Jacob Pinheiro Goldberg escolheram as terras banhadas pelo Paraibuna para se fixarem no Brasil. A memória de Juiz de Fora, e da rua Halfeld, no coração da cidade, permeia diversos poemas escritos por Goldberg, que revela: “Na infância, viajei dezenas de vezes nos trens da Central do Brasil, entre minha cidade natal e São Paulo, a fim de visitar meus avós maternos...voltava saudoso da garoa, talvez ensaio para o fog”. O apito do trem foi o musical que acompanhou a saga do menino apelidado, Esquina, no percurso entre Minas e São Paulo. Estes poemas são fruto de um mergulho na infância e na adolescência vividas na pioneira e industrial Juiz de Fora, além de um resgate das lembranças familiares vislumbradas no mapa da Polônia.
Jacob Pinheiro Goldberg, Affonso Romano de Sant’Anna, Fernando Gabeira e Itamar Franco, entre tantos outros juizforanos, de nascimento ou adotados, estudaram no tradicional colégio metodista Granbery, uma referência educacional juizforana e mineira. O ar de mistério que certas cidades capturam, como Juiz de Fora, segundo Goldberg, remete ao absurdo que habita as almas e, sem lógica, exaspera e exige. Assim, o berço de Pedro Nava, Murilo Mendes e de Rubem Fonseca abriu caminho e/ou acolheu uma geração de novos e consagrados escritores e poetas – entre os quais, Luiz Ruffato, Iacyr Anderson Freitas, Edimilson de Almeida Pereira, Fernando Fiorese, Prisca Agustoni, Júlio Polidoro, José Santos, Eustáquio Gorgone, Sérgio Klein, Walter Sebastião, Fabrício Marques, Ronald Polito, Júlio Castañon Guimarães, Knorr, Ricardo Rizzo e o saudoso José Henrique da Cruz –, que vêm inserindo seus nomes e suas obras na constelação literária mineira e brasileira.
“Regina Przybycien, professora da Universidade do Paraná, ao analisar Magya Wygnania, (tradução polonesa de Henryk Siwierski, professor das Universidades de Cracóvia e Brasília, da antologia Mágica do Exílio, de Jacob Pinheiro Goldberg), adianta que se trata de um outsider, comparando-o a Tadeusz Rozewicz e a Carlos Drummond de Andrade”, declara Sandra Magalhães.
Somos todos e cada um, à sua maneira, prisioneiros do passado, assegura Goldberg. “No exercício diário da psicanálise, constato o atemporal e o inespacial do inconsciente. O que me aconteceu na infância está mais presente, nostálgico, dilacerante, do que o café da manhã”.
Na verdade, a escrita, para Jacob Pinheiro Goldberg, é o exercício balanceado entre a onipotência do criador e a impotência da fragilidade do ser. E, assim, a simbiose entre o irreal, a ficção e o acontecido é a maternidade no devir. “Psicologia em Curta-metragem” é mais um passo na trajetória de um autor que não teme o desafio de revirar o passado e de discutir o presente.
Jorge Sanglard é jornalista, pesquisador e organizador da antologia “Poesia em Movimento

3 comentários:

ze disse...

não confundir com o físico da USP que deu aumento aos professores universitários federais quando ministro da educação, Goldenberg. O Outro já aparece em Plato. Ho-je acho que o Outro é o Oriente e o Comunista, (tudo é do Povo, pelo Povo e para o Povo), a Revolução. O Oriente não 'domina' a natureza, nunca houve isto no Oriente, dominar a Natureza. Há união e comunhão com a Natura. Opinião.

TS disse...

O tema da violência é assunto sério.
Interessante debater sobre a violência (não apenas física) pautada no cinema.
Será que o Dr.Goldberg assistiu o filme de Lars Von Trier, "Dogville", onde "a “bondade” transforma-se em “perversidade”."?

Zé, desculpe-me, seja mais "específico" neste "oriente que não domina a natureza". Sua visão é meio "platônica"... melhor dizendo, idílica.

ze disse...

a violência é a competição. não há competição, 'chega de competição' teria dito Lula. pra quê competição? não precisamos de competição. a competição é ilusão.
Tinê, o Ocidente que inventou a história de dominar a natureza, basta ver o pensamento do séc. XIX, positivista mesmo. Esta forma de pensar ho-je está acabada - não há como dominar a natureza. em termos práticos o que se tem é acelerador de partículas e energia atômica.