13.7.08

A wop bop a loo bop a lop bam boom


Hoje se comemora o dia mundial do rock. Que coisa mais careta né!? Mas é isso aí, um ritmo que começou quebrando cinemas e descendo a rua Augusta a 120 por hora acabou conquistando um dia no calendário para apagar mais uma velinha. E os dinossauros continuam na estrada: cabelos longos, alguns pintados, quando não brancos e ainda outros carecas e desdentados.Outro dia me surpreendi ao encontrar uma banda que eu adorava, o Grand Funk Railroad, que é um tremendo conjunto de rock. O Grand Funk que parecia ter sumido, teve uma edição nova que andou pintando nas raras casas de CDs. Como esqueceram desses caras fabulosos? Mas não é isso que eu queria falar, na verdade vou publicar uma parte de uma velha "anacrônica" em que falei sobre a face oculta do rock. Aumenta o rádio que isso também é roquenrol!
Essa coisa de ver o rock com somente símbolo da rebeldia, associado ao sexo e às drogas (a desordem dos fatores não altera o produto)não está com nada.
Não se pode equecer que o rock velho de guerra tem lá o seu lado família. Claro que não estou falando da família Osbourne. Antigamente, a gente pensava em roqueiro e já vinha aquela imagem de um defunto que passou desta para melhor por exagerar no uso de alteradores de consciência. Lembra do Cazuza? Então, o falecido e talentoso poeta, em sua época já gritava nos circos voadores da vida que seus heróis tinham morrido de overdose. A lista de baixas no front do rock é grande (lembrar que também existe o front do jazz), Vamos ficar só nos casos mais rumorosos. Brian Jones (dos Stones),apagou em circunstâncias misteriosas, aos 27 anos na sua piscina. Disseram que era por causa do consumo além da conta de tóxicos que o levaram a ter um ataque cardíaco (recentemente alguém se apresentou como seu assassino (existe até um filme sobre esse caso).
Jim Morrison que viajava sem sair de casa, também morreu dentro d’água, numa banheira em Paris e até hoje perturba o sono dos habitantes do cemitério Père Lachaise. Janis Joplin sucumbiu num vale de heroína. Jimmi Hendrix não morreu de overdose, como dizem as más línguas, mas asfixiado no próprio vômito pois tinha tomado remédio para dormir misturado com álcool.Kurt Kobain se matou com um tiro, mas era viciado em heroína e isso tem a ver com seu triste e solitário final, e seu mundo era só asfixia.
Mas o rock também possui o seu lado solar, aquele que salvou vidas.
Quando a gente começa a ter que escrever ou criar uma coisa cotidianamente, principia também a ver relações que antes ficariam inertes opacas, começa a pensar o mundo e fuçar coincidências...
Faz um certo tempo, li num livro sofrido de Mikal Gilmore, "Tiro no coração", que os Beatles tinham aberto para ele "uma porta para o futuro do qual minha família não tinha condições de participar". É preciso dizer que Mikal é um sobrevivente de uma família em decomposição. É irmão do famoso Gary Gilmore, o assassino estranhíssimo, que conseguiu transformar sua condenação à morte no estado de Utah, nos anos 70, num espetáculo que ele conduziu até sua execução por um pelotão de fuzilamento no dia 17 de Janeiro de 1977. A crônica de seu sombrio caminhar entrou para a história do “novo” jornalismo americano em "A canção do carrasco" de Norman Mailer. O jovem Mikal através do rock, consegue pular fora da triste saga de sua família marcada pela morte e sofrimento. Diz ele:-"Curiosamente o rock'nroll acabaria sendo de maior valia para mim ao longo dos anos e cumpriria a função de iluminar o novo quadro do paraíso perdido e reencontrado..."
Sua história familiar é muito singular,porém revela algo da chamada “América profunda”, o entorno da “wasteland”.
Em lugar do sonho, da terra das oportunidades, o pesadelo, o vazio, o horror. Só lendo o livro de Mikal para se ter idéia das dimensões dessa tragédia. Seu relato se incia desta maneira: “Um a um eu os vi morrer, todos eles. Primeiro meu pai. Depois meus irmãos Gaylen e Gary. Finalmente minha mãe, uma mulher amarga e devastada. No fim havia apenas eu, o caçula, e meu irmão Frank, o primogênito. Então um dia, quando a dor da história da família se tornou intense demais para suportar, Frank simplesmente mergulhou em um mundo de sombras…”
Mikal foi salvo pelo rock de forma muito objetiva também: Nele encontrou um emprego- o de crítico e colaborador da revista “Rolling Stone.
Num cenário diverso, econtramos outro exemplo da função redentora do rock. Numa noite antiga de reprises , revi uma entrevista de José Dumont no programa do Jô. Lá pelas tantas ele fez uma revelação que cruza com o despertar de Mikal: a de que os Beatles(de novo os fab four), e particularmente uma canção que não me recordo o nome, mas acho que foi “Let it be”, fez a sua cabeça. Dumont disse que ao ouvir os rapazes de Liverpool teve um estalo, foi apanhado pelo desejo de viver aquilo que ele sentia que estava naquela canção. Em outras palavras, ele queria aquilo que emanava daquele som, o mundo que aquela música representava.Nesse momento, encontra estímulo para sair de sua cidade (Belém de Caiçara, na Paraíba) e se lançar no mundo à procura daquela abstração de uma vida de possibilidades infinitas de realização…Let it be…
O resultado é esse ator magnífico que apareceu em “Gaijin”
, em “O Homem que virou suco”, “A Hora da Estrela”, entre outros, sem esquecer “Abril despedaçado” e “Os narradores de Javé” Neste último ele faz um papel cômico, revela toda sua criatividade nos cacos que o transformaram em co-autor do filme, segundo sua diretora, Eliane Caffé.
O rock que teve sua fase de má fama, mas não apenas serviu para canalizar as energias destrutivas de uma geração, ou de playboys que dirigiam a 120 km por hora nas ruas augustas da vida. Dois jovens , em momentos decisivos, viram no rock a magia que transformou suas vidas.

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