25.10.08

Minha vizinha chavista tasca o olho na eleição americana


Desta vez fui eu quem foi cutucar a cobra com
vara curta.

O pressentimento

Levantei com um pressentimento de que algo ruim iria ocorrer no mundo. Não, não pensei na crise financeira - ela já está a todo vapor derrubando bolsas, encarecendo
certas coisas, desvalorizando outras- o estrago já está feito. O ministro Meirelles pediu para parar de fazer piadas, que a coisa é séria. A coisa é séria faz muito tempo e se os Estados não fizeram leis para conter a jogatina, é de se perguntar, quem estava fazendo piada antes do caos.

Na verdade o que me afligia era algo relacionado à confiança, à esperança do povo desse planeta tomar um pouco de vergonha na cara. Então fui até a pracinha do dominó (dominada pelos velhinhos brizolistas) onde minha vizinha chavista tem uma certa liderança . Ela tem carisma , muitas opiniões formadas e nem imagino onde caça essas sentenças que espalha em seus julgamentos radicais.

Fui lá perguntar ao conselho da Praça se vai dar Obama ou MacCain.

Visión Chavista

Ela partiu para o ataque: - "Você sabia que bastou a Hillary ( ela sempre chama as celebridades pelo primeiro nome, na maior intimidade) sair fora da competição que a coisa está feia para os machos, tanto para o democrata como para o republicano. Eles querem pegar o voto das mulheres. O Sanduíche (é assim que ela chama MacCain) logo botou aquela morena do barulho da Palin do lado dele, é da direitona mas é mulher. Já o Obama é simpaticão, tem boa figura e tenta seduzir a mulherada ao som de Marvin Gaye. Você sabia que hoje o eleitorado feminino é maior que o masculino na terra de Malboro? Elas vão ser decisivas nesse pleito".
-Quer dizer que precisa ter "pleito"? (tentei brincar)
-"Pleito" e alguns atributos a mais." ( disse ela, de forma cortante, bem ao seu estilo navalha na carne)
E aí começou um discurso que eu acompanhei embaixo de um sol de derreter estádios de futebol:
-"Não quero jogar água fria no entusiasmo daqueles que admiram Obama e acreditam que ele será eleito o presidente dos Estados Unidos da América."
Ela disse e me deixou de queixo caído.
Continuou:- "O mundo de vez em quando sonha com o melhor e sua atmosfera se torna mais respirável. Embora ele tenha desancado o Chávez, eu também torço por Obama. Mas, me pergunto se agora é a hora dele mesmo. A situação é delicada e complexa em demasia, e o cenário comporta várias questões não resolvidas e novos problemas que surgindo a toda hora".

Obama & a mudança

Aí eu disse: - É mesmo, a eleição de Obama seria , de fato, um marco memorável, uma mudança radical no Império - na visão de alguns humoristas, talvez comparável à escolha de um cristão para governar Roma de Julio César. Não se pode esquecer que o cristanianismo se impôs a partir das bases vindas do sistema escravista na época de decandência de Roma. Pode-se dizer o mesmo dos Estados Unidos?
Ela respondeu: -"Olha, meu filho, existe gente que aposta que sim, principalmente tendo em vista o espetáculo da crise financeira global que explodiu a partir do coração do capital. Esta é uma visão míope do problema que tem como apoio um visível desgaste da (má) administração dos republicanos. Até o Greespan andou batendo no peito num "mea culpa" meio atrasado nesta semana. A questão é mais complexa. Não cabe aqui na pracinha, uma análise de como se estruturou a bolha que explodiu no "banco imobiliário" americano e contaminou o sistema financeiro global. Este último, um cassino sem regras, um mercado que agora, como um menino levado que quebrou a vidraça se socorre no seio do papai Estado, um velho sempre criticado como um invasor, um obstáculo à realização dos seus negócios libidinais".
Ela confessou: - "Não tenho competência em matéria de conhecimento de economia para embromar você quanto à profundiade e natureza dessa crise. Arrisco aqui um palpite em matéria de política, uma intuição , uma hipótese sem muita base, mas acho que você vai me dar razão.
O mundo se transformaria num lugar melhor com a eleição de um negro hoje nos EUA. Seria uma demonstração civilizatória - uma espetacular aceitação da igualdade.
Porém todos os analistas políticos, que em geral falham, devem ter um fator x que colocam ao lado das estatísticas, que de acordo com as últimas pesquisas dão alguns pontos de vantagem ao candidato democrata. O tal fator x , a incógnita tem um nome - chama-se racismo - que não se pode negar, é uma característica básica na formação da sociedade norte-americana - legado da escravidão- uma chaga viva ainda hoje, apesar de um grande avanço no que diz respeito aos direitos civis".

