26.6.09

Dica do Gerdal: Seresta Moderna faz longo passeio pela beleza da canção brasileira, hoje e amanhã, em show na Tijuca


"Seresta moderna não tem poesia/não tem noite de lua/não tem luar/não tem cavaquinho/não tem violão...seresta moderna agora é hi-fi/num canto da sala/vitrola tocando/um gaiato cantando sem voz/um samba sem graça/desafinado que só vendo..." Com tais versos de "Seresta Moderna", gravada por Nélson Gonçaves, o compositor Adelino Moreira, já em 1962, ano de evidência da bossa nova, do rock e de ritmos mormente dançantes, expressava o seu desencanto com o aparente declínio de uma manifestação musical para a qual dera, com o sucesso popular de "Escultura" e "A Volta do Boêmio", por exemplo, significativa contribuição. Morreria quarenta anos depois sem conhecer, infelizmente, no mesmo ano, por ideia do cantor, compositor e violonista mineiro João Francisco Neves, o surgimento de um conjunto de mesmo nome da sua canção (embora não motivado por ela na sua formação), com um belo trabalho voltado para o repertório seresteiro, resgatado com ar contemporâneo nos arranjos, na vocalização, sem descurar, no entanto, da força da tradição do gênero.
Mais do que isso, aliás, o elogiado show do Seresta Moderna é um longo e proveitoso passeio, "lato sensu", pela canção brasileira, desde 1916, através de décadas, em que se revelam não só a inspiração e competência dos seus criadores, como também quão identificada ela sempre esteve com o sentimento da nossa gente. Também integrante do Cambada Mineira, é de João Francisco Neves a voz condutora dessa progressão da nossa canção no tempo, nela destacando datas e fatos capitais, contextualizando-a, numa tomada de contato, sobretudo, com a beleza dessa produção, naturalmente avessa à inconsequência artística do "pula-pula" do axé sangaliano e do pancadão pop. De Manu Santos e Juli Mariano, em particular, são as afinadas vozes que colorem os números apresentados. A primeira, quase debutando num CD solo, é natural de Bangu e vencedora, juntamente com a mineira Aline Calixto, da II Mostra de Talentos do Carioca da Gema; igualmente carioca, Juli Mariano, integrante, ademais, da Turma da Bossa, há pouco brilhou num show-tributo que fez, na Sala Baden Powell, em intenção de Dolores Duran, no qual, numa curiosidade do roteiro, antes de interpretar "O Negócio É Amar", leu um longo relato que Carlos Lyra lhe enviara, por "e-mail", explicando o porquê desse samba, ou seja, como, por meio de Hermínio Bello de Carvalho, soubera dessa letra e a ela tivera acesso, para, de acordo com alguma anotação da "Bochecha" a ele insinuada, tornar-se dela um parceiro próximo.
O Seresta Moderna apresenta-se nesta sexta, 26 de junho, e amanhã no Centro Municipal de Referência da Música Carioca, às 19h nos dois dias. Desejo a todos um bom fim de semana, agradecendo-lhes a amável atenção a esta dica.

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