5.7.09

O futuro de Michael Jackson


No momento em que escrevo estas mal traçadas, tudo ainda é incerto em relação ao destino dos restos mortais de Michael Jackson. A mídia até agora só fez especular. Fez dele gato e sapato, mas única certeza que ela nos dá é que o Sr. Jackson pediu o boné, e partiu desta para melhor.
É bom lembrar que este furo foi dado por um site de celebridades, o tal do TMZ, que só foi acompanhado de perto pelo Los Angeles Times. O resto do mundo ficou boiando. Alguém disse, com certo exagero, que a mídia já o tinha matado antes. Usando do bom e velho estilo sensacionalista, essa máquina de fazer doido (a expressão que alcunha a TV é do grande Stanislaw Ponte Preta e cabe como uma luva no complexo imediático) teria julgado o cara enquanto ele ainda respirava, atrás daquelas máscaras cirúrgicas ( que estão na moda atualmente no mundu sob influenza). É verdade que as centrais de fofocas chafurdaram na lama dos processos em que foi ele acusado de pedofilia. O rapaz chegou até a fazer uma música (Leave me alone) desancando os tablóides que inventavam notícias bizarras sobre sua vida, que convenhamos, não era risonha e franca.
Agora essa mesma mídia do massacre o transformou em boi do qual se aproveita tudo: cadernos especiais, revistas inteiras, suplementos, notícias diárias em todas as capas dos impressos e a todo minuto na internet e toda hora nos telejornais . Uma verdadeira avalanche de clipes e babás dando “depoismentos” contaminaram o mundo e espalharam o vírus MJ mais do que a gripe do porco. Pode-se dizer que quase esqueceram a crise financeira global, os desastres com os “airbuses” e outras coisas desse condomínio falido que chamam Terra.
As cerejas do bolo desta semana foram o aspecto químico da vida de MJ , seu testamento e o local do velório. Pois é, a cada minuto que passava, um novo remédio aparecia no cardápio do astro. E mais, revelavam que ele já tinha passado há muito tempo do nível dos potentes analgésicos para o degrau perigoso anestésicos. Sobre o testamento, aquela coisa de escantear o pai, os brothers e a ex . Agora, sobre o principal, que é saber onde vai ser o funeral, tudo que ficou nebuloso parece que se dissipa a cada nanosegundo. Primeiro ia ser no rancho Neverland, depois passou ser no ginásito esportivo Staples Center, que serve aos Lakers e mais outros 4 times de Los Angeles (que tem 20 mil lugares nas arquibancadas). A novidade é a exigência de ingressos que inicialmente iriam ser pagos mas alguém teve o bom senso de dizer que são “de grátis” , só que serão sorteados. No tesouro da entropia, outra informação cruzou os céus e anunciou que só americanos poderiam dar seu último adeus ao astro. Aí liberaram geral, e agora circula na rede que todo o mundo pode se inscrever. O problema é que só 17.500 ingressos serão sorteados . (Quem estabeleceu este limite?) e aí foi aquela enxurrada - em pouquíssimo tempo, o site oficial que recebe as inscrições foi atingido por 500 milhões de acessos. Cheiro de confusão no ar…Dizem os sites informativos que a polícia de LA planeja uma mega-operação para terça-feira, que parece que vai ser de fato o dia do funeral. A prefeitura que está com a caixa baixa, vai arcar com os gastos usando um fundo especial que garante a cidade para o caso de catástrofes tais como terremotos e incêndios . Tem gente reclamando disso e a polícia avisou que só vai ter uma porta de entrada para acessar o estádio… o cheiro de confusão no ar aumentou significativamente…
Hoje, na hora do almoço aqui na periferia, soube pelo noticiário da TV, que o funeral vai ser mesmo na sede dos Lakers, mas não contará com a presença do corpo do astro. Não sei porque o cheiro de confusão está tornando o ar irrespirável e não tem nada a ver com o encanamento do condomínio.
Ninguém falou ainda em enterro. Já teve quem dissesse que ele queria ser cremado e suas cinzas espalhadas no solo lunar, o que deve ser muito caro. Parece que vai ser realizado mesmo, numa cerimônia com a presença só dos familiares e amigos no Cemitério Forest Lawn. Tem um site que botou até uma foto da cova para deleite dos necrófilos.
