17.7.09

Homenagem : Billie Holiday - Hoje faz 50 anos que ela morreu



(Publiquei esse post em 22 de setembro de 2007 no começo deste blogue. Nunca imaginaria que os EUA elegeriam um homem negro para a Presidência. Foi uma lição para o mundo, uma lição de esperança. Billie Holiday, uma maravilha que viveu nesse planetinha azul um dia cantou contra o racismo e Stange Fruit é sua composição mais forte - um declarado grito contra a intolerância -vale a pena ler de novo o antigo post que a homenageia nesse dia em que se relembra os 50 anos de sua morte -e ler a letra de Strange Fruit)

Lady Day conta como essa música terrível e maravilhosa nasceu em "Lady Sings the Blues- uma autobiografia"(Editora Brasiliense):
"Foi durante a minha passagem pelo Café Society que uma canção nasceu, tornando-se o meu protesto pessoal-"Strange Fruit". O embrião da canção estava num poema escrito por Lewis Allen. Eu o conheci no Café Society. Quando ele me mostrou o poema, fiquei logo impressionada. Parecia falar das coisas que mataram meu pai. (N.R: O pai de Billie Holiday , Clarence , morreu depois de sofrer o diabo por causa de sua cor na cidade de Dallas, Texas. Ele tinha uma espécie rara de pneumonia e perambulou de hospital em hospital sem que nenhum deles o aceitasse. Encontrou um lugar no hospital de veteranos do Exército, mas aí já era tarde e ele viveu seus últimos momentos numa enfermaria especial para os negros(Jim crwow ward),onde morreu depois de uma hemorragia).
Allen também tinha ouvido falar sobre como meu pai morrera e, naturalmente, estava interessado na minha voz. Ele sugeriu que Sonny White, que já tinha tocado comigo, e eu mesma, transformássemos aquilo em música. Então nós três nos juntamos e fizemos o trabalho em três semanas. Tive também a ajuda de Danny Mendelsohn, outro compositor que havia feito alguns arranjos para mim. Ele me ajudou a arranjar a canção e a ensaiá-la pacientemente. Trabalhei pra diabo naquilo, pois nunca tinha certeza se conseguiria transmitir tudo o que sentia, muito menos para uma platéia chique de night club.
Morria de medo que as pessoas a detestassem. A primeira vez que a cantei, achei que tinha sido um erro e que tinha razão em ter medo. Não se ouviu um único aplauso quando terminei. Então uma pessoa começou a bater palmas timidamente. E, de repente, todos aplaudiram.
Depois de algum tempo a canção pegou e as pessoas começaram a pedí-la. A versão que gravei para a Commodore tornou-se meu disco mais vendido. Acho que ela ainda me deprime toda vez que canto. Me lembra como meu pai morreu. Mas tenho que continuar a cantá-la, não só porque as pessoas pedem, mas porque vinte anos depois da morte de papai, as coisas que o mataram continuam a acontecer no Sul.
Com o passar dos anos, tive uma série de experiências horríveis por causa dessa canção. Era uma forma de separar as pessoas normais das quadradas, e das estropiadas. Numa noite em Los Angeles, uma vagabunda levantou-se no clube onde eu estava cantando e disse:- "Billie, por que você não canta aquela canção sexy que te fez famosa? Você sabe, aquela sobre corpos nus balançando nas árvores".
A canção fala de uma estranha forma de tratar os homens negros no Sul, de corpos nus de homens negros pendurados em árvores, as frutas estranhas do ódio racista. E esse ódio voltou a se manifestar recentemente nos EUA. É a chaga aberta pela infame escravidão , tantas vidas perdidas pela estupidez de tentar impor a idéia de uma raça e além dela, uma raça superior. Em Baltimore, cidade de Billie, em 1984 uns cães ferozes impediram que uma estátua de Lady Day figurasse numa praça.
Bem , chega! Vamos à letra:

Strange Fruit
Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.
Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.
Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

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