22.9.09
micro teatro - ato único - Vida e morte
Uma mulher e um homem no palco - luz sobre eles, o resto é penumbra
Mulher - Como chegamos até aqui?
Homem - Pagando impostos, ora! Pelo menos é o que me parece.
Mulher- Estou esperando um filho e já não olho mais para o horizonte, busco sinais dele dentro de mim.
Homem- Eu espero a morte a cada dia que passa, e ela insiste em me deixar na expectativa de que um dia virá quando eu estiver desatento.
Mulher- Engraçado, nós dois esperamos coisas distintas.
Homem- Na verdade, as coisas não são assim. A senhora também espera a morte e desta vez em dose dupla, A sua e a do ser que sente crescer dentro de seu ventre. Ele se desenvolve , independente de sua vontade, Sua vida toda acontece sem que a senhora controle.
Diretor- Este último texto está muito longo, temos que diminuir a fala.
Mulher- Não entendi nada do que o senhor disse!?
Homem- Não é fatalismo, nem pessimismo e sim realismo. O fatalista diria que a morte é inevitável e acontecerá mais cedo do que se pensa. O pessimista dirá que inútil pensar essas coisas, pois já estamos mortos. O realista espera a morte para um jogo, como num filme sueco.
Diretor- Outra vez o texto ficou muito longo. O público espera algo mais fácil de compreender.
Mulher- Eu sempre espero a vida, eu sinto a vida dentro de mim, é só disso que quero falar.
Diretor- Isto é que esperamos que se diga. Uma fala direta!
Homem- É próprio da mulher estar mais próxima da vida, pois ela gera a vida.
Mulher- O senhor quer dizer que os assuntos da morte dizem respeito mais aos homens?
Homem- Não sei o que dizer, eu não sinto a morte dentro de mim, mas como algo que virá, nem sinto a vida, olho em volta e vejo só concreto e credores. Tenho necessidades, Preciso me alimentar, dormir, trabalhar horas em algo que perderá valor em breve. Signos da morte, por todos os lados.
Diretor- Novamente estamos com um texto longo demais para compreensão do público. O autor terá que sintetizar estas falas...
Mulher- O senhor me assusta. Que mundo espera pelo meu filho?
Homem- Sinto dizer que é um mundo onde o texto tem que ser curto e grosso.
(Aplausos do Diretor no final - o autor na platéia amassa o texto e joga no chão de forma excessivamente dramática)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
nooossa! estais um teatrólogo e tanto (é assim que se fala?) . estão boas as peças. a morte existe ?
Não exagere Zé, são pequenos ensaios para o nada dramático. A morte para mim é passagem para outra forma de vida. Somos carcaças apegados à nossa aparência e presos ao reino da necessidade. Precisamos nos alimentar, precisamos sempre nos alimentar, acabamos seduzidos pelas coisas materiais, que são bacanas, ôpa, como são. Mas um dia vem a passagem, o barqueiro quer uma moeda para atravesar o rio que vai dar no Hades...xi ficou brabo esse comentário, vamos parar por aqui.
grande abraço
Postar um comentário