19.5.09

Dica do Gerdal: Madame samba até se esbaldar no novo CD autoral de Ricardo Duna



Ao contrário da madame de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa que, irredutível em "Pra Que Discutir com Madame?", queria acabar com o samba, "música barata, sem nenhum valor", a madame de Ricardo Duna, destes tempos pós-modernos, tem outra cabeça, frequenta gafieira e "só quer lavar a alma sambando". "Madame Quer Sambar" é o recentíssimo e delicioso CD bossa-novista e autoral de Ricardo Duna, gravado no Studio Verde, de sua propriedade, no Cosme Velho, bastante procurado por artistas bem conhecidos da nossa música popular. Deixando para trás os tempos de outra levada rítmica na carreira, quando atendia pelo sobrenome artístico Bomba, apelido de adolescência, Ricardo refaz-se, a partir do ótimo CD anterior, "O Vendedor de Flores", de 2003, como um compositor inspirado, lírico, que sabe lidar com a delicadeza na canção, seduzindo o ouvinte com o seu canto suave, de curta extensão porém bem situado na audição, e sua letra simples, inteligente, bem-feita, de romantismo algo onírico, reforçado, no disco de agora, pela cama de cordas muito bem arranjadas por Alain Pierre. Sob a égide do esmero no trato de cada música do disco, instrumentistas como Idriss Boudrioua e Zé Carlos Bigorna (sax tenor), Guilherme Vergueiro (piano), Luís Sobral (bateria) e Augusto Mattoso (baixo acústico), entre outros de nível igualmente elevado, sobretudo os trombonistas Luís Cláudio Silva, Sérgio de Jesus e Víttor Santos (as vedetes da gravação com belos solos e introduções), acompanham a voz de Ricardo - e o piano dele em quase todas as faixas - num uníssono de excelência. Não apenas na valsa ou no sentimento de modinheiro urbano - como o de um inicial Juca Chaves em "Por Quem Sonha Anamaria" - que embala fração expressiva da produção, como também na porção sincopada e muito bem sacudida de sambas, como o da faixa-título e o impagável "Seu Guarda, Pode Escrever" ("Lei Seca"), em que um cidadão "calibrado", cujo carro é "atropelado por um poste" na madrugada, inventa uma receita de torta caseira da "esposa dada a desejar" para tentar escapar da multa: "Mas achar as avelãs às três horas da manhã..." (Grande sacada.) Ex-aluno de Luizinho Eça e também um engenheiro de som com formação especializada nos EUA, Ricardo Duna já faz, no meu entender, um dos melhores discos do ano, sendo, por isso, um compositor que precisa ser ouvido com mais atenção, na sua própria voz. Um craque.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
(NR: procurei pra caramba uma foto da capa do CD do Ricardo Duna na internet e só encontrei uma, do CD anterior - "O Vendedor de Flores". Do CD "Madame quer Sambar" só achei um recorte de jornal (acho que do Globo) com a capa em branco e preto. É uma capa desenhada - não tem foto. Por essas e outras, botei a foto do CD "O Venderdor de Flores" para mostrar o rosto de Ricardo e o recorte de jornal para informar como é o CD. Ricardo, mande uma foto do CD pro Gerdal ou pro e-mail desse blog, por favor- e bote ele na internet!)

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