6.7.09

Homenagem do Gerdal -Bené Nunes - uma lembrança solidária ao pianista boa-pinta da chanchada e anfitrião da bossa nova



"Coroné Antônio Bento/no dia do casamento/de sua filha Juliana/ele não quis sanfoneiro/foi pro Rio de Janeiro/convidou o Bené Nunes pra tocar..." E, de fato, nos anos 60, por exemplo, endossando o verso desse sucesso de João do Vale e Luiz Wanderley, o simpático virtuose carioca do piano, um autodidata professor de Luizinho Eça e de nome quilométrico na carteira de identidade (Benedito Francisco José de Sousa da Penha Nunes da Silva), tocava muito na noite do Rio, à frente de um dos mais solicitados conjuntos dançantes de então. Uma experiência que já vinha de meados da década anterior, quando se apresentava, também com seus "sidemen", em festas de "gente bem" na Sociedade Hípica Brasileira, introduzindo um novato Carlinhos Lyra como músico, que se virava com uma guitarra elétrica emprestada. O próprio Lyra, aliás, costuma frisar o amplo apartamento da Rua Osório Duque Estrada, na Gávea, do casal Bené e Dulce Nunes - ela, mais tarde, casada com Egberto Gismonti -, em fins dos anos 50, como o imóvel número um em importância na história da bossa nova - para ele não um movimento, mas um "surto de cultura musical" -, pois todos a ela ligados passaram por lá. Bené acolhia-os nesse seu endereço da Zona Sul do Rio com muita satisfação, sendo deles um destacado incentivador, além de fazer, com a sua aptidão de bom cozinheiro, uma "macarronada salvadora", com molho de tomate, presunto e queijo, para matar a fome de todos quando essas reuniões, aos domingos, não raro se tornavam longas jornadas musicais noite adentro. Em dezembro de 1959, lá foi feita, com fotos de toda a turma da bossa nova, uma reportagem de dez páginas para a prestigiada revista "O Cruzeiro", da qual até Ari Barroso participou, para dar apoio àqueles jovens artistas "emergentes" - num sentido ainda apreciável da expressão -, de uma sonoridade nova na MPB.
Amicíssimo de JK (do qual foi mensageiro de um pedido a Tom e Vinicius para que compusessem "Brasília, Sinfonia da Alvorada", com a visita de ambos ao Catetinho para sentir, "in loco", o clima da Novacap em formação) e aposentado como delegado fiscal do governo, Bené Nunes, ainda nos anos 50, notabilizou-se como o pianista galã de produções cinematográficas de robustos borderôs, como "Aí Vem o Barão", de 1951, e "É Fogo na Roupa", de 1952", ambas com direção de Watson Macedo, e "Barnabé, Tu És Meu", também de 1952, realizada por José Carlos Burle. No filme "Carnaval no Fogo", de 1949, emplacou um sucesso de sua autoria, em parceria com o ator e cineasta Anselmo Duarte, a polca "Pedalando", gravada no ano seguinte por Adelaide Chiozzo, e, em 1952, como protagonista, encarnava, curiosamente, o compositor Sinhô em "O Rei do Samba", um longa assinado por Luís de Barros. Aliás, foi tocando "Pé de Anjo", de Sinhô, na Rádio Cajuti, com apenas sete anos de idade, que o seu teclado fantástico já se fizera notar no meio artístico, logrando nessa época, na mesma emissora, o primeiro contrato, o que se repetiria, já adolescente, animando bailes em gafieiras. Em 1984, ao lado da pianista clássica Laís de Souza Brasil, fez sua última apresentação remunerada, na Sala Cecília Meireles, atuando, depois disso, até a morte, em 1997, aos 76 anos, apenas em eventos beneficentes.
Escrevo estas linhas em solidariedade à memória de Bené Nunes e para refrescar a memória da mídia.
NR: as fotos de Bené foram capturadas em imagens de capas de discos disponíveis na internet

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