3.3.09

Homenagem do Gerdal - Daltony Nóbrega: uma grata e divertida inclusão em coletânea recém-lançada



Por longo tempo, tive a satisfação de trocar e-mails regulares e bastante informativos com o amigo Daltony Nóbrega, parceiro de Carlos Lyra no curioso "Choro de Breque". Filho do poeta e historiador Dormevilly Nóbrega e nascido em Juiz de Fora, Daltony lá palmilhou o trecho inicial da carreira, como integrante do Grupo Mineiro (de que tomavam parte, entre outros, o mais tarde conhecido humorista Octavio Cesar, como cantor, e os jornalistas Maurício Dias e Antônio Chrisóstomo, como letristas), fazendo ainda boa e premiada figura em festivais locais. Dessa fase, vem a sua "GB Ur-Gente", em parceria com Maurício Dias, gravada por Eliana Pitman no Rio, para onde o referido conjunto viria de mala e cuia, participando, por um ano, no início da década de 70, de um espetáculo de grande sucesso de público e crítica: "É a Maior", protagonizado pela cantora Marlene. Desligando-se do conjunto, lançou-se em carreira solo, sendo gravado por vários intérpretes nessa década, como Célia ("Em Família"), Roberto Ribeiro ("Se Você Não Vê" e "É Tão Tarde") - com pseudônimo de Daltõ em raro elepê do saudoso campista, de 1973 -, e, em particular, Simone (com três músicas no elepê de estreia dela, também em 1973, entre as quais destaca-se a igualmente bela e contundente "Morena"). Sua participação, em 1980, no festival MPB Schell, da TV Globo, lhe valeria, na ocasião, um convite de Augusto César Vanucci para ser diretor musical da emissora, o que lhe possibilitou, por exemplo, inscrever seu nome na criação e produção de dois especiais de ampla repercussão, voltados para a petizada: "Plunc Plact Zum" (expressão, aliás, sacada por Daltony e que se tornou um sucesso encomendado por ele a Raul Seixas) e "A Turma do Pererê" (com músicas suas para especial da Globo e livro-disco com história de Ziraldo). Ainda nos anos 80, viajaria pelo sul do Brasil pelo Projeto Pixinguinha, na boa companhia de Ademilde Fonseca e do conjunto Coisas Nossas, e, depois, já residindo na capital paulista, exerceria, também a convite de Augusto César Vanucci, a direção musical da TV Bandeirantes, fazendo trilhas para, entre outras atrações, o humorístico "Agildo no País das Maravilhas", de Agildo Ribeiro.
Professor de português, tradutor - "métier" a que ora se dedica -, "fera" em informática, lembro Daltony, especialmente, por causa de um recém-lançado CD-homenagem, duplo, "100 Anos de Carmen Miranda - Duetos e Outras Carmens", com produção de Thiago Marques Luiz, no qual se ouvem duos famosos dela com Mário Reis ("Alô! Alô!") e Lamartine Babo ("Moleque Indigesto"), entre outros "partners" tão ou menos votados, num dos discos, e, no outro, músicas do repertório de "La Miranda" revividas em registros variados, de outros intérpretes. Entre eles, inclui-se a divertida gravação de Daltony com a sua conterrânea Maria Alcina - esta de Cataguazes - no samba "Empregada Grã-fina", do baiano Sá Roris (humorista e professor de desenho do parceiro Nássara, com quem comporia, entre outras, a clássica marchinha "Periquitinho Verde"). Trata-se de faixa pinçada de um dos dois elepês gravados por Daltony, o excelente "Cirrose", com arranjos de Antonio Adolfo e Perna Froes e produção de Simon Khoury para a RCA em 1983, só de sambas bem-humorados, como "Cadeira de Dentista", de César Brunetti, "Nouveau-Riche", de Billy Blanco, e "Samba da Cascata", de Délcio Carvalho, além dos ótimos "Tereza Iná" (c/ Ana Cézar) e "Amigo de Malandro", ambos de Daltony. Neste último, feito "à la carte" para o dizer malemolente de Moreira da Silva, os dois dialogam em faixa simplesmente impagável. "Bate-Boca", de 1981, também com arranjo de Antonio Adolfo e produção do finado Arthur Laranjeira para a mesma RCA, foi o primeiro elepê, e espero que, na esteira dessa coletânea da Carmen, tais bolachas sejam relançadas em CD e o próprio Daltony tenha condição de realizar um novo disco, à altura da sua centelha criativa, multi-ígnea. Recebido com generosidade por ele e pela companheira Bia Peine na casa onde moram, em Sampa, há alguns anos, pude constatar que música da melhor qualidade é o que não falta.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.

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