Longe de mim praticar uma heresia, mas pelo andar da carruagem, o fenômeno MJ corre o perigo de virar uma religião. Enquanto seus discos voltam ao topo das paradas de sucesso e DVDs são embalados frenéticamente, já se especula nos sites de celebridades sobre uma fórmula de eternizar o astro de fato. Alguém deu a idéia, que não é de se jogar fora, de “plastificar” o corpo do artista, isto seria feito com um processso em que o corpo é embalsamado em poliruetano. Tal procedimento é praticado pelo médico alemão, Dr. Gunher Von Hagens (uma exposição do incrível trabralho desse médico passou pelo Rio faz pouco tempo). Seu corpo, então preservado dos vermes teria como residência um mausoléu na Arena O2, em Londres, onde ele faria os tais 50 shows.
Creio que ninguém tem dúvida de que MJ é um mito e seu culto continua em firme expansão, e olhe que a ficha ainda não caiu para seus ardorosos fãs( como se falava na época em que não existiam os cartões magnéticos), pois ninguém viu o corpo sem vida do ídolo. Será que ficarão apenas com aquela foto dele “entubado” quando chegou (já sem vida ao hospital) e alguns minutos do filme do ensaio que fazia para encarar a maratona de 50 mortíferos shows?
Creio que a visão da imagem de seu corpo morto será devastadora para seus fiéis admiradores, e temo que vire uma questão de saúde pública (mental).
No mundo do business a coisa vai bem, obrigado. Só se pergunta quando as relíquias (luvas, meias, cuecas, sapatos e brinquedos) serão leiloadas ? E para mostrar que show não pode parar, Madonna que chorou alguns dias, resolveu homenagear o amigo e incluiu números dele em seu show Sticky & Sweet , que fez na noite de sábado (dia4) na O2 Arena de Londres. Todo mundo estava careca de saber que esse surto ia acontecer, pois mal o corpo tinha esfriado e já se falava em um “Tributo a Michael” com grandes nomes do mundo da música. Até aqui na perifeira, Claudia Leite, também não perdeu tempo embarcou também nessa onda “homenageadora” em Salvador (como diria Odorico Paraguaçú )Teve jogador de futebol fazendo gracinha, imitando sua dança, depois de botar a pelota no véu da noiva. O negócio é sério, camaradagem! Até, na pacata Suiça ergueram uma estátua de 4 metros do astro, com seu uniforme de gala. Na hora da grande comoção da notícia de sua morte, vi hordas, em algum lugar civilizado do planeta praticando aqueles passinhos chamados “moonwalker“. No Japão, onde ele é adorado, fãs se esvaem em lágrimas e fazem origamis em sua memória. E para quem ainda não se converteu, está na internet algo muito curioso, uma homenagem que é um chamamento. Ela foi feita por prisioneiros filipinos que dançaram suas músicas no pátio da prisão - todo mundo de laranja numa graciosa coreografia (bacana! mas eles já tinham feito isso antes)
Será que ele corre o risco de se transformar num santo filipino? Não é nas Filipinas que existe uma tradição radical de crucificacão de fanáticos na sexta da paixão e um ritual público de autoflagelação?
Mas ele não era Testemunha de Jeová ? As más línguas dizem que o inquieto rei do pop tinha mudado de religião e abraçado a nação do Islã. Não é à toa que o brother Jermaine Jackson disse o nome de Alá, no dia em que anunciou oficialmente o passamento de Michael. Aí a coisa complica - o homem era um liquidificador cultural, estético, plástico, étnico e religioso - um exemplo concreto da desconstrução do sujeito…Santo ele não pode ser, mas quem sabe fundar uma nova religião? O papa não era pop? Pop por pop, Michael era o rei…
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Como quase toda religião tem em sua gênese uma perseguição( e aí estou chutando), agora vamos ver o que diz o núcleo duro da crítica ao rei do pop- vamos ouvir aqueles que não acreditam no pop. Batendo no bumbo da oposição, críticos refinados, a maioria deles aristocratas e passadistas, afirmaram que Michael Jackson era uma mera cópia de Mick Jagger ( o curioso é o nome dos dois são abreviados como MJ ), e mais que ele era um pastiche dos ícones e descobertas originais da cultura de massas, outros afirmaram ser ele, no máximo um “entertainer“, aqueloutros ainda o chamaram até de “direitista” por causa daquela visita à Casa Branca na época do Reagan… Mas fazer o que? O cara foi convidado pelo Presidente dos EUA e ele era Michael, mas não era Michael Moore!

