7.10.08

Glauber baixou no Municipal na Ordem do Mérito Cultural


Fui convidado para ir assistir a um evento "federal": a entrega da Ordem do Mérito Cultural 2008 - (décima quarta edição do prêmio- este ano, em homenagem a Machado de Assis) No convite estava escrito que o presidente Lula estaria presente. Fiquei animado, mas achei que a coisa ia ser chata, muito "oficial" etc e tal, mas como tenho vontade de ver o nosso presidente de perto, e com o intuito de fazer uma reportagem para agitar o blogue, parti a caráter - com uma belo blazer e uma camisa impecável e uma vistosa gravata (viu Ze). Lá encontrei minha amiga Regina Zappa o que tornou tudo mais interessante.
A imprensa tupiniquim toda presente, orquestra afinada, gente saindo pelo ladrão, e o presidente não veio - o tempo estava ruim e a segurança segurou o homem no solo pois não queria que ele dessse uma de Ulisses Guimarães .
Mas, a festividade foi bacana, mesmo sem a presença do Presidente. A começar pela divertida apresentação de Sérgio Mamberti e Camila Pitanga (muito antenada, com muita graça ajudou no cerimonial que estava meio atrapalhado).
Elza Soares abriu evento e o vozeirão ao cantar a capella o Hino Nacional. Emocionante!
É, a palavra que define o que aconteceu naquele palco hoje é emocionante.
Contribuiu para isso a presença de Mercedes Sosa - um mito que vi no Maracanãzinho faz muito tempo. Ela está com 73 anos, caminha com dificuldade, mas cantou feito uma menina. Cantou Gracias a La Vida (da chilena Violeta Parra) e encantou o Municipal.
Grandes figuras da nossa cultura foram agraciadas hoje. Destaco alguns: Anselmo Duarte (aplaudidíssimo -grande diretor injustiçado do nosso cinema mesmo depois de ter conquistado a Palma de Ouro em Cannes com "O Pagador de Promessas"), o grande ator deste filme e de outros, Leonardo Villar.

E num determinado momento pareceu que o espírito de Glauber Rocha baixou no palco, na voz potente do cantador Bule Bule, na performance de Efigênia Ramos Rolim, uma senhora que faz maravilhas com papel de bala e outras quinquilharias, ela deu uma meia cambalhota no palco toda enfeitada de papel colorido. Aí veio o talentosíssimo e também injustiçado Sergio Ricardo (preciso escrever algo sobre ele num outro dia) que botou definitivamente Deus e o Diabo para dançar alí no meio da cerimônia com seus filhos cantando as músicas que fez para o filme de Glauber. Mas o negócio não parou aí, uma senhora pernambucana de mais de 80 anos, Zabe da Loca,(que morou 25 anos numa gruta) tocou seu pífano com um conjunto todo vestido de branco - surgiram no meio da penumbra e chegaram no meio do palco com uma luz que mais parecia a da caatinga - era Glauber na veia - mais a pintura "Os retirantes" de Portinari (também homenageado na "Ordem do Mérito"- quase que eu vi Zé Lins e Graciliano Ramos alí aplaundindo... E teve( fora do programa) a homenagem à alemã Judith Malina que saltou ao vivo do Living Theatre( que fez com o falecido Julian Beck na década - o "Living"foi fundado em 1947 e incomodou a "dietadura" por aqui nos anos 70- o grupo chegou a ser preso e acho que deportado) para o Municipal Theatre ... inesquecível foi também hip hop que botou pra quebrar na figura cabeluda de Nelson Triunfo - este, com um pessoal da pesada e seu filhinho, um garoto sapeca, dançou e comandou o baticum que espantou a platéia.
Rui Guerra também recebeu o prêmio, assim como o pessoal da bossa-nova - Johnny Alf (que não compareceu - outro injustiçado), Carlos Lyra e da MPB na figura circunspecta de Edu Lobo.Teve também a viola iluminada de Roberto Corrêa que botou pra correr um Trem Caipira do mestre Villas pra neguim nenhum botá defeito.

Agora vou botar o nome dos outros agraciados em ordem alfabética , pois esse texto tá ficando muito longo.
O índio Ailton Krenak, Altemar Dutra (in memoriam), Athos Bulcão (in momoriam), Benedito Ruy Barbosa, Claudia Andujar, Dulcina de Moraes (in memoriam), Emanoel Araujo, Eva Todor, Goiandira do Couto, Gimarães Rosa (in memoriam), Hans Joachim Koellreutter (in memoriam), João Cândido Portinari, Marcantonio Vilaça (in memoriam), Maria Bonomi, Marlene, Milton Hatoum, Orlando Miranda, Otávio Afonso (in memoriam), Paulo Emilio Salles Gomes (in memoriam), Paulo Moura, Pixinguinha (in memoriam), Tatiana Belinky, Teresa Aguiar e Vicente Salles.
Grupos que se destacaram por trabalhos na área da cultura também foram agraciados - são eles: Associação Ashaninka do Rio Amônia - Apiwtxa, Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Trevestis e Transexuais- ABGLT, Associação Brasileira de Imprensa, Associação Comunidade Yuba, Centro Cultural Piollin, Coletivo Nacional de Cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Giramundo Teatro de Bonecos, Instituto Baccarelli, Mestres da Guitarrada, Música no Museu e Quasar Cia de Dança.
Espero ansiosamente o convite para o o prêmio de 2009.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pelo número de "mortos" homenageados se avalia bem a quantas anda a cultura brasileira.Ou a falta de informação sobre a contemporaneidade dos jurados.

LIBERATI disse...

Querida Rosa, acho que no caso, o pessoal resolveu homenagear com a "ordem do mérito", gente que tinha sido esquecida nas edições anteriores. O que se notou nesta edição é que enfim o povo em sua variada representação está sendo agracidado. Se tem uma coisa que está viva é a cultura brasileira. O problema é que a mídia só privilegia uns, outros ficam na chamado "local".
bjs

ze disse...

gostei de saber no JB ho-je que Sosa é uma legítima índia argentina: estes também quase acabaram com seus índios - há que se ter orgulho da cultura indígena. Há muita gente no mundo e para a mídia homenagear todos é impossível. Tremenda festa, hein! felicidades.