
Acreditei um dia ter cunhado uma boa frase e logo tratei de usá-la, temeroso
de que alguém lançasse mão dela: ''O pior ladrão é aquele que rouba o seu tempo''.
O bacana é que ela estimula um debate acerca da qualidade das preciosas
horas que perdemos diante da TV. Mas hoje gostaria de falar de um assunto mais ameno: a nobre arte de se apropriar do alheio, que teve sua época de ouro (roubado, é claro) e inclusive uma obra a ela dedicada: A arte de furtar, dada como escrita pelo Padre Vieira, mas parece que perpetrada por um anônimo sacana do século 18. Porém, não nos enganemos, não se trata de um manual de instruções. É uma obra crítica que pretende moralizar a sociedade.
Tenho a ligeira impressão de que sempre se afanou nesse mundo. O pensador Proudhon (1809-1865) chegou a afirmar que apropriedade em si já é um roubo.
Está nas páginas dos matutinos, nos telejornais, nas ondas da rádio:
rouba-se de montão aqui nesse acampamento chamado Brasil. Mas sem nenhuma preocupação estética, habilidade ou, como queiram, virtuosismo. Ao contrário, toma-se o que é dos outros com imensa violência, tanto por baixo como por cima.
Na verdade, essa crônica começou quando encontrei de novo aquela minha
vizinha que me acha com cara de guichê de informações. (quero esclarecer que não é a minha vizinha chavista, é outra mais velhinha que sempre me faz perguntas incômodas). Foi no elevador que ela me perguntou: ''De onde sai tanto ladrão?''. Disse que tinha saudades da época de Amleto Gino Meneghetti. ''Aquilo sim era um ladrão de respeito!''. Ele assustava os ricos de São Paulo do começo do século. Assaltava suas mansões se deslocando pelos telhados como um personagem de um romance.
Entrou para a história da gatunagem pela porta dos fundos, é claro, bem de acordo com seu estilo. Foi uma espécie de Robin Hood carcamano, uma lenda. Na verdade roubava pra ele mesmo, mas ficou a fama romântica. No fim da década de 70, acredita-se, foi pilhado enquanto arquitetava um último grande golpe.
Arrisquei dizer: ''A morte o assaltou primeiro''. Não tive nem tempo de
divagar, e a vizinha logo atacou com outra questão: ''Você sabia que o Houaiss (ela se refere aos autores de dicionários com muita intimidade) tem 60 sinônimos para a palavra larápio?''.
Em seguida, tirou do bolso uma cadernetinha e mostrou uma lista onde estava escrito: abafador, aganhador, agafanhador,
cafunge, camafonge, capiango, capoeiro, carteirista, carteiro (ôpa!),
descuidista, escamoteador, furtador, gaipilha, gateador, gato,
gatuno, ladranete, ladranzana, ladrão, ladravão, ladravaz, ladrilho,
ladrisco, ladro, ladroaço, ladronaço, lança, lanceiro, lapim,
lapina, lapinante, lascarino, malandéu, malandréu, malandim, malandrino,
malandro, manata, milhafre, olhapim, olharpo,
pandilheiro, pilha, pilhante, pilharete, pilho, pivete, pexelingue,
pula-ventana, punga, punguista, puxador, rapinador, rapinante,
ratazana, rato, ratoneiro, roubador, trombadinha, ventanista.
Mal tive tempo de respirar, ela metralhou meus pobres neurônios: ''O Aurélio é bem mais econômico nesse aspecto. De qualquer forma, estamos bem servidos, você não acha?''.
Me furtei de responder. Posso dizer que perdi a fala. Perdi, playboy!
2 comentários:
IHS na Crux entre os Ladrões : ao Bom disse, 'Ainda ho-je [sexta-feira então portanto] estarás comigo no Pardes.' IHS XTO tido como Ladro. Os Profetas são desde sempre tratados como Bandidos. O Mal é o vil metal. Boa Vizinhança.
Símbolos são fortes , marcam o tempo e ele é tão veloz ,mas os símbolos ficam, Cristo entre dois ladrões um bom e o outro de má fama. Soltaram Barrabás que era do contra só que era violento. A história se repete e na repetição está a história.
Falou Zé, a ladroagem é A.C e D.C
um abraço
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