5.11.08

Análise sombria e precisa


(Tudo bem, o mundo respirou melhor hoje ao saber da vitória de Obama nas eleições dos EUA. Realmente, parece que as coisas estão em processo de mudança, mas não podemos esquecer que o mundo real continua o mesmo, sujeito às tempestades e furacões sociais.
O jornalista Jorge Sanglard(*), atento a isso, escreveu um artigo esclarecedor na página de opinião do jornal Tribuna de Minas- que reproduzimos aqui neste blogue
)
Em abril, ao analisar para o jornal português "O Primeiro de Janeiro" o livro “Globalização, democracia e terrorismo”, do respeitado historiador Eric Hobsbawm, que acabava de ser lançado em Portugal e no Brasil, procurei destacar que os ensaios lançavam um feixe de luz para a compreensão da conjuntura internacional. Ao explicar porque estes primeiros anos do novo século já ofereciam um quadro sombrio, ou mesmo sinistro, para grande parte dos que vivem de salários provenientes dos seus empregos nos velhos “países desenvolvidos”, o ensaísta afirmava que essa situação não antecipava a possibilidade de uma era de estabilidade política e social. Hobsbawm vislumbrava ser remota a perspectiva de um século de paz e, enfático, também afirmou: “A era dos impérios está morta. Teremos de encontrar outras maneiras de organizar o mundo globalizado do século XXI”.
Em maio, em entrevista ao jornalista Marcello Musto, da revista espanhola "Sin Permiso", que ganhou tradução no Brasil e foi publicada pela Agência Carta Maior, Hobsbawm antecipava o risco de uma grande depressão econômica nos EUA e assegurava que um fracasso da política de livre mercado global descontrolado, ilimitado e desregulado obrigaria o Governo norte-americano a adotar ações públicas esquecidas desde os anos 30.
Assim, poucos meses antes da grave crise que vem devastando a base da auto-regulação do mercado financeiro internacional, o renomado historiador afirmava que o maior erro dos ideólogos neoliberais, a partir de 1989, foi pregar que o capitalismo liberal havia triunfado para sempre, que a história tinha chegado ao fim ou que qualquer sistema de relações humanas poderia ser definitivo para todo o sempre.
Eric Hobsbawm afirmou com todas as letras: “A globalização existe e, salvo um colapso da sociedade humana, é irreversível. Marx reconheceu isso como um fato e, como um internacionalista, deu as boas vindas, teoricamente. O que ele criticou e o que nós devemos criticar é o tipo de globalização produzida pelo capitalismo”. Segundo o historiador, Marx previu 150 anos antes a natureza da economia mundial no início do século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”. E não é surpreendente que os capitalistas inteligentes, especialmente no setor financeiro globalizado, fiquem impressionados com a atualidade de Marx, já que eles são necessariamente mais conscientes que outros sobre a natureza e as instabilidades da economia capitalista na qual eles operam.
Hobsbawm reconhece que “há um indiscutível renascimento do interesse público por Marx no mundo capitalista, com exceção, provavelmente, dos novos membros da União Européia, do leste europeu. Este renascimento foi provavelmente acelerado pelo fato de que o 150° aniversário da publicação do Manifesto coincidiu com uma crise econômica internacional particularmente dramática e em um período de uma ultra-rápida globalização do livre mercado”.
As reflexões do historiador no novo livro focalizam cinco conjuntos de temas que requerem “um pensamento claro e bem-informado”: a questão genérica da guerra e da paz no século XXI, o passado e o futuro dos impérios globais, a natureza e o contexto cambiante do nacionalismo, o futuro da democracia liberal e a questão da violência política e do terror. Tudo isso “num cenário mundial dominado por dois desenvolvimentos correlatos: a aceleração enorme e contínua da capacidade da espécie humana de modificar o planeta por meio da tecnologia e da atividade econômica e a globalização”.
(*) Jorge Sanglard é jornalista e pesquisador

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