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Muitos que o elogiaram também erraram na dose - Ivan Lessa registrou seu protesto rasgando um jornal quando leu uma frase de um colunista (que ele até então respeitava) que dizia que Michael Jackson tinha morrido”com mil flechas cravadas no peito“.

Muita tinta vai rolar debaixo desse esquife!

Um amigo meu, dos velhos tempos de redação, me disse que um fenômeno tinha acontecido nessa história toda de Michael jackson, paradoxalmente a morte o tinha humanizado. Ele que era considerado um ET, no fim virou um homem, sujeito à lei da gravidade, apesar do moonwalker.
Eu disse a ele que concordava e que tinha escrito mais ou menos isso nas entrelinhas da croniqueta “Jacko, humano, demasiado humano“, que publiquei recentemente nesse blogue.
Só que nessa semana, vislumbrei algo nebuloso no futuro do falecido.(há quem diga que ele não tem mais futuro, tem apenas a eternidade- Oh, My God!)
Sei não(???), de qualquer forma, o futuro de Micheal Jackson é nebuloso.

Fico me perguntando, depois de ler Sir Frazer, quantas religiões não surgiram da névoa?

2 comentários:

ze disse...

Dançarino, bailarino, cantor, compositor. Sem dúvida um artista. S. Miguel é representado à pé ; contrário a S. Jorge que é em um cavalo. Michael é Miguel pelo que dançou. Coreógrafo também. Ele não lembra Fred Astaire ? Assim pelo tamanho da arte ? Fred não compunha.

A empresa livre (ou imprensa livre, tanto faz, "é a mesma coisa" ) gosta de transformar tudo em mercadoria. Falam em isenção - questão da epistemologia científica no séc. XIX, se existe isenção no método. E ficou provado que não existe isenção - estão no séc. XIX ainda. Os valores do Mercado que quantifica a existência em números são errados : leio toda segunda (ho-je) o Boff no JB. A cidadania não é apenas ter uma carteira de trabalho assinada. A cidadania é religiosa , no sentido político inclusive, de uma sociologia religiosa. felicidades.

LIBERATI disse...

Michael Jackson era um artista completo nessa coisa de palco. No cinema não fez coisa que prestasse. Mas era um talento raro e incomparável. Fred Astaire e outros grandes bailarinos pretencem a outro mundo a outro tipo de música, não dá para comparar. É a mesma coisa que botar Nelson Gonçalves para cantar "Menino do Rio". A imprensa seleciona, recorta, publica o que quer e no corpo de letra que quer e diagrama no lugar que melhor fica para ela. Todos nós, nosso pensamento também recorta, seleciona, pesa, valoriza e julga. Ninguém é isento. Talvez os idosos sejam isentos de impostos, mas carregam o peso dos anos. Ninguém é isento nesse mundo!
Boff é um oásis. No meu tempo de criança, religião não se discutia - só futebol sem botar a mãe no meio, aí saia briga, por essas e outras o pessoal xinga a mãe do juiz, mas de longe, lá da arquibancada.
grande abraço