16.12.08
Vicky Cristina Barcelona e o caráter "espanhol"
Ir ao cinema, em geral, é uma coisa prazerosa. Claro que depende do filme ser bom ou cacete. Mas, essa viagem no escurinho pode se transformar num verdadeiro trem fantasma e ser muito aborrecida, dependendo de quem senta ao seu lado. No caso de você se encontrar no meio de duas criaturas sem semancol, que insistem em fazer comentários sobre as coisas que conheceram, ou não, do local onde se passa o filme - isso se torna um martírio. Foi o que aconteceu comigo e minha mulher no filme Vicky Cristina Barcelona. Coincidências existem, não é ficção: E não é que do meu lado sentou-se uma menina chatinha- tagarela - deslumbrada e do lado de minha mulher uma senhora idêntica, só que com uma diferença de uns 40 anos a mais!
Mas não foi este turismo acidental que comprometeu minha visão deste filme de Woody Allen. Ele vai ser um sucesso, e não adianta a opinião periférica. Quem não viu, verá e esá acabado. O "noivo neurótico" é sempre bom, mesmo quando é ruim, e esta sua fita só queimou um pouquinho. É uma obra meia boca- filmeco turístico, onde o autor brinca com sua eterna problemática e complexa combinação Amor&Sexo e Cia bella. So que desta vez escolheu o cenário lindo da cidade do Barça, onde esbarrou em clichês da "espanholidade" e obras de Gaudi.Clichês neste roteiro de turismo sexual não faltam. As duas americanas deslocadas se encontram com eles toda hora, dá até para fazer uma lista:
1- O irresitível sedutor espanhol- latin lover e seu furor sexual que não conhece barreiras
2- A espanhola à beira de um ataque de niervos (cópia ou citação descarada de Almodóvar?)
3- Os espanhóis nunca racionais, quase sempre isto passionais e irreverentes
4- Confundir Barcelona com a Espanha - uma coisa não tem nada a ver com a outra- ainda mais para uma moça que tenta fazer uma tese sobre a "identidade catalã" - como se isto existisse. (essa foi uma dica de minha filha que morou lá quase um ano)
5- Esta confusão da Catalunha com o que se pode chamar de "caráter espanhol" implica em botar uma guitarra espanhola no meio do filme como o grande barato e otras cositas más.
5- Mostrar o marido americano como um babaca, tipo corno desligado.
6- O outro marido americano gorducho e bem de vida, também como um babaca materialista
7- A imagem romântica do pintor como um ser de outro planeta que atinge uma compreensão do incompreensível pelos mortais comuns
8- A arte da catalunha como um repetir do gesto abstrato espontâneo para além de Miró. E vai por aí.
Dizer que Penélope Cruz ganha o filme e bota Scarlett Johansson e Rebecca Hall no bolso é chover no molhado. Dizer que Javier Bardem é um baita ator e que não precisou se esforçar muito nesse filme és lo mismo.
Engraçado mesmo é o lance de Bardem pedindo para que Penélope fale inglês dentro de sua casa para que a gringa entenda. Dá para ver que eles estão se divertindo com isso.
No fim das contas, essas besteirinhas que Allen comete não tiram a graça do filme. Dá para o gasto, um bom passatempo.
Parece que a próxima produção de Woody Allen vai ser no Brasil - acho que no Rio. Preparem os clichês. Estes nós também temos em abundâcia! E bote bundância nisso!
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2 comentários:
Sabe qtas vzs assisti a cena da "sapatada"? O incrível foi não ter sido SÓ UM sapato - foram OS DOIS!
Já imaginou se o reflexo falhasse, e o mundo inteiro visse a marca da sola na cara do Bush?
Seria uma imagem histórica como a primeira pisada em solo lunar, rapá!
Tô enjoada do Allen; e este filme só tem clichê sb os espanhóis; é verdade: p/ um insosso americano os castelas vivem mesmo entre "tapas" e "tarrascas".
Quem disse q não há uma "identidade catalã"? Há até um dialeto próprio!
O problema é que culturalm/t Barcelona é + divulgada, e mtos mal-informados (americanos não sabem nada além da própria esquina de casa) acham q a Espanha é só aquela região.
Qto aos "spoilers" ao vivo dentro do cinema... eu chamaria o segurança!
Querida Tinê, acho que a coisa é mais complexa. Uma situação geográfica que fez vários povos se encontrarem ali, uma oposição da Catalunha à Espanha, ao poder de Franco que proibiu a expressão pública da língua catalã durante um bom tempo. Tudo isso constiutuiu uma "identidade" de oposição, mas uma identidade que foi se esfarelando com a modernidade. Talvez seja uma piada de Woody Allen essa pesquisa sobre a identidade Catalã. Barcelona é um caso específico de cidade cosmopolita - cada vez mais sem uma identidade própria, a não ser os prédios de Gaudi. Para mim algo como uma reação ao modernismo na arquitetura. Veja a Igreja que ele não terminou de fazer e que morreu admirando quando foi atropelado por um bonde.
Ainda curto Woody Allen. Achei muito engraçada esse arremesso de sapatos no Bush. Ele sai por baixo - fez muito mal aos irmãos do norte.
bjs
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