12.1.09

Dica do Gerdal : Geraldo Filme


Sem placa de bronze, mas com permanência na história do samba, Geraldo Filme é motivo de homenagem no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, por meio de uma série de shows. Nunca é demasiado lembrá-lo, pois, morto em 1995, deixou na música que fez um registro notável do samba paulistano, bastante influenciado por um tipo de marcação do bumbo característico das áreas rurais no interior de São Paulo. Geraldo Filme, a propósito, veio de lá, nascido em São João da Boa Vista, e, nos anos 40, menino ainda, morando na Barra Funda e entregando marmitas com a comida preparada pela mãe, teve oportunidade de ver, nessas caminhadas pela capital paulista, rodas de samba, no extinto Largo da Banana, formadas por negros ensacadores e carregadores dos armazéns de café abastecidos por trens da São Paulo Railway. Em sua obra, "Batuque de Pirapora" é expressivo desse primeiro contato dele com o samba rural, ou samba de bumbo, o que ainda se irradia por faixas de um elepê magistral que gravou, em 1980, aos 52 anos de idade, pelo Estúdio Eldorado, com produção do jornalista Aluízio Falcão. Nele, podem-se ouvir pepitas como "Vai Cuidar da Sua Vida", regravada pelo precocemente desaparecido Itamar Assumpção no CD "Pretobrás", "Reencarnação", "Garoto de Pobre", "São Paulo, Menino Grande", "Silêncio no Bexiga", "Vai no Bexiga pra Ver" e "A Morte de Chico Preto", estas duas muito bem lembradas, há pouco tempo, em discos de Beth Carvalho e Fabiana Cozza, respectivamente.
O controvertido dramaturgo Plínio Marcos, amante desse samba mais genuíno feito em Sampa, produziu em 1974, pela Continental, um elepê hoje raro, de alto valor documental, "Nas Quebradas do Mundaréu", em que há registro da participação de Geraldo Filme com outros dois compositores de lá, Zeca da Casa Verde e Toniquinho Batuqueiro. Este, juntamente com Osvaldinho da Cuíca, Germano Mathias e Tobias da Vai-Vai, entre outros, aparece em um média-metragem sobre o Geraldão da Barra Funda ou o Geraldão da Vai-Vai - premiado, em 1998, no festival É Tudo Verdade -, a cujas imagens se pode ter fácil acesso pelo YouTube. Também pelo YouTube, vale a pena ouvir "A Morte de Chico Preto" pelo campineiro Núcleo de Samba Cupinzeiro, uma das recentes e bem-vindas comunidades do samba no estado de São Paulo. Em 1982, Geraldo Filme, ao lado de Clementina de Jesus e da pastora portelense Tia Doca, marcaria presença em outro disco do Estúdio Eldorado de crescido valor cultural, "O Canto dos Escravos", que se reporta aos vissungos entoados no eito forçado do garimpo em entranhas mineiras. A série de shows intitulada "É Tradição e o Samba Continua", todas as terças, às 13h e às 19h30, começou no último dia 6 e prossegue, com direção musical de Chapinha, do Samba da Vela, até 3 de fevereiro. Além de artistas do quilate dos já citados Osvaldinho da Cuíca, excelente compositor e ritmista, e Fabiana Cozza, simplesmente colossal, ainda se apresentam, entre outros, a ótima Dona Inah, a cantora-revelação Graça Braga, o compositor Teroca, natural de Araraquara, e o Berço do Samba de São Matheus. Todos do ramo, é claro, como Geraldo Filme, que, diferentemente do que diz do sambista de rua e amigo Pato N` Água (apitador - mestre de bateria - cuja morte misteriosa retratou no lamento dolente de "Silêncio no Bexiga"), foi um que partiu sem, de fato, dizer adeus. Geraldo Filme é tradição e o seu samba continua.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.

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