8.8.09

Dica do Gerdal : Claudionor Cruz revivido em CD do Terno Carioca - show de lançamento neste sábado na Sala Baden Powel


"É dos teus olhos a luz/que ilumina e conduz/minha nova ilusão/é nos teus olhos que eu vejo/o amor e o desejo/do meu coração/és um poema na terra/um tesouro no céu/uma estrela no mar/és tanta felicidade/que nem a metade consigo exaltar/se um beija-flor descobrisse/a doçura e a meiguice/que teus lábios têm/jamais roçaria as asas brejeiras/por entre roseiras e jardins de ninguém/ó dona do sonho/ilusão concebida/surpresa que a vida/me fez das mulheres/há no meu coração/uma flor em botão/que abrirás se quiseres"

Assim, com essa epígrafe motivada por "Nova Ilusão" - samba tão bem gravado em 1953 por Lúcio Alves quanto regravado por Paulinho da Viola em 1976 -, lembro o que, no meu modesto entender, é um dos casamentos mais felizes entre letra e música no nosso cancioneiro popular, celebrado pela parceria de Claudionor Cruz com Pedro Caetano. Com esse paulista de Bananal, o mineiro Claudionor Cruz, nascido em Paraibuna, traria contribuição valiosa à discografia nacional, pois, de suas criações, cantores e músicos de nomeada, já falecidos, como Orlando Silva, Jacob do Bandolim e Carlos Galhardo, legaram ao nosso tempo registros que calam fundo na nossa memória, também afetiva, como as valsas "Feia" e "Caprichos do Destino" e a marcha "Eu Brinco" ("Com Pandeiro ou sem Pandeiro"). Waldemar de Abreu (Dunga), André Filho e Wilson Batista, por exemplo, foram outros parceiros de destaque, embora Claudionor obtivesse, sem a companhia do letrista habitual e também comerciante de calçados Pedro Caetano, um grande sucesso com outro mineiro, Ataulfo Alves: o samba "Sei Que É Covardia", que este, após o "operístico" Galhardo - primeiro a gravá-lo, em 1938 -, levou ao microssulco em companhia das suas pastoras.
"Eu era outro/e a vida corria/nem tudo sorria/mas tinha valor/era uma vida/sem nada de mais/na base da paz/e eu curtia um amor/fui tão feliz/vivendo assim/que hoje eu sinto/saudade de mim/eu nada pedia/não era exigente/mas tinha um amor/de corpo presente/fui tão feliz/vivendo assim/que hoje eu sinto/saudade de mim..." Com uma "puxada" bossa-novista no violão que o acompanha, pode-se ouvir Claudionor cantar esse belo samba, "Saudade de Mim", feito com Beatriz Dutra, amiga e parceira constante a partir do início dos anos 80. Uma faixa que consta de um CD que evoca, postumamente, Claudionor - morto em 1995 -, só com músicas dele e produzido pela Universidade Gama Filho - sem precisão de data -, com direção musical do também saudoso Orlando Silveira, que, aliás, toca o seu acordeom em outras duas faixas, instrumentais, muito significativas: "Tempos Passados", juntamente com Yeda Salomão, em solos de piano, e "Este Choro É Meu Pranto", juntamente com o homenageado, ao violão, nessa outra parceria deste com Pedro Caetano. Filho de mestre de banda, fugindo de casa ainda garoto para ir ao encontro do seu sonho de viver de música, Claudionor começou com o cavaquinho, em diversos conjuntos no Rio, foi baterista por uns tempos, até formar o seu histórico regional, nos anos 30, com passagem por várias rádios cariocas, já como executante de violão tenor.
Lena Verani (clarinete), Luiz Flávio Alcofra (violão) e Pedro Aragão (bandolim e violão tenor), instrumentistas sensíveis e de elevada competência, lançam em boa hora um CD dedicado à obra de Claudionor Cruz por meio do conjunto que formaram, o Terno Carioca, o qual se apresentará neste sábado, 8 de agosto, às 20h, em show na Sala Baden Powell - Av. N. Sra. de Copacabana, 360 ("flyer" acima). Esse disco antecipa-se ao centenário de nascimento do admirável Claudionor, no próximo ano, e é, por si só, auspicioso por sugerir que, ao menos no caso dele, entre os nomes menos "votados", ou seja, lembrados da MPB, a posteridade não perdeu o seu endereço - onde quer que ele esteja.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

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