Sociologia de botequim

Aí eu entrei com minha sapiência de sociologia de botequim:- Outro componente da equação, não mais como incógnita, é o tamanho do que se chama de América profunda, território do conservadorismo. Acredito que essas pesquisas otimistas que dão vantagem a Obama, pegam bem a superfície - não sei se abragem além do eleitorado citadino, com certa escolaridade, ou atingem os guetos. Uma série de dúvidas estão nos encaixes desta equação. Existe afinal um americano médio? Para onde irão os votos dos hispânicos que como se sabe não se aliam totalmente aos negros. Sabe-se que é uma coisa complicada transferir votos. Será que os votos de Hillary Clinton irão direto para Obama? E não podemos esquecer o maledetto colégio eleitoral, o mesmo que elegeu Bush, mesmo com o democrata ganhando no voto popular.
A questão é :-Existiria uma gradação no racismo? Creio que sim, desde o que quer simplesmente a eliminação dos negros, passando por sua mera não aceitação não violenta, até aqueles que delimitam uma área de atuação onde o negro é tolerado. Tem que se considerar também o que se chama de racismo disfarçado- ou seja: da boca para fora o sujeito aceita o diferente, mas na hora H, no conforto do momento secreto o sujeito expressa sua convição profunda contrária a ele. Tem que se considerar que o racismo não é apenas um sentimento, trata-se de uma cultura que tem fundas raízes no passado. Não faz muito tempo que Rosa Parks - uma corajosa costureira negra nascida no Alabama não cedeu seu lugar a um branco num ônibus "segregado". Isso foi no final do ano de 1955. Fazendo as contas são mais ou menos 53 anos que este fato ocorreu. É um eleitor adulto de meia idade que só soube do acontecido mais ou menos aos 18 anos, se é que soube, há 35 anos atrás.

O homem que veio cedo demais

Ela cortou:-" Talvez Obama tenha aparecido cedo demais na cena americana. Como disse o pastor Martin Luther King, ele teve um sonho, vamos torcer para que a distância do sonho para a realidade tenha diminuido nos últimos 50 anos. A crise aparentemente o ajuda, porém pode acontecer o contrário - o temor de uma mudança tão radical diante de um momento crítico pode levar o eleitorado a votar de forma conservadora. Por que vou votar num programa que não conheço? Não seria melhor apostar naquele que está mais inteirado dos males de sua administração?"
Esta é uma eleição de perdas e ganhos consideráveis. De qualquer forma, caso seja eleito, Obama terá desencadeado um processo, uma luta mesmo, de proporções ainda não calculadas. Não será nada fácil trabalhar com uma oposição ferrenha. Ele nem vai lembrar do Chávez, he he he..."


E se MacCain vencer?


Eu aproveitei e botei água na fervura: A hipótese de dar MacCain, é evidente que desencantará o mundo , mas não seria estranho a ele( digo ao mundo). Um mundo brutal, no qual campeou o neoliberalismo excluindo grandes parcelas da população mundial de participacão nos ganhos econômicos e provocando graves problemas sociais, Cabe também perguntar se ele- filiado ao um partido tão míope e troglodita em matéria de política externa (chefiado pelos chamados falcões) e minado por estranhas relações com grandes corporações (e o já bastante denuncidado complexo industrial militar), estaria preparado para enfrentar a pior crise do sistema capitalista que só mostrou a ponta do Iceberg. E além disso, como ele irá readquirir a confiança que hoje está em baixa na socidade americana?

O sonho americano

Ela emendou: -"Nunca se esteve tão longe do sonho americano. O futuro nunca foi tão incerto. Bota isso no seu "grogue" (ela não consegue dizer blogue e nem está interessanda nisso)
Os velhinhos brizolistas que até então permanciam calados como diante de um altar de igreja de interior, aplaudiram de pé.
Sai da pracinha mais confuso do que cheguei, com a sensação de que estou concordando muito com ela e estamos sempre no poço do óbvio ululante. Minha mulher me disse que ela está fazendo a minha cabeça. Será?

3 comentários:

ze disse...

Barac's peace : dream of democracy. Give your vote to health. And faith.
Barac é o sonho americano. é o sonho de democracia. não há nada de sério na bolha explodida: usura é crime. ganhar dinheiro com especulação é crime. a gravata é criminosa. precisamos arrancar a gravata do protocolo do Congresso. a liberdade é a liberdade de vestir.

LIBERATI disse...

Li hoje na Web: O mundo elegeria Obama tranquilamente.
grande abraço

ze disse...

Oba, Oba, Obama.
Oba, Oba, Obama.