13.5.08

Viagem ao engarrafamento do século


Cheguei ao Rio ontem de tarde, depois de uma desagradável passagem pela via Dutra a bordo de um ônibus onde arranjei lugar ao lado de um banheiro que foi se tornando fétido com o passar das horas e bafejava seu cheiro dos infernos a cada usuário que se arriscava a entrar naquele cubículo. Se você não quer ver, você bota uma venda nos olhos, uns óculos escuros, se não quer ouvir, bota uma rolha na orelha, ou um I-Pod, mas nariz não tem proteção. Você precisa respirar... Para piorar as condições ambientais, tive que aturar o som de um radinho que só tocava o batidão do créu e passageiros que insistiam em se desequilibrar quando passavam pela minha cadeira e me acordavam quando estava no melhor do sono que consegui mergulhar nessa encrenca. Minha fuga da hiper-realidade não deu certo. O "créu" me pareceu uma metáfora da situação a que eu e mais outros reféns estávamos metidos, ou melhor, sub-metidos. Voltava de Sampa, onde curti o dia das mães ao lado da minha que me deu muitos conselhos úteis e contou um pouco da sua história que guardarei para sempre na minha memória se Dr. Al Zheimer deixar, é claro!
Já disse a respeito de outras coisas que não como no prato em que cuspi. São Paulo está entre essas "coisas". Nasci lá, por acaso no bairro da Mooca. Minha mãe visitava uma tia minha que morava lá perto quando a cegonha chegou.Tenho parentes e amigos muito queridos que moram em Sampa , mas a cidade, não gosta de mim, tanto é que cheguei justamente no dia em que a megalópole enfrentou o maior engarrafamento da sua história (até aquela data, ou seja, a sexta-feira da semana passada- pode ser que se supere nos próximos dias).
O clima da rodoviária era , para variar, muito frio, digamos, gelado e a atmosfera perto das 17 horas da tarde, cinzenta, poluída e sombria. A marginal do Tietê parecia um rio de chumbo com faíscas dos milhões de faróis que iluminavam o triste caminho de volta para casa dos seus sofridos cidadãos que não merecem esse tratamento. O metrô estava cheio, quente, os vagões não tem ar-condicionado só uma ventilação que se concentra numas bocas no teto...:- Respire repóter! Você chegou na terra dos Bandeirantes...
Hoje vamos ficar por aqui, a cidade me reservava outras surpresas das quais falarei em outros posts.
(Até lá...)

6 comentários:

ze disse...

uma beleza de crônica pelo testemunho jornalístico que é. é pensar que todos os carros do engarrafamento estão sub-utilizados, todos. o engarrafamento é de vazio. a idéia é fingir, fugir do trabalho dentro da 'garrafa-mento', as pessoas descansam da exploração dentro do carro vazio. cai a máscara do trabalho. não há trabalho. as máquinas fazem tudo.tudo é ilusão. um abraço.

LIBERATI disse...

Meu caro Zé, Sampa sempre me inspira mas não dá para respirar. Faz muito tempo fui acometido por uma profunda tristeza ao olhar o cenário daquela rua que passa pela antiga Estação Sorocabana, hoje uma sala de música pós-moderna...achei que meu mundo não teria futuro ali, passei pela antiga Rodoviária toda empastilhada que ficava na Avenida Duque de Caxias e a tristeza me inundou ...me afoguei nas lágriamas que não derramei e pensei:- Preciso fugir daqui!
Grande abraço

ze disse...

Liberius, finges que és nômade - finges que vagas em gerações incontáveis de um lugar para outro. um judeu errante (precisamos comemorar os sessenta anos de Israel também, depois de dois mil anos reconstruído, corpo de XTO também, posto que rei de Judá e Israel). Abel, morto por Caim, era nômade e o Caim mesmo, sedentário. Outro dia também segurei choro passando pelo bairro da infância. 'panta rei'.

LIBERATI disse...

Somos todos nômades, ou melhor, o mundo é nômade, ele muda toda hora e nós ficamos de queixo caído...a Barbárie não terminou dominou o Império, cresceu nos seus domínios coloniais, invadiu a urbe e a periferia. No Rio centro é periferia.
Um abraço

Anônimo disse...

Que gente baixo-astral.

LIBERATI disse...

Querida Rosa, no fundo do poço está a esperança da água cristalina. Mas como dizia o Barão de Itaraté: "De onde nada se espera é que não sai nada mesmo."
Com essas e outras, te desejo um bom domingo, mas convenhamos não é bonito um engarrafamento, principalmente para alguém que está dentro da garrafa. O astral muda quando se encontra a saída. Amo e odeio Sampa, mas a ela sempre retorno e nela tenho amigos queridos como você.
bjs