7.12.08
Croniqueta: El diablo, El diablo, El diablo......
Tenho uma tese, boba eu sei, de que o ser humano é atraido pela repetição. Mas quando se trata de repetição sonora e quando ela passa de um certo limite - que não se pode quantificar- provoca reações de violência assassina. O que me leva a uma outra conclusão filosófica (muito apressada e acredito que já creditada a outros) de que o inferno é repetição.
Explico: Em meados da década de 70, uma notícia no rádio me deixou boquiaberto. Ela dizia que um homem, num bar do México botou para tocar numa juke-box uma música que fazia muito sucesso e tocava toda hora, em todos os lugares. Era uma canção de Leo Chiosso, Giancarlo Del Re e Gianni Ferrio, cantada por Mina acompanhada por uma recitação de Alberto Lupo (ou foi Dalida com recitação de Alain Delon?) chamada "Parole, parole" cuja letra ia num crescendo, dos queixumes ao lamento e por fim uma reclamação escancarada de uma mulher contra um homem sedutor que dizia palavras sedosas ciciando no ouvido da moça cansada de enrolação. Acontece que num determinado momento, a canção entra numa repetição da palavra "parole" (que quer dizer palavras) quase ao infinito. Enfim, a mulher queria dizer para o sedutor parar de tentar levá-la no bico. E foi aí que entrou o diabo na história. Mal terminou a música, e lá foi o homem colocar novamente o disco com aquela maldita repetição :
"Parole, parole, parole
Parole, parole, parole
Parole, parole, parole
Parole, parole soltanto parole
Parole tra noi"
Mas esta ainda não foi a gota d´água na tequila de um outro homem, que até então, se mantinha calado,aparentemente alheio à situação. O caldo entornou mesmo quando o fã de Mina (ou de Dalida) colocou a música pela quarta vez para tocar. O caladão se levantou lentamente , se aproximou do repetitivo rapaz - sacou um revólver e o descarregou no pobre. Não me lembro se ele também abateu a juke-box.
Essa notícia curiosa, por algum motivo que desconheço foi parar no arquivo das inutilidades na minha memória. Essa gaveta atulhada de bobagens e cheia de teias de aranha foi aberta recentemente para entrar uma nova pasta com uma notícia de última hora da Malásia(na cidade de Sandakan- ilha de Bornéu). Relatava um fato que aconteceu na semana passada:a triste história de Abdul Sani Doli, de 23 anos que foi esfaqueado e morto porque se recusou a abandonar o palco e largar o microfone de um bar de karaokê. Dizem os frequentadores do boteco que ele já havia cantado algumas canções - não precisaram o número- mas deu para imaginar que ele passou do limite fatal . Neste caso, a repetição não era da música, mas do cantor. Não custa repetir, em todo caso, era repetição sonora. Olha o diabo de novo nas entrelinhas.
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2 comentários:
Entre "caramelles, bonbons et chocolats", o início até que tinha um balanço legal; agora imagina o seu "El Diablo" na canção ISABELLE, com Charles Aznavour!
Alguém gravou para a namorada chamada Isabelle esta música numa fita inteira, repetida no lado B (naquele tempo, K7): desconfio o motivo do fim do namoro...
Pelo menos o "FEMME", cantado por Adamo, tinha uma letra bem feita, poética, "avec un F de fatalité".
Querida Tinê, não me lembro desta canção Isabelle, me lembro de Femme, mas se as repetições provocam fúrias assassinas, as variações parecem provocar sono como as "Variações Goldberg" feitas por Bach para adormecer um insone duque. Usei muito estas "Variações" para conseguir dormir no meio das obras dos meus vizinhos.
bjs
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