4.5.09

Dica do Gerdal: Normando Santos - um segredo autoral bem guardado dentro da noite bossa-novista


No domingo retrasado, no "playground" de um edifício da Rua Coelho Neto, em festa com a presença de vários artistas, tive a satisfação de conhecer o cantor, compositor e violonista Normando Santos, que chegou ladeado pela cantora Carmélia Alves. Recifense como o ilustre morador desse endereço em Laranjeiras, o aniversariante Fred Falcão - também compositor, além de procurador de Justiça aposentado -, Normando participou, com quatro ou cinco canções de sua autoria, da megacanja comemorativa, uma prazerosa série de números musicais iniciada pelo conjunto Os Cariocas e terminada com Sílvio da Silva Jr., engenheiro da Petrobras, ao violão, lembrando, entre outras, a sua manjada "Amigo É pra Essas Coisas", da parceria com Aldir Blanc, gravada com sucesso pelo MPB4 e hoje um "hit" de toda "happy hour" nacional. Com satisfação renovada, no feriado da sexta passada, em Copacabana, em visita ao apê da grande Rainha do Baião, encontrei outra vez o histórico bossa-novista Normando, lá hospedado, ora diante do seu "laptop" - internauta convicto -, ora de violão em punho, evocando Dolores Duran (responsável por seu primeiro emprego na noite carioca, como cantor da boate do Hotel Regente) e, em particular, a meu pedido, a bela toada "Dentro da Noite" ("Dentro da noite eu fiquei/pois perdi você/folhas pisadas no chão, resto de você/ficou lá dentro de mim o que eu quis dizer..."), feita com o publicitário Édson Borges. Esta um composição dele que ouço desde a infância, a qual Normando canta em cena do segundo episódio de um filme nacional de 1963, "Esse Rio Que Eu Amo", de matriz infelizmente desaparecida num incêndio. Juntamente com sambas primorosos de Luiz Antônio, como "Levanta, Mangueira" e "Quero Morrer no Carnaval", "Dentro da Noite" faz parte do elepê com a trilha desse título da filmografia do saudoso argentino Carlos Hugo Christensen, um vinil "mosca branca" que o meu pai, Geraldo José, sonoplasta atuante nessa produção, conserva com muito zelo desde o lançamento.
Dois anos depois de participar do famoso concerto no Carnegie Hall, em Nova York, mostrando a sua "Amor em Samba" em companhia do quarteto de Oscar Castro Neves, Normando pegou um avião no Rio para Paris, com o intuito de substituir Baden Powell na Feijoada, uma das primeiras casas de música brasileira na Cidade Luz. Fazia um ano e meio que Baden lá se apresentava, chamado pelo parceiro e diplomata Vinicius de Moraes, então adido cultural na França. O que para Normando seria apenas o cumprimento de um contrato de seis meses de trabalho foi, na verdade, o início de uma longa estada "chez" Paris, onde reside há 45 anos, sempre requisitado para shows em bares e clubes de jazz. Afinal, de bossa nova, em especial, ele é sobejo conhecedor e praticante, versado no balanço do "dim-dom-dom", como Carlos Lyra e Roberto Menescal (seus ex-colegas de colégio no Mallet Soares, em Copacabana), desde a primeira hora, e, como eles, um dos mais procurados professores de violão da batida diferente, tendo como discípulos, entre outros, Jards Macalé, Nelson Motta e até uma curiosa Betty Faria. Com Menescal, Ronaldo Boscoli, Chico Feitosa e Luiz Carlos Vinhas, ainda no início dos anos 60, dedicava-se a outra paixão, a pesca submarina, que os levava, nos fins de semana, ao azul do mar do litoral fluminense. Agora, sua intenção é passar alguns meses no Rio para lançar o primeiro disco "efetivo" da sua carreira, "Balanço com Bossa", no qual, além da faixa-título e de outras inéditas, como "Lamento do Adeus" e "Aconteceu" (com Vinicius), "Deixa Que Meu Amor Te Aqueça" e "Choro e Saudade" - uma declaração de amor e de saudade ao ninho natal -, juntam-se as já conhecidas "Castelinho", feita com Billy Blanco", "Deixa o Nosso Amor" e "Depois do Amor", estas com Ronaldo Boscoli, que conheceu no mais citado apê-referência da bossa, o do advogado Jairo Leão, pai da musa de joelhos bem torneados Nara Leão. De Normando, o guitarrista Robertinho de Recife, produtor do CD, diz ser "o melhor segredo guardado da bossa nova", e "Balanço com Bossa", bem mais sacudida no balanço do que de costume, é uma bossa plena e categoricamente revelada.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
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A tempo: aos interessados, o CD de Normando está à venda, até o momento, apenas na Toca do Vinicius (Rua Vinicius de Moraes, 129 - lj. C), em Ipanema, a loja do cavalheiresco professor de Literatura e bossa-novista exemplar Carlos Alberto Afonso.

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