17.9.09

Dica do Gerdal: "Olha esse ponteado, Samba Urbano!" - conjunto presta tributo a Donga, nesta quinta, na Lapa


Para o jornalista Ilmar Carvalho, "Pelo Telefone" "caracterizou a transição entre o maxixe cantado e o samba-canção". Estávamos em 1917, quando esse samba oficialmente inaugural no registro fonográfico daria a Ernesto dos Santos, o Donga, notoriedade como figura histórica e até mesmo de status "etimológico" como um dos nomes de estudo e audição "sine qua non" para a compreensão do samba na sua origem e evolução. Não apenas nisso, no entanto, reside a importância desse carioca (filho de um pedreiro bombardinista e de umas das famosas "tias" baianas da Cidade Nova - Tia Amélia, festeira, mãe-de-santo e cantadeira de modinhas), o qual ainda fez fama como violonista - ex-aluno de Quincas Laranjeiras - e ritmista. Dotado de pulso firme e voz de comando, dirigiu conjuntos de que participou e articulou, em 1919, a formação dos Oito Batutas, em que atuou ao lado de Pixinguinha e João da Baiana. Três anos depois, eram conhecidos como Les Batutas, no país de Molière, para onde Donga voltaria, em 1926, apresentando-se com a companhia francesa Ba-ta-clan como integrante do grupo Carlito Jazz, logo após exibições dela no Rio de Janeiro. Em 1940, já de retorno à antiga capital federal, gravou sambas, lundus e toadas de sua autoria, a bordo do navio Uruguai, para o disco "Native Brazilian Music", organizado por dois maestros, Heitor Villa-Lobos e Leopold Stokowski, e lançado nos EUA pela Columbia.    
       "Olha esse ponteado, Donga!", exclamava o cantor Almirante para incentivar o violonista solista do grupo Velha Guarda, que, como os Diabos do Céu, também com Donga, constituíram-se por estalo de Pixinguinha para participar de gravações em estúdio. Da união conjugal de Donga com uma atriz e cantora lírica gaúcha, Zaira Cavalcanti, com quem viveu até 1951, nasceu a professora e museóloga Lígia Santos, componente há muitos carnavais do júri do Estandarte de Ouro, do jornal "O Globo", e, com outra cantora, a mendense Vó Maria, de 98 anos e de quem é neta a jornalista Zilmar Basílio, Donga, falecido em 1974, encontrou a parceira final, dos seus últimos 15 anos de vida. Em 1975, pela gravadora do também finado publicitário Marcus Pereira, fez-se o único disco só com suas músicas, como o calango "Patrão, Prenda Seu Gado", em parceria com Pixinguinha e João da Baiana, e a embolada "Bambo de Bambu", em parceria com Patrício Teixeira, além de trecho de depoimento aos pósteros no Museu da Imagem e do Som (MIS), em 1969.
       Nesta quinta, 17 de setembro, em intenção desse pioneiro da MPB, a rapaziada competente do Samba Urbano faz o show "No Tempo de Donga", no Balneário da Lapa (Rua Mem de Sá, 63), às 20h30, com nomes de relevo no mundo do samba marcando presença ("flyer" acima). Daniel Aranha (violão e bandolim), Felipe dos Santos (percussão), Marcelle Motta (voz)  e Rafael de Moraes (voz e cavaquinho) são os integrantes do conjunto.
       Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
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 A tempo: pelo YouTube, duas imagens interessantes: 1) Donga e Chico Buarque, juntos, em 1966, no programa de Hebe Camargo, na TV Record, cantando "Pelo Telefone". Em volta deles, cantando também, vários sambistas, entre os quais João da Baiana, Risadinha e Joel de Almeida. Donga dança no final (2 min); 2) Uma ainda iniciante Leci Brandão, no programa "Ensaio", cantando, de sua autoria, "Pensando em Donga", um bonito e sensível samba em tom menor no qual, sem citar o homenageado uma única vez, faz dele uma referência (sugerida pelo título da composição) de um tempo de calor humano, alegria e música - vida, em síntese - inexistente no lamento da letra descritiva do cenário desolador que canta (4 min 37 seg).

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