5.3.09

Dica do Gerdal:Verônica Ferriani estreia em CD com charme, beleza e delicadeza



Era minha intenção fazer, com minhas palavras, a recomendação do trabalho da amiga Verônica Ferriani, mas, a respeito, repasso abaixo texto escrito por Aquiles Rique Reis, do MPB4. Com toda a sua cancha no meio musical e bem melhor do que eu, mero aficionado da nossa boa música popular, poderia escrever, Aquiles faz, como de hábito em sua coluna, uma avaliação atenta e nuançada do bom CD de estreia dela, "uma cantora de ótimos recursos, capaz de cantar qualquer estilo de música". Um senhor elogio - e merecido.
Verônica é um doce de pessoa e, antes de conhecê-la, ao vivo e em cores, reafirmando a tradição do samba no Carioca da Gema, pude vê-la, pela TV Cultura, acompanhada do grupo paulistano Ó do Borogodó, em edição do "Sr. Brasil". No programa de Rolando Boldrin, participou de um cativante e surpreendente quadro em que evocava o lado pouco conhecido de compositora de marchinhas de carnaval de Carolina Maria de Jesus, a mesma sofrida autora de um "bestseller" da contestação social, o livro "Quarto de Despejo", de 1960. Ainda me lembro da "Marcha do Pinguço", na alegre interpretação de Verônica, uma moça que, em boa hora, abriu mão da sua prancheta de arquiteta para edificar uma carreira musical de tão bons fundamentos.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
"Olá,
Aqui vai o texto que será publicado em minha coluna deste final de semana no Diário do Comércio (SP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (uma publicação voltada para os brasileiros residentes em toda Costa Leste dos EUA).
Fraternalmente,
Aquiles Rique Reis

O primeiro CD de Verônica Ferriani é o cartão de visita de uma cantora de ótimos recursos

Cercada por músicos paulistanos capitaneados pelo experiente produtor BiD, a paulista de Ribeirão Preto Verônica Ferriani esbanja carisma. Sua voz é carinhosa e cada sílaba lhe sai da garganta impregnada de delicadeza.

A começar pela forma como vislumbrou este seu primeiro trabalho (produção independente), que traz na capa apenas seu nome ao lado de uma foto de seu rosto suave. O clima de "ao vivo" era a meta; gravar com todos os instrumentistas tocando juntos no estúdio, o sonho. Realizou. O calor do olhar cúmplice trocado entre cada um dos participantes dá ao CD ares de reunião na sala de casa - intimidade que permite empatia instantânea com o que se ouve.

Amparada por um repertório que está longe de ser banal, sua capacidade de cantar é posta à prova e se sai muito bem. Têm charme todas as notas que ela canta. Tudo o que escolheu para fazer é feito de um jeito particular, pleno de personalidade.

Para abrir, Verônica e BiD escolheram "Um Sorriso nos Lábios", um samba daqueles que carrega a marca registrada de Luis Gonzaga Jr.: a ironia para disfarçar a dor do dia-a-dia. Para a sessão rítmica foi convocado um percussionista não-paulista, o craque Jaguara. A sanfona de Magoo cria uma atmosfera que amplifica a intenção que teve Gonzaguinha de buscar belezas inusitadas aonde só se costuma encontrar o de sempre. Bela performance.

De outro compositor consagrado, Paulinho da Viola, Verônica buscou um belo e pouco conhecido samba, "Perder e Ganhar". Uma levada calcada nas congas de Vitor da Candelária e o dedilhado do bandolim pelas mãos de Felipe Pinaud dão ao samba ares de ainda mais leveza.

O arranjo de "Com Mais de 30" (Marcos e Paulo Sérgio Valle) dá uma bela arejada em seus versos, uma ode à juventude em detrimento aos "coroas" com mais de trinta anos, que retornam ágeis e suingados com Verônica.

Capaz de cantar qualquer estilo de música, ainda assim ela se destaca quando interpreta canções mais lentas, como "Bem Feito" (Rubem Nogueira e Paulo César Pinheiro). Bela melodia, harmonia bem estruturada e versos que dão a Verônica a chance de fazer com que sua voz nos venha ainda mais bonita e totalmente plena de emocionada sensualidade.

Assim é também quando ela canta o samba lento "Ahiê". Com o DNA explícito do talentoso balanço de João Donato e versos de Paulinho Pinheiro, Ferriani se esbalda sobre a base que tem sanfona (Magoo), guitarra (Felipe Pinaud) e baixo acústico (Cabral), bem amparados pela percussão de Bruno Buarque e Vitor da Candelária.

Apesar de a produção musical pecar um pouco ao exagerar no uso do som meio anacrônico do órgão e de o coro masculino "pesar" quando somado à voz da cantora, o CD de Verônica Ferriani é o cartão de visita de uma cantora de ótimos recursos. Um trabalho feito por quem sabe bem o que quer da música e a ela dedica todos os cuidados possíveis que sua imaginação musical determina."

Nota da Redação: Aquiles Rique Reis é músico e integrante do MPB4

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