10.3.09

Homenagem do Gerdal - A grande Nazaré Pereira: Brasil de dentro, fora do Brasil, com autenticidade


Acreana de Xapuri, filha de seringueiro e de índia, e criada em Icoaraci - distrito litorâneo de Belém do Pará bastante citado em suas músicas -, Nazaré Pereira, com 34 anos de carreira musical, é uma brasileira que precisa ser (re)apresentada ao Brasil, sobretudo os desta antiga caixa de ressonância cultural do país, o chamado eixo Rio-São Paulo. Na verdade, a carreira dela começou antes de 1975, guiada por outras luzes da ribalta, já que, no final dos anos 60, formada em arte dramática pela Uni-Rio, foi colega de elenco de Leila Diniz no teatro e na tevê, até se destacar, em 1971, no programa "A Grande Chance", de Flávio Cavalcanti, e ganhar, como prêmio, uma viagem a Portugal, de onde partiu para Nancy, cidade francesa em que se aprimorou no teatro, e depois Paris. A partir daí, sim, na Cidade Luz, a também dançarina Nazaré Pereira - que atuou em grupos como o Les Étoiles e Os Maracatus - levou adiante uma carreira musical de certa despretensão inicial, que, no entanto, com a crescente aceitação da plateia francesa, tornou-a conhecida como a mais brasileira dos nossos "canários" lá radicados. Dona de ampla discografia, Nazaré quase não canta em francês, fazendo sucesso no exterior, em bom português, com um repertório alinhavado por ritmos do Norte e do Nordeste, como o carimbó, o boi-bumbá, o xote, o baião e a ciranda, por exemplo, tanto na lembrança de clássicos - como "Na Asa do Vento", de Luiz Vieira e João do Vale, de letra surreal, e a formentiana "Chuá, Chuá", de Pedro de Sá Pereira e Ary Pavão -, como no recado de ótimas canções próprias. Também se destacam no atraente grave, meio rouco, da sua personalíssima emissão excelentes compositores dessas regiões, como o cearense Celinho Barros, em "Matutinho" e "Desafio Nordestino", outro há muito radicado na França, e Ronaldo Silva, paraense idealizador e líder do grupo Arraial da Pavulagem, autor de joias como "Dunas da Princesa" e "Ataiô".
Pequena notável a seu jeito, sem turbante com banana e balangandãs no "physique du rôle" consagrado, mas sempre de saia longa e cintada, além de flores adornando o cabelo negro e ondulado, nas suas energizadas aparições no palco, a sorridente Nazaré tem em Luiz Gonzaga um nome-chave no seu repertório. Dele gravou "Riacho do Navio" (parceria com Zé Dantas), "Forró no Escuro", "Forró de Cabo a Rabo" (parceria com João Silva) e "O Cheiro de Carolina", prestando-lhe homenagem num xote de sua autoria, "Seu Luiz" - com belo bordado nas cordas de Manassés, apoiado por marcante percussão de Adriano Busko e Coaty de Oliveira. Foi, aliás, por intermédio dela que o saudoso Lua pôde apresentar-se, pela primeira vez na Europa, em 1982, sete anos antes da sua morte, em show no parisiense Teatro Bobino.
Vinda, portanto, do Norte do país, uma região que ela tanto canta e que pode ser cantada por parir tantos intérpretes, músicos e autores de talento e expressão (Waldemar Henrique, João Donato, Leila Pinheiro, Billy Blanco, Fafá de Belém, Violeta Cavalcante, Sebastião Tapajós, Vinicius Cantuária, Andrea Pinheiro, Sérgio Souto, Val Milhomem, Joãozinho Gomes, Edmundo Souto, Jane Duboc, Paulinho Soares e Jota Júnior (ambos "in memoriam"), Nego Nelson, Nílson Chaves, Juraildes da Cruz, Vital Lima, Genésio Tocantins, Roberto Serrão, Neuber Uchoa, Eliakin Rufino e Ney Conceição, por exemplo), a Nazaré Pereira dedico, nestas linhas, o meu singelo reconhecimento por tudo que fez e faz pela propagação da nossa cultura popular. Uma grande artista brasileira, de tal quilate, da qual, por ironia, só encontrei CDs em Paris, onde estive por duas vezes no ano passado. Em ambas as ocasiões, na Fnac e na Virgin, na Avenue des Champs Elisées, pude adquirir reedições nesse formato de elepês que já obtivera aqui em sebos - como o resumidor, em termos de carreira, "Ver-o-Peso - Na Terra dos Carimbós", gravado em 1988 em Belém e um dos poucos dela não produzidos na França. Ainda em Paris, a partir desta quarta, 11 de março, no Satellit Café, Nazaré amadrinha a oitava edição do Festival Musical França-Brasil, no qual, além dela, entre outros, o gaúcho Antônio (ex-Totonho) Villeroy e a carioca Cátia Werneck, outra cantora bastante apreciada por lá, apresentam-se pelo nosso lado.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
A tempo: para os interessados, há vídeos de Nazaré Pereira disponíveis no YouTube, gravados e veiculados primeiramente pela TV Cultura, de Belém do Pará.
Nota da Redação: Maiores informações no site de Nazaré Pereira no seguinte endereço:http://www.nazarepereira.com/

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