25.4.09

Dica do Gerdal: Dolores Duran revive no canto de Juli Mariano, hoje, em Copacabana


"Um amor assim, um ciúme assim/parece incrível/nós nos amamos, vivemos brigando/cada qual pro seu lado/um amor assim, um ciúme assim/é melhor separado..." Esse belo samba-canção, "Um Amor Assim", composto por Dora Lopes em momento de suave "spleen", bem que poderia ter sido assinado por outra amiga íntima da madrugada, Dolores Duran, que, por sinal, dele tem registro no elepê "Estrada da Saudade". Embora Adilea da Silva Rocha - no registro civil -, carioca da Saúde, tenha feito sucesso, em 1956, com o baião "A Fia de Chico Brito", de Chico Anísio - padrinho do turbulento casamento dela com o ator e compositor Macedo Neto - e emprestado graça à gravação de sambas satíricos de Billy Blanco, como "Pano Legal" e "Estatuto de Boate" ("Gafieira de gente bem é boate/onde a noite esconde a bobagem que acontece/onde o uísque lava qualquer disparate/amanhã um sal de fruta/e a gente esquece.."), foi, no entanto, no domínio do samba-canção romântico, de verso cabisbaixo ou desventurado, que ela se distinguiu como intérprete e compositora. Tanto os de lavra alheia - como "Bom É Querer Bem", de Fernando Lobo , e "Onde Estará o Meu Amor", de Lina Pesce - quanto os de lavra própria, como "Solidão" e "Fim de Caso".
Revelada na Rádio Tupi, em 1940, aos dez anos de idade, com o primeiro lugar obtido no programa "Calouros em Desfile", e adotando, seis anos depois, o pseudônimo artístico "abolerado" que lhe traria fama - afinal, foi cantando "Vereda Tropical" que ela se destacara no programa de Ary Barroso -, teve Dolores Duran, como Sylvia Telles, por exemplo, para citar outra voz feminina romântica, curta existência, porém intensa e de funda impressão na história da canção brasileira. Letrando melodia que Tom Jobim pouco antes lhe mostrara ao piano e a empolgara, conseguiu subtrair de Vinicius de Morais, com a concordância dele, que rasgou a própria letra, a parceria em "Por Causa de Você". Além de Tom - com quem ainda comporia as joias "Se É por Falta de Adeus" e "Estrada do Sol" -, o pianista Ribamar - em "Ternura Antiga" e "Pela Rua" -, o publicitário Édson Borges, o "Passarinho" - em "Tome Continha de Você - e, já postumamente, Carlinhos Lyra - em "O Negócio É Amar" - são, por exemplo, outros parceiros de relevo. Dolores morreu em 23 de outubro de 1959, após ter cantado num "night club" de Copacabana e "esticado" com amigos em outro, além do Clube da Aeronáutica. Dias depois, em sua coluna, Madrugada, no extinto "Diário Carioca", o jornalista Eustórgio de Carvalho, o já então bem conhecido Mister Eco, sempre preocupado com a saúde frágil da amiga "Bochecha", como Dolores era conhecida na intimidade por causa do rosto de lua cheia - e ambos torcedores do Flamengo -, lamentava que o "beque" (comprimido) da cantora, com o qual ela lhe dizia defender-se, "fizera uma falseta, furando espetacularmente". O resultado: a MPB estava derrotada, "uma derrota amarga".
E, como entre as "manias" que eu tenho, uma é gostar de MPB, recomendo o show, hoje, 25 de abril, às 16h30, de uma jovem cantora bem considerada na noite carioca, Juli Mariano, também integrante dos conjuntos Seresta Moderna e A Turma da Bossa. Atração simpática e oportuna ("flyer" acima").
Um bom fim de semana a todos. Muito grato pela atenção à dica.
A tempo: a cantora Izzy Gordon, filha do músico Dave Gordon e da também cantora Denise Duran, gravou há três anos o CD "Aos Mestres, com Carinho - Homenagem a Dolores Duran". De Dolores, sua tia, pode ser vista, pelo YouTube, cantando o samba "O Que É Que Eu Faço", com introdução de "A Noite do Meu Bem".

www.julimariano.com
www.myspace.com/julimariano
http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=9812951214463421684

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