10.7.09

Dica do Gerdal: Paulo Freire traz "Nuá" ao Rio de Janeiro, em shows hoje e amanhã, ao som da sua viola fantástica


Filho de Roberto Freire, psiquiatra criador da somaterapia, escritor e diretor cinematográfico - em 1970, realizou o longa dramático "Cleo e Daniel", baseado em obra sua de sucesso -, Paulo Freire é um artista excepcional em rara visita ao Rio de Janeiro, apresentando-se nesta sexta, 10 de julho, às 20h, e amanhã, na mesma hora, na Sala Baden Powell, para o lançamento do recentíssimo "Nuá" ("flyer" acima e informação abaixo sobre o disco). Embora tenha herdado do pai um apreciável pendor literário - com alguns romances já publicados, uma biografia conjunta, "Eu Nasci Naquela Serra", de Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha, ícones da canção sertaneja, e até incursão na seara infantil, com "O Céu das Crianças" -, é, sobretudo, no toque encantado e acendrado da viola que a sua chispa criativa e expressão artística se agigantam, sendo um dos maiores instrumentistas desse ramal da cultura popular no país, até mesmo pelos dedos de "contação de causos", a exemplo de um outro mestre do ofício - tanto nas cordas amatutadas quanto nos relatos extravagantes -, o saudoso Renato Andrade. Pela palavra igualmente encantada e inovadora do Guimarães Rosa de "Grande Sertão: Veredas", o paulistano Paulo Freire despertou para o atrativo da sonoridade interiorana, pondo a viola no saco de viagem para, com a faculdade de jornalismo atrás de si, embrenhar-se no sertão mineiro do Urucuia, morando por dois anos no pequenino Porto da Manga, disposto a banhar-se de toda uma ambiência nova, desafiadora e estimulante e moldar, a partir daí, "rio abaixo e rio acima", um rico universo de referências para o seu empenho autoral. A 3 km de lá, ele até pegou em enxada, suando no plantio do arroz, para ajudar a lida na roça de Manoel de Oliveira, o seu Manelim, o mestre violeiro de lições fundamentais, em cuja casa passou, nesse período, uma ou outra temporada. Primeiras estórias no estradão musical de um "caboclo urbano" cheio delas, morador de Campinas, por cuja viola "esbrangente", como costuma dizer (a um só tempo caipira e caiçara, rural e litorânea, no sentido mais amplamente brasileiro dessa abrangência peculiar), empreendeu há pouco o seu contato com seres do nosso fabulário, 12 mitos brasileiros. Novas estórias, portanto, em dedilhado e prosa, postas a nu em "Nuá".

Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.


NUÁ
, as músicas dos mitos brasileiros
10 e 11 de julho – Rio de Janeiro – Sala Baden Powell – 20h.
Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 360, Copacabana
Informações: (21) 2548-0421
www.paulofreire.com.br
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Neste novo trabalho, o violeiro Paulo Freire mostra – em doze temas instrumentais – seus encontros com os seres que povoam nossas matas e o imaginário brasileiro.

As músicas foram criadas com base na região onde ocorreram esses encontros. Assim, surgiu a ciranda dos tangarás, o coco da serpente emplumada, o caboclinho do curupira, a milonga do teiú do Jarau, o lundu do capeta, a guarânia do lobisomem, a toada das veredas e a música indígena da cabeça voadora.

Os arranjadores reviveram o acontecido e deram sua versão para os fatos. Foram convocados grandes músicos para contar o causo, cada um com seu precioso palpite, todos provocados pelos mitos.

NUÁ – as músicas dos mitos brasileiros tem arranjos de Léa Freire, Proveta, Bocato, Paulo Braga, Nenê, Ronaldo Saggiorato, Toninho Ferragutti, Valéria Bittar e Luiz Fiaminghi (grupo Ânima), Tuco Freire, Paulo Freire; e apresenta também a música experimental feita com esculturas sonoras e instrumentos inusitados do grupo Sonax.

Para complementar, o álbum traz um encarte-livreto, em que o violeiro conta os doze causos envolvendo os mitos brasileiros.

“Paulo é um contador nato e escreve tão bem como conta. Tenho cá para mim que, logo, seus textos – tão criativos, embebidos na fonte antiga de várias tradições orais que ficamos com vontade de investigar – vão virar lendas, mitos, dogmas citados e invocados por especialistas a afirmar que ‘essa história é assim mesmo, porque o violeiro Paulo Freire já dizia’ ", escreve a antropóloga Betty Mindlin no encarte do CD, que traz ainda ilustrações de Kiko Farkas, também responsável pelo projeto gráfico.

O CD foi produzido por Paulo Freire e Tuco Freire. Gravado, mixado e masterizado por Homero Lotito.

Nuá – as músicas dos mitos brasileiros conta com patrocínio da Petrobras.

2 comentários:

TS disse...

Psiqui-músico? Somaterapia deve ser algo holístico: música é terapêutica. A 1ª vez q vi esse folheto pensei q fosse coisa do educador (já falecido).

LIBERATI disse...

Pois é querida Tinê, Paulo Freire é filho do grande terapeuta que escreveu Viva eu Viva tu, viva o rabo do tatu!
Também autor de Cleo e Daniel.
O filho segundo Gerdal é um grande violeiro, dos bons.
bjs