28.6.09

Dica do Gerdal: Sérgio Sampaio e sua música, hoje, em show-homenagem - a criação entre o feijão e o sonho


"Lá vem a mulher que eu gosto "debaixo" do meu amigo..." Assim mesmo, como os demais circunstantes dentro de um vagão de metrô, ouvindo essa irreverência a um conhecido samba de Ciro de Souza e Wilson Batista, pude conhecer, por acaso, Sérgio Sampaio. Parecia ser dele a "boutade", que motivava ainda o riso de um grupo de amigos que o acompanhavam, entre os quais o parceiro guitarrista Renato Piau. Ao longo do percurso relativo a três estações, eu e Sergio, solícito, pudemos conversar, e, na semana seguinte, após telefonema dele para mim, um novo encontro, numa esquina da Rua do Catete com Rua Silveira Martins - ou "Sujeira" Martins, como ele a chamava, com a mesma irreverência. Agitado, não vivia, na verdade, um bom momento - não muito anterior à sua morte, há 15 anos -, e dele, no plano pessoal, além da paródia inicial, ficou-me forte na memória a imagem de um homem magro demais, no porte físico, para conter em si uma inquietude realizadora tão gorda quanto o seu talento, não revelado para o público, infelizmente, na extensão devida. Ficou o sucesso incontestável de "Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua", de 1972, um marco da era, então descendente, dos festivais. Ironicamente, tal marcha-rancho, entoada a plenos pulmões no VII FIC, não permitiu àquele moço capixaba, vindo do seu pequeno Cachoeiro para tentar, no Rio, a sorte como artista ou locutor (que já fora numa rádio da cidade natal), um desdobramento naturalmente bem-sucedido no seu primeiro elepê solo gravado, do qual vale a pena ver, pelo YouTube, um registro com "vistas animadas" por outra de suas faixas, "Filme de Terror". Pouco antes disso, em 1971, juntamente com Raul Seixas, Míriam Batucada e o ator e dançarino Edy Star, participaria de um disco bem curioso, "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez", uma produção regida pelo escracho, a qual trouxe, na ocasião, pelo seu "desvio" artístico, dores de cabeça à gravadora CBS. .
Neste domingo, 28 de junho, um outro Sergio, o Natureza, igualmente inspirado para o feito da canção popular e luminosa referência como amigo e parceiro no balaio do Sampaio, será, mais uma vez, às 19h, no Teatro de Arena (Nossa Caixa), o apresentador da curta sequência de shows-homenagem, com diversos nomes convidados, hoje encerrada ("flyer" acima). Ainda que Durango Kid possa tê-lo pego no final da fita existencial, ao público presente caberá a constatação, pela qualidade do seu legado autoral - com recados bem dirigidos, românticos ou não, e, por vezes, cáusticos -, que Sergio Sampaio não dormiu de touca, não caiu do galho nem deu bobeira. Pelo contrário: ele era um cara ligado nas artimanhas do seu tempo e, num interessante elepê de 1982, "Sinceramente", conferia expressão a versos da canção-título que dão o que pensar ainda hoje, quando se veem tantos, "politicamente corretos", moldados numa moldura social que uniformiza a frase, a fatiota, o pensamento, o hábito, o gesto, a ação, o consumo etc. Dizia assim esse "velho bandido": "Não há nada mais sozinho do que ser inteligente/e poder cantarolar, errar, desafinar, assim, sinceramente..."
Um bom domingo a todos. Muito grato pela atenção à dica.
NR- O blogueiro que vos fala também conheceu Sérgio Sampaio nos anos 80 quando ele era vizinho do casal Eliana e Chico Caruso, e também de Jatobá, alí no Leblon. Grande figura, um imenso talento, uma pessoa preciosa e rara. Seu trabalho precisa ser conhecido pela moçada que tá vindo aí. Irreverência, letras feitas com navalha, músicas cheias de malandragem e bota criatividade nisso e você vai ter Sérgio Sampaio.
Contra a mesmice da MPB dos dias de hoje é uma boa dose de um ótimo veneno.

Um comentário:

Anônimo disse